[ON] Leonhard: Propósito e vazio

Talvez fosse a diminuição da iluminação normal do corredor somado ao fato das luzes vermelhas que piscam sem parar que o estivesse confundindo, mas quando viu Kevin em trar pela outra porta se aproximando de David, Leo podia jurar ver a sombra de David voltar a se encolher e, como se desse uma última olhada para ele, se desprender do homem, deslizando sobre as sombras da parede, até que sumiu em algum ponto mais a frente.

David não possuía mais sombra, como seria possível?

Talvez essa fosse uma indagação a se iria se fazer em um momento mais tranquilo, naquele momento tudo que ele sabia é que deveria impedir David de prosseguir em seu surto ou então o homem poderia mesmo acabar machucando alguém.

Voltando a se concentrar no homem, Leo avança desferindo um golpe, porém parece que seu temor se confirma e a sua hesitação ao ver o estranho movimento da sombra foi o suficiente para dar ao outro homem tempo de prestar atenção ao que fazia.

Percebendo a movimentação do segurança, David gira o corpo rapidamente bloqueando o golpe com uma das mãos, evitando ser atingido, conseguindo empurrar Leo a uma distância o suficiente para conseguir esticar o braço, apontando mais uma vez a arma para ele.

David dá um sorriso sombrio.

- Pode não ser tão fácil, mas duvido que eu erre um tiro a essa distância. – O olhar dele estava vidrado, mas o que ele dizia fazia sentido uma vez que pela proximidade Leo receberia praticamente um tiro a queima roupa.

O dedo já estava no gatilho quando David sente algo pressionar sua garganta, puxando-o.

Com o movimento a mão dele ergue e a arma distara, acertando o teto do corredor, onde faíscas começam a escapar devido ao fato dele ter acertado uma das luzes vermelhas de emergência.

Megan grita levando as mãos ao ouvido quando o tiro é disparado.

Sem ter percebido a chegada de Kevin, David não teve como se defender, o que deu vantagem ao videomaker que conseguiu dar uma chave de braço no pescoço do navegador, levando-o ao chão e com isso fazendo a arma cair longe do homem.

Nesse momento a porta do corredor atras de Leo se abre e doutor Benipe e doutora Anne entram.

Anne para ao lado da porta e aperta um dispositivo ao ado da porta, fazendo com que as luzes vermelhas apagassem, restabelecendo a iluminação normal do corredor, enquanto Benipe vai até os dois homens caídos ao chão e puxa uma seringa do bolso, injetando seu líquido no braço de David que em segundo começa a se acalmar e parar de se debater.

- Vou prepara a enfermaria... – Anne diz ao perceber o estado das pessoas ali presentes. – Assim que possível venho ver vocês – Ela diz para Leo ao observar o estado do homem e de Megan e sai pela porta do corredor.

- Ele estava delirando feio aqui... – Era a voz de Kevin – Estava trocando o nome da Megan, sem falar dos tiros... Essa coisa de delírios já está ficando esquisita doutor. – Ele afrouxa o aperto em torno do pescoço de David conforme o homem cede ao efeito do tranquilizante.

- Eu vou falar com a doutora Samanta... Talvez seja o caso de estipularmos alguns exames... – Benipe diz ao observar David finalmente perder a consciência. – Me ajude a levá-lo a enfermaria. – Diz passando um dos braços de David por sobre o ombro. – E você rapaz? Tudo bem? – Benipe pergunta diretamente a Leo.

Ainda encostada em um canto da parede, Megan permanecia com as mãos tapando os ouvidos. Os olhos fechados enquanto balançava o corpo e balbuciava algo.

OFF:

Benipe acena afirmativamente para Leo e, com a ajuda de Kevin, carrega David em direção ao corredor seguinte que dava acesso a enfermaria.

Totalmente diferenta de instantes atras, a iluminação normal do local estava acessa. Nenhum barulho estranho podia ser ouvido e tudo parecia calmo mais uma vez.

Quando se vê mais uma vez sozinho com Megan, o segurança abaixa e tenta abraçar a jovem.

A mulher se assusta com o toque e em um primeiro momento sua reação é de repeli-lo, mas ao abrir os olhos e perceber que se tratava de Leo ela o observa por alguns instantes antes de se jogar nos braços dele, chorando.

- Você está bem? – Ela se afasta um pouco para olhar para ele mais uma vez. Lágrimas escorriam por seu rosto e seus olhos ainda pareciam muito assustados. – Eu tive tanto... medo de que ele... nos matasse... A dias ele está estranho... Me perseguindo... Parece que vive... Dentro de uma grande alucinação... Não reconhece o que é ou não real... – A voz dela estava entrecortada pelo choro.

Com a ajuda de Leo a mulher consegue se acalmar e se levanta do chão. Ela dá um sorriso forçado, como de quem se esforça para demonstrar alguma normalidade. Megan se desvencilha do abraço embora permanecesse com uma das mãos firmemente segura em um dos braços dele.

Megan olha em volta do corredor e se fixa em um ponto mais a frente.

- Acho que eu também preciso ir ver a Dra Anne. – A mão dela desce pelo braço de Leo e para pôr sobre a mão dele, que ela aperta. – Não sei se foi o estresse, mas... Enquanto David estava atirando... Eu jurava ter visto um vulto escuro se esgueirando nas sombras do corredor e sumindo logo ali na frente... – Ela olha para Leo e dá de ombros. – Eu tô falando do David, mas acho que estou ficando louca também... Porque parecia aquele “bicho” que eu contei para você que vi algumas vezes na minha cabine... – Megan suspira pesado e dá um passo em direção ao segurança e apoia a testa no ombro dele. – Desculpa! Mal nos conhecemos e já estou te levando um tanto de problemas... – Dando conta do contato, ela se afasta, soltando a mão dele e encosta na parede logo atras dela. – Desculpa! Estou me aproveitando da sua gentileza... – Ela aperta as mãos sem jeito – Eu aceito sua sugestão de sair daqui... Mas por favor, eu não quero ir para a minha cabine... Será que poderíamos ir para a oficina? – A voz era relutante, quase como uma súplica. – Ou a sua cabine... Imagino que você também esteja estressado pelo que aconteceu e queira descansar se for o caso... Eu só não quero ficar sozinha... Por favor... – Os olhos dela se enchem de lágrimas mais uma vez.

Megan concorda com a sugestão de Leonhard e segue o homem até a cabine enquanto trocava uma ou outra palavra com ele.

- Quem disse que eu não avisei? – Ela olha contrariada para ele enquanto caminhavam pelo corredor. – Eu avisei... Mais de uma vez até. Pelo menos meia dúzia dos tripulantes presenciaram alguma atitude estranha do David, inclusive comigo. – Megan dá de ombros e abraça o próprio corpo voltando a se concentrar no corredor a frente deles. – Eu avisei a doutora Anne pelo menos um par de vezes... Ela sempre dizia que ele tinha um temperamento difícil, mas que estava cuidando do caso... Pelo visto as sessões não foram suficientes ou ela realmente não achou que fosse algo tão sério.

Quando eles finalmente alcançam a cabine Megan sorri sem jeito ao entrar e se acomodar na cama. Em um primeiro momento ela insistiu em apenas ficar sentada e que não queria dormir, mas não demorou muito para que começasse a cochilar e por fim foi convencida a se acomodar e dormir decentemente.

Leo havia se acomodado da melhor forma que podia em uma poltrona confortável que ficava junto a mesa de estudos e acaba por ter alguns períodos em que acabou cochilando.

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Algumas horas haviam se passado, talvez três ou quatro, quando a voz de Athena o desperta de um de seus cochilos.

“Leonhard Schutzenberger, missão em solo iniciará em T-6h. A capitã solicita relatório de abastecimento da nave exploratória Elpizo 2. Por favor verifique no depósito os equipamentos e armas necessários para a segurança da missão.”

A mensagem termina. Se Leo olhasse para a cama veria que Megan permanecia dormindo.

Faltava poucas horas para a saída da missão. Ele sabia de que nave Athena estava se referindo, pois havia visto as naves Elpizo no deck inferior algumas vezes antes de hibernar.

A capitã contava com ele para a segurança da missão e, portanto, cabia a ele informar o que seria usado nesse sentido para abastecer a Elpizo.

Leo ouve um pequeno bip e ao olhar para a mesa vê sobre ela um pequeno objeto feito de uma tela translúcida que exibia uma espécie de checklist de armas e equipamentos que ele deveria verificar no deposito e assinalar o que iria ser levado para a nave exploratória.

Ele havia prometido ficar com Megan, mas a capitã solicitava seu auxílio e a mulher dormia tranquilamente em sua cama.

OFF:

A moça deitada na cama de Leo dormia tranquilamente. Ela estava de costas pera ele e seu sono parecia pesado, por isso ela demora a despertar quando ele a chama.

Megan se remexe lentamente, virando o corpo na direção de Leo, e abre os olhos. Por alguns segundos ele pode ver a confusão nos olhos dela até que a moça finalmente parece entender o que estava acontecendo e sorri gentil para ele.

- Ah, Olá! Parece que eu dormi, né? – A moça se senta e estica os braços se espreguiçando. – E ai... Espero que eu não tenha dormido demais... Você conseguiu descansar? – Ela pisca algumas vezes atenta a postura dele. – O que houve? Algum problema?

OFF:

Megan ouve atentamente o que ele dizia e sorri com simpatia, finalmente levantando da cama e ajeitando a roupa no corpo.

- Eu agradeço muito por isso... Agradeço por não me deixar aqui sozinha. Depois dos últimos acontecimentos, acordar e não te encontrar provavelmente me deixaria assustada. Obrigada mais uma vez! – Ela diz enquanto seguia o segurança até a porta da cabine, saindo com ele do quarto. – Fique tranquilo, entendo que você tem suas obrigações com a missão e na verdade acho que vou aproveitar para procurar os doutores e saber o que houve com David. – Nesse momento ela dá um sorriso forçado, sendo nítido o incomodo com a lembrança do que havia acontecido. – Acho que depois vou até a oficina pegar minhas anotações e me preparar para a missão também, mas não se preocupe! Qualquer coisa eu chamo pela sua ajuda.

Megan acena com a mão ao se despedir e segue pelo corredor na direção oposta a que Leo seguiria.

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Seguindo em frente, Leo passa pela porta que dividia os corredores entrando na sessão onde se encontravam as salas dos laboratórios e depósitos.

No depósito de armas e equipamentos, acessando a checklist através do pad onde os dados dos equipamentos necessários foram incluídos por Athena, Leonhard consegue separar tudo o que havia sido solicitado, enchendo um pequeno carrinho de transporte que o ajudaria a levar tudo até a nave exploratória.

Nas orientações passadas por Athena havia sido informado que sua missão estava vinculada a nave exploratória Elpizo 2 e sabia que elas ficavam no compartimento de carga no deck inferior da nave.

Sem nenhum contratempo ele consegue levar os equipamentos até o local onde a nave estava. Chegando lá ele veria duas naves paradas próximas e ele sabia que se tratava das Elpízo 1 e 2 e que ambas sairiam em missões distintas.




Se olhasse melhor veria que próximo a porta da Elpizo 1 algumas caixas vazias estavam aglomeradas próximo a porta da entrada da nave que estava aberta e o som de uma música escapava lá de dentro.

Conforme se aproximasse da Elpízo 2, pelo ângulo que estava, conseguiria ver que pela porta aberta da outra nave era possível identificar uma caixa virada e seu conteúdo derramado dentro da nave. Provavelmente itens de abastecimento para a missão designada para aquela nave.
Olhando melhor veria que além da caixa parecia que havia mais coisas fora do lugar lá dentro, embora a música amena continuasse tocando.

A nave Elpízo 2 que ele deveria verificar estava com sua porta fechada e nada de anormal rodeava a nave.

OFF:

Cauteloso, Leo se aproxima da outra nave exploratória.

A cada passo que dava a música se tornava mais nítida. Parecia ser uma canção antiga e uma memória do inicio da missão, antes do período de hibernação criogênica, vem a mente de Leo.

Ele tem a lembrança nítida de Caleb, um dos pilotos da missão, e das poucas vezes que encontrara o homem na sala de convívio durante alguma refeição. O piloto estava sempre cantarolando aquela música e se levasse em consideração que ambas as naves em breve sairiam em missão, poderia fazer muito sentido o piloto estar ali.

Caleb:

Se avançasse mais, no entanto, Leo perceberia algo que a distância e o chão metálico em um tom escuro haviam ocultado de seus olhos.

Em meio as coisas revidadas dentro da nave, havia um rastro de sangue, já meio seco, que saia da nave e seguia por poucos metros até se esvair totalmente. Pela forma do rastro, Leo consegue perceber que era como se algo pesado houvesse sido arrastado ali, com certeza um corpo




- Eu tentei impedir aquela mulher... Mas não tinha muito o que eu pudesse fazer – Surgindo de algum lugar por entre os equipamentos do hangar, uma mulher trajando roupas normais e com um olhar perturbado aparece alguns metros atrás de Leo.

