[ON] Leonhard: Propósito e vazio

Megan ri abertamente para ele ao perceber que Leo havia ficado sem graça com a piada que tentava fazer.

- Hahaha, tudo bem. Vejamos – Imitando o gesto dele, Megan passa a mão no ar como se traçasse um letreiro – Universidade Megan Bennett, para mentes brilhantes... – Ela para alguns segundos antes de balançar a cabeça negativamente e fazer uma careta divertida – Nããão... Eu gosto de estudar mais ainda sinto calafrios quando lembro como eram as semanas de prova... Acho que vou ficar com nome de alguma rua mesmo.

Ela sorri e se vira, ficando de frente para Leo com um dos ombros encostados na parede.

- Uma academia de boxe, hein – Ela olha para ele de cima a baixo.  – É, combina com você e se quer saber, acho uma ideia muito legal. Se um dia eu precisar me livrar do estresse praticando um esporte já sei a quem posso pedir para me ensinar uns golpes – Ela estica o braço dando um “soquinho” sem jeito no braço do homem – Viu, não sou lá muito boa nisso de tentar fazer graça.

Ela olha para trás por cima do ombro, vislumbrando mais uma vez o planeta marte, antes de se voltar para Leo.

- Então você é um dos seguranças... Seria legal se você fizesse parte da equipe que vai explorar as pirâmides... Quem sabe né?

Megan assume um semblante mais sério, porém seu olhar continua transmitindo simpatia. Ela encosta a cabeça na parede e cruza os braços na altura do peito.

- Você ia falar sobre algo que você viu quando eu te interrompi lá na área de convívio, desculpe. Ainda quer falar sobre isso? – A voz dela era suave e parecia genuinamente curiosa. – Você parece ter despertado agora... Quando eu despertei também passei por umas situações estranhas, se você quiser e prometer não rir de mim, posso te contar como foi comigo – Ela esboça um pequeno sorriso e faz uma careta descontraida. – Só para você não se sentir tão estranho.

Megan ouve atentamente, em silencio, enquanto Leo contava o que havia visto e assim que ele termina seu relato ela ergue uma sobrancelha e, descruzando os braços, olha para baixo observando suas próprias roupas. Com as mãos ela passa a apalpar seus braços, barriga e coxas.

- Olha, você falou de um jeito que até eu duvidei de que eu era real – Megan diz em um tom descontraído e finalmente para, voltando a olhar para Leo – Bom, mas parece tudo certo comigo. Não achei nenhum ferimento e nenhum emblema diferente. Aliás, o que seria KSK?

A pergunta deixa transparecer uma curiosidade genuína. Ela volta a encostar o ombro na parede e sorri de forma gentil para ele.

- Embora eu tenha gostado do elogio a minha beleza – Era a vez dela mostrar a língua para ele - Imagino o quanto deve ter sido estranho e desagradável o que você viu e entendo que esteja desconfiado de tudo agora. – Ela toca de leve o ombro dele com uma das mãos, tentando passar conforto. – Eu vou te contar o que vi. Tudo bem se você rir... Até eu acho isso ridículo as vezes... Se não fosse pelo fato de me deixar apavorada.

Ela puxa a mão de volta e suspira alto.

- Meu pai era um cara “cult” – Ela faz o sinal de aspas com os dedos” – Ele gostava de uns filmes antigos... Bem antigos. Tipo final do milênio passado e início desse... Um desses filmes beeem antigos era uma animação onde uma garotinha fazia amizade com um monstro azul e peludo que saia do armário dela, eu acho... Acho que tinha um monstro baixinho também... – Ela dá de ombros antes de continuar. – Quando eu vi essa animação eu tinha sete anos e fiquei com muito medo. Não do monstro em si, mas da ideia de haver monstros, acho que o nome que dão pra isso é bicho-papão, no meu armário ou debaixo da cama prontos para me pegar.

Megan faz uma careta como quem sabe que conta algo absurdo e esperava que ele começasse a rir a qualquer instante.

- Bem... Sei que estou crescidinha para isso, mas desde que eu despertei esse medo voltou – Ela diz sem graça e fita o chão, o olhar parecia perdido – Eu tenho visto monstros medonhos me assombrando quando tento dormir. Mãos que saem debaixo da cama e puxam meu lençol enquanto cantam músicas de ninar... Grandes olhos vermelhos que me espreitam atrás da porta da minha cabine.

Ela abraça o próprio corpo e se vira, encostando as costas na parede, olhando, mas sem realmente ver, um dos filtros de ar a frente.

