Malak dizia a Voorhees que estava tudo bem, que já tinha passado por coisa pior, e que só estava doendo um pouco. Embora fosse mais do que ele admitia, mas não queria atrapalhar os outros, então se faz de durão.
Quione ajudava os semëks, como os humanos não tinham gostado muito dela a primeira vista, ela não se aproximou muito. Bonitinho parecia gostar da centaurina e ela brinca um pouco com o cachorrão também.
Serrote tentava falar com eles sobre o que pegar e não pegar, mas como os que falavam Esperanto tinham saído ele tinha que ficar gesticulando. Até balançou os braços quando Calisto foi comer umas frutas amarelas, mas ela não entendeu muito (ou não ligou). O paladar de Calisto não era dos melhores, então estava tentando descobrir todos os gostos diferentes que tinha ali.
O rapaz acha um ninho, e aponta para os outros como conseguir pegar uns ovos. Eles juntam o que conseguem: folhas, frutas, ovos e até algumas flores, Serrote separa algumas, faz sinal de "não" e as joga para os semëks, pegando outra parte e cozinhando e servindo outra parte crua. Para um garoto, até que ele cozinhava bem (ou pelo menos bem demais pra vocês que estavam acostumados com restos).
Falko (o "platinado") fica mais vigiando do que ajudando, mas também ajuda preparar alguma coisa com carne seca e um resto de alguma coisa que eles comiam a noite, e que agora tinha a aparência de um molho escuro. O gosto era melhor que a aparência (embora os ovos e salada estivassem melhores). Vez ou outra ele fala algo para vocês, mas obviamente não entendem.
Serrote tenta xavecar Lobo, mas ela basicamente o ignora, se afastando, o rapaz faz uma cara de desconsolo, e vai pensar em alguma outra coisa mais bonita pra dizer na próxima vez.
Azrael, treinado nas minas, e Pana, treinada para não ser notada quando não era conveniente (ou quando queria se esconder), seguem os humanos em silêncio. Porém s três eram muito mais silenciosos que eles. Principalmente Anés (o careca), apesar de se mover lentamente, ele não fazia qualquer barulho, parecia nem respirar. Reikon olhava para cima, enquanto Remo olhava o chão.
- Tem alguns lagartos por perto, e também algumas cobras. Mas vamos deixar como última opção. Estão vendo aqueles rastros de codorna? - Reikon explica, mas mesmo os olhos de arqueiro de Azrael não percebem o que ele mostra. - Não importa, eu e o Remo vamos dar a volta, você esperam aqui com espada em mãos, vamos afugentá-las pro lado de vocês.
Assim fazem. Duas aves vêm na direção de vocês. Porém, antes de terem tempo de tentar matá-las, algo preto e enorme aparece na frente de vocês. Bonitinho tinha sido mais rápido e arrebentado uma ave na mordida.
- NÃÃÃÃÃÃOOOOOO!! Bonitinho! Que porra você está fazendo aqui! Atrapalhou nossa caçada! Sai, sai. Além de tudo é egoísta.
O cachorro brinca com o animal morto, e vai arrancando seus pedaços e comendo. Vocês têm que começar novamente.
Não demora muito, vocês escutam outro tipo de latido por perto.
- Mm, são lobos! - fala Anés.
Seguindo o som, vocês acham um lobo de pelo vermelho e pernas fina a alguma distância. Azrael prepara o arco, mas Remo interrompe:
- É um lobo-guará. Não matamos lobos-guará.
- Tá... Por que não? A carne é ruim? - Questiona o meio-demônio.
- Não, porque não seria uma caça muito honrada. Não é como os outros lobos que são ferozes e causariam dificuldade ao caçador ou que andam em matilha. Se estivéssemos famintos podíamos caça-lo, mas não é o caso.
Tenha ou não entendido a explicação, Azrael deixa quieto.
Mais a frente encontram outro animal, aparentemente roedor de médio porte. Todos se preparam, mas Azrael pisa em folhas secas que acabam alertando o animal, que foge. Anés bate no rosto e se esforça para não xingar.
Quando já estavam pensando na opção das cobras e lagartos, Azrael vê dois animais pastando mais afastados.
- O que são aqueles? Podemos caçá-los?
- São antas. Acha que consegue acertar daqui?
Estavam um pouco longe, mas Azrael tinha (ou queria ter) confiança na sua mira. Mas antes de atirar, com um olhar severo, mas voz baixa para não assustar a presa, Remo o repreende:
- Não vai mirar no estômago, ou estava pensando nisto?
Era exatamente o que planejava fazer: - Não é o método mais fácil?
- Pela deusa! Somos caçadores com honra. Você gostaria de uma morta lenta e dolorosa? Não né? Então mire nos pulmões ou cabeça e permita que ele sofra o menos possível. - Azrael muda a mira. - E acerte o macho, não a fêmea. - Ele não tinha a mínima noção de como fazer isto, escuta dois suspiros - O maior deles. Na esquerda. Aff!
Azrael acerta. Não foi se melhor tiro, mas consegue ferir o animal bastante para os demais correrem e acabar o serviço com as espadas. A fêmea foge. Os homens cortam algumas veias e artérias para que o bicho vá sagrando enquanto o carregam. Pana, que tinha ido mais pra observar que participar (e para fugir dos conversadores), pergunta sobre como preparar a carne e outras coisas.
- É importante retirar o máximo do sangue, pois é fonte das energias ruins.
- Na cidade-prisão onde vinha os demônios aproveitavam principalmente o sangue.
- Por isto são demônios. São bestas inescrupulosas voltadas eternamente para o mal. (pausa) O sangue leva a força do ser vivo, muitos se alimentam dele para buscar o que eles tem de mais poderoso. Tipo: a força do urso, a velocidade do antílope, alguns bebem o sangue de seus inimigos vencidos ou de magos para ver se conseguem absorver seus segredos e poderes. Em parte tudo isto funciona, se você for ligado a magia ou sei lá. Mas você também absorve tudo que o sangue trás de ruim, a raiva, a dor ao ser morto, os ódio dos inimigos, etc. etc. Por isto, quem tem consciência só pega as partes melhores da caça. Evitamos o sangue, as vísceras...
Como ela estava colaborativa, ao chegar no acampamento eles "deixam" ela (e um ou outro que queira ajudar) cortar o bicho.
- Vamos ver se você tem habilidade com a faca: Corte aqui, aqui, aqui, tira aquela parte ali, agora aqui, cuidado com esta parte do intestino, tem que sair inteira pra não contaminar o resto, agora um corte forte nesta direção....
No fim eles preparam a carne junto com o que Serrote e Falko tinham preparado e fazem uma refeição quente para todos. Eles separam fígado, rins, pulmão (coisas que vocês estavam bem acostumados a comer na cidade-prisão) e põe de lado. Se algum de vocês afim de comer, que preparem. Quione já pega um bom pedaço do fígado. Os homens começaram a se acostumar com a presença da centaurina, mas ainda olham com nojo o prato dela.
- Em Akvlando só comemos fígado quando a pessoa está com anemia forte.
Ela não se importa com o comentário, estava bem abaixo do peso, então podia dizer que era quase o mesmo caso.
Serrote joga alguns pedaços de comida pra Bonitinho, e incentiva Lobo fazer o mesmo.
- Dá isto aqui para ele, que ele vai parar de implicar com você.
Ela joga um pedaço de carne pro cachorro, que quase morde a mão dela junto. Mas ela conta os dedos e ainda estava com cinco. Alguns riem da cena e da cara de medo, mas pelo menos o cachorrão para de rosnar para ela.
- Viu, daqui a pouco vocês viram amigos... Eu posso preparar algo pra você também? Quem sabe também viramos amigos... Gostou do molho de manga que fiz mais cedo né? Devia provar em cima da carne... aqui, experimenta!
Calisto parecia uma criança brincando na água, os humanos não se preocupavam muito com isto.
Depois de finalmente comerem (demorou um pouco, então na manhã já estava na metade) eles põe-se a andar. Falko ia na frente, Remo vasculhava o chão, Bonitinho (que não era lá muito bom cão de caça, mas certamente era ótimo cão de guarda) seguia o grupo de um lado para outro.
Em um momento eles param, e os demais param atrás. Pareciam ter visto algo importante no chão. Chamam Azrael e apontam algumas marcas de sangue.
- O que acha?
Talvez perguntem para ele por acharem que é o líder do outro grupo, ou por ser arqueiro, ou só por ser o cara que fala Esperanto, Azrael pensa um pouco, mas depois de um tempo entende o que eles observavam:
Haviam marcas de sangue que mostravam que alguma coisa brigou com outra coisa por ali, mas também uma pegada razoavelmente grande no meio, e o que chamava atenção era que a pegada tinha seis dedos. Não eram todos, mas alguns demônios tinham seis dedos.