Ela esfregava as mãos freneticamente como se estivesse nervosa. Leo não consegue se lembrar dela como parte da tripulação.

O deck inferior da nave não possuía divisões da mesma forma que a parte superior. O local era amplo e suas divisões se davam basicamente pela forma como veículos e equipamentos estavam agrupados e dispostos pelo lugar.

O hangar onde as naves Elpízo ficavam era localizado na parte frontal de forma a ficarem próximas a rampa de lançamento.

Por se tratar de um local menos frequentado pela tripulação o deck inferior possuía uma iluminação mais fraca e os grandes equipamentos e veículos cobertos por toldos pretos ajudavam a colaborar com uma atmosfera mais sombria.

E fora por entre um desses equipamentos cobertos que aquela mulher surgira a alguns metros de distância de Leo.

A mulher parecia nervosa e dá um passo para trás ao ouvir Leo dizer que era um dos seguranças da Argo.

Ela respirava pesado e ao perceber que o homem não tentara se aproximar, por fim resolve responder.

- Suzy... Me chamo Suzy. – Ela não corresponde ao sorriso e mantém um olhar desconfiado em direção a Leo enquanto continuava esfregando as mãos. – Rachel? Não... Não encontrei nenhuma Rachel – Ela parecia ainda mais confusa. – Estou falando daquela mulher... Uma tal de Anne...

Nesse momento eles ouvem o que parecia ser o som abafado de um gemido de dor e o barulho de algo metálico caindo no chão.

A mulher parecia que ia continuar a falar, mas o som a assusta e ela se vira correndo em direção a escuridão por entre os equipamentos.

Agora o som surdo de uma batida pode ser ouvido por Leo, seguido de um novo resmungo de dor.

O barulho parece vir de algum ponto mais atrás no deck. Parecia vir da área onde os veículos de terra exploração estavam armazenados.

A mulher havia corrido por entre os equipamentos antes de terminar o que dizia, e a única Anne que Leo conhecia era a psicóloga da expedição. Ao mesmo tempo sons estranho e gemidos de dor podiam ser ouvidos de algum ponto mais ou fundo da nave.

O que Leo fará?

Por mais que se sentisse tentado a seguir a mulher, os sons vindos da parte mais ao fundo do deck inferior fizeram Leo ter certeza de que era mais importa averiguar o que poderia estar acontecendo e ajudar caso alguém estivesse com problemas.

Leo desviava de alguns maquinários enquanto avançava em direção ao som.

Ele ouve um baque surdo seguido de uma nova pancada e então tudo volta a ficar quieto.




Desviando de um último veiculo de exploração, Leo finalmente chega o local de onde os sons vinham, e o que ele viu talvez fosse uma cena que ele não esperava.

Mais adiante estava um dos maiores veículos de terra exploração da nave. A porta da escotilha estava aberta e de lá metade do corpo de um homem pendia para o lado de fora. Era possível perceber que o homem usava um uniforme padrão da tripulação e que a cabeça dele estava gravemente machucada, com os cabelos completamente ensanguentados, pingando sangue no chão.

Pela posição do corpo, Leo não conseguia identifica-lo.

No chão, próximo a escotilha, havia o corpo de outro homem. De onde estava não era possível ver nenhum ferimento aparente, mas ele não se movia. Talvez estivesse apenas inconsciente.

Se Leo se aproximasse conseguiria reconhece-lo como sendo Zayn, um dos outros seguranças da expedição.

Por breves segundos Leo tem a impressão de ver alguém, um vulto escuro passar atrás do homem que estava dentro do veículo de terra formação.

O que Leo fará?

Zayn:

Sem ter nenhuma arma consigo, Leo decide entrar no veículo com cautela e mantendo uma postura de defesa.


Ele passa pelo homem que estava dentro do veículo. Se havia sangue do falo de fora, dentro estava bem pior.

Pelas marcas e respingos de sangue espalhados por quase toda aquela parte de dentro do veículo, era quase certo afirmar que bateram várias vezes com a cabeça do homem nas paredes. Leo não teve tempo de verificar o corpo que pendia para fora do veículo, mas pela quantidade de sangue e marcas, sabia que seria quase um milagre se ainda estivesse vivo.

Leo avança, mantendo sempre a cautela. Jurava que havia visto alguém ali dentro.

Ele verifica tudo. Vai até o final do veículo e nada. Não encontra nada.

- Eu disse para você que seu lugar era no boxe, garoto!

Leo ouve uma voz que vinha da parte da frente do veículo.

- Agora veja... Isso é postura de defesa? Sério? Pelo que eu me lembro não foi assim que te ensinei... Olha o que a porcaria do exercito fez com o meu campeão. – A voz era grossa e levemente arrastada, porém firme. – Com essa merda de postura defensiva ai, no primeiro soco do adversário você já cai...

A voz era estranhamente familiar. Se Leo fosse até a frente do veículo para verificar, veria que o corpo ensanguentado do homem havia sumido.

- Vamos! Guarda alta, campeão! – Surgindo de um dos cantos próximos ao painel da nave um homem com a testa e metade do roto deformados por sangue e ferimentos surge em postura de boxeador.

Apesar da deformação em parte do rosto, somado a voz, Leo estranhamente reconhece o homem como Niels, seu mestre na academia de boxe.

O homem continua caminhando em direção a Leo, parando a poucos metros de distância, desta vez totalmente sob a iluminação local e o segurança pode ver nitidamente que se tratava mesmo de seu velho mestre e que o rosto não estava tão ruim quanto parecia nas sombras.

De fato, estava machucado, apresentando dois cortes. Um no supercílio e outro na maçã do rosto, ambas do mesmo lado o que deixava o local muito inchado e dava uma aparência de certa forma deformada, mas nada que Leo não tivesse certeza que era típico daqueles ferimentos no boxe.

Niels que de início parecia provocativo, para diante das palavras de Leo e, com o inchaço que seu rosto permitia, demostrava agora uma feição de incredulidade.

-Alucinação? – Sem baixar a guarda o velho mestre de Leo mantém a postura. – Mas, afinal que merda era essa que eles colocavam na sua ração no exército, garoto? – A voz do homem estava irritada e ele falava como se desse bronca em uma criança. – Eu disse para você que era uma péssima ideia abandonar a carreira no boxe para se juntar aqueles perdedores. Mas você me ouviu? Ouviu ao seu velho mestre? Claro que não! – Niels dá um passo para traz e relaxa a postura de guarda. – Você tinha tudo aqui! Tinha reconhecimento, eu te acolhi como a um filho e te treinei... Garoto, você era um campeão. O melhor que eu vi surgir em anos. Mas nunca foi o suficiente, não é? – O homem dessa vez dá dois passos para trás e abre os braços, gesticulando para o local a sua volta.

Se Leo olhasse para o movimento do mestre e o que ele parecia amostrar veria que não estava na nave.

O local tinha o mesmo tom parcamente iluminado, mas sem duvida não era uma nave. Leo estava em sua velha academia de boxe, sobre o ringue de treinamento.




O local estava vazio, portanto, somente a iluminação que ficava sobre eles estava acesa, deixando o resto do local na penumbra, mas as paredes desgastadas pelo tempo pintadas em um tom levemente cinza contornado por duas listras em azul escuro, estavam lá. Assim como alguns bancos velhos com luvas esquecidas sobre eles, coisa que Leo sabia que sempre irritaram Niels, pois ele exigia cuidado com o material como parte de treinamento. Os sacos de areia pendurados mais ao fundo e que serviam para aprimorar técnicas e força nos socos... Tudo estava lá.

Ele próprio não estava mais com o uniforme de segurança da Argos.

Leo se via trajando um conjunto surrado de short e regata que ajudava a deixar livre os movimentos do corpo. Suas mãos estavam calçadas com a velha luva que não via a algum tempo.

- Rachel? Quem é essa, garoto? – Niels continuava – Exercito, rabo de saia... Tudo isso para que? Como é que você dizia mesmo? Ah, sim nós deixamos de ser suficientes para você. – A voz de Niels era amarga. – Você queria mais, um propósito maior... Maior que ser o campeão, o meu campeão. Eu te dediquei tempo e esforço, garoto! Apostei em você e como você me retribuiu? – O velho volta a levantar a guarda. – Mas ai tudo deu errado, você viu que no exército era apenas mais um merda junto a tantos outros que passam despercebidos e botou o rabinho entre as pernas e veio procurar seu velho mestre. – De guarda alta, Niels dá um passo em direção a Leo. -  Lembra da conversa de você ter uma academia e que como campeão eu poderia deixar essa para você? Ainda quer? Então vem pegar...

O velho começa a gingar o corpo em pequenos e ágeis passos, mesmo para sua avançada idade, e vai em direção a Leo convidando o homem a entrar em uma luta de boxe.