[ON] Alya: Procura e pesadelo

Zayn ergue o corpo e olha para mulher debaixo dele. Surpreso, ele se afasta de forma rápida e brusca, como se houvesse tocado em ferro em brasas.

Ainda agachado no chão ele franze a testa e olha em volta, parecia que ele estava tentando reconhecer o local onde estava. Suspira fundo e baixa a cabeça, balançando-a negativamente, enquanto pragueja algo em uma língua que Alya não conhecia, provavelmente originária de algum país do oriente médio.

Finalmente se dando conta que havia derrubado a criptóloga ao chão, ele se levanta e estende a mão para ajudar a mulher a se levantar.

- Me perdoe. Te machuquei? – Diz esboçando um meio sorriso sem graça. – Você, delirando?

Nesse momento ele olha para trás, em direção a porta que separava o outro corredor, antes de se voltar para Alya.

- Espero que não esteja delirando... Pelo menos me sinto bem real. E espero que você também não seja mais um delírio meu. Se bem que não seria nada mal ser perseguido por um belo demônio se fosse parecido com você, só para variar... – Zayn solta de uma vez o ar dos pulmões, bufando de forma ruidosa e torce um dos cantos da boca. – Ok, péssima tentativa de fazer graça. Admito e peço desculpas mais uma vez... Apenas tentando desfocar a mente de algumas coisas...

Mantinha a mão estendida para ajudar Alya e a outra vai ao peito, agarrando uma das medalhas de seu escapulário que leva a boca, beijando a imagem.

Escapulário:

- Perdón por la blasfemia, madre – Ele diz em uma língua latina, que Alya consegue entender, e coloca a medalha por dentro da blusa. – Desculpe, seu rosto não me é estranho, mas não consigo lembrar seu nome... Mas parece que você conseguiu se lembrar do meu. – Pela primeira vez a voz da Zayn parecia leve, embora Alya percebesse que ele ainda percorria o local com os olhos, como se analisasse o perímetro.

OFF:

A mão de Zayn em contato com a de Alya parecia firme e ela pode sentir a aspereza da pele enquanto ele lhe dava apoio para que ela se ergue-se do chão.

- Fico aliviado em saber que se isso for um sonho, pelo menos nesse momento estamos satisfeitos com o que estamos vendo. – A expressão dele parecia satisfeita e ele retribui o flerte piscando um dos olhos para ela.

Novamente de pé, após se certificar que estava tudo bem, a mão de Zayn libera a de Alya e ele leva a mão ao peito, provavelmente tentando sentir a medalha por debaixo da roupa.

- Ah, sim. Agora me lembrei... Alya... Claro, uma das criptólogas. Lembro de tê-la visto uma ou duas vezes antes de hibernarmos... Alya – Ele pronuncia o nome dela devagar e faz uma breve pausa antes de prosseguir. - Minha família saiu do oriente médio a muitas gerações, fugindo da antiga perseguição aos cristãos e no país onde se estabeleceram logo se tornaram devotos da Virgem de Guadalupe, porque sempre Ela ajudou nossa família – Ele dá mais uma rápida olhada para trás, vendo agora a porta que separava os corredores fechada. – E por ser justo você, que também tem uma imagem da santa madrecita, a cruzar meu caminho agora, creio que você deve ser um anjo enviado por ela para me ajudar.

Zayn olha mais uma vez para Alya. O olhar dele parecia intenso enquanto a observava.

- Não seria nada ruim estar dormindo e ter uma moça tão bela em meus sonhos, se bem que a ideia de ter uma moça bonita por perto e estar acordado me parece melhor. – O tom da voz dele é descontraído e Zayn sorri para ela de forma galanteadora. - Respondendo a sua pergunta, sou um dos seguranças da expedição... Não me considero bom em piadas, mas posso te fazer um café... Se bem que parecia que você ia para lá – Ele diz colocando o corpo de lado, dando a Alya ampla visão da porta por onde Zayn havia surgido. – Pode ser coisa da minha cabeça, mas não tô muito a fim de voltar para aquele corredor... – Ele dá de ombros. – Tô cansado de falar com a Dra Anne... Pode não ser uma coisa engraçada, mas te conto o que me fez acabar esbarrando e derrubando você se me acompanhar em um café... O que me diz?

