O Jogo dos Tronos - Yronwood

Era bom ver que os oficiais estavam alinhados comigo. Mesmo sendo o comandante do exército, eu reconhecia a experiência e o conhecimento daqueles homens.

Enquanto falavam, eu mordiscava alguns itens da mesa, mas sem desviar a atenção da conversa.

- Excelente, Ibrahim. Eles serão cruciais para garantir a segurança do Caminho. Quando se unirem ao exército, quero que os distribua da seguinte forma - movi as sementes de tâmaras sobre a mesa para ilustrar as formações - Cem deles formarão uma unidade de arqueiros, algo que já falta ao nosso exército há tempo demais e não pode continuar sendo ignorado. Trezentos serão treinados como guerrilheiros, especialistas no terreno do Caminho de Pedra. E, finalmente, cem se juntarão à infantaria.

- Esses novos soldados terão uma única missão, proteger o Caminho. Devemos ter olhos suficientes para desencorajar qualquer contrabando e a força necessária para lidar com qualquer ameaça, bandidos ou inimigos.

- Não tenho dúvidas de que isso dará mais segurança aos mercadores que agem corretamente. Por isso, cobraremos uma taxa de cinco moedas de prata por pessoa e dois dragões de ouro por carroça. Os mercadores de Paloferro estarão isentos. Até que os recrutas cheguem, metade dos homens que temos agora será encarregada de cobrar essa taxa e supervisionar o caminho. Envie os que você acredita serem os melhores para isso, Ibrahim. Ethon cuidará dos registros das quantias arrecadadas. Bennar, quero batedores o bastante para vigiar qualquer mercador que tente evitar o pagamento. A esses, será imposta uma multa de 50% do valor devido.

Bennar Bathim escreveu:"- Lorde Khalid, se me permite, pode ser que Lorde Tygor esteja se preparando para algo que ainda não sabemos. Há rumores de dissidências no sul... talvez ele tenha ouvido algo."

Ethon escreveu:"- Tygor Wyl é o filho de Ulwen Wyl, o último lorde da casa Wyl, que morreu há cerca de 6 meses. As últimas notícias do Caminho dos Ossos foi que havia uma disputa interna pela sucessão dentro da casa. Talvez esse carregamento tenha algo a ver com isso."

- É difícil manter uma posição estratégica sem informações completas sobre o que acontece com nossos vizinhos. Por favor, calculem quanto nos custaria formar uma unidade de informantes.

- Quanto a Tygor Wyl, isso explica o comportamento dele dias atrás, assim como, muito provavelmente, o carregamento que vimos. Ethon, com quem ele está em disputa? Há lordes menores apoiando algum lado? E quanto aos Martell?

- Quanto a Tygor Wyl, isso explica o comportamento dele dias atrás, assim como, muito provavelmente, o carregamento que vimos. Ethon, com quem ele está em disputa? Há lordes menores apoiando algum lado? E quanto aos Martell?

Ethon pensou um pouco antes de responder e finalmente disse:


- Houve uma disputa pela sucessão, se não me engano. Apesar de Tygor ser o filho e herdeiro aparente, o pai dele era questionado como líder da casa, por ter perdido a Herança da Família, uma espada valiriana. O irmão do lorde, que é tio de Tygor, clamava o direito da sucessão para desqualificar o primogênito. Acho que era algo assim, mas podemos pedir para o meistre se certificar em Paloferro, ele deve ter arquivos disso. Me parece que a Casa Wyl pode estar em vias de uma guerra civil. 

Nos dias seguintes, Bennar Battin e Ibrahim Intifah coordenaram os seus esforços para varrer as terras de Paloferro e recrutar todos os homens em idade capaz e fortes o bastante para compor as novas forças militares que Khalid queria criar. Eles levaram todos os recrutas para o castelo a fim de treiná-los lá.

Também nos dias seguintes, os batedores informaram Khalid que o navio com o carregamento dos materiais de construção não tinham encontrado nenhum ponto na costa para aportar. O navio ancorara o mais perto possível da praia e estava fazendo o desembarque da carga através de uma balsa improvisada, num processo lento e difícil. O atraso era multiplicado devido ao transporte com carroças colinas acima, de modo que os batedores voltaram junto com a primeira de muitas das carroças que ainda precisariam chegar para viabilizar a construção.

Ethon demorou uma semana para fazer o orçamento que Khalid pedira.

- Milorde, eis a estimativa para uma Guilda de Espiões com abrangência da região montanhosa de Dorne: mil dragões de ouro para criar e manter a rede de informantes em funcionamento. Acredito que, com os devidos recursos, a guilda poderia estar operante em até seis meses, muito provavelmente em menos tempo, se tivermoss sorte.




OFF:  @Xafic Zahi, pode considerar que um mês se passou e você tem um novo turno da casa. Pode gerenciar recursos ou rolar a Sorte se quiser.

AINDA NA REUNIÃO

- Ibrahim, reúna alguns de seus homens e envie-os à Vila da Pedra. Pode ser que um grupo liderado por um homem chamado Valen esteja à minha espera. Se for o caso, os recrute para o exército.

- Bennar, envie um mensageiro a Paloferro. Preciso de atualizações do meistre sobre a situação nas terras Wyl.

- Até termos clareza sobre os acontecimentos, aumentem a rigorosidade na supervisão dos carregamentos que passarem pelo Caminho. Todo transporte de armas em quantidades significativas deve ser bloqueado inicialmente e só liberado com minha autorização.

ATUALMENTE

Os dias que se seguiram foram desafiadores. A falta de luxo do castelo não me incomodava. A vida militar tinha me moldado e eu estava acostumado a dormir em tendas e suportar rigorosos treinamentos. O atraso dos materiais vindos do navio não me preocupava. Embora a construção das torres fosse importante, não era uma urgência. No entanto, a inquietação sobre o que podia estar acontecendo com os Wyl me mantinha acordado durante as noites.

A presença deles no extremo oposto do Caminho tornava necessária uma aliança natural entre nossas casas, a fim de proteger a região. Se uma guerra civil realmente se desenrolasse entre eles, as repercussões certamente afetariam Paloferro e nosso povo. Veríamos refugiados famintos, bandidos e desertores cruzando nossas portas. O recrutamento de novos soldados era suficiente para a situação atual, mas se as coisas se agravaressem, nosso contingente não seria o bastante.

Uma semana após minha chegada ao acampamento, Ethon me informou que o custo para uma guilda de espiões era de mil dragões de ouro. Certamente, eu não possuia essa quantia. Agradeci ao garoto, perguntei se as patrulhas do Caminho conseguiram arrecadar alguma quantia na semana e pedi que chamasse Nathar e Sarrac.

As noites sem dormir não afetavam meu humor, mas talvez a ânsia de colocar meus planos em prática me fizessem ser mais direto do que o habitual.

- Sarrac, Nathar, temos informações sobre movimentações nas terras dos Wyl. Isso justifica o que presenciamos dias atrás. Para garantir a segurança de nossas terras, precisamos saber o que ocorre com nossos vizinhos. Por isso, contrataremos dois espiões, e cada um de vocês será responsável por um. Sarrac, você ficará responsável pelo espião que se estabelecerá nos Drinkwater. Não há nada de específico que queremos saber sobre eles, mas devemos manter os olhos abertos. Já você, Nathar, supervisionará o espião encarregado dos Wyl. Temos um interesse especial em informações sobre a disputa pela sucessão e em estabelecer contato com o tio de Tygor.

Esperei por perguntas e depois continuei:

- Vocês terão um pequeno grupo de batedores à disposição para enviar e receber mensagens rapidamente. Além disso, precisarão de aulas com Ethon para aprender a ler e escrever. Isso exigirá que se afastem de suas funções como batedores. Por isso, e também para evitar quaisquer suspeitas, a partir de hoje vocês serão cartógrafos. Isso justificará a necessidade do grupo de batedores e as aulas de escrita.

Fiquei satisfeito em compartilhar essa notícia com eles. Eu já havia visto seu valor na perseguição aos mercadores e na escolta. Essas novas funções representavam uma melhoria significativa em suas vidas. Esperava que eles percebesse isso.

À tarde, reuni os oficiais para anunciar uma nova expedição.

- Ibrahim, quero testar nossos novos soldados. Selecione os 50 melhores. Partiremos ainda hoje. Bennar, temos notícias de criminosos na região? Se sim, em qual direção estão se movendo?

O teste dos novos soldados era fundamental e, se não houvesse criminosos pela região, estava disposto a partir com os guerrilheiros rumo ao Caminho de Pedra.

AINDA NA REUNIÃO

- Ibrahim, reúna alguns de seus homens e envie-os à Vila da Pedra. Pode ser que um grupo liderado por um homem chamado Valen esteja à minha espera. Se for o caso, os recrute para o exército.

- Bennar, envie um mensageiro a Paloferro. Preciso de atualizações do meistre sobre a situação nas terras Wyl.

- Até termos clareza sobre os acontecimentos, aumentem a rigorosidade na supervisão dos carregamentos que passarem pelo Caminho. Todo transporte de armas em quantidades significativas deve ser bloqueado inicialmente e só liberado com minha autorização.

ATUALMENTE

Os dias que se seguiram foram desafiadores. A falta de luxo do castelo não me incomodava. A vida militar tinha me moldado e eu estava acostumado a dormir em tendas e suportar rigorosos treinamentos. O atraso dos materiais vindos do navio não me preocupava. Embora a construção das torres fosse importante, não era uma urgência. No entanto, a inquietação sobre o que podia estar acontecendo com os Wyl me mantinha acordado durante as noites.

A presença deles no extremo oposto do Caminho tornava necessária uma aliança natural entre nossas casas, a fim de proteger a região. Se uma guerra civil realmente se desenrolasse entre eles, as repercussões certamente afetariam Paloferro e nosso povo. Veríamos refugiados famintos, bandidos e desertores cruzando nossas portas. O recrutamento de novos soldados era suficiente para a situação atual, mas se as coisas se agravaressem, nosso contingente não seria o bastante.

Uma semana após minha chegada ao acampamento, Ethon me informou que o custo para uma guilda de espiões era de mil dragões de ouro. Certamente, eu não possuia essa quantia. Agradeci ao garoto e pedi para ele se sentar.

- Ethon, redija uma carta endereçada ao conselho, que deverá ser levada pelo nosso mensageiro mais leal. A carta deve requerer, com máxima urgência, a contratação de dois espiões, os quais deverão se submeter diretamente ao exército. Ambos deverão se encontrar com Nathar e Sarrac aqui no acampamento, dentro dos próximos dias, oportunidade que terão mais informações dos serviços que desempenharão.

Depois, perguntei se as patrulhas do Caminho conseguiram arrecadar alguma quantia na semana e pedi que ele chamasse Nathar e Sarrac.

As noites sem dormir não afetavam meu humor, mas talvez a ânsia de colocar meus planos em prática me fizessem ser mais direto do que o habitual.

- Sarrac, Nathar, temos informações sobre movimentações nas terras dos Wyl. Isso justifica o que presenciamos dias atrás. Para garantir a segurança de nossas terras, precisamos saber o que ocorre com nossos vizinhos. Por isso, contrataremos dois espiões, e cada um de vocês será responsável por um. Esses espiões estarão no acampamento dentro dos próximos dias e procurarão por vocês. Sarrac, você ficará responsável pelo espião que se estabelecerá nos Drinkwater. Não há nada de específico que queremos saber sobre eles, mas devemos manter os olhos abertos. Já você, Nathar, supervisionará o espião encarregado dos Wyl. Temos um interesse especial em informações sobre a disputa pela sucessão e em estabelecer contato com o tio de Tygor.

Esperei por perguntas e depois continuei:

- Vocês terão um pequeno grupo de batedores à disposição para enviar e receber mensagens rapidamente. Além disso, precisarão de aulas com Ethon para aprender a ler e escrever. Isso exigirá que se afastem de suas funções como batedores. Por isso, e também para evitar quaisquer suspeitas, a partir de hoje vocês serão cartógrafos. Isso justificará a necessidade do grupo de batedores e as aulas de escrita.

Fiquei satisfeito em compartilhar essa notícia com eles. Eu já havia visto seu valor na perseguição aos mercadores e na escolta. Essas novas funções representavam uma melhoria significativa em suas vidas. Esperava que eles percebesse isso.

À tarde, reuni os oficiais para anunciar uma nova expedição.

- Ibrahim, quero testar nossos novos soldados. Selecione os 50 melhores. Partiremos ainda hoje. Bennar, temos notícias de criminosos na região? Se sim, em qual direção estão se movendo?

O teste dos novos soldados era fundamental e, se não houvesse criminosos pela região, estava disposto a partir com os guerrilheiros rumo ao Caminho de Pedra.

Seguindo as ordens de Khalid, Ibrahim Intifah partiu com um destacamento para Paloferro para começar o treino dos homens recrutados recentemente, deixando metade da infantaria sob o comando do herdeiro Yronwood.

Bennar enviou seus mensageiros e pôs praticamente todos os batedores em serviço para vigiar as possíveis rotas dos viajantes até o Caminho de Pedra. Khalid sabia que era uma área vasta demais para ser plenamente vigiada, mas a patrulha de tantos batedores poderia ser uma intimidação ostensiva a possíveis foras-da-lei.


Poucos dias depois, o mensageiro de Bennar retornou com uma carta do meistre para Khalid.

A Khalid Yronwood, Filho do Sanguerral, Guardião do Caminho

Envio esta mensagem para informá-lo sobre os recentes acontecimentos nas terras da Casa Wyl.

Lorde Wylder Wyl faleceu no final do ano 296 de um ataque do coração. Seu herdeiro aparente era seu único filho, Tygor Wyl, mas mesmo antes do falecimento dele, o irmão mais novo de Lorde Wylder, Wyrmer Wyl, já questionava a legitimidade dele, baseando suas alegações no fato de Lorde Wylder ter perdido sua herança de família, a espada valyriana chamada de Veneno do Escorpião, para um cavaleiro errante. Tygor Wyl empreendeu viagens a fim de recuperar a espada, e aparentemente teve sucesso recentemente, retornando em triunfo à sede da sua casa. Porém, Wyrmer parece indisposto a retirar sua reivindicação. Com duas facções antagônicas prestes a entrar em conflito, uma guerra fratricida parece iminente.

Há um notável aumento na atividade militar nas terras de Lorde Tygor Wyl. Grupos de homens armados têm sido vistos em constante treinamento, e reforços de provisões chegam frequentemente do norte, do leste e do sul, estes últimos passando pelas terras de Paloferro.

Há relatos de que Lorde Tygor tem recebido visitantes noturnos, homens encapuzados que chegam discretamente sob o manto da escuridão. As intenções desses visitantes são desconhecidas, no entanto.

Também foram relatadas grandes quantidades de ouro e armas sendo movimentadas na região. Mercadores e informantes indicam que essas ações podem estar vinculadas a conflitos iminentes.

Lorde Boros Yronwood recomendou que se mantenha longe do conflito, a menos que sua intervenção seja absolutamente necessária.

Atenciosamente, Meistre Thomas Casa Yronwood, Paloferro

Nos dias que se seguiram, Khalid pôde notar os problemas de contar com soldados verdes. Embora ele mesmo não lamentasse as condições precárias no acampamento de trabalho no alto da colina, acostumado por um treinamento militar mais rigoroso, logo a longa estadia começou a afetar a organização do exército.

Brigas e desacordos pela alimentação precária e convivência prolongada eclodiam com frequência. Os soldados de apoio se desentendiam quase todos os dias com os da infantaria, que apesar de estarem em número reduzido eram mais mandões e disciplinados do que os construtores acostumados com improvisos e adaptações.

Um surto de diarreia e febre iniciou-se e aumentava os infectados a cada dia, colocando homens outrora fortes e capazes como tristes e lamentáveis humanos apenas na acepção mais frouxa da palavra.

Ethon começou a instruir Nathar e Sarrac, mas esse trabalho de alfabetização era lento, duro e penoso para os dois batedores. Apesar de serem batedores experientes e capazes de desenhar mapas, as letras desafiavam o raciocínio deles, e Ethon era um professor tão rígido quanto impaciente.


A noite estava escura, com apenas um fino véu de estrelas pontilhando o céu quando Khalid Yronwood, em sua colina, observava os arredores com atenção. O acampamento estava tranquilo, mas ele sabia que a tranquilidade muitas vezes antecedia os momentos mais tensos. Sua solicitação ao meistre Thomas de Paloferro havia sido clara: ele precisava de informações precisas sobre as movimentações nas terras Wyl e Drinkwater, e para isso, dois espiões estavam a caminho.

Pouco antes da meia-noite, um som leve de cascos foi ouvido ao longe. Khalid, sempre vigilante, ergueu a mão para alertar seus homens, que imediatamente se prepararam para qualquer eventualidade. Porém, ele logo reconheceu os sinais combinados de sua casa, indicando que os recém-chegados eram aliados.

Dois cavaleiros emergiram da escuridão, desmontando silenciosamente e conduzindo seus cavalos com habilidade e discrição. O primeiro espião, uma mulher alta e esguia, com cabelos negros presos em um rabo de cavalo, aproximou-se. Seus olhos eram agudos, observando cada detalhe do acampamento com uma precisão quase felina. Ela se apresentou com uma voz firme, mas baixa:



— Sou Anara Norin, enviada pelo meistre Thomas. Fui designada para infiltrar-me nas terras Drinkwater.

Anara vestia roupas simples de couro, práticas e discretas, adequadas para alguém que precisava passar despercebida, coberta por um robe branco fino e esvoaçante. Seu olhar transmitia uma confiança tranquila, fruto de anos de experiência em missões de espionagem.

Ao lado dela, um homem mais baixo, mas de constituição robusta, deu um passo à frente. Seus cabelos castanhos estavam cortados curtos, e uma barba rala cobria seu queixo. Ele tinha um semblante sério e decidido, como alguém que conhecia bem os perigos de sua profissão.



— E eu sou Darian Lothar, também enviado pelo meistre Thomas. Minha missão é observar e relatar as atividades nas terras Wyl.

Darian usava roupas escuras e discretas, com várias bolsas e compartimentos ocultos, sugerindo que ele estava bem equipado para missões prolongadas em território inimigo. Seus olhos castanhos eram penetrantes, e ele mantinha uma postura alerta, pronta para qualquer eventualidade.

Anara e Darian trocaram um olhar breve, mas cheio de determinação, antes de se curvarem respeitosamente a Khalid e se retirarem para descansar um pouco antes de iniciarem suas missões. A escuridão da noite os envolveu novamente enquanto se preparavam para partir, sabendo que suas próximas ações poderiam muito bem alterar o equilíbrio de poder em Dorne.


Khalid Yronwood, sentindo a urgência da situação, convocou seus oficiais para uma reunião. Os homens se reuniram ao redor de uma mesa improvisada, onde um mapa detalhado das terras ao redor estava estendido. Khalid, com uma expressão séria, iniciou a reunião.

— Ibrahim, quero testar nossos novos soldados. Selecione os 50 melhores. Partiremos ainda hoje. Bennar, temos notícias de criminosos na região? Se sim, em qual direção estão se movendo?

Bennar Bathim, um homem de olhos penetrantes e expressão sempre alerta, se inclinou sobre o mapa. Ele apontou para a região montanhosa de Paloferro, suas sobrancelhas franzidas em preocupação.


— Lorde Khalid, os criminosos se concentram principalmente na região montanhosa de Paloferro. É um terreno difícil, cheio de desfiladeiros e cavernas, perfeito para se esconderem. Nossos batedores têm observado movimentos suspeitos por lá, mas a geografia do lugar dificulta qualquer ação direta e torna a localização precisa dos bandos algo complicado.

Ele fez uma pausa, permitindo que Khalid absorvesse a informação, antes de continuar.


— Temos também relatos de algumas incursões de bandidos no litoral, mas são poucas e esporádicas. Eles parecem estar focados em saques rápidos e se dispersam rapidamente antes que possamos reagir. A verdade é que não temos certeza das localizações exatas desses bandos no litoral, e nossos recursos são limitados para cobrir todas as áreas com eficiência.

Mais uma vez, Bennar havia se mostrado preparado. O fato de ele já conhecer a situação dos criminosos na região aumentava minha confiança no oficial.

- Irei ao litoral com alguns soldados de infantaria e batedores. Se tivermos sorte e habilidade, armaremos uma emboscada antes que os bandidos possam se dispersar na próxima incursão.

Eu estava prestes a passar ao próximo ponto da reunião, mas hesitei. Alterar uma decisão recém estabelecida não era algo que um comandante fazia com facilidade. A palavra dada carregava peso. Revertê-la exigia uma convicção ainda mais forte, mas eu tinha essa convicção.

- Na realidade, não iremos ao litoral - corrigi, com um leve movimento negativo de cabeça - Durante o próximo mês, prepararemos uma investida nas montanhas de Paloferro, onde os criminosos possivelmente estão escondidos. Os batedores devem intensificar a vigilância na região e, uma semana antes de nossa marcha, talvez tenham informações concretas, ou o mais próximo disso, sobre as posições dos criminosos. Será uma investida para testar nossa força. Portanto, enviem para Paloferro os soldados afetados por doenças, para que se recuperem e, futuramente, unam-se a Ibrahim Intifah, reencontrando-se conosco.

Virei-me para Abraham:

- Abraham, os soldados de apoio, que até então aguardam os materiais , agora precisarão trabalhar duro. Para evitar novos surtos de diarreia e febre, organizem áreas específicas para latrinas, longe das zonas de alimentação e de descanso. Cavem fossas e as cubram regularmente, reduzindo o acúmulo de dejetos. Toda a água coletada de fontes incertas deverá ser fervida antes do consumo. Também tenham atenção redobrada no preparo e armazenamento dos mantimentos. Os resíduos sólidos devem ser queimados regularmente, mantendo o acampamento limpo. Criem uma rotina de limpeza para as tendas e utensílios.

Olhei para os rostos atentos dos oficiais antes de prosseguir.

- Por fim, formem uma caravana para buscar mantimentos no castelo, garantindo que todos fiquem bem alimentados. É uma vergonha que soldados briguem por comida. Uma vergonha não para eles, mas para nós. A caravana deve ter proteção suficiente para desencorajar ataques e realizará viagens constantes entre o acampamento e o castelo, pois nossa expedição pode se estender por muitos meses. E qualquer homem ocioso, seja da infantaria, do apoio ou dos batedores, deve destacado para ajudar no descarregamento do navio e no transporte dos materiais até o acampamento.

Essas medidas deveriam resolver tanto os problemas de saneamento quanto o de abastecimento. Além disso, manter os homens ocupados os afastaria de atritos desnecessários.

- Com a investida contra os criminosos adiada para o próximo mês, eu irei encontrar Lorde Agon Drinkwater para informá-lo sobre nossa próxima construção, que será erguida na divisa de suas terras. Há algo que eu devo saber antes de me encontrar com ele?

Assim que finalizei a reunião, parti em direção às terras Drinkwater, acompanhado de dois batedores e dois soldados de infantaria

Os oficiais dispersaram-se rapidamente após as instruções, com uma mistura de determinação e foco.

Abraham, experiente e resoluto, já começava a organizar os soldados de apoio, preparando-os para implementar as novas medidas de higiene no acampamento.

Bennar, como sempre, foi o primeiro a se movimentar para garantir que os batedores intensificassem a vigilância nas montanhas de Paloferro.

Khalid, por sua vez, fizera seus próprios preparativos. Ele escolheu dois batedores experientes e dois soldados de infantaria para acompanhá-lo até as terras de Lorde Agon Drinkwater. Cada um deles exibia uma expressão de seriedade e disciplina, compreendendo a importância da missão.

Os dois batedores que acompanham Khalid eram Naidar e Soray. Naidar era um homem ágil e silencioso, de olhar atento e movimentos calculados, conhecido pela habilidade em rastrear rastros sutis no terreno seco de Dorne. Soray, por sua vez, era um batedor jovem, mas experiente, de olhos afiados e grande talento para localizar rotas seguras em terrenos difíceis. Ambos eram altamente confiáveis e leais, garantiu Bennar a Khalid.

Os soldados de infantaria que acompanhavam o grupo eram Tahir e Zafir. Tahir era um homem forte e determinado, veterano em combates corpo a corpo, sempre calmo e de poucas palavras, mas com uma presença imponente que inspira respeito. Zafir era um soldado mais jovem, porém muito disciplinado, com grande admiração por Khalid e conhecido por sua pontualidade e prontidão para qualquer tarefa.

Esses quatro soldados foram escolhidos por suas habilidades específicas, que complementavam bem a expedição e garantiam a segurança e agilidade do pequeno grupo em uma missão diplomática nas terras Drinkwater.

Logo, o pequeno grupo estava em marcha, avançando pelas colinas rochosas que separavam o acampamento das terras Drinkwater. À medida que seguiam, o sol se inclinava lentamente em direção ao horizonte, tingindo o céu de um laranja intenso e lançando sombras longas sobre o terreno seco e acidentado. O vento de Dorne soprava quente, trazendo o aroma das plantas ressecadas e levantando uma poeira fina que se prendia às roupas e armaduras dos viajantes.

A viagem seguia em silêncio. O terreno era traiçoeiro e exigia atenção constante, pois a rocha e a areia se confundiam com cores semelhantes, e alguns trechos lamacentos podiam ter profundidades maiores do que aparentavam enquanto se aproximavam dos domínios lacustres do vassalo de Paloferro. A cada colina, os batedores varriam o horizonte com os olhos, enquanto os soldados mantinham as mãos próximas às armas.

À medida que a noite se aproximava, o calor do dia cedeu lugar a uma brisa fria, e a paisagem de Dorne começou a se envolver em tons de roxo e azul profundo. No silêncio da viagem, apenas o trote cadenciado dos cavalos e o sussurro do vento entre as pedras rompiam a quietude. A escuridão tornava o caminho ainda mais desafiador, mas os homens ao redor de Khalid seguiam atentos e vigilantes.

A lua logo começou a despontar no céu, lançando uma luz prateada sobre o terreno, iluminando a estrada e guiando o pequeno grupo até as terras Drinkwater. Após cruzar o estreito vale, a comitiva de Khalid viu no horizonte o castelo Drinkwater à beira do lago.

Cabia a Khalid decidir se se aproximariam imediatamente ainda sob o manto da noite ou se aguardaria o amanhecer para alcançar seu destino.

O percurso até Drinkwater foi silencioso, especialmente por opção minha. Embora eu fosse cordial e comunicativo com meus homens, daquela vez preferi seguir envolto em meus pensamentos e, por sorte, aqueles quatro eram quietos.

Minha mente estava já focada na incursão que nos aguardava no próximo mês. Seria uma prova para a força de nosso exército. Havia glória a ser conquistada, é claro, mas, mais do que isso, eu desejava garantir maior segurança para o povo de Paloferro, reduzindo o número de bandidos na região. Caso houvesse vitória, não pretendia agir como juiz e carrasco sobre aqueles que sobrevivessem. O tribunal já instaurado decidiria suas penas. Talvez alguns, de posição mais baixa, pudessem receber anistia em troca de anos de serviço em meu exército. Entretanto, se a campanha fosse desastrosa, os bandidos seriam encorajados e a moral de nossas tropas ficaria quebrada, o que levaria a ataques mais ousados. Nessa hipótese, a honra de minha casa estaria em jogo, e eu mesmo não hesitaria em renunciar ao comando, a fim de evitar mais vergonha.

Mas esses eram apenas pensamentos que a cavalgada sob o sol implacável de Dorne me trazia: nada além de ansiedades.

Com esforço, voltei minha atenção ao que realmente exigia meu foco imediato. Conhecia bem Lorde Agon. Eu e Quentyn treinamos em seu castelo tempos atrás, ainda aspirantes a cavaleiros. Na época, Lyra e Lysa sempre nos confundiam, e penso que gostavam de ver nossa incerteza. Agora, com certeza, já deviam ser mulheres feitas, assim como eu e Quentyn éramos homens feitos.

Ao cruzar o estreito vale e avistar o Castelo Drinkwater, soube que o reencontro estava próximo. A propriedade estava exatamente onde me recordava, à beira do lago.

Os soldados que me acompanhavam, após semanas em um acampamento improvisado, certamente apreciariam comida e abrigo dignos.

- Vamos prosseguir - Disse, finalmente quebrando o silêncio de tanto tempo - Soray, adiante-se e anuncie nossa chegada.

O grupo seguiu em direção ao Castelo Drinkwater, o sol de Dorne já declinando atrás das montanhas e tingindo o céu de tons dourados e rosados. Soray acelerou seu cavalo com um aceno discreto, indo à frente para anunciar a chegada de Khalid, enquanto ele e os outros seguiam em ritmo constante. O ar estava carregado com o aroma da vegetação ao redor do lago e, à medida que se aproximavam, podiam ouvir o murmúrio das águas. O castelo despontava majestosamente no horizonte, imponente e ao mesmo tempo acolhedor, com suas torres e muralhas bem preservadas refletindo-se nas águas calmas.



Ao cruzarem os portões principais, Soray retornou com um olhar tranquilo, indicando que o lorde Drinkwater já os aguardava. Dois servos os conduziram até o pátio principal, onde a comitiva desmontou com alívio visível. Bennar e Zafir seguraram as rédeas dos cavalos, enquanto Nadir fez uma reverência rápida, cuidando das armas e verificando se estavam prontas para qualquer eventualidade.

Lorde Agon Drinkwater os esperava de pé na entrada principal, acompanhado por duas jovens mulheres que Khalid reconheceu imediatamente: Lyra e Lysa, as gêmeas agora já feitas mulheres, e seus rostos carregavam o mesmo toque de malícia e sagacidade dos tempos de infância. Ambas o observaram com sorrisos sutis e olhos curiosos, mas respeitosos. 



Lorde Agon, de cabelos grisalhos e postura firme, abriu os braços em sinal de boas-vindas.


— Khalid! — saudou o lorde com voz forte, enquanto um sorriso de satisfação despontava em seu rosto. — É sempre uma honra receber um Sharaf no Castelo Drinkwater. Entre, e conte-nos o que traz um comandante até nós.

Assim que me aproximei de Lorde Agon, eu sinti o peso do comando, das incursões e das estratégias militares se dissiparem. Retornar ao lugar que treinei antes de ser o comandante do exército, antes de ser sagrado cavaleiro, quando era apenas um garoto, trouxe um efeito benéfico sobre meus pensamentos, que refletiu em minha linguagem corporal, deixando meus ombros mais relaxados e minha postura menos ereta.

- Lorde Agon! - minha alegria ao vê-lo era clara, mas o respeito que eu tinha por ele estava presente em cada gesto. Fiz uma reverência longa e genuína antes de abrir os braços e abraçá-lo - Devo confessar, meu coração ansiava por este reencontro. Espero que minha chegada ao entardecer não tenha sido inconveniente demais.

Inclinei a cabeça em direção às gêmeas e fiz mais uma reverência, lembrando-me das travessuras que elas ainda pareciam carregar nos olhares curiosos.

- Diga-me, Lorde Agon, ainda há tempo para uma noite de conversas... ou prefere que deixemos as histórias para amanhã? - perguntei em tom leve, com a tranquilidade de quem não tinha pressa.

Assim que Lorde Agon se dispôs a conversar, perguntei com carinho sobre todos que lembrei. Comecei por Lady Laryssa, querendo saber se ela estava bem e se daria a honra de sua companhia enquanto eu estivesse no castelo. Perguntei também se os jovens ainda se divertiam no lago, e se a velha cozinheira que preparava peixe grelhado com molho de tamarindo ainda era viva e, caso ele dissesse que sim, brincaria sobre minha intenção de levá-la para Paloferro. Também perguntei por Aron e se ele já havia sido sagrado cavaleiro, deixando claro meu interesse em um duelo amistoso, para medir forças.

Então, olhei para Lyra e Lysa, comentando com Lorde Agon:

- Elas se tornaram mulheres muito belas, Lorde Agon. Se o senhor ainda não recebeu pedidos pelas mãos delas, imagino que logo começará.

Depois, eu falei um pouco sobre Boros, Gwyneth e Xaros. Contei piadas sobre Naja D’Areia e o trio de conselheiros de Paloferro. Falei com satisfação sobre os feitos dos meus oficiais e a promoção de Raja.

Quando o assunto finalmente se voltou para o exército, falei com entusiasmo sobre meu plano de construção de torres e postos avançados. Tirei uma cópia do mapa que Ethon havia preparado e o coloquei sobre a mesa. Circulei com o dedo a localização da primeira construção.

- A primeira ficará aqui, para nos avisar do que vier do outro extremo. Achei prudente começar por essa. Já a próxima penso em erguer aqui - Apontei a fronteira com as terras Drinkwater - Acredito ser importante termos um meio de comunicação rápida. Parece haver alguma movimentação pela região, então devemos reforçar nossas defesas e olhos. Claro, jamais a ergueria sem sua anuência. Ainda que ela seja erguida nas terras Yronwood, será vizinha às suas, e respeito sua posição como lorde. Eu também quero ouvir sua opinião sobre essas construções. Sei o quanto o senhor conhece essas rotas e a região. Acha que elas, especialmente essa segunda próxima das suas terras, pode beneficiar a todos nós?