- Era mais intenso assim que despertei, mas as vezes ainda acontece. Quase não fico na minha cabine por medo – Ela suspira fundo. – Essa noite eu cochilei apenas e foi na área de convívio. Não gosto de ficar sozinha, embora eu sinta que não importa onde eu esteja, aquilo sempre está à espreita me observando. As vezes acho que vou enlouquecer, se não pelo que vejo, pela falta de horas de sono.

Ela fica em silêncio por alguns instantes antes de sair de suas lembranças e virar a cabeça olhando para Leo.

- Ridículo né? Tudo bem se quiser rir... De toda forma foi bom dividir isso com alguém além da Dra Anne – Ela abre um sorriso tímido.

OFF:

Um barulho do lado de fora da sala de ventilação é ouvido e pela escotilha da porta eles veem um homem passando. Foi rápido e não era uma imagem muito nítida, mas Leo teve a impressão de ser o piloto que vira conversando com a capitã.

Megan ergue uma sobrancelha e franze a testa diante da oferta de Leo e o observa por alguns instantes em silêncio.

- Bem... Essa foi uma oferta inesperada. – Por fim ela resolve responder, seu tom parecia propositalmente desconfiado. – E talvez em outra ocasião eu definitivamente te chamasse de abusado e recusasse a proposta.

Então era sorri para ele de forma tímida, parecendo constrangida.

- Mas você falou primeiro da sua alucinação e sem me conhecer não teria como você saber que passo por algo parecido se sua experiência não fosse real... O que me faz acreditar que se fez essa oferta é porque entende e realmente quer ajudar.

Ela volta a virar o corpo, ficando novamente de frente para Leo, mantendo o ombro apoiado na parede.

- Portanto pode parecer estranho, mas vou aceitar... Eu sinto mesmo que preciso dormir. E quem melhor que um lutador de boxe que fez parte de forças especiais militares para me defender do “bicho-papão”? – Ela faz o sinal de aspas com o dedo e logo em seguida uma careta. – OK, essa agora até eu achei ruim... Vai lá, pode rir.

“Leonhard Schutzenberger, a capitã Elisa solicita sua presença na ponte assim que possível”

Eles ouvem a voz de Athena, a inteligência artificial da nave

- Bom que você já está aqui do lado – Megan dá de ombros. – Bem, eu vou indo... Ah, você pode me encontrar com mais facilidade na área de convívio ou na oficina... Tenho ficado bastante lá... Tudo para não ficar na cabine – Ela toca um dos ombros dele com a mão. – Obrigada mesmo pela ajuda. Espero que você não tenha novos problemas com essas “coisas" que andamos vendo. – Ela desencosta da parede e se aproxima – Obrigada, mais uma vez. – Ela fica na ponta dos pés e dá um beijo no rosto de Leo, sorrindo em seguida e saindo da sala.

Antes dela sumir pelos corredores da nave, Leo a vê acenar para ele através da escotilha.

Agora ele estava só na área de ventilação. A capitã o aguardava.

Leo sai da sala de ventilação, retornando para o pequeno corredor. A sua direita, poucos passos a frente, estava a porta que dava acesso a área da ponte de comando, onde a capitã o aguardava.

Ao ficar de frente para a porta, mais uma vez pode ter uma ideia da visão do planeta vermelho.

A porta de repente se abre, Leo concede passagem, e um dos tripulantes que ali estavam sai da ponte. Pelo menos naquele momento não se lembrava de quem era, mas havia visto o homem se levantar de um dos controles da nave, provavelmente ele era um dos navegadores.

Aproveitando o momento Leo entra.

A sala da ponte era ampla e sem dúvidas a mais tecnológica da nave. Painéis, telas interativas, botões, sensores e alavancas espalhadas por todo o ambiente garantiam que a rota traçada até marte estava sendo seguida e que tudo na Argo estava em perfeito funcionamento.

Naquele momento havia três tripulantes na ponte, além da capitã. Cada um ocupava uma cadeira e acompanhava o que os painéis mostravam executando as ações necessárias.

No meio da ponte, uma grande central holográfica de comando era ocupada pela capitã Elisa, que estava de pé, olhando para uma imagem em 3D do solo marciano.

Ao perceber a entrada de Leo, a capitã se vira para o homem e acena discretamente com a cabeça.

- Sr Schutzenberger... Espero ter pronunciado corretamente seu nome – A capitã dá um meio sorriso. – Pedi que o senhor viesse até a mim porque sei que despertou bem recentemente e queria saber como está se sentindo... Já estou começando a organizar as duas primeiras expedições em solo. – Elisa se volta para a mesa que mostrava a imagem holográfica. – Venha, aproxime-se.

Próximo da mesa ele poderia ver melhor a imagem projetada. De início parecia mais uma de tantas imagens do solo árido e rochoso de marte, mas algo diferente capturou sua atenção ao se aproximar mais.

Perto de uma formação rochosa maior, algo destoava da paisagem. Com certeza não era uma rocha, sem dúvidas aquilo era uma nave.




- Esta é a Argo 1, Sr Schutzenberger. – Com um gesto a capitã amplia a imagem, não deixando dúvidas de ser a nave. – Está bem distante de sua rota de exploração original e talvez por isso não a tenham encontrado antes. Na verdade, não esperávamos encontra-la, não após 150 anos e sem que nenhuma sonda espacial anterior tivesse descoberto vestígios dela.

A capitã Elisa olha de soslaio para Leo antes de voltar sua atenção para a mesa holográfica. Tocando em um ponto da mesa a imagem muda. Novamente o solo rochoso de marte é visto, mas mais uma vez algo se destaca, só que ao invés de uma nave parecia ser algum tipo de construção, aliás muito parecido com algumas que ainda existiam na Terra. Em meio as rochas uma pirâmide podia ser vista.




- E está é a mais famosa das pirâmides de marte, por ser a mais bem conservada – Ela leva as mãos as costas. – Como o senhor deve saber, o sumiço da Argo 1 e a admissão de que imagens haviam sido manipuladas para negar a existência de pré-humanos em outros planetas, foram os últimos atos da antiga NASA... Está é uma pirâmide real, uma evidência de vida inteligente além da Terra e sim, uma de nossas expedições será para explorá-la.

A capitã dá uma última olhada para a imagem da pirâmide, volta a tocar na mesa fechando a imagem e por fim se vira para Leo. A voz da mulher era firme e séria, mas o olhar era sereno.

- Como disse, nesse momento teremos as duas primeiras missões em solo marciano. – Ela caminha até sua poltrona onde se senta. - O primeiro grupo a sair irá até a Argo 1 para explorar, tentar salvar qualquer registro feito pela tripulação, se ainda existir, e retornar para a cá com os dados coletados. – Elisa se recosta na poltrona. O olhar fixo ao de Leo – O segundo grupo sairá depois e deverá explorar a pirâmide... Como pode perceber são objetivos bem diferentes e em ambos os casos preciso contar um segurança para as equipes e o senhor é um deles.

Ela sorri de forma complacente e o observa em silencio por alguns instantes antes de completar.

- Por isso quero saber como o senhor se sente, Sr Schutzenberger? Posso contar com o senhor para a missão de exploração da Argo? Ela sairá em poucas horas... Ou precisa de mais tempo para que os efeitos do despertar passem? Neste caso o designaria para a missão da pirâmide que partirá algum tempo depois. – Sua expressão de suaviza totalmente e o sorriso se torna espontâneo. – A propósito, bem-vindo de volta ao nosso convívio.

OFF:

Elisa olha atentamente para Leo por alguns instantes. Parecia refletir sobre as palavras do homem.

- Não precisa se desculpar. Nós estamos a milhões de quilômetros de casa. Somos nós por nós mesmos. Assim como conto com a colaboração da minha tripulação vocês podem contar comigo e isso inclui esse tipo de questionamento. E acredite, foram muito poucos os que expressaram esse tipo de preocupação abertamente. Vê-se que o senhor realmente fez parte de um grupo especial militar.

A capitã abre um discreto sorriso, se levanta e volta a se aproximar e tocar na mesa holográfica, desta vez fazendo surgir as duas imagens, a da nave e da pirâmide, ao mesmo tempo uma ao lado da outra.

- Essa imagem foi feita por uma das sondas que Athena enviou enquanto estávamos ainda em hibernação. A nave parece em bom estado, levando em consideração o tempo que está ali. – A imagem da nave no solo se sobressai a outra enquanto é ampliada – Como o sistema de navegação é antigo, Athena não consegue link com a Argo 1 para acessar os dados, por isso uma missão exploratória é necessária. – A capitã olha para Leo – Mas será uma equipe pequena. Além de um segurança, o piloto, um engenheiro e um médico... É entrar, pegar o que puder aproveitar e voltar...

Elisa respira fundo e volta a olhar a imagem da nave. Ela apoia as duas mãos na beirada da mesa e curva o corpo, abaixando levemente a cabeça.

- O senhor se mostrou atento a algumas possibilidades e vou compartilhar algo com o senhor, Sr Schutzenberger... E de militar para militar, peço discrição – Sem erguer a cabeça ela vira o rosto para olhar para ele. – Athena, reproduzir arquivo Argo 1, número 13666

"Sim capitã Elisa."

A voz metálica de Athena responde sendo logo em seguida substituída pela gravação ruidosa da voz de um homem que parecia assustado

“Eles estão aqui... Me ajudem... Me tirem daqui... Eles querem me matar... Eu posso vê-los lá fora... Parece que não tem olhos, mas sei que estão me observando... Socorro”

“Não! Não! Ele está aqui! Ele está aqui”

As palavras finais do homem são seguidas por um longo grito que parecia um misto de medo e dor.

A ponte de comando fica em silencio. Por alguns instantes todos ali se calam e param o que estão fazendo enquanto ouvem a gravação. Porém nenhum deles esboça espanto. Provavelmente já haviam ouvido aquela gravação.

- Essa foi a última mensagem transmitida pela Argo 1, Sr Schutzenberger, e ela ainda estava em órbita quando aconteceu. A antiga NASA teve bastante cuidado em manter isso em sigilo da população por décadas.

A capitã Elisa toca na mesa, fazendo agora a imagem da pirâmide se sobressair e ampliar. Os tripulantes da ponte voltam as suas atividades.

- O que eu acho que aconteceu? Se foi algum tipo de vida alienígena? Prefiro não fazer conjecturas, mas levo em consideração o fato de que pode ser algo hostil. – Elisa ergue o corpo, ficando de frente para Leo enquanto leva as mãos as costas. – Contudo, se assim for, depois de 150 anos onde o senhor acha mais provável os encontrarmos? Em uma nave, que não é deles e está abandonada em solo a muito tempo ou em uma estrutura que pode ter sido construída “por eles”? – Ela enfatiza o final da frase

Ela faz uma breve pausa e dá um meio sorriso para Leo.

- Levando isso em conta, Sr Schutzenberger, ainda prefere acompanhar os tripulantes que vão explorar a pirâmide? – O tom de voz dela parecia curioso, como se o estivesse testando.

Elisa ergue uma sobrancelha diante dos questionamentos de Leo.

- Entendo perfeitamente a sua preocupação, Sr Schutzenberger, mas ainda assim estamos lidando com especulações. Além da gravação que o senhor ouviu, recebemos um relatório da época do ocorrido onde informava que nenhuma imagem externa enviada pela Argo 1 havia registrado algo anormal.

A capitã apoia a lateral do quadril na mesa holográfica e cruza os braços na frente do peito.

- Vejamos... O piloto será o responsável por levar a nave exploratória até o solo e trazê-la de volta, sem isso a missão não tem como acontecer. Sem contar que ele vai verificar as condições de navegação da Argo 1. – Elisa olha atentamente para Leo – O engenheiro é necessário porque, abandonada a muito tempo, acredito que muitas coisas possam não estar funcionando adequadamente e o médico, justamente por haver problemas com relação ao estado da nave, se faz necessário pois acidentes podem acontecer. – A capitã dá um meio sorriso para ele – Como pode ver minha decisão está baseada além do fato de poder encontrar algo “alienígena” dentro da nave. E para esta parte um segurança está sendo enviado.

A capitã Elisa desencosta da mesa e caminha, passando por Leo, dando um tapinha no ombro do homem, enquanto volta para a sua poltrona de comando.

- Eu tenho que levar em consideração que o segurança pode ser o menos necessário nessa expedição – Ela se vira para Leo – Mas também não posso desconsiderar a necessidade de precisar de um segurança.

Ela se senta novamente em sua poltrona e observa os hologramas exibidos pela mesa.

- Ainda sobre sua sugestão para a abordagem da nave... Me dia, Sr Schutzenberger... Tendo muito poucos seguranças a bordo, se eu mandasse uma equipe de batedores, como sugeriu, isso significaria praticamente mandar todos vocês para a Argo 1... E se seu medo se confirmasse, algo acontecesse e perdêssemos todos da missão... Já pensou que isso deixaria o restante da minha tripulação sem proteção? Temos que agir com cautela, eu concordo com isso e, como disse, entendo seus questionamentos. Mas temos que pensar em todas as possibilidades.

Ela recosta na poltrona e olha para o homem.

- Diante dos fatos volto a perguntar... Está certo de acompanhar a missão a pirâmide ao invés da Argo 1? – Ela mexe em alguns controles em sua poltrona e o holograma exibido na mesa se fecha. – Fique a vontade caso ainda tenha questionamentos, mas se já estiver tudo certo para o senhor, pode se considerar dispensado.  

OFF:

A capitã Elisa sorri com simpatia para Leo

- Eu realmente gostaria que as coisas fossem assim tão simples, sr Schutzenberger... Essa é uma missão que demorou muitos anos para acontecer. Desistir dela não seria uma opção. – Elisa gesticula em direção a porta da ponte de comando, dando permissão para que ele se retirasse quando o homem lhe presta continência. – Athena lhe manterá informado sobre a missão, mas creio que vocês terão ao menos um dia para se preparar.

Sem mais o que dizer, Leo se despede da capitã e sai da ponte.

Diferente de antes de alcançarem a órbita de marte os corredores da nave agora estavam mais movimentados, os tripulantes pareciam animados enquanto andavam de um lado para o outro acessando corredores e salas.

Alguns passaram por ele enquanto avançava pelos corredores. Chegou a ver os doutores Benipe e Samanta, que conseguiu reconhecer, indo em direção a ponte.

Viu Kevin, o videomaker, entrando na área de convívio enquanto Diego, que lembrou ser um dos engenheiros, estava dentro da sala de criogenia. Parecia se certificar que as câmaras estavam em bom funcionamento.

Talvez não soubesse para onde ir e o que fazer enquanto esperava pelo momento da missão. Como será que ele iria preencher seu tempo até lá?

Na movimentação da tripulação pelos corredores, se olhasse para frente veria a porta que dividia o local onde estava dos corredores do alojamento se abrir, dando passagem a um dos tripulantes, mas antes que a porta se fechasse veria Megan ao longe, que puxava o braço com força ao ter o pulso seguro por David, o navegador que vira sair da ponte assim que entrou para falar com Elisa. Megan não parecia satisfeita

OFF:

Se aproxima e antes que a porta se abra pode ver pela escotilha que David avançava sobre Megan, praticamente pressionando a jovem contra a parede. Agora as mãos dele segurando fermente os braços da jovem, os dedos visivelmente se apertando com força no braço da jovem que faz uma careta de dor.

A porta se abre e os ouvidos de Leo captam as vozes exaltadas dos dois tripulantes.

- ME SOLTA! VOCÊ ESTÁ ME MACHUCANDO!

- CALADA! Isso não é forma de falar com seu capitão.

- Você está louco! Você não é o capitão da nave – Megan começa a se contorcer e puxar o braço tentando escapar de David – E a CAPITÃ ELISA já me deu a minha missão, eu não vou mudar para fazer o que você quer.

Nesse momento David usa da força e empurra Megan, as costas da moça batendo com força contra a parede metálica do corredor do alojamento.

-AI! – Megan geme de dor

Uma das mãos dele solta o braço dela e se espalma na clavícula dela a mantendo no lugar. O braço livre da jovem passa a empurrar o homem, sem sucesso.

- Eu sou o Capitão desta porra de nave e Athena concorda comigo – David aproxima o rosto do dela e fala em voz baixa entre dentes – E você vai me obedecer. – Ele sorri de forma maliciosa – Por bem ou por mal, de um jeito ou de outro.

As luzes do corredor piscam e David aperta ainda mais a mão sobre o braço dela e Megan se contorce pela dor.

Os passos e a voz de Leo alcançam os dois tripulantes conforme o segurança avançava em direção a eles.

Os olhos de Megan brilham quando ela reconhece o soldado, transmitindo alívio em vê-lo.

David solta o outro braço de Megan, mas mantem a mão espalmada sobre a clavícula da jovem, desta vez exercendo mais pressão, fazendo com que a jovem continuasse com o corpo prensado contra a parede, enquanto se volta para Leo, ficando de certa forma de frente para ele.

- Quem você pensa que é para falar assim com o capitão desta expedição? – O navegador responde, os dentes trincados, a voz deixando transparecer toda a irritação. A luz do corredor pisca uma vez.

- David, você...

- CALA A BOCA, CHLOE! – David vira o rosto para Megan e Leo percebe que ele havia trocado o nome da jovem. – Você sempre desconfiando de mim. Eu disse que seria o capitão, mas não! A puta tinha que vir atras para saber se eu estava mentindo, né? – Ele pressiona mais o corpo da jovem contra a parede – No mínimo você deve estar torcendo para eu falhar e morrermos no espaço.

Um novo gemido de dor escapa dos lábios de Megan. Leo percebe que a moça começa a ter dificuldade para respirar devido a pressão que David exercia sobre seu peito. A luz pisca mais uma vez.

- Sim, Athena... Por favor, mande uns dois seguranças para cá. – Leo e Megan não ouvem nada, mas David parecia falar com a inteligência artificial da nave. – Sim, podem ser eles. Parece que temos um tripulante que não sabe respeitar seu capitão. – David olha para Leo. Seu olhar estava transtornado e transmitia toda a raiva que sentia.

- Fique longe! Eu estou avisando... – Ele diz em tom ameaçador

- ATHENA... DRA ANNE E DR BENIPE NO CORREDOR DOS ALOJAMENTOS... AGORA... CÓDIGO 1-22 – Megan grita com dificuldade por ter o peito pressionado.

Irado, David saca uma pequena arma e aponta para Megan

- QUE PORRA É ESSA? Vai me contrariar também, sua vadia?

Talvez Leo não esperesse essa reação por parte do navegador. Forçando a mente conseguiria se lembrar de que poucos passos atrás, praticamente ao lado do dispositivo que acionava as portas dos corredores, um dispositivo de emergencia ficava em um compartimento. Não era exatamente uma arma, mas servia para atordoar alguém, caso necessário.

OFF:

David solta Megan, que, aliviada por não ter mais seu peito comprimido contra a parede, sente as pernas trêmulas e quase vai ao chão. Irado, o navegador dá um passo para trás e estreita os olhos na direção da jovem ao sacar uma pequena arma que aponta em direção ao peito dela.

Percebendo o perigo da situação, Leo age prontamente e parte para cima de David, tentando nocauteá-lo.

Irado e em estado de alerta, o navegador percebe a intenção de Leo e consegue desviar do golpe, que pega de raspão e, como um empurrão, o lança a parede, onde o homem bate as costas.

Assustada pela movimentação repentina, Megan se abaixa e eleva as mãos aos ouvidos e fecha os olhos com força, balançando o corpo para frente e para trás.

Recuperando o equilíbrio David empunha a arma novamente. A mão tremia devido a adrenalina e ao nervoso da situação. A respiração do homem estava ofegante e os olhos arregalados e havia uma mistura de ódio e medo no olhar.

Ele se vira para Leo e ainda durante o movimento, sem mirar, atira na direção do segurança.

- NÃO! – Megan grita ao ouvir o som do disparo e olha na direção de Leo, suspirando aliviada e permanecendo agachada no mesmo lugar ao constatar que David havia errado o tiro.

Leo ouve o som do projétil bater na parede metálica ao lado dele e ricochetear caindo em algum ponto mais a frente no corredor. Se David não houvesse errado o tiro, provavelmente o teria sido acertado no ombro.

“Atenção! Atenção! Problemas no corredor dos alojamentos. Equipe de contenção solicitada”

Eles ouvem a voz metálica de Athena soar ao mesmo tempo que uma luz vermelha começa a piscar no corredor.

- DAVID, PARA! VOCÊ ESTÁ LOUCO! VAI ACABAR MATANDO A GENTE! – Megan grita com o navegador ainda abaixada no mesmo lugar.

- CALA A BOCA, SUA CADELA! VOCÊ NÃO VAI ME ATRAPALHAR DESTA VEZ CHLOE – David continuava trocando o nome da jovem. Ele se vira mais uma vez para Megan, sem deixar de apontar a arma na direção de Leo.

Em meio ao corredor escuro e as luzes piscando em vermelho, em sinal de alerta, Leo podia jurar ver algo estranho acontecer. A sombra de David parecia estar se tornando maior e mais densa, parecia se mover independente do homem a quem pertencia. Talvez ainda mais louco fosse o fato que parecia que ela olhava diretamente para Leo.

Kevin:

Mais ao fundo, do outro lado do corredor, a porta se abre e Leo pode ver Kevin, o videomaker que havia encontrado na sala de convívio assim que despertou e ainda estava de cuecas, entrar no corredor.

O homem leva o dedo indicador a frente da boca, fazendo um sinal de silêncio e, encostado a parede, começa a avançar em direção a David, que não percebe a chegada do homem.

OFF: