ESDRESBeron recebeu Esdres num pequeno recinto de sua tenda privada, uma antessala de seu leito com Lady Maria. Havia espaço apenas para uma mesa e quatro cadeiras, uma em cada lado da mesa. O Lorde Felinight fez o Segundo Filho sentar-se de frente para ele e repousou os cotovelos na mesa enquanto juntava as mãos sob seu queixo, ouvindo pensativamente e com atenção o que Esdres tinha a lhe dizer.
- Boa noite senhor meu pai! Lícia pediu para avisar o senhor de que hoje, no torneio, fez várias amizades com várias nobres, entre elas a Lady Lyessa Flint, que inclusive avisou a ela que quer conversar com o senhor a senhora minha mãe futuramente. Ela me pediu uma folga amanhã para leva-la até o acampamento dos Cerwyn, pelo jeito ela marcou uma visita com Jonelle e quer que eu vá junto.
Beron Felinight fez um sinal displicente com a cabeça, descartando a sugestão:
- Flint? Deixe a velha esperar, não temos assuntos de nosso interesse para precisar irmos até ela nesse momento. Já vi a filha de Cerwyn antes, uma donzela de mais de trinta anos. Não temos assuntos imediatos a tratar com os Cerwyn, e você precisa concentrar-se nas lutas do torneio e em descansar entre elas. Se Lícia quer praticar sua etiqueta e fazer política de boa vizinhança, deixe que ela leve algum soldado como escolta e faça isso sozinha. Mas sua mãe ficou encarregada de controlar Lícia, então o que ela disser sobre ela, será feito.O patriarca Felinight encerrou o assunto, aguardando os próximos tópicos.
- E por último e não menos importante, ela fez uma grande amizade com as irmãs Manderly. Eu tive também o prazer de conhece-las, e digo meu pai, que meninas adoráveis elas são! Lícia as chamou para visita-la aqui, e espero também passar um ótimo tempo com elas.
Um sorriso raro rasgou a face normalmente pétrea de Beron e ele falou:
- Excelente, Esdres! Uma aliança matrimonial com os Manderly de Porto Branco seriam muito úteis para nossa casa. Faça o que puder para cultivar essa relação, seja respeitoso e cavalheiro, e me mantenha informado. Se elas vierem aqui, devemos tratá-las com todas as honras. - Agora, não sei se o senhor sabe, mas Sor Langley Woods, no qual eu combati hoje, veio a falecer logo após nossa justa.. Tenho medo de criar novos inimigos apenas por causa de um torneio.. De qualquer modo, convidei o escudeiro dele a ser meu novo escudeiro, e como ele ainda tem que cumprir a última missão dele de levar o corpo de volta para suas terras, pedi para ele levar uma carta redigida por mim, mas que pode ser por você facilmente, pedindo desculpa pelo ocorrido, ainda que foi sem intenção.. Arthur também me deu a ideia de pedir para o nosso tio avô analisar o corpo, suspeitando ser envenenamento igual ao Dannett, o que o senhor acha?
O rosto de Beron fechou-se novamente em sua expressão séria e compenetrada, e ele pesou cada palavra de Esdres antes de responder:
- Uma morte lamentável, mas não foi sua culpa. É claro que isso não impedirá outros de o culparem por isso. Você agiu bem com o escudeiro, mas em vez de escrever uma carta, vá pessoalmente com ele entregar o corpo de Woods a seu pai, apresente-se com humildade e explique pessoalmente o ocorrido. Isso mostrará que é um homem honrado e que lamenta verdadeiramente a morte dele. Bosque Profundo fica perto de nossas terras e você pode fazer um desvio de dois ou três dias no caminho para casa para prestar os respeitos a Lorde Woods.A voz de Beron desceu uma nota e ele falou um pouco mais inclinado na direção de Esdres:
- Se você suspeita que ele foi envenenado, aja assumindo que foi mesmo. Se o nosso meistre Asdulfor for até o cadáver de Woods e determinar que houve envenenamento, o segundo de um de seus oponentes no torneio, vai levantar ainda mais suspeitas contra você. Você pode começar a ser visto como um trapaceiro em vez do herói do povo cuja imagem estamos tentando construir. Não, Esdres, não precisamos ter certeza da causa de uma morte para entender as ramificações dela. Faça o que lhe disse e não envolva o meistre nisto, entendeu?Ele guardou silêncio esperando que Esdres prosseguisse:
- E já que estamos falando de planejamentos.. Estive pensando, os nossos prisioneiros vieram até aqui para depor a favor de nossa inocência. Porém não foram necessários.. Acredito que, após o Baile da Rainha, poderíamos fornece-los para a Patrulha da Noite. Ouvi dizer que eles estão aqui recrutando voluntários. Assim fortaleceriamos nossa relação com eles, ja que estão bem pertos da gente..
Uma sobrancelha de Beron ergue-se e seus olhos abriram-se enquanto ele ouvia a sugestão de Esdres. Ele respondeu lentamente:
- Uma ideia engenhosa, Esdres! Eu mesmo não tinha pensado nisso, e agora que penso, parece uma ótima sugestão. Se os homens da Patrulha da Noite estão aqui recrutando, podemos convidá-los a nos acompanhar no caminho de volta ao Norte. Enquanto recrutamos mais plebeus, eles poderão recrutar mais criminosos condenados da mesma fonte. E a presença deles reforçaria a legitimidade de nossa causa perante o povo. Sim, me parece um estratagema bastante inteligente. Peça a Gylen para falar com o recrutador da Patrulha, e se ele aceitar, pode vir reunir-se conosco para discutir os detalhes. MAEHRAApós o jantar, Maehra encontrou novamente uma carruagem à espera dela, novamente com Sor Aubrey Abyss segurando-lhe a porta do veículo aberta. Mas no assento do cocheiro não era o imenso Krotalus que se sentava à espera dela, mas sim um homem mais velho, um veterano com aparência de poucos cabelos na cabeça e poucas expressões no rosto.
O soldado Abyss a saudou educadamente como sempre fazia:
- Boa noite, Senhorita Maehra. Pronta para ir?Assim que ela embarcou, eles deram a partida no veículo. Caía uma garoa fina mas constante, e os cocheiros tiveram cuidado para não atolar o transporte em valas enlameadas. Quando alcançaram a estrada do rei o caminho tornou-se mais suave e com menos solavancos, e a velocidade aumentou um pouco, e melhorou ainda mais ao entrar nas ruas calçadas da cidade de Porto Real.
Finalmente, a carruagem parou diante da Casa de Chataya e os cavalos sacudiram a água acumulada em seus pêlos enquanto Aubrey desceu para abrir a porta para Maehra e dar-lhe a mão para auxiliar seu desembarque.
Os dois vigias intimidadores montavam guarda nas laterais da entrada, checando cada visitante discreta e rapidamente. Maehra viu que o salão da casa estava ainda mais movimentado que na noite anterior, com mais visitantes, mais música e mais servos do que antes, embora menos garotas estivessem à vista e as que estavam mostravam-se ocupadas em entreter mais clientes do que pareciam capazes de dar conta.
Maehra poderia escolher como passaria sua última noite ali na Chataya.