Arco Africa - (Kenya)

Diante daquela imagem deturpada que estava a sua frente, Sivirino nem ao menos conseguiu chorar ou se desesperar, apenas observou e sentiu um calafrio subir pela sua espinha.

Porque não reagia? Como podia deixar que alguém fizesse mal à Rosinha sem ao menos mexer um músculo para tentar salvá-la?

Sivirino sabia que algo não estava certo mas, mesmo assim, não conseguia identificar o que estava acontecendo. Ele ainda achava que tudo podia não passar de um terrível pesadelo que uma hora ou outra iria acabar quando acordasse junto à Morgana e as crianças no cômodo em que se lembrava que dormiu.

Sivirino esfrega os olhos e tenta olhar para o homem que se aproximava. Seus olhos estão apertados. Viu que o homem parou e começou a falar coisas que seus ouvidos ainda "descalibrados" pelo sono pareciam se negar a escutar, até que ao final da sua frase, o cangaceiro parecia ter entendido uma frase:

"Eu sou Jack..."

Só então o nordestino prestou atenção no objeto que tinha sido arremessado em si e identificou a cabeça. Sem reação, quase de joelhos por causa da fraqueza que seu corpo se encontrava no estado de sonambulismo, Sivirino ficou ali, inerte, sem interagir com nada, nem mesmo com as falas do estranho a sua frente, até que violentamente uma mão se colide com seu rosto e uma sensação de queda lhe acomete.

Mas estranhamente não sente dor.

O Brasileiro levanta e ri.

- Vaiprecisádemai...pramiderrubádivêi...

Cambaleia um pouco, mas ainda permanece de pê, olhando, com os olhos apertados, diretamente nos olhos do Kobra Seven.

Kobra fica impressionado por Sivirino se manter de pé e nem sequer estremecer diante de seu ataque, ele então prepara suas armas, sacode os braços e os estica e então surgem duas facas bem afiadas e brilhantes em suas mãos, ele as sacode no ar e elas cintilam um brilho mortal.

- Hahahahahaha!!! Parece que este adversário é mesmo de não se subestimar, ele parece tudo aquilo que Zeed falou, agora vejo o porque aquele covarde se deixou levar e perder pra esse cara, mas não tem problema comigo a coisa é bem diferente, pode encomendar seu caixão, de hoje você não passa... Hehehe!!!

Kobra se movia como uma serpente no deserto, cautelosa e mortal, seus passos eram lentos, porém graciosos, estava esperando o momento certo de dar o bote, ele girava as facas nas mãos, esperando e esperando o ataque mortal, Jack apenas encarava a luta, o vilarejo atrás de Sivirino morrendo, lutando e sofrendo, o cangaceiro ainda sonâmbulo estava alheio aquela situação.

Mas havia uma esperança, o ataque surpresa de Morgana, ela ainda estava andando para trás dos vilões com algumas dezenas de homens, tinham que ir rápido antes que fosse tarde demais para proteger a aldeia, enquanto isso a luta contra Kobra se iniciava de vez...

Combate:

Com sua visão ainda girando, Sivirino vê que o inimigo repentino passou pelo seu corpo com um movimento rápido e não parecia ter conseguido lhe causar algum dano. Isso era estranho para ele pois o nordestino não se lembrava nem de ao menos tentar desviar do golpe.

- Cê... cêusaduasfaca? Neste momento, Sivirino puxa sua peixeira do coldre e a usa para aponta na direção de Kobra. Ao menos na direção de uma das imagens duplicadas que via do homem por conta de seu estado de considerável inconsciência. - Eusópriscisodiumaprá... O Cangaceiro pôs a mão na cabeça.

Tudo girava.

Mal podia ver a aproximação do adversário, muito menos sabia se era real ou não, mas mesmo assim tinha a intenção de ataque.

- Vô...tirá...teu...coro... pra... fazê...uma...butina... Falou pausado, bem devagar, tentando ao menos recuperar a dicção.

Esperou o inimigo se aproximar o suficiente para tê-lo no alcance de seu ataque. Parecia debilitado e sem forças, mas a sua imprevisibilidade enquanto naquele estado era um dos motivos pelo qual estava vivo até então mesmo após outras ocorrências de seu sonambulismo, pois era isso que surpreendia seus oponente ao menosprezá-lo.

