** Cena **
Era apenas uma taverna qualquer, em um lugar qualquer a beira de um porto qualquer, mas que entrasse naquele lugar iria se deparar com uma cena, no mínimo, curiosa.
Iam main attraction. ♩♫♪♬ Got ya love. ♫♪♬ Empty ya pockets Darling ♩♫♪♬ I do you thinkin that ♩♫♪ What ya need is what i asking. ♩♫♪♬
Uma bela mulher, de longos cabelos vermelhos, andava por entre as mesas do lugar enquanto balançava o corpo e cantava. A voz dessa mulher era suave, encantadora e a melodia enchia o lugar de forma a prender a atenção de todos os que ali estavam.
Logo atrás dela um polvo, segurando um de ponta cabeça um chapéu de capitão, passava nas mesas, uma por uma, recolhendo as moedas que eram oferecidas a bela mulher, conforme ela passava cantando, simplesmente obedecendo ao que a letra da música dizia, como se estivessem presos em um feitiço.
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E realmente estavam! Aquela bela mulher é parte uma criatura marinha... Como eu sei? Ora... Porque eu sou aquela mulher (risos)
Como eu fui parar naquele lugar?
Bem... Tudo começou quando um conhecido capitão pirata, John Bonny, encontrou uma bela ondina. Eles se apaixonaram e ela trocou sua imortalidade para seguir com pirata, com quem teve uma filha. Eu!
O que? Eu voltei muito na história? Nem tanto, acredite. Essa informação é bastante importante para entender o porquê que eu, uma pirata linda e reconhecida, estou em uma espelunca como essa.
Durante a minha infância de tempos em tempos eu e mamãe embarcávamos, fazendo parte da tripulação do Ceifador, o navio onde papai era o capitão.
Marginais, mendigos, saques, pilhagens, duelos de espadas, pistolas, brigas, muita bebida e cantoria permearam a minha infância e juventude, conforme eu crescia em meio aqueles homens que, por vezes, ainda demonstravam descontento pela nossa presença a bordo, mas que nada podiam fazer pois erámos a "família do capitão".
Toda vez que alguém novo se juntava a tripulação era a mesma coisa... “Mas capitão, mulher a bordo trás azar”, eu ouvia reclamar, mas somente até que eu tivesse a oportunidade de sorrir para o marujo e fazer ele se encantar pela minha presença. Aliás, esse foi o primeiro dom que eu descobri.
Isso era sempre assim, exceto uma vez em que um homem, diferente dos que habitualmente via por entre os marujos, passou a fazer parte da nossa tripulação.
Eu gostava do Jack. Ele era um cara muito mais educado que os demais e me tratava bem, não ficava babando em cima de mim o tempo todo e o mais importante, Jack fazia parte da tripulação quando tudo aconteceu.
Foi a o que... 10 anos atrás? Acho que algo por ai
O navio estava aportado em um cais clandestino. O dia estava nublado e eu era jovem, ainda uma adolescente, quando percebi que meus pais discutiam até que minha mãe, enfurecida, surgiu no meio do convés do navio e invocou um antigo e poderoso feitiço de maldição, onde nenhum dos tripulantes jamais dormiria novamente, condenando a todos a vagar eternamente como zumbis pelos mares, trabalhando para as criaturas marinhas para conseguir algum descanso.
Muito provavelmente eu também teria sido afetada pela maldição lançada pela minha mãe se não fosse por Jack que conseguiu me retirar do navio, instantes antes dele ser envolvido pela maldição.
Foi o próprio Jack que me explicou que provavelmente minha mãe havia se enfurecido ao saber da traição do meu pai.
Sim, meu pai traiu minha mãe, mas não da forma como você provavelmente está pensando.
Pelo que Jack me contou do que ele ficou sabendo, meu pai se aproveitou dos conhecimentos da minha mãe para encontrar um artefato antigo, que era tido apenas como uma mito, uma lenda, mas que na verdade não só existia como também era protegido pelo seres marinhos.
Meu pai, a pedido de um vampiro poderoso, havia encontrado uma caverna escondida e protegida pelos seres marinhos e roubado o frasco com um líquido poderoso que ali ficava guardado. O sangue da Medusa.
Isso mesmo que você ouviu! O sangue da Medusa... Sabe a Medusa, aquele ser mitológico que era feia a beça e tinha os cabelos em forma de serpente e transformava em pedra quem a olhasse? Pois é, essa mesmo.
Parece que o sangue dela é muito poderoso e esse vampiro estava oferecendo uma grande quantia em ouro além de outra vantagem para quem conseguisse o item.
Que outra vantagem? Não sei. Jack não me disse, não sei se porque realmente não sabia ou se queria me poupar de algo... Bem, de toda forma a realidade é que de uma hora para outra perdi tudo o que tinha e foi novamente Jack quem me ajudou, permanecendo comigo até que eu me estabelecesse junto a outra tripulação.
Os anos passaram e entre um navio e outro o encontrei algumas vezes, até que finalmente, em uma boa mesa de apostas, eu consegui meu primeiro navio.
Agora eu era capitã... Capitã Valérie Bonny ou apenas capitã Val. Cruzando os mares, pilheriando, arranjando muita briga e confusão sempre regados a boas canecas de rum eu fui construindo minha própria fama e deixando de ser apenas a filha do capitão John Bonny.
Numa dessas, eu havia acabado de cruzar mais uma vez o cabo da boa esperança e estava com minha tripulação comemorando uma pilhagem bem sucedida em uma taverna quando um outro capitão pirata adentrou o local se gabando de ter exterminado umas das cecaléias que eram aliadas a uma poderosa bruxa do mar
E o cara tinha um souvenir desse encontro. Um polvo que pertencia a essa cecaléia estava preso em uma gaiola sendo apresentado como troféu.
Era nítido que aquele não era um simples polvo, que aquela era uma criatura mágica, e uma cantoria aqui e outra ali, regada a bastante rum e uma boa aposta e zás! O polvo era meu.
Ele vivia me afirmando que era um Kraken poderoso que havia sido enfeitiçado pela tal bruxa, mas olha para minha cara de quem acredito no que Grumpy (nome que eu dei a ele e ele odeia) diz.
Hoje ele é meu fiel parceiro. Nos desentendemos muito, mas seguimos sempre juntos. De navio em navio... Sim, porque com minhas apostas, sabe como é... As vezes acontece de perder meu navio e minha tripulação.
Se eu me incomodo com isso? Claro! Mas para mim, o que eu quero mesmo é ter um navio ou uma forma de navegar pelos mares, não só pelo prazer da pirataria, mas principalmente porque eu quero reencontrar o Ceifador, o navio do meu pai e sua tripulação.
Foi assim que viemos parar aqui, nesta taverna, após perder mais um navio em uma aposta e ouvir Grumpy reclamar pela centésima vez.