Enquanto o curandeiro cuidadosamente fazia seu trabalho fechando o corte de maneira improvisada e lidando com a ferida para que a dor se tornasse suportável por mais tempo, Sankar teve tempo de ouvir as novas de um soldado enviado da prisão. De acordo com ele, dos seis sobreviventes feitos prisioneiros pela tarde, um fora morto sob tortura e eram quatro os que haviam sido libertados, enquanto apenas um permanecia preso e já aguardava na fila do torturador, que no momento devia estar começando com Lyla.
Quando o curandeiro terminou, Sankar ordenou-lhe que levasse Trebor dali e tratasse seus ferimentos, ordem que foi obedecida com urgência. O Tor precisava de seu Senhor no comando naquele momento, pois como Sankar bem fora informado pelo líder do agrupamento, Myria era uma jovem de 17 anos com talento nenhum para o comando. Pelo que sabia, a única herdeira da Casa Jordayne jamais fora preparada para a liderança.
Os homens agilizavam-se e logo o herdeiro dos Portões do Inferno teria uma boa lança em mãos. A pele que contornava a ferida ainda ardia de leve, mas a maior parte daquela região do corpo do dornês parecia ligeiramente dormente. De qualquer maneira, Sankar estava ciente de que o corte poderia abrir facilmente em combate. Certamente precisaria de melhor tratamento pela manhã se o pior não lhe acontecesse.
Assim que Sankar deu a ordem a serviçal começar a andar, a principio desnorteada e somente depois certa de para onde estavam indo, e três soldados restantes o seguiam de perto com certa pressa no passo.
Não havia um longo caminho para percorrer já que o estábulo principal abrigava os cavalos usados por rastreadores, grupos de reconhecimento ou, em casos extraordinários, para passeios, então o local se situava em uma grande estrutura próxima dos portões centrais, ao lado de uma moradia de serviçais. Algumas luzes dos quartos na moradia ao lado já estavam acessas, devido principalmente ao caos ouvido pelas pessoas dali.
Um velho homem de pele muito escura e rosto barbado saiu pela porta dupla do estábulo assim que avistou a aproximação do grupo de Sankar. Pela expressão em seu rosto estava prestes a resmungar e proferir ofensas, mas engoliu tudo ao perceber que se tratava do nobre e alguns soldados.
A jovem que os guiava garantiu-se como a primeira a falar com o velho e explicar-lhe brevemente o que faziam ali, embora um dos soldados atrás de Sankar tenha ficado claramente irritado pela iniciativa dela. "E se estiverem combinando algo?" era o que o soldado deveria estar pensando. Uma linha de pensamento sem muita base, pois Sankar conseguira ouvir a breve conversa de onde estava e não ouvira tramoia alguma.
O velho reverenciaria Sankar a cada vez que este lhe dirigisse a palavra e fez questão de ser o portador da tocha que guiaria o grupo pelo escuro estábulo, isso se o próprio Nassam não quisesse andar com a tocha em mãos. Sankar e os dois serviçais foram na frente, enquanto os soldados viriam logo atrás se não fossem ordenados a fazer o contrário.
- São esses cinco cavalos, meu senhor.- Disse apontando a jovem sem fazer contato visual com o nobre. Haviam bolsas nas selas de três dos animais.- Foram aprontados por alguns homens esta tarde...a pedido da traidora...
O velho nada disse a respeito, pois jurava ser apenas um vigia noturno dos animais e que não lhe era permitido aproximar-se deles durante o dia, informação que foi confirmada pela jovem. Mas ainda assim havia desconfiança por parte de pelo menos um soldado.
- Senhor, se me permite dizer eu não confiaria totalmente neles.- Disse o soldado que acabara de voltar. Ele trazia uma lança longa, feita de metal por toda a sua extensão e ponta laminosa do mais puro ferro. Parecia ser um peça nova feita para uso de soldados do Tor, uma arma que nunca vira uma batalha real.- Acho que talvez o torturador possa refrescar-lhes a memória... por precaução, senhor.
Obviamente a reação dos serviçais foi instantânea, mas veio na forma de expressões de desespero porque ainda não ousavam retrucar. Os outros soldados aguardavam as ordens.