Segurou na capa do homem que se aproximava e puxou-o para baixo enquanto subia com sua peixeira até o abdome de Kobra.

Sivirino o cortou e Kobra mal podia acreditar, sua faca cortou parte da roupa do vilão que rolou no chão e deu dois saltos para trás, ao olhar seu abdômen viu um pequeno filete de sangue lhe aparecer e inundar sua roupa.

- Que cara mais... Ele é perigoso, bem perigoso, é realmente uma pena desperdiçar um talento como o seu, podia com certeza fazer parte da gangue com suas habilidades, mas não vai sair ileso daqui, a não vai mesmo, Hahahahaha!!!!

Kobra era sorraterio, como seu nome, correu novamente em direção ao cangaceiro e ficou bem na frente dele, Sivirino tentou outro golpe, Kobra se abaixou a deslizou uma de suas facas na perna do brasileiro. A faca cortou abaixo do joelho dele e isso fez o homem despertar de vez. O líquido vermelho varou  a calça esguichando.

Kobra foi rápido para trás dele e tentou um golpe em sua nuca, a ponta de sua faca brilhou na noite fria do deserto. Kobra continuava rindo, uma risada macabra e enlouquecida, parecia uma bruxa no deserto e o som da morte chegando para o morador do sertão.

Combate:

Ainda entorpecido pela estado sonolento, Sivirino nem mesmo soltou alguma gracinha perante seu êxito no ataque anterior, permaneceu tentado se equilibrar em pé. Parecia ser uma tarefa difícil naquela situação. Tonteou um pouco e, ao baixar a cabeça, seus olhos se arregalaram de vez quando sentiu o rasgo na perna e, no mesmo instante, viu o sangue despontando em seu tornozelo, enquanto aquele estranho homem surgira à sua frente.

Sivirino estava mais perdido do que um bode em cima de um poste elétrico.

- AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHRRRRR. Gritou, mas pela descarga de adrenalina do que pela dor que sentia.

Relinchou como cavalo bravo e das suas narinas saíram grande lufadas de vento. Aproveitou a posição que estava e emulou com perfeição um movimento muito famoso da região em que nascera: O Coice do Jumento Desimbestado.

- Seu fi duma eguááááá !!!!!!

Sua perna direita subiu a sua frente e logo desceu com velocidade extrema enquanto seu corpo se envergava para frente, fazendo com que seu pé se projetasse contra o corpo de Kobra que estava atrás de si, "mirando" bem no meio de suas pernas. Se acertasse, seria uma alavanca perfeita que levaria os pensamentos do vilão até as estrelas que pareciam mais próximas da terra naquela noite.

OFF:

O golpe foi certeiro, porém Kobra era experiente em combate e levemente fez com que o golpe de Sivirino acertasse sua coxa, em vez de seu pirulito, quase viu estrelas, além daquelas no céu é claro, saltou para trás e ficou em posição de combate.



O golpe doeu, mas não foi tão efetivo quanto o cangaceiro pensou, Kobra possuía reflexos rápidos, evitou o golpe nas partes baixas, mas ainda era perigoso nos ataques também.

- Você tem bastante garra, parece que despertou de um sono profundo, fique atento, a partir de agora, eu vou fatiá-lo vivo, você vai sentir cada golpe, e no final, vou arrancar seu coração, a vila atrás de você já estará em ruínas quando eu terminar, e então sua cabeça vai ornar estas terras em chamas, será o símbolo da derrota desta vila. Hahahahah...

O farol do caminhão ainda iluminava os dois, o combate estava cada vez mais perigoso, Jack olhava lá de cima do veículo, ainda interessado neste combate, sabia que Kobra tinha mania de brincar com a presa, assim como uma serpente brincando com o rato, mas não, Kobra era muito mais perigoso e traiçoeiro que uma serpente.

Combate:

Não parecia muito que o cangaceiro estava pensando naquele momento, tudo que havia em si era reflexo e confusão.

Ainda irado e bufando, virou-se na direção de Kobra.

- Único muido que vai saí daqui hoji é u teu e u do teu chefin... Apontou para Jack, sem tirar os olhos do inimigo a sua frente. - Vucês já arrancaro meu coração do peito e eu to aqui pra buscá dirvolta, seus mizeravi. Empunhou sua peixeira e partiu em direção a Kobra.

Seus paços eram firmes e barulhentos e refletiam a força que o nordestino fazia contra o chão a cada pisada, traçando uma linha reta até o adversário.

- Si vucê é uma sirpente peçonhenta, eu sô a muçurana.

Sivirino desceu a sua lâmina no espaço entre o ombro e o pescoço de Kobra como se emulasse o bote de uma serpente utilizando-se de suas prezas.

O cangaceiro avançou e as duas facas fizeram um “X” para defender o golpe, o que se seguiu foi um embate de facas, as lâminas cintilavam em flash a cada golpe, Sivirino, depois Kobra, num embate que se algum deles desse um passo em falso alguém ia se ferir, Clanc clanc clanc, as lâminas faziam até que Kobra decidiu usar de artimanhas.

Ele sorria profundamente, e olhava fixamente para o brasileiro do sertão, Sivirino se sentiu estranho, parecia que encarava uma cobra de verdade, sendo ele um rato ou algo do tipo, parecia que estava tendo um sonho novamente.

Gritos atrás do caminhão de Jack, era o ataque de Morgana que pegou os caras desprevenidos, uma gama de ataques ferozes, Morgana e os homens do vilarejos destruíam a gangue pouco a pouco, Jack teve dificuldade para controlar a situação.

Socos, chutes, cabeçadas eram desferidas, as motos jogadas no chão, Jack estava perdendo, até levantar as mãos, e o baú dos caminhões abrirem suas portas, uma manobra que mostrou um reforço de exército, um monte de bandidos atacaram Morgana e sua trupe, Jack desceu do caminhão e fez sinal para que tocassem a buzina, os caminhões tocaram...

Outros veículos apareceram, Sivirino virou o rosto e viu Morgana ser capturada, ela foi golpeada para desmaiar, não antes de Jack colocar a mão no rosto dela e conferir com uma foto, ele a olhava bem. Depois de golpeada foi colocada nos ombros de Jack, e então um veículo se aproximava para levá-los...

Testes:

- AHHHHHHRRRR!!! Gritava Sivirino, enquanto as facas colidiam no ar.

Sua fúria aumentava a cada vez que aquele homem se mostrava disposto a matá-lo e, com isso, sua vontade de acabar de uma vez com aquele embate e ir logo na direção de Jack estava no limite.

Aquele sentimento perante Kobra era estranho pois não era algo que o sertaneja costumava sentir frente a um inimigo.

Em meio a essa confusão mental, escutou os gritos e divisou toda manobra do ataque surpresa, desde a chance de vitória de Morgana, até a retomada de Jack que desmaiou à garota. Tudo aquilo fora muita informação para a cabeça já desestabilizada do cangaceiro, o que lhe fez exitar durante um tempo, permanecendo parado diante da imagem de Jack comparando o rosto de Morgana com uma foto.

- Purquê? Purquê fazê issu cum esse porvo? Cum nois? Murmurou para si, mas em uma altura audível para Kobra.

Ainda perplexo, encheu os pulmões de ar e gritou em direção ao chefe dos bandidos.

- JAQUI!!! SI TU FUGI AGORA, VAI PROVÁ O FROXO QUI TU É !!!

Sivirino estava parado perante toda a confusão que o rodeava, tentando organizar toda a confusão e mistura da raiva e do turbilhão de informações que inundava sua mente.

Jack ouve a voz do cangaceiro e antes de entrar no carro se vira para ele:

- Não se preocupe, nós vamos voltar a nos ver, ensine para ele como vamos daqui por diante Kobra...

Então entra no veículo com Morgana e parte, indo em direção ao deserto, Kobra estava visivelmente chateado com aquela ordem de Jack, mas se não obedecesse poderia sofrer as consequências.

- Pois bem! O Jack tem um palácio no meio do deserto, ao norte, deve ir até lá para confrontá-lo se quiser a garota de volta, não haverá exércitos contra aqueles que desafiam diretamente o Jack, haverá somente lutadores, apenas colocaremos nossas vidas em risco por meio de combates, deve levar apenas guerreiros para evitar mortes em massa como aqui neste vilarejo. - Kobra sorria como que mal podendo esperar para enfiar suas facas em carne novamente.

- Não poderei matá-lo agora, por ordem do Jack ele aceitou seu desafio, deve ir ao palácio e enfrentá-lo pessoalmente, caso também consiga chegar até ele Hahahahaha!!! Será um combate homem a homem colocando tudo de si, e então se tiver coragem venha atrás de nós. Estarei esperando por você...

Kobra virou as costas para o brasileiro, andou devagar até que uma motocicleta parou diante dele, subiu na garupa e foi embora, os caminhões também faziam a curva, alguns soldados recuavam, Sivirino ainda estava imóvel, seja qual fosse o poder de Kobra era terrível, ficar daquele jeito vendo tudo a sua volta queimar.

O ataque a vila cessava e o deserto ia ficando vazio a medida que os vilões iam embora, por algum motivo levaram Morgana, e Sivirino tinha agora perdido outra mulher, sua noiva e agora sua amiga, Jack estava mexendo com algo perigoso.

Mas o desafio estava feito, ir ao palácio e preparar-se para o confronto final entre eles, aquilo iria acabar em breve, Sivirino conseguiu se mexer, seja o que fosse aquela paralisia era momentânea, a vila atrás de si ia tentando se recuperar, visto que não havia mais ataques, mas quase tudo queimava.

Sivirino fica irado após escutar a frase de Jack, sentindo-se ofendido de tantas formas que ele mal conseguia raciocinar direito naquela situação. Seu corpo entrava em ebulição por dentro, enquanto seu exterior estava inerte.

Então, após a retirada de Jack, virou seu olhar para Kobra, ouvindo o que falava.

- Num fali comu si importassi cum a vida dessa gente, seu semvergonho... Vucês vão tudo pidir perdão, mai num si preocupe qui num vai sê pra mim naum. Eu vô fazê vucês se incuntrarem perssoalmente cum meu padin ciçu, aí la vucês si rersorve cum ele. O cangaceiro fala enquanto Kobra segue em direção à sua moto.

- EU SÔ SIVIRINO DA SILVA E VUCÊ PODI ANOTÁ MEU NOMI, PURQUÊ É O NOMI DI QUEM VAI CARREGÁ A CABEÇA DE VUCÊS TUDIN, SEUS CABRUNCO DUMA PESTE!!! Terminava seu brado já enquanto via os veículos invasores se afastando.

Primeiro Rosinha... Agora Morgana. Essa seria a sina do guerreiro do sertão? Ele começava a acreditar que sim enquanto tentava ao máximo forçar seus músculos a se moverem, até que, após algum tempo, conseguiu. Pausou um pouco para recuperar o fôlego e, sem mais demoras, foi até a vila para se despedir iniciar sua nova peregrinação.

Sivirino voltou a aldeia, estavam todos eufóricos e com medo, muitos homens e mulheres feridos, alguns mortos, quando o cangaceiro chegou lá dentro Kytes correu até ele e o abraçou, perguntou sobre Morgana...

Rena estava com uma mulher e foi até os dois olhando para os lados procurando Morgana, ela olhou a face de Sivirino, e não gostou de sua fisionomia.

Do outro lado do vilarejo um barulho de veículo, os faróis já reluziam no horizonte do deserto, os aldeões já começavam a gritar e ficar em alerta novamente, “Eles voltaram” diziam, e corriam de um lado para outro, o carro veio se aproximando mais e mais até que parou a uns 30 metros da aldeia.

Um dos vigias disse a Sivirino:

- Senhor tem gente descendo do carro, parece que tem duas pessoas vindo para cá, o que vamos fazer? Nossa vila já foi massacrada o suficiente...!!!

Kytes o segurou forte na cintura, o brasileiro sentiu o peso da mão do garoto, estava preocupado com a situação a partir de agora. Rena começara a chorar, lágrimas vertiam do rosto dela enquanto Morgana não aparecia, ela então disse:

- Onde está a Morgana? Cadê ela...? Ela disse que ficaria comigo... arrrgaaaahhh!!!

- Ah!!! Rena? Ela falou, Sivirino ela falou...!!!- O garoto abaixou a cabeça. - É uma pena né? É uma pena que as primeiras palavras dela em anos sejam palavras de tristeza...

- Eu tