por Gelatto Dom Mar 03, 2019 8:17 pm
O aeroporto internacional Louis Armstrong estava lotado. Passageiros iam para todos os lados, funcionários abarrotados de trabalho, e um certo voo vindo da Grécia trouxe de volta para cidade um de seus mais antigos moradores. Após dois longos anos viajando pela península balcânica, Arthur Fray finalmente voltou para casa. Mas ainda havia um longo percurso para chegar no lugar que chamava de lar.
Conseguiu um táxi para o French Quarter, onde estava seu antiquário e casa. Já estava entardecendo quando deixara o aeroporto e já era noite quando chegou ao seu destino. Em dois anos a cidade não mudara quase nada. Alguns estabelecimentos novos, outros fechados ou com nova diretoria, mas o clima característico da cidade estava lá, ainda mais agradável com o jazz que tocava no rádio do táxi.
Arthur chegara ao seu destino. Desceu, pagou o motorista depois dele deixar sua bagagem -duas grandes malas de viagem e uma menor-, na frente da porta do antiquário Relics & Rarities. Era um bairro movimentando, principalmente nas noites de verão. Arthur se aproximou do seu lar, parou em frente, e suspirou de cansaço e alívio. Estava em casa.
Antes de entrar, se aproximou do batente da porta da entrada. Fechou seus olhos e colocou a palma da mão esquerda sobre o batente, enquanto inclinava um pouco a cabeça como se tentasse escutar algo. Depois aproximou o rosto, cheirou o batente e por fim, lambeu a madeira antiga. Um casal que passava por perto percebeu a cena e saíram rindo achando que o velho Artie era algum tipo de biruta. Mas não. Arthur apenas testava as defesas mágicas do refúgio em busca de sinal de violação. Dois anos eram muita coisa, e este velho era precavido. Mas estava tudo no seu lugar. Nada violado.
Algumas palavras são ditas e um clique na fechadura é ouvido, trancas são destrancadas e a porta se abre. Era um local com seu espírito desperto graças às práticas de feitiçaria. Ele era receptível ao seu senhor, bem como aos convidados, que não percebiam nada. Porém, quando havia algum invasor, alguém indesejado ou algum cliente impertinente, o local poderia afugentá-lo pregando alguns sustos ou dificultando as coisas, como se fosse uma casa mal assombrada. Então, Arthur entra, coloca a bagagem ao lado da porta da entrada enquanto a porta se tranca sozinha. Uma casa desperta tinha suas vantagens.
Olhou em volta para conferir tudo, claro que estava tudo no local, mas havia algo a mais. No fundo da loja, ao lado da registradora, havia uma sacola de papel coberta de poeira pelo tempo. Arthur se aproximou e viu que era comida chinesa, já velha e estragada. Ele jogou ela no lixo. Ao lado, um bilhete:
"T. A. Vim te visitar e não te encontrei em casa. Trouxe a janta. Volto outro dia. Não trabalhe muito. C. F."
Era da Clairy. Ela falou que não havia encontrado Arthur em casa e ligou o procurando preocupada. Isso foi dois meses depois de sair de viagem. Celulares. Facilitam muito. Como a tecnologia avança e a magia é esquecida. Esta é sina de todo bruxo. Então, Arthur coloca a mala menor sobre o balcão e a abre. Era de código. Dentro dela, protegidos por espuma, haviam alguns itens raros. Alguns foram difíceis de se encontrar, mas ele finalmente encontrou o que seu cliente procurava. Levou mais tempo do que imaginava. Cada local que visitava o levava a outro. Foi difícil encontrar algo perdido quando este algo queria continuar perdido. Arthur espera que seu cliente fique satisfeito e entenda a demora. Amanhã ele ligará para ele. No momento, Arthur apenas quer descansar.
Mas não seria nesta noite que descansaria. No fundo da loja havia uma escada em caracol que levava para o segundo andar, onde se encontrava seu quarto, e para o porão, onde ficava o depósito. Ao tocar no corrimão para subir as escadas, sentiu um frio na espinha, sentiu a presença de algo vindo do depósito. Arthur ficou alguns instantes pensativo, analisando a sensação. As defesas não foram violadas, logo, era alguém que tinha passe livre para o local. Arthur imaginava que podia ser Clairy tentando lhe pregar alguma surpresa de boas vindas. Arthur estava ansioso para ver a sobrinha que começou a descer as escadas, como se não tivesse percebido nada. Conforme descia, seu sorriso de alegria foi mudando quando seus sentidos lhe trouxeram um cheiro de sangue familiar. Arthur havia esquecido da promessa que fizera anos atrás, de nunca negar asilo para lupinos quando o buscassem. Mas a casa desperta se lembrava. E ela permitiu a entrada de um lupino, que estava escondido no depósito.
Arthur teria uma conversa séria com o espírito da casa mais tarde.