Ano terrestre 2213
Nave espacial Argo 2
Destino: Marte, planeta vermelho
Duração da viagem até o momento: 252 dias
Tripulação preparada para acordar após 187 dias de hibernação criogênica
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Dr Benipe Arafa ou apenas Dr Bene, como gostava de ser chamado, estava cuidando da enfermaria da Argo 2.
Sabia que mais um grupo de tripulantes estavam sendo preparados para despertar depois de meses em estado criogênico e tudo deveria estar pronto para se algum dos tripulantes precisasse de maiores cuidados. Ele próprio havia despertado a cerca de dez dias e sabia bem o quanto isso poderia causar muito mal-estar e alterações físicas e psicológicas.
Ele deu alguns passos para trás e olhou em volta. Estava finalmente tudo pronto. Macas, seringas com líquidos aquecidos, calmantes e remédios para todos os tipos de mal-estar estavam colocados sobre o balcão metálico. Faltava apenas os prontuarios dos tripulantes.
Dr Bene vai até a sua mesa e pega um dispositivo eletrônico, pouco maior que a palma da sua mão, e extremamente fino e o manuseia tendo acesso aos prontuários dos membros da tripulação que passariam pelo próximo processo de despertar.
Ele passa pelo prontuário de três homens que estavam em um estágio mais avançado de despertar, anotando mentalmente algumas informações importantes.
Então ele vai para o quarto prontuário, mas para sua surpresa a sua foto é mostrada. Ele franze atesta e balança a cabeça quando vê seu prontuário. Com certeza era um erro e depois verificaria isso. Ele toca na tela para acessar outro, mas mais uma vez sua foto aparece. Ele acha estranho e repete o processo. Novamente era seu prontuário, mas a foto havia mudado, ele parecia doente na foto. Assustado, ele clica várias vezes e surgem sucessões de fotos cada vez mais deterioradas até que por fim ele vê uma foto sua, dentro de um saco preto, apenas com o rosto para fora. Estava morto.
Um último clique e uma última foto. Ele estava morto, peito rasgado ao meio, deitado dentro de um saco preto que agora estava aberto. Ao lado do seu corpo a figura imponente de Anúbis segurava seu coração e parecia olhar diretamente para ele.
“Dr Benipe, a capitã Elisa solicita sua presença nas câmaras criogênicas. Despertar iniciados. Abertura das câmaras em 10 minutos”
Dr Bene olhava estático para as sucessões de fotos. Respiração ofegante e mão tremulas, quando a voz de Athena, a inteligência artificial do computador de bordo, chama sua atenção.
Piscando algumas vezes ele olha para cima, como se pudesse ver quem falava com ele.
- Ok, Athena. Estou indo.
Sentindo algum receio ele volta a olhar para a tela, mas desta vez o que via era apenas o prontuário de mais um dos tripulantes. Era o da Dra Samanta. Ele clica mais vezes, voltando as fotos e todas eram prontuários de tripulantes.
Ele balança a cabeça, convencido de que não havia nada errado e deixa o aparelho novamente sobre sua mesa. Provavelmente sua mente estava cansada pelo trabalho dos últimos dias.
Saindo da enfermaria ele olha para o corredor que era o mesmo que dava acesso aos alojamentos e viu a capitã Elisa parada em frente a porta de sua cabine. Ao se aproximar, percebe que ela se assusta, mas por fim ela o tranquiliza dizendo que tudo estava bem, que estava apenas cansada.
- É, eu sei como é isso. – Ele diz com empatia, indo em direção onde sua presença era solicitada.
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Câmara Criogênica.
Leo não lembrava qual a última vez que sentira tanto frio.
Ele sentia que mãos tentavam levanta-lo, o retirando da câmara, mas seu corpo estava pesado demais e não conseguia ajudar. Suas juntas doíam.
A visão estava turva, mas ele conseguia distinguir a figura do médico que conheceu brevemente antes de “ser posto para dormir”.
O Dr se aproxima com algo metálico, talvez um estetoscópio, que parecia estranhamente quente em contato com seu peito.
Vozes pareciam preocupadas, mas seus ouvidos pareciam tapados, O mundo a sua volta tinha um som oco.
Não se lembra como, mas por fim se viu deitado em uma maca com uma agulha com um líquido quente sendo injetado em seu braço. Os olhos estavam pesados, o sono o convidava quando o mundo voltou a ter um som nítido e ele pode ouvir uma porta sendo aberta de forma estridente.
Um soldado entrava na enfermaria após chutar a porta. Ele carregava outro soldado extremamente ferido e gritava por ajuda.
O homem estava consciente, mas pelo seu estado parecia ter sido atingido por uma bomba. Uma das pernas não existia mais da metade da coxa para baixo, enquanto a outra tinha quase todo o osso exposto. Um dos braços estava pendurado, parecendo quebrado pelo cotovelo, enquanto o peito e o rosto pareciam rasgados por estilhaços.
Eles se aproximam da cama ao lado da de Leo. O soldado ferido o olha.
- Era para você ter me dado cobertura. – Ele falava enquanto gritava de dor. – Me ajuda, cara!
Os olhos estavam pesados e o cheiro de sangue lhe dava náuseas. Não resistindo Leo fecha os olhos e é abraçado pela escuridão e o silêncio.
- OFF:
Tudo começa com o despertar do Leo
Ele está na enfermaria. Macas, poltronas, mesa que provavelmente pertence aos médicos, equipamentos e agulhas é o que ela irá ver ao despertar. Mas sinta-se a vontade para descrever melhor o ambiente, caso deseje