Ano terrestre 2213
Nave espacial Argo 2
Destino: Marte, planeta vermelho
Duração da viagem até o momento: 252 dias
Tripulação preparada para acordar após 187 dias de hibernação criogênica
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Megan suspira ao parar em frente a porta da cabine. A sua cabine.
Havia sido um dia cheio. Os últimos membros da tripulação estavam acordando depois de meses de hiper sono nas câmaras criogenias e a Argo começava a assumir um ritmo frenético de trabalhos e preparativos para a tão aguardada missão em solo marciano.
Ela era uma criptóloga recém formada e se sentia muito animada com a possibilidade de descer em solo marciano e finalmente poder explorar as tão famosas construções de antigas civilizações extraterrestres que, após décadas negando, a antiga agência espacial NASA finalmente assumiu como serem evidências reais.
Por isso mesmo estava achando aquela situação em que se encontrava ridícula. Como ela que estava tão animada por explorar uma construção antiga e encontrar vestígios de vida fora da terra podia ter medo de entrar em sua cabine?
Megan levanta os olhos e observa a numeração de sua cabine por alguns instantes. Vinte e três era o número que se via acima da porta.
Um novo suspiro e ela entra, parando por alguns instantes para observar o lugar antes de fechar a porta atras de si.
De certa forma sabia que o problema não era sua cabine. Sentia que não importava onde estava, aquela sensação estava sempre com ela. Mas como passava seu tempo enfiada em seus estudos e anotações não tinha tempo para prestar atenção a seus medos.
Mas em sua cabine era diferente. Só ia para lá quando corpo e mente, cansados, precisavam relaxar ou dormir. Sem nada para fazer sua mente tinha tempo suficiente para imaginar coisas. Sim, porque aquilo só podia ser imaginação, certo?
Megan repuxa o canto do lábio, contrariada, e por fim joga suas anotações sobre uma pequena mesa enquanto caminha até sua cama.
Ela retira a jaqueta que tinha a logo da Iniciativa Cronos bordada a altura do peito e se senta, arrancando as botas, se jogando de costas na cama. Tinha que admitir que era uma cama confortável.
Fechando os olhos ela coloca um dos antebraços sobre a testa, tentando relaxar e não pensar em nada.
A cama confortável e o silêncio do ambiente faziam o sono se tornar convidativo e irresistível. Estava quase dormindo quando ouviu um barulho de algo sendo arranhado.
Megan abre os olhos e franze a testa. O barulho vinha de dentro de sua cabine.
Ela fica atenta por alguns instantes, mas o som não se repete e ela resolve fechar os olhos novamente.
- Rhinnnnn – Segundos depois ela ouve novamente, parece unhas arranhando algo.
Megan se senta na cama e encosta as costas contra a parede olhando ao redor. As luzes de sua cabine piscam algumas vezes e o som se repete. Ela arregala os olhos e sua respiração acelera.
- Rhinnnnn – As luzes piscam três vezes desta vez e ela percebe que o som vinha de debaixo da sua cama. Seu coração batia alto em seus ouvidos e ela olha para a beirada da cama se questionando o que estava acontecendo e se deveria olhar o que era.
Ela fecha dos olhos tentando conter o medo que começa a sentir, mas ao abri-los não estava mais em sua cabine. Estava no seu antigo quarto de infância. As luzes apagadas. O ambiente fracamente iluminado por uma luminária giratória que lançava alguns desenhos de planetas sobre a parede.
- Cadê minha cabine? Eu estou na minha cabine e não aqui... – Ela fala baixo, mas mais uma vez o som do chão debaixo de sua cama sendo arranhado chama sua atenção.
Ela olha para a porta. Talvez se fosse rápida pudesse alcançar a porta e sair dali. Correr para o seu pai como fazia antigamente quando tinha sonhos ruins.
Megan dobra o corpo para frente apoiando as duas mãos sobre a cama, se preparando para descer dela, quando algo puxa a colcha.
Assustada ela recua e volta a encostar as costas contra a parede.
- Nana neném... Que a cuca vem pegar... – Ela ouve uma voz grossa e rouca, nada parecido com algo que já tinha ouvido, vir debaixo de sua cama.
Ela não consegue controlar a respiração que está rápida e ruidosa. Em estado de alerta máximo ela nem sequer pisca os olhos concentrada na colcha que agora pendia da cama.
- Pega essa menina que tem medo de careta... – Megan volta a ouvir a voz sinistra. Queria gritar e chamar por seu pai, mas a voz não saia.
A colcha repuxa para o chão mais uma vez e uma mão horrenda, de finos e tortos dedos, é vista subindo pelo colchão.
Megan coloca as mãos na lateral da cabeça e grita, apavorada, enquanto fecha os olhos.
- Ele vai me pegar, ele vai me pegar! – Ela diz desesperada.
“Megan Benett, favor confirme problemas em sua cabine”
Megan ouve a voz de Athena, a inteligência do computador de bordo da nave.
Athena? Ainda ofegante, abre os olhos lentamente. Estava em sua cabine. As luzes estavam acesas. A colcha arrumada sobre a cama. Ela percebe um incomodo na sua calça e vê que havia se mijado.
De novo aquilo. Desde que havia despertado a dez dias que acontecia de reviver os medos da infância. Ela suspira contrariada e vai até o banheiro para se lavar e depois providenciar a troca do seu colchão.
- Tudo certo por aqui, Athena. Mas, por favor, chame a Dra Anne. Preciso falar com ela.
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Câmara criogênica
Sentiu uma mão em seu ombro enquanto alguém sacudia seu corpo com vontade.
- Olá bela adormecida. Bem-vinda de volta a vida! – Ouviu um homem lhe dizer assim que conseguiu abrir os olhos e focar sua visão.
- Consegue se sentar? – Ele pergunta, segurando em um de seus braços a ajudando a suspender o corpo.
A sua audição estava estranha, parecia que os sons estavam ocos. A mente estava se esforçando para reconhecer onde estava e que dia da semana deveria ser, como se estivesse acordando daquelas sonecas vespertinas.
Ela olha o homem que a ajudava e os demais que estavam a volta. Não lembrava dos nomes, mas a mente clareou o suficiente para saber que já os tinha visto antes. Viu as câmaras criogênicas e se lembrou que estava em uma nave... Mas fazendo o que mesmo ali?
Sente um leve enjoo, mas nada que a fizesse vomitar. O que a incomodava mesmo era o sono. Queria continuar dormindo.
O homem a ajuda e ela consegue alcançar sua cabine.
A cama quentinha onde foi colocada, diferente do frio de onde estava, era convidativo para o sono. Foi deixada sozinha.
Ela piscava demorado, queria dormir, mas também queria ficar acordada.
Com olhos pesados ela observa sua cabine, reconhecendo o lugar. Uma mesa de estudos, uma cadeira com uma muda de roupas limpas. Uma pia com espelho em um canto. Estranhamente havia o reflexo de uma pessoa no espelho.
Seu reflexo.
A imagem lhe sorri e levanta a mão mostrando uma navalha. O sorriso some e a ponta da navalha toca o pescoço, rasgando lentamente a pele. O sangue jorrando enquanto seu reflexo volta a sorrir e a cabeça começa a pender para o lado.
Queria reagir a cena, mas estava com muito sono, não conseguia nem falar. Apertando a mão ela sente algo. Com esforço olha para baixo. Segurava uma navalha.
Ela abre um pouco a boca querendo falar, mas o sono a abraça e ela cai em um abismo profundo e escuro. Ela finalmente volta a dormir.
- OFF:
- Tudo começa com o despertar da Alya.
Ela acorda na cabine dela. A útima vez que ela viu a sua cabine foi a seis meses, antes da hibernação.
A cabine é simples, com cama, armário, pia e espelho. Vc pode descrever melhor o ambiente e objetos pessoais dela, caso deseje.
Ela não encontra nenhuma navalha na sua mão nem na cama.
Ela pode permanecer na cabine ou sair para explorar outros lugares da nave. Fique a vontade ^^