A simplicidade do interior da casa era grande e ao mesmo tempo não me incomodava. Claro! Eu tinha outros pensamentos em mente e respostas a obter. Com os segundos que se passaram, encontrei algo positivo em tudo aquilo. Era a personalidade irreverente de Axelle, ela parecia despreocupada e minha hostilidade não pareceu afetá-la. Bom, muito bom… Eu não saberia como reagiria se recebesse uma resposta atravessada.
Cruzei meus braços esperando a entrada de Gláucio e as palavras da mulher. O que me pareceu incrível foi o motoqueiro estar atrás de mim, com sua eterna expressão de poucos amigos. Aquilo me deixou intrigada porque eu não o tinha visto atravessar a porta. Ele deveria ter seus truques, certamente, mas a minha atenção agora era toda para Axelle, que por fim começou a falar, após ter percebido seu deslize.
A intenção dela era realmente enganar a "esposa ciumenta". Vamos ignorar o esposa e principalmente o ciumenta, considerando que ela apenas queria me enganar. Ela havia confessado e se não tivesse cometido o deslize por estar " chapada", provavelmente ainda estaria insistindo que não conhecia Cain. Mas por que ela teria que mentir dessa maneira?
Percebi certa zombaria da parte dela insinuando que eu poderia ter algum "chilique". Independente do real significado da palavra, pareceu uma zoação, mas permaneci imóvel, encarando-a, já semicerrando os olhos. Estava cansada de esperar, de toda aquela enrolação. A mulher cruzou a sala, indo pegar um cigarro já gasto e acendendo-o novamente. Por fim começou a falar.
Queria ter ignorado a palavra " foda" saindo da boca daquela mulher, contudo, nas reuniões mais… informais daqueles que frequentavam as masmorras era um termo comum para definir o ato sexual com algum parceiro/parceira que eles não tinham envolvimento emocional. Interessante… Então Cain pagava para "foder" aquela mulher. Era esse os negócios que o desgraçado tinha com Axelle. Bom saber. Pelo menos tinha bom gosto…
Todo o sarcasmo com o qual encarava a situação não foi capaz de impedir que a cólera se instalasse sob meu peito. O coração pareceu queimar de ódio. Sim, eu senti meu peito arder, senti o ciúme me consumir e precisei usar o máximo de controle para não explodir mais uma vez. Se era verdade ou não, eu ainda não sabia. Axelle não inspirava confiança, já havia mentido uma vez e poderia mentir tantas outras. De acordo com Zettler, Cain a estava usando para obter informações. Tudo o que a morena falava poderia ser mentira, era bem provável, por isso me concentrei para saber o que tinha de verdade naquelas palavras. Uma coisa era certa, havia uma estranha ligação entre os dois. Cain havia feito algo àquela mulher para que sua energia vampírica estivesse presente nela. Fodas não tinha o poder de fazer isso, ou pelo menos eu achava que não…
Axelle ainda disse que Cain havia apresentado-a à Arctus e que ele tentara viciá-la em uma droga, mas quando a mulher acusou Cain de tentar sabotar Arctus recordei-me das palavras de Vanessa que entravam em atrito com a afirmação da mulher. Zettler falara sobre ela estar tentando fragilizar a aliança de seu grupo com o exotérico. E por que Axelle não tentaria me jogar contra o vampiro? Não sei o que ela ganharia, mas era traiçoeira, a cada segundo que passava ela me deixava mais certa disso. Contudo ela falou sobre algum hábito que Cain tem com o sangue e deu a entender que bebera do sangue dele. Talvez essa fosse a resposta para a tal ligação que eu vi entre o padrão dos dois. Cain talvez cedesse seu sangue para Axelle por algum motivo, não seria impossível, e ele usar esse sangue para usá-la como Zettler havia mencionado também poderia estar acontecendo.
— E como ele pretende sabotar Arctus? — Perguntei, agora tentando fingir entrar no jogo dela. Eu não era muito boa com essas coisas, mas ainda queria saber o que Axelle diria, queria descobrir o que de verdadeiro havia nas suas palavras. Até que finalmente a mulher disse algo que poderia me ajudar caso fosse verdade.
"Cain disse que eu ia ter de buscar um garoto no cemitério, um menino Giovanni... Enquanto ele mesmo ia para uma sede do governo, parece que ele tinha algum esquema pesado para destruir um tal de grupo de "tecnocratas"... "
Se ela estivesse falando a verdade Cain teria partido para sede do governo para destruir a tecnocracia. Eu juro, nesse momento a minha mente entrou em choque. Eu ainda estava irritada com as palavras da mulher, com a possibilidade de ela falar alguma coisa verdadeira, mas ela dizendo isso acabou por "bater" com o propósito do vampiro ter saído do bosque. Ele dissera que iria procurar por ajuda, talvez não tivesse encontrado e tivesse partido sozinho porque ele sabia que eu faria exatamente isso se eu tivesse a oportunidade.
"Cain, seu desgraçado, é bom você não ter adotado uma atitude suicida. Eu preciso te fritar antes que os tecnopatas o façam. Idiota! Idiota! Mil vezes idiota!" —Pensei. O pior é que tudo nesse sentido poderia ser condizente às palavras de Zettler. A minha cabeça pesava com tantos pensamentos, eu suspirei, olhando para Gláucio, ele deveria saber mais do que eu, que parecia estar sendo feita de besta, a mulher brincava com as palavras. Axelle poderia estar contando mentiras e soltando pequenas verdades, tanto que falou algo sobre se lembrar de Nyx e Lilith quando olhou para mim. Ela ainda sugeriu que tentássemos alguma coisa outro dia e falara antes sobre Arctus se chamar Dean Winchester… Eu ainda encarava Gláucio tentando fazê-lo entender que eu precisava de respostas sobre aquela mulher, ele tinha ligação com Vanessa sabia mais do que eu, poderia dizer também se havia a possibilidade de Cain se infiltrar na sede dos tecnopatas.
Para Axelle tudo isso era uma loucura e que ele poderia morrer. Para Cain tudo isso era uma loucura suicida e eu com certeza morreria. A mulher falava mais coisas, mas eu só captava isso e sentia o nó se formar na minha garganta. A possibilidade me assombrava ainda mais do que qualquer indício de traição e agora não era pelos outros, não era por Cassidy, não era pela minha missão, era por mim e por ele, pelos meus sentimentos, por aquela ligação que não era de sangue e sim de alma. Quando meu pai se foi em sacrifício eu pude suportar porque ainda tinha o vampiro, agora se o imbecil idiota tapado babaca fosse se sacrificar também… Eu tinha que impedir isso.
Levei minhas mãos ao rosto, precisava recuperar a concentração. Independente das mentiras da mulher, eu teria que extrair o máximo dela.
—E a quanto tempo ele disse que iria para a sede do governo?
| • Cruel Fairy Tale
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