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Tava rasgado, sabia que tava, não ruim igual o Atiçador tinha ficado, ainda conseguia andar, mas tava ruim, muito ruim. Não sentia o cheiro do sangue de ninguém que não o dele mesmo era o primeiro a ter voltado, a ter achado o caminho de casa...
A bancada era um alento pra dor ela passava de muito insuportável pra apenas insuportável, ficar ali parado, sentindo o corpo relaxar o que podia enquanto o sangue se esvaia era o que ele podia fazer de melhor agora. Não era a primeira vez que tava passando por aquilo, e certamente não seria a última.
Foda-se!!! O trato tinha sido cumprido, agora era hora do Caminhante fazer a parte dele, a verdade é que depois daquilo ele já tava sentindo raiva daquela coisa, dava algum desgosto de olhar pra aquelas ferramentas ali e lembrar do bicho, mas lá no fundo, depois da camada de dor tinha a camada do orgulho, do dever cumprido, tava rasgado, mas tinha rasgado o filho da puta primeiro, e era só o ódio que tava mantendo ele de pé, consciente.
Ele vê Millie e fala – Tá tudo bem, eu não vou morrer, eu acho, vai se acostumando... – tinha até um tom jocoso já esperado dele, mas as palavras não saíram, ainda que ele jurasse que havia falado aquilo, a coisa toda deve ter até soado engraçada fora de contexto, devia ter feito o som de um bêbado que havia levado um pico de um dentista.
A sensação da dor indo embora era boa, talvez um alívio que ele nunca tinha sentido antes, não daquela maneira, mas logo o que parecia acontecer era a transferência de emoções, enquanto o desespero se esvaia na face de Millie ele ganhava forma na de Connor que imediatamente pulava da bancada e tomava ela nos braços, foda-se que ela tava toda cagada de sangue agora, tava preocupado com ela, nem sabia o que ela tinha feito, mas ele viu a marca dela crescer aquilo com certeza não significava boa coisa.
Foi pra cozinha, não tinha mais sangue pra cagar a casa inteira, ele se sentou na bancada da pia com ela nos braços, não falou nada, só ficou aquele tempo abraçado com ela, escutando sua respiração pertinho do ouvido, como se marcasse o tempo e cansaço com base em como ela reagia, ainda que a cheirasse constantemente.
Quando finalmente viu que ela estava melhor, pelo menos a ponto de andar calma e falar ele a pôs no chão, segurando seus primeiros passos só pra ter certeza de que realmente estava tudo bem – Vem... – Falou em voz baixa e carinhosa, puxando ela por uma das mãos pro banheiro, ele precisava de um banho e ela agora em consequência também.
Não dava pra negar que ele ficava excitado com o cheiro e em ver ela nua, até por que seu corpo em suas funções mais básicas e primais o traia, mas não teria a pachorra de tentar nada, não naquela circunstância, lá no fundo a coisa toda chegava a ser meio frustrante. Ajudou ela a se lavar e apalpou a marca dela – O Sangue do Lobo é um território selvagem... Bebê, eu não faço a menor ideia do que cê fez, mas não faz de novo, pelo menos não até a gente descobrir por que tua marca cresceu, essa coisa pode tá te consumindo, e eu não quero ver o final disso. – Não era uma bronca, nem podia ser, até ali nem sabia que ela era capaz daquilo, mas tava preocupado.
Pegou seu roupão que tava pendurado em um cabide próximo das toalhas e vestiu nela, a coisa parecia engraçada, ficava extremamente largo, era feita sob medida pra Connor deveria ir até seu joelho, mas nela ia parar quase nos calcanhares. Ele mesmo apenas enrolou uma toalha na cintura e acompanhou ela até seu quarto, havia sido emoção demais por hora, ninguém havia chegado ainda, mas sabia que eles iam chegar aos pedaços também, não queria que ela visse.
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