Ver o sorriso de Taylor pouco antes da nossa ligação se fechar foi... reconfortante. "Exatamente como da última vez", pensei, lembrando da última vez que estivemos juntos fisicamente para assistir um filme no cinema e comer um potão de sorvete na Burguer Queen. Encolhido no meu canto com muito para pensar, o pouso de emergência se iniciou e minha primeira reação foi estender cipós de minhas mãos na direção de alguma parte que parecesse firme nas laterais da nave. Eu enrolei as vinhas por ali e as manipulei para se enroscarem no meu tronco como forma de me manter preso e estável; eu não queria, sabe, sair voando pela nave. Quando atingimos o chão, agradeci por não sentir os efeitos da labirintite desde que fui transformado, porque do contrário agora teríamos vomito de garoto-vegetal por todo o chão... o que pode parecer normal, mas os experimentos feitos pela Tríade frequentemente me levavam ao limite e eu posso falar: é ainda mais nojento do que se imagina. Não vou entrar em detalhes, porque ninguém merece.
O pouso não foi dos melhores, mas acredito que eu senti bem menos do que a maioria por conta do meu improviso para evitar me mover demais. Quando eu percebi que não iríamos descer para além do ponto que já estávamos, eu permiti que as vinhas afrouxassem e comecei a absorvê-las de volta pelos meus pulsos; visualmente, era como se elas se fundissem com a minha pele conforme iam retrocedendo e... acho que na prática não era diferente do que a aparência demonstrava. Foi quando John explodiu com um comentário de Sentinel e minha reação foi sorrir desconfortavelmente enquanto os encarava com a testa franzida em confusão. Tinha sido um comentário rude, mas a reação me pereceu descompensada. Eu não sabia qual era a relação daquelas pessoas com o tal Sentinel, mas claramente não era das melhores.
Achei engraçado. Quase ri.
Quando todos começaram a descer da nave, eu discretamente coloquei a mão para segurar Sentinel e Hana mais para trás na intenção de falar com eles com maior privacidade. Nossa prioridade anterior que era encontrar Mila já tinha se resolvido — ela estava ali e já parecia ter atenção o suficiente dos outros dois rapazes —, mas a imagem de Hana naquele círculo ritualístico ainda estava na minha mente e eu queria saber como ela estava. De quebra, tinha a chance de conversar um pouco com Sentinel. Ele tinha problemas com John, e embora eu não chegue a dizer que eu também tenho problemas com o jovem latino, eu também não diria que nossa relação era das melhores. E sinceramente? Nenhum de nós dois parecíamos interessados em mudar isso no momento e eu conseguia levar aquilo como nada além de uma relação profissional tranquilamente.
— Como você está? — perguntei andando no mesmo ritmo da dupla, afinal não queria apressá-los
— Foi aterrorizante. Em um momento eu me senti ser carregado pelos seus poderes, e no outro eu te vi desacordada em algum tipo de ritual. Eu não sei onde estamos, mas certamente é um alívio. — confessei. Fiquei em silêncio por alguns segundos na intenção de ouvir a resposta de Hana e também dar um espaço claro antes de mudar de assunto
— Acho que não nos conhecemos. — falei agora olhando para Sentinel
— Eu sou Matt, o garoto novo. Você também não foi à reunião da equipe, está tudo bem?Àquela altura, tinham muitas pessoas ajudando aquele grupo e eu já não sabia quem era do time oficialmente ou apenas pessoas de fora dando auxílio (como o caso do pai de Alex, por exemplo, embora o envolvimento dele seja puramente por bobagens de legado). Se Sentinel estava ali, na minha cabeça ele fazia parte do grupo, mas ele junto de Mila não tinham ido para o grande encontro que claramente foi super bem e não separou ainda mais os poucos que ficaram. Deveria significar algo, certo?
— O que foi aquilo entre vocês dois lá atrás? — perguntei. Minha cabeça se moveu na direção da John, mais à frente com Jack e Mila, e é claro que eu não perderia uma chance de saber exatamente o que estava rolando entre todos. Um pensamento repentino tinha passado pela minha cabeça durante a viagem na nave e agora que o perigo imediato tinha passado estava refletindo ainda mais sobre ela. Não vou falar ainda o que é, bando de curiosos, mas vocês saberão quando o momento chegar. Até porque vocês vão estar lá...
A caminhada foi longa, mas não posso dizer que foi necessariamente cansativa. Mila já parecia estar voando, mas Hana foi carregada o tempo inteiro. Era claro que ela estava fraca, mas depois de um tempo comecei a me perguntar até que ponto aquilo era realmente exaustão ou ela apenas estava gostando de ser carregada pelo fortão sem modos. De qualquer maneira, não era da minha conta.
A chegada na base alienígena foi... esquisita. Se antes Mila era a forasteira no meio dos humanos, ali nós (eu na medida do possível) é que éramos forasteiros. A telepatia sempre presente de Mila não tardou a nos indicar que aquela que pensei ser um robô era, na verdade, um ser tecnorgânico. Vida emanava daquele local e eu conseguia sentir assim que me conectei com a vegetação ao meu redor e ela não parecia... normal. Não eram como as plantas do mundo lá fora, elas quase pareciam ser como eu.
E fazia sentido, certo? Mila mesmo contou que usaram tecnologia de sua raça nos experimentos que me transformaram. As peças começaram a se encaixar na minha cabeça e eu me peguei me sentindo empolgado pela primeira vez desde que escapei daquela prisão. Tudo parecia tão... incrível. Mas não pudemos explorar demais já que precisávamos passar por um tal de detector de mentiras. Bem, eu não tinha nada a esconder, fui bem transparente com todos desde o momento que nos reunimos então... não é como se fossem descobrir algo chocante sobre mim, certo?
— Como que funciona esse detector de mentiras que falaram? — perguntei para qualquer um que se apresentasse como responsável por aquela etapa. Eu queria terminar logo para conhecer o lugar. Mila já estava liberada, obviamente, mas como convidados imaginei que não se importariam de nos ter perambulando pelas áreas livres.
@Nazamura A zona do Matt vai ser uma sala repleta de todo tipo de vegetação onde ele possa treinar seus poderes e realmente extravasar toda a sua força para ver qual seu limite e como ele pode ser mais eficiente com suas plantas.