Para a surpresa de Eu Se, não era um clima de casal fofo que estava em volta dos dois. Rin era discreta e agia normalmente, enquanto Minki parecia incomodado como sempre, agora provavelmente por causa da televisão.
Myeon sorria suavemente, entrelaçando os dedos com os dele debaixo da mesa. Tudo que sentiu durante (e depois) daquela música eram revividos naquele instante, mas as plaquinhas em seguida também a deixaram séria. Não tinha intimidade com a menina para ir atrás dela. Toda a mesa ficou um pouco constrangida, porque Yuki estava bem ali.
Minsoo observava a reação de Yuki atentamente. Os demais da sala podiam notar sua expressão bem séria. Era a primeira vez que tinha visto tanto a apresentação delas quanto aquele tipo de agressão. Ele também não traduziu à irmã o que estava acontecendo com as faixas na televisão. Ele a acompanhou com o olhar, agora carregando um pouco de pesar.
- Yuki… - mencionou um pouco baixo, mas ela já estava desnorteada procurando pelo banheiro.
Hyosang foi até a menina, mais simpática do que o normal.
- Ei, posso ajudar? Ah, venha comigo. - ela fez um contorno atrás do balcão, mas em vez de ir ao banheiro, Shin percebeu que ela foi levada em direção à cozinha e ao depósito.
As últimas apresentações chegaram e, para alguns, os resultados foram mais impactantes do que a polêmica das faixas.
- Ah, eu sabia! - soltou Quan Lei ao se ver em primeiro lugar.
- Eu devia ter escolhido o seu grupo - Tommy riu. - Dá próxima ficaremos juntos.
- Será que está tudo bem? - murmurou Myeon para Shin, dando uma espiadinha por onde Yuki tinha sumido. - Bem, eu sabia que você ia ganhar. Vocês estava perfeito~ - sorriu orgulhosa. - Mas minha nota foi comprada depois - reconheceu, mais timidamente. - Eu quero~~
Nana conversava com Minsoo, tentando entender o que tinha acontecido, mas ele estava visivelmente chateado e pensativo.
♪ Yuki ♪
- Taegyu, alguém veio te ver. - Anunciou, enquanto o rapaz terminava de lavar um prato. Não era o banheiro, mas a mulher não se explicava. Também estava no salão assistindo e tinha entendido a motivação da menina.
- Yuki. - largou o prato de lado e secou a mão - Está tudo bem? - aproximou-se dela e abaixou-se, assumindo que algo tinha acontecido.
Hyosang deu uma piscadinha e se retirou.
♪ Eun-Ji ♪
- Eu fugia sem um bom motivo para isso, só não queria ficar na casa de ninguém. Mais de uma família tentou me adotar antes, mas eu era mal criado com todos eles. A primeira ficou muito chateada e me devolveu, a outra até tentou ficar comigo, mas quem quis voltar fui eu. Eu só não estava pronto ainda, não eram ruins. Depois me disseram que essa adaptação é normal. Eu comecei a me acalmar um pouco vindo à igreja e então fui adotado finalmente, mas dessa vez a família foi muito paciente e não pareceu se importar com minhas crises de rebeldia. Com o tempo eu percebi o quanto estava sendo mimado e injusto, então simplesmente parei. Vi que não fazia sentido me colocar na posição de vítima do mundo. Foi um sentimento esquisito, eu só me cansei de fazer.
- Talvez. Mas todos somos um pouco egoístas às vezes. Eu não posso dizer se você é “normal” ou não. Essa palavra é complicada de usar. Não me sinto à vontade de julgar assim. Mas a verdade é que todos nós temos um lado sombrio e é impossível ser bom o tempo todo. O importante é tentar evoluir. Muito mais do que sentir culpa ou tristeza, nossas atitudes é que mudam tudo.
A religião fazia de Choi uma pessoa muito paciente e tranquila, podendo lidar com os problemas dos outros muito mais facilmente, já que aparentemente lidava bem com os próprios.
- Tudo bem. Eu falei porque eu quis contar - sorriu de forma tranquilizadora. - Um dia vai conseguir parar de falar deles também. - ouviu o restante, até que assentiu, sorrindo de novo. - Exatamente. Tento não falar em excesso. E é claro que eu não vou te bater, você também não deveria falar isso, porque não faz nenhum sentido e não são atitudes que devem acontecer. Você já sabe disso. Não confie demais em mim também, eu não sou tão bonzinho assim. Também fico irritado e cometo erros às vezes. É por isso que estou por aqui, mas estou tentando.
- Ótimo! Estou animado. Tenho certeza que todos no coral ficarão felizes em te ver também. Até amanhã.
O psicólogo tentou desassociar aquele sentimento de rejeição que ela achava que Dam tinha por ela, já que o rapaz era uma pessoa diferente e já tinha dado demonstrações de carinho e cuidado, o que era diferente de sua família. Além disso, ela não tinha como saber o que o levava a agir daquela forma, pois ele teria seus próprios problemas. Ele disse que era normal que ela achasse que qualquer rejeição era igual a de sua família, mas lidar com a frustração era importante para uma vida adulta e trabalhariam isso depois, para que ela não julgasse todas as pessoas pela régua do que havia acontecido em casa. Não era possível controlar os sentimentos das outras pessoas, independentemente de agir de forma “certa” ou não e por isso mesmo não deveria achar que era culpa sua os problemas de sua família em amá-la. Ele compreendeu que ela estava na fase da raiva, projetando suas frustrações em Dam por conta de seus problemas em casa e pela primeira vez tentava reagir na defensiva, colocando toda a culpa nele de uma vez. Era parte de um processo da mente em criar alguma defesa para si mesma, que no momento não tinha filtro nenhum, mas que era importante que ela, aos poucos, criasse um meio termo. Não era saudável que ela ficasse completamente na defensiva, pois era perigoso que se tornasse uma pessoa reclusa que se colocasse na posição de vítima em toda e qualquer situação de desavença e acusasse os outros de agirem propositalmente contra ela, como se fossem vilões de uma história em quadrinhos, o que geralmente não acontecia na vida real. Mesmo assim, falou da importância que era ela começar a querer se defender e parar de achar normal as torturas e maus tratos que sofreu.
Durante a transmissão, Cheong ouviu o lamento da garota e a observou saindo do local. Era importante deixá-la ter seu momento. As crianças assistiriam até o fim, embora algumas já estivessem bem sonolentas, todos se divertiram em conjunto. Ela dormiria sem interrupções.