por Nimaru Souske Qui 8 Fev 2018 - 14:02
Após o golpe, sivirino gritou como se tivesse acabado de executar uma técnica que treinara muitas vezes em sua vida.
- ESTILO P: XERÁ NO'BUCHÔ
Limpou o sangue do inimigo em seu lenço, como dizia as tradições de onde viera. Todos os membros do cangaço deveriam usar lenços brancos em seus pescoços para representar sua alma e, com ela, limpar o sangue das vítimas de suas lâminas. Para Sivirino, o lenço carregava as vidas que tirou e todas as feridas que já causou àqueles que mereciam.
O lenço de Sivirino era rubro.
Mas logo sua pose de desfizera e seus ferimentos lhe lembraram de sua fragilidade humana, mesmo sendo um homem do sertão. Sentia a dor em sua cabeça, mas a alegria de ter derrotado aqueles bandidos era maior.
Lentamente, meio cambaleante, foi até Morgana e falou.
- Deixe esses curvades fugir, vucê lutô bem que só a bexiga... Dispois do que zoiaram hoje, duvido meteram as fuças aqui dinovo. Agora quero lhe pidir uma coisa. Prorcure na vila algum inxirido que possa cuidar desse Jázon e num deixá ele se incontrá com o cramunhão ainda... vô tê qui adiá a viage dele inté ele me falá onde tá esse tal de Jaquison. Aprorveite tonbem pra tratá das suas feridas.
Respira fundo, pois seu corpo não estava muito bem para falar o quanto ele estava falando.
- Inquanto isso, vô ajudá a apagá esse fogareu todo. Rezá pra São Pedro mandá Chuva e apagá as fuguera de São Jão.
Ele procura algum aglomerado de pessoas que estejam apagando o fogo e começa a rumar até lá, mas antes nota que aquele garoto parecia estar empolgado com o que acabara de acontecer ali. O cangaceiro lembrou-se de si mesmo quando era garoto.
Se abaixou para falar com Kytes.
- Acho que ainda não, pirraia, mas cum certeza os colegas dele num vão vortar por um bom tempo. Mas quando vortarem, vucê já vai ta crescido e pronto pra lutá que nem calango doido. E eu... eu sou Sivirino da Silva, vim do Brasil até aqui pra salvá minha mulé que esses disgramados robaram.
Vendo o menino imitando seus movimentos, o nordestino sorri com ternura.
- A mágica não tá ná pexera. Ta aqui. Com seu dedo direito, toca na cabeça do garoto e, logo em seguida, toca em seu peito. - Por isso, é assim que se faz... Pegou nas mãos do menino, com movimentos leves e respeitosos para não assustar o garoto com a aproximação de um estranho. Simulou uma adaga nas mãos de Kytes e realizou um ou dois movimentos básicos das artes que aprendera quando era muito novo, de seus pais. Ver interesse de jovens de outras nações nas artes de sua terra fez o coração de Sivirino aquecer e, até, esquecer um pouco da dor que sentia.
- Se quisé aprendê, pode me procurá quando tivé crescido o bastante. Tarvez eu vá precisá de um aprendiz... mai agora, vô ajudá esse povo.
Se levanta e vai até as pessoas que estavam jogando água nas chamas. No caminho, fala pro menino.
- Se quisé ajudá, só pegá uma cuia cum água e vim cumigo.
De costas, levanta sua mão direita com o dedo polegar em riste para o garoto.