Zayn passa a mão livre sobre os cabelos e caminha com ela em direção ao corredor que dava acesso a área de convívio.

Flertando, sem dúvidas! Seria louco se não elogiasse e aproveitasse a companhia de uma bela jovem enviada por La Santa Madre para me ajudar – Zayn dobra o braço para que Alya pudesse se apoiar – Quanto a ser descarado... Acho que devo estar enferrujado, mas quem me culparia depois de tantos meses no espaço? Então talvez esteja segura quanto a isso... Talvez...

Ele mantinha o sorriso galanteador enquanto conversava com a criptóloga. Ele estica a mão para acionar o dispositivo que abria a porta, quando a luz do corredor onde estavam pisca, os deixando por cerca de poucos segundos no escuro.

Se não fosse pela parca luz que entrava pela escotilha da porta a frente, Zayn e Alya estariam imersos em uma escuridão total.

Podia sentir que Zayn havia retesado o corpo. Os músculos do braço do homem ficaram mais perceptíveis devido a tensão. A mão livre dele vai até a de Alya, cobrindo-a e apertando. A respiração do homem parece ruidosa, não sabia se pelo silêncio que havia tomado conta do local ou devido ao segurança realmente estar respirando mais pesado.

Um barulho vindo de algum ponto atras deles pode ser ouvido. Mesmo no escuro, Alya percebe que Zayn se vira rapidamente para trás, talvez tentando identificar algo.

As luzes se acendem e ela poderia ver que o homem tensionava o maxilar, parecia preocupado.

Eles percebem que o barulho ouvido era da porta do outro extremo do corredor se abrindo. A mesma porta que dava acesso ao corredor de onde Zayn parecia ter fugido instantes atrás.

- David – Alya ouve Zayn pronunciar quando eles veêm um homem cruzar a porta.

David... Conseguia se lembrar dele, embora o nome provavelmente ficasse obscuro em sua mente se não fosse pela dica de Zayn. Sabia que aquele era um dos navegadores da Argo 2, trabalhando diretamente com a capitã Elisa.

O homem caminha a passos largos até a metade do corredor e para em frente a porta de uma das cabines e, com o punho fechado, bate à porta.

- David, cara! Que susto! Tudo bem, aí? Você sabe se está tendo algum problema com a parte elétrica da nave? – Zayn pergunta.

O navegador olha na direção deles e pela expressão em seu rosto, não parecia muito contente.

- Tudo! Não faço ideia do que está falando! – Foi a resposta seca antes verem o homem bater novamente a porta, desistindo logo em seguida ao não ser atendido e retornando ao corredor de onde havia surgido, enquanto praguejava algo que Alya não conseguiu entender.

Zayn respira fundo e dá de ombros deixando o corpo relaxar. Aciona o controle e a porta se abre para um corredor mais movimentado.

- Eu diria que se não fosse a minha fé... A fé de que somos protegidos e guiados por algo maior que o nosso próprio entendimento pode alcançar, com tudo que já vi na minha vida, já teria desistido – Zayn volta a olhar para a criptóloga – Mas eu não quero condenar minha alma e espero sinceramente que aqui no espaço estejamos um pouco mais próximos da força que nos criou.

A mão dele dá um último aperto na de Alya antes de soltá-la e apontar para a frente, convidando a mulher a continuarem o caminho até a área de convívio.

- Mas algumas coisas estão tão estranhas desde que acordei que me pergunto se estar no espaço nos aproxima mesmo do criador ou da escuridão que quer destruir tudo – Ele dá um meio sorriso enquanto voltam a caminhar – Acho que o nosso café vai ser logo... Não que esteja reclamando – Agora o sorriso se abre novamente de forma galanteadora.

Ainda de braços dados voltam a caminhar, finalmente acessando o corredor que os levaria até a área de convívio.

Do lado esquerdo ela podia ver as câmaras criogênicas vazias através do vidro da parede e, em um estranho Déjà vu, pode perceber que tudo ali dentro estava exatamente igual ao que tinha visto em seu delírio febril.

- Esse é o David, um cara que já era meio esquisito e ficou ainda mais depois que acordou... Talvez ele precisasse de mais cinco minutos dormindo antes de levantar e voltar as atividades – Zayn olha por cima do ombro, observando o corredor que deixavam para trás antes da porta se fechar.

- Eu estou com uma memória recente demais para achar que seja algo tão primitivo. – Ele deu de ombros. – Tá, eu sei que não foi nesse sentido que você quis dizer, mas eu te avisei que sou ruim com piadas. - Sorri amplamente

Abre a porta da sala de convívio e dá espaço para que Alya entre. Ela pode ver que além deles mais três tripulantes estavam na sala. Dois deles ela já havia conversado recentemente, pois eram os doutores Benipe e Anne. A terceira tripulante ela reconheceu como sendo Megan, a outra criptóloga da expedição.

- Estou dizendo, doutora Anne, alguém precisa fazer algo. Ele nega, mas tenho certeza que David continua tendo alucinações... – A garota suspira pesado, parecendo preocupada. – Mas enfim... Vou voltar para as minhas pesquisas... Qualquer coisa pode me encontrar na oficina.

A jovem se despede e sai deixando os doutores conversando em um canto da sala.

Zayn solta o braço de Ayla e sinaliza para que ela se sentasse em uma poltrona próxima enquanto ele vai até a máquina e pega dois cafés, retornando para o lado dela.

- Eu já estou meio grandinho para ter medo de bicho papão, mas se ele só devora homens bonitos acho que estou a salvo – Ele dá um meio sorriso malicioso enquanto olha a jovem nos olhos.

Os doutores acenam para ambos quando percebem a presença deles na sala e continuam sua conversa. Zayn toma um gole do café antes de retomar a falar.

- Mas me diga... O que te trouxe a essa missão? Eu estou aqui porque depois de servir ao Exército Unicrático, achei que estar no espaço me traria tanta paz quanto eu tinha ao observar as estrelas, mas estou propenso a achar que não é a toa que o espaço é escuro, baseado no que ando vendo...  – Tentando desfocar, ele franze a testa em uma expressão de curiosidade - Aliás, desculpe a ignorância, mas o que exatamente um criptólogo faz ou pesquisa? Já faz ideia de qual missão em solo irá fazer parte?

A conversa seguia em um tom ameno. Ao fundo pode ver Benipe e Anne se levantarem e saírem da sala os deixando a sós.

- Sendo assim, acho que está será a primeira vez que ficarei ansioso por encontrar o bicho papão. – Ele sorri de forma sedutora enquanto olha fixamente nos olhos de Alya – Principalmente se estiver vestida para me matar. Vou adorar ser devorado.

O olhar de Zayn deixa o de Alya por alguns instantes, percorrendo o corpo da jovem de cima a baixo, sem nem ao menos tentar disfarçar. Não chegava a ser um olhar “predatório”, mas sem dúvida era um olhar de apreciação ao que via.

Após o breve momento de flerte entre os dois, o soldado volta a se concentrar nas palavras da criptóloga prestando atenção ao que ela contava, ficando alguns instantes em silêncio antes de responder.

- Quando entrei para o Exercíto Unicrático tinha a esperança de ser um agente da paz, mas o que encontrei foi o contrário disso. Eu me deparei com o lado mais escuro de alguns seres humanos, que sem ter escrúpulos, são contrários ao governo global – O sorriso some do rosto de Zayn e ele olha para a xícara em sua mão, sem, no entanto, parecer realmente enxergá-la – E para manter ou conquistar a paz nestes casos, as vezes é necessário tomar medidas que nos marcam pelo resto da vida... Não importa quanto treino você tenha recebido... Ver alguém morrer sabendo que foi você que o matou é algo que marca – O olhar se torna vago, inexpressivo e a voz fica sombria – Desde que acordei é isso que vejo... Demônios... Sim, demônios tipo os descritos na bíblia, surgindo de cantos escuros, corredores vazios, vozes que me perseguem dizendo que minha alma esta condenada ao inferno e que em breve irão me matar e me arrastar com eles.

Zayn suspira pesado e levanta a cabeça, olhando novamente para Alya, enquanto toma mais um gole de café.

- Nunca senti prazer em fazer o que fazia. Apenas queria ajudar a manter o mundo em paz, mas parece que arruinei a minha própria paz. – A voz parecia amargurada. – Mas o que você andou vendo também não me parece nenhum pouco agradável. Será que ninguém aqui acordou alucinando com o paraíso, só com o inferno?

Suspirando pesado, Zayn balança a cabeça negativamente como que para afastar os pensamentos e sorri de forma amigável para Alya.

- Me parece ser uma coisa bem interessante o que você pesquisa. – Ele diz em um tom de voz curioso – Me diga, acredita mesmo que podemos encontrar algum vestígio de civilização antiga em Marte? – Ele ergue uma sobrancelha. – Mais do que isso, acredita que, de alguma forma, ainda possam estar por lá? Será que foi isso que fez com que a Argo 1 desaparecesse?

Nesse instante veem a porta da sala de convívio abrir e um homem entrar carregando uma câmera. Forçando um pouco a memória conseguiria lembrar que aquele era Kevin, o videomaker responsável por registrar os principais eventos da missão. Lembrou inclusive que a última vez que o havia visto foi naquela mesma sala, dois dias antes de hibernarem, quando a tripulação fez uma pequena confraternização de "despedida"

Kevin:

- Merda! Eu não acredito... - Kevin resmunga em voz alta, entrando na sala, enquanto mexia na câmera. Percebendo a presença dos dois ali, ele os olha. - Oi, gente! Vem cá, algum de vocês será que pode me dar uma mãozinha aqui... Eu filmei o despertar da galera de agora e não tô conseguindo acessar as imagens. - O homem leva uma das mãos à cabeça - Se eu perdi essas imagens... Acho que estou nervoso, posso não estar vendo algo obvio aqui que está dando esse problema

Kevin se aproxima de Zayn e Alya. Ele parecia frustrado e preocupado com as imagens e o equipamento em suas mão

- Alguém se habilita? - Ele diz estendende de leve a mão com a máquina em direção aos dois

OFF:

Zayn ouvia a mulher com atenção enquanto vez ou outra tomava um gole do seu café.

- Levando em consideração que estamos diante de uma hipótese que pode se mostrar real, espero sinceramente que a mídia tenha razão... Que os ETs sejam realmente baixinhos, quase beirando ao ridículo... Acho essa ideia melhor do que aquela onde eles caçam e matam toda a tripulação de uma nave, enfim...

Ele diz em um tom descontraído enquanto ergue as sobrancelhas e levanta a xícara na direção de Alya, como em uma saudação, antes de levá-la a boca, esvaziando seu conteúdo em praticamente um único grande gole.

- Entendo que você tenha que voltar àquele corredor para pegar sua pesquisa. E faço questão de acompanhá-la... Se me permitir, é claro – Ele coloca a xícara vazia sobre uma mesinha ao lado e volta a encarar Alya nos olhos – Só para me certificar que o único bicho papão por aqui é você e que se alguém for devorado, que seja eu. – Mais uma vez ele sorri para ela de forma sedutora. – Aliás, acho que com essas alucinações não estamos seguros sozinhos, então eu posso te fazer companhia em sua cabine enquanto você faz suas anotações – Ainda sorrindo ele pisca um dos olhos para ela. – Prometo que ficarei quieto e não vou te atrapalhar... A menos que você queira...

Quando Kevin entra ele quebra o clima de flerte que Zayn tentava estabelecer com a criptóloga.

- Já tentei fazer isso, acredite... – Kevin parecia frustrado ao responder Alya. – Agora nem ligar essa merda quer... Mas tô aceitando qualquer ajuda, vai que com você funciona.

Kevin estende a máquina, entregando para a mulher, enquanto Zayn a olha e ergue o polegar de uma das mãos fazendo um sinal de ok

Em um dos cantos da sala havia uma estação de comunicação que poderia ser utilizada para essa finalidade. Se fosse até lá, conseguiria conectar a máquina a central e superando alguma dificuldade inicial finalmente conseguiria acessar as imagens da câmera.

Sem esperar que essa ideia fosse dar resultado, Kevin permaneceria junto a Zayn, conversando, no mesmo local onde ela estava sentada antes.

Assim que acessa a pasta mais recente de fotos, o monitor da central de comunicação apaga e religa logo em seguida. Abrindo a pasta para verificar se as fotos haviam sido danificadas, Alya veria uma sequência de fotos da tripulação dentro das câmaras criogênicas.

O monitor pisca mais uma vez e os comandos parecem travar e um arquivo abre na tela. Era um vídeo sem o som.

Mais uma vez as câmaras criogênicas apareciam. Pessoas envolta abriam as tampas ajudando a tripulação que estava despertando até que em um momento a câmera vira e ela se vê sendo retirada de um dos casulos criogênicos.

Parecia passar mal. O corpo se debatia. Pessoas se aglomeravam em volta dela até que ela quase não consegue se ver. Então ao fundo ele vê uma mulher se aproximar e observar o desenrolar a situação sem se envolver com o que acontecia. A mulher cruza um dos braços sob o peito e apoia o cotovelo do outro sobre ele enquanto espalma a mão sobre a bochecha, virando a cabeça de lado ao segurar o rosto.

Mulher:

Ela observa e quando parecem que finalmente vão tirar Alya de onde estava a mulher olha para frente, diretamente para a câmera, quase como se pudesse vê-la naquele momento, e sorri. O vídeo acaba e fecha. Os controles da central voltam a funcionar.

Alya reconhece a mulher como a mesma que havia visto em seus delírios febris.

OFF:

-ETs baixinhos...Podemos nos prender a essa imagem ou podem ser uma versão melhor nossa, desprendidos dessas coisas que nos mantém cegos, mas concordo que prefiro isso do que alguma coisa saindo do meu abdômen e mordendo seu nariz!- Alya apenas ri como se fosse a melhor coisa a se fazer, Zayn tirou dela aquele peso de pensar nos delirios. - Você seria então meu fiel cavaleiro de armadura brilhante em pleno espaço? Vou me sentir muito melhor tendo sua companhia e sinceramente agradeço seu interesse tão bem intencionado em proteger uma pobre mocinha indefesa, prometo que se morder você farei de um jeito divertido. - Ela pisca e um  sorriso felino desabrocha nos lábios dela e a voz rouca que se torna um sussurro cheio de provocação. - Claro que aceito sua companhia na minha cabine, podemos aprender muito um com outro…-
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Kevin quebra aquele joguinho adulto entre eles, mas prende a atenção de Alya que quer ajudá-lo. Ela toca na mão dele pedindo permissão para mexer naquilo. - Vai que tenho mais sorte com isso. -  Alya se desloca até um canto da sala onde a estação de comunicação ficava. Com paciência vai fazendo o que acha ser o certo e acessa as imagens com um sorriso triunfante nos lábios.  Ela observa os dois homens e depois se volta à tela acessando a sequência de fotos da tripulação nas câmaras criogênicas. O monitor pisca e ela também quando tenta compreender o vídeo sem som. Quando se vê no vídeo uma sensação estranha a faz franzir o cenho e ao notar que na imagem estava agitada, se debatendo  aquilo a deixa incomodada, mas esforçou-se para reforçar que era uma reação normal após acordar.  Os olhos dela se fixam na mulher, a mesma do delírio um arrepio lhe percorre o corpo e instintivamente olha os dois homens para chamá-los. - Por favor...venham aqui...Quero confirmar que estou acordada agora!- A voz dela é trêmula, saindo do fundo da garganta, o corpo tenso e visivelmente incomodada com aquilo que via. - Preciso mostrar a vocês…Essa coisa mostrou fotos e o video que to acordando-  Alya torcia para fazer aquela coisa funcionar e mostrar o que viu ou realmente começaria a achar que estava ficando louca.

OFF:

Zayn e Kevin interrompem a conversa e se entreolham curiosos quando Alya solicita a presença deles.

- Opa! Mostrou fotos e vídeo? Isso quer dizer que você conseguiu acessar o que estava na memória? – Kevin diz com entusiasmo enquanto se aproxima sendo seguido de perto por Zayn – Garota, te amo! – Diz parando ao lado dela e vendo que ela realmente conseguira acessar os arquivos de imagem. – Mas não me entenda, mal. Sei que sou bonitão e irresistível, mas já sou comprometido... Então encare isso apenas como um elogio profissional – O videomaker sorri divertido e pisca um dos olhos para ela.

- Não se preocupe com isso, meu caro – Era Zayn que agora parava ao lado deles, apoiando uma das mãos no ombro do homem. – Nossa criptóloga aqui já foi escalada para ser o bicho papão particular de outro membro da tripulação – Ele sorri.

Os homens conversavam descontraídos, inicialmente alheios a preocupação de Alya, e só quando param ao lado dela e a observam que percebem a tensão que ela demonstrava.

Zayn se afasta de Kevin e se põe ao lado de Alya, colocando uma das mãos nas costas da mulher fazendo movimentos circulares, massageando o local, enquanto a olha de forma cumplice. O olhar dele talvez deixando a entender que ele pensava nas alucinações que ela havia comentado.

- Ei! Calma, garota! Tá tudo bem... As vezes é estranho mesmo ver as cenas do nosso despertar... Assistir a algo que não nos lembramos de como foi – Kevin assume um tom de voz mais sério, tentando deixar Alya mais tranquila. – Mas tudo bem, vamos dar uma olhada nas imagens... Mas o que você viu que te deixou assim?

Assumindo os controles da central de comunicação, Kevin executa alguns comandos e por fim acessa as imagens, mostrando a mesma sequência de fotos, que ela havia visto, da tripulação dentro das câmaras criogênicas.

Assim como aconteceu anteriormente o monitor pisca uma vez e os comandos parecem travar e um arquivo abre na tela. Era o mesmo vídeo sem o som.

Kevin franze a testa e olha rapidamente para os dois, tocando na tela do monitor, tentando retomar os controles, mas sem sucesso.

O vídeo avança até que veem a cena em que Alya é retirada de um dos casulos criogênicos. Ela passava mal, o corpo se debatendo enquanto vários tripulantes se aglomeravam em torno dela até que ela não podia mais ser vista.

E então a mulher aparece na gravação. No mesmo local mais afastada, repetindo os mesmos gestos enquanto observava o que acontecia com Alya e mais uma vez vê a mulher olhar para frente, diretamente para a câmera e sorrir, antes do vídeo terminar e os controles voltarem a funcionar.

Permaneceram em silêncio por algum tempo, até que um som próximo os retira daquele estado.

Percebem que o som vinha da enfermaria. Provavelmente era Benipe que atendia a algum tripulante.

- Que mulher estranha! Não lembro de tê-la visto antes – Zayn comenta, quebrando o silêncio.

- Mais estranho ainda é que eu filmei isso e não lembro de ter focado nessa mulher. – O videomaker diz acessando mais uma vez o mesmo vídeo, assistindo mais uma vez as imagens. A voz era intrigada e agora olhava para os outros dois – Acredite, desde que embarcamos a meses atras eu já gravei muita coisa e já assisti muita coisa do período em que estávamos em hiper sono e não lembro de ter visto essa mulher antes.

Zayn ergue uma sobrancelha diante da afirmação do outro. Por um instante pareciam ter esquecido de Alya enquanto divagavam sobre o que haviam visto.

- Será possível que temos um clandestino a bordo? – O segurança pergunta em tom de descrença. – Athena guarda as gravações de segurança por algum tempo antes de se desfazer do arquivo para liberar espaço e substituir por novas imagens... Talvez possamos acessar e verificar – A preocupação era nítida quando ele finalmente se dá por conta que estavam ignorando o motivo por qual a mulher havia solicitado que eles vissem o vídeo. – Desculpa! Nós estamos aqui falando sem parar, mas afinal o que você viu de estranho? – Zayn pergunta para Alya, olhando a mulher nos olhos e dando um meio sorriso.

OFF:

O olhar de Zayn para Alya parecia preocupado. A mão escorrega pelas costas da mulher e ele a abraça pelos ombros. Puxando o corpo dela para para que encostasse o ombro em seu peito, enquanto a mão acaricia o braço.

- Ela estava nos seus delírios? Então talvez você a tenha visto antes de hibernarmos e isso ficou no seu inconsciente e a forma de vir à tona foi aquela forma horrível que me contou – Ele sussurra quase ao ouvido dela – Vai ficar tudo bem! Manterei todos em segurança!

- Ah, qual é! Jura que cês tão falando sério? Um clandestino a bordo? – Kevin parecia incrédulo.

Nesse momento a porta da sala de convívio se abre e eles veem dois tripulantes entrarem.

Camilo e o exobiólogo:

Um deles Alya reconheceu prontamente como sendo Camilo, o assistente de laboratório que inclusive estava em seus delírios. O outro ela teve que forçar um pouco mais a memória e embora não conseguisse lembrar o nome, sabia que era um dos exobiólogos da expedição

- Shiii – Zayn sinaliza para que Kevin falasse mais baixo.

- Tá, tá – Kevin fala mais baixo ao perceber os outros tripulantes – Vocês estão esquecendo da Athena. Vocês acham mesmo que ela não teria percebido um TBNI zanzando por ai?

- TBNI? – Zayn faz cara de quem não entende e olha de soslaio para Alya enquanto aperta o abraço em torno do ombro da mulher

- “Tripulante a bordo não identificado” – O videomaker sorri e dá de ombros enquanto os outros reviram os olhos – Pelo menos não podem dizer que não estou tentando ajudar a descontrair e aliviar o clima para a nossa mocinha aqui. – Ele sorri com simpatia para Alya. – Se bem que você a promoveu a “seu” bicho papão, né – Kevin sorri com malícia.

Zayn olha em direção aos dois homens que haviam entrado na sala de convívio percebendo que um deles os observava. Não parecia exatamente interessado na conversa, parecia mais que tentava reconhecer os três.

- Esse é um ponto interessante, Athena realmente teria percebido, mas então por que não lembramos dessa mulher? Talvez devêssemos checar a listagem dos tripulantes e as gravações de segurança – Zayn completa enquanto olha para Alya. – Acho melhor termos certeza das coisas antes de levarmos o caso a capitã... Ou aí sim vamos passar por loucos, o que acha?

OFF:

Off: Zayn virou meu crush n tem como n gostar dele ahuuhauhauha e obg pela postagem narradora

Kevin faz uma expressão incrédula e bufa diante do questionamento de Alya.

- Eu sou o “senhor mente aberta”, mas tenho certeza não dá para sabotar Athena! – O videomaker contesta ainda em voz baixa, desconectando sua câmera da central de comunicação. Por alguns instantes ele para olhando a própria câmera, parecia refletir sobre algo. – Não... Não dá! – Ele diz mais uma vez. – Ou será que...

- Apesar do nome ela não é uma Deusa ou entidade cósmica. – Zayn parecia bastante convicto do que dizia – Athena é o que existe de mais moderno em I.A., mas ainda assim é um programa, uma máquina. – Ele tinha o olhar sério quando mais uma vez volta sua atenção para Alya – Acho seu questionamento muito plausível. Mesmo sendo a alma da nave, cuidando e mantendo tudo em funcionamento para a missão, não podemos esquecer que ela é um programa que inclusive pode ser desinstalado e reinstalado em outra nave, caso seja preciso. E se isso pode ser feito, por que alterar uns dados não seria possível?

Kevin dá de ombros, pensativo, quando o gesto de Alya de dar uma tapinha em sua mão faz com que o videomaker abra mais uma vez o sorriso descontraído.

- Você tá reclamando, mas eu não sou cego, sabia? – Ele estreita os olhos de forma zombeteira para ela – Eu estava desesperado com a câmera, mas eu percebi o clima... Srta bicho papão – Ele finalmente termina de mexer na câmera e a pendura em seu ombro. – Para vocês não dizerem que sou imprestável vou tentar conseguir a lista de tripulantes com a capitã. Só para ter certeza... – O olhar fica perdido ao parecer que ele pensava em algo – Posso dizer que é para verificação das filmagens... Se não estou esquecendo de nenhum tripulante.

Zayn solta os ombros de Alya, desfazendo o abraça, para logo em seguida pegar a mão da mulher e apoiar na curva de seu antebraço, entrelaçando o braço dela ao seu para lhe dar apoio

- Perfeito! – Ele concorda com Kevin. – Enquanto isso podemos ir até a sala de engenharia. Pelo que sei de lá poderemos acessar as filmagens. – Ele leva a mão livre até a dela que estava apoiada em seu outro braço e a segura, dando um suave aperto, querendo transmitir segurança a ela enquanto sorria, confiante. – Vamos acessar a gravação de segurança. Fique calma, se essa mulher está aqui nós vamos encontrá-la. Não vamos deixar que ela atrapalhe a missão.

Os três finalmente saem da sala de convívio. Kevin segue pelo corredor a esquerda, indo para a parte da frente da nave enquanto Zayn e Alya vão pela direita, descendo o corredor até acessar novamente o setor dos alojamentos.

Mais uma vez estavam sozinhos ali, os passos ecoando conforme avançavam. Sabiam que a sala de engenharia ficava no final do corredor dos alojamentos a direita de quem estava indo para a parte inferior da nave. Estavam no meio do corredor, apenas alguns passos a frente da cabine que era de Alya, quando uma música ambiente tocada por uma orquestra passa a ser ouvida por toda a nave.

Institivamente Zayn para a caminhada, olhando para frente enquanto esboça um pequeno sorriso, quase imperceptível.


A música toca por alguns instantes quando um sutil solavanco na nave pode ser sentido, fazendo com que ele apertasse mais o braço dela entre o seu

“Órbita alcançada com sucesso. Argo 2 pronta para iniciar missão”

O segurança olha para a criptóloga, um misto de emoções refletindo no rosto do segurança. Com certeza ele parecia animado, talvez até emocionado

- Seja bem-vinda a marte, bichinho papão! Aposto que ele está bem a nossa frente... – Solta o braço dela e se vira para ficar quase de frente para ela – Acho que a mulher estranha pode esperar um pouco – Ele abre seu típico sorriso galanteador – Dizem que observar a lua pode ser romântico... Quer descobrir como seria observar marte? – O olhar dele era intenso

OFF:

Quando Alya se joga em seus braços e o beija, Zayn apenas aperta os braços em torno do corpo dela em um abraço caloroso, mas não força um contato mais demorado permitindo que a mulher se afaste dele e lhe sorri animado.

- Gostei da forma como expressa sua animação – Zayn pisca um dos olhos para ela – Se isso foi só com a notícia da entrada da nave na órbita de Marte, mal posso esperar para ver o que meu bichinho papão preferido vai fazer quando vir o planeta mais de perto... Será que eu sobrevivo? – Ele levanta uma das sobrancelhas e sorri torto, de forma divertida e levemente presunçosa.

Ele pega a mão de Alya e a leva a boca, dando um suave beijo nas costas de sua mão, para logo em seguida acenar em direção ao corredor, convidando para que continuassem o caminho.

- Faremos então um “pequeno” desvio na nossa rota, senhorita – Ele volta a encaixar o braço dela na curva do dele – Vamos descer. Uma parte do convés inferior é revestido por um vidro especial, um visor magnifico para o espaço. Assim poderemos ver marte e, com sorte, estaremos a sós – Ele olha de soslaio para a criptóloga.

Seguindo mais alguns metros pelo corredor dos alojamentos, pouco antes da porta de acesso a outra área da nave, eles viram à esquerda e acessam uma pequena saleta com uma espécie de escada que levava a parte de baixo da nave.

O deck inferior era tão grande quanto a própria Argo 2, mas não possuía nem metade das divisões por áreas e corredores que se via lá em cima, sendo praticamente um grande espaço aberto.

O local estava mal iluminado e algumas naves menores, máquinas e veículos estavam cobertos e acorrentados firmemente a estruturas que não permitiam que eles se movessem caso algum solavanco atingisse a nave.

Conforme avançam pelo maquinário, Alya consegue perceber a silhueta coberta do veículo terrestre que ela sabia ser o designado para as expedições de criptologia. Em breve ele estaria embarcado em uma nave menor, junto com a tripulação adequada, descendo rumo ao solo marciano.

Eles andam por alguns metros quando finalmente veem o que Zayn havia mencionado. Uma grande parede inteiramente revestida por uma grossa camada de um vidro especial ultra resistente mais parecia uma gigantesca janela que, mesmo dali onde estavam, já permitia a magnífica vista do planeta vermelho.




Eles caminham até parar de frente ao vidro. Os olhos de Zain brilhando de emoção enquanto ele leva as mãos a cintura de Alya e a posiciona de forma a ficar atras dela, tomando o cuidado para ficar o mais próximo possível sem tocar no corpo dela para não causar algum desconforto a mulher.

Zayn observa Marte por alguns instantes e então curva levemente o tronco, quase apoiando o queixo no ombro de Alya, falando baixo ao ouvido dela

- Magnifico, não é mesmo? Então, era como você imaginava? – Ele olha para a criptologia, virando a cabeça de leve por sobre o ombro dela.

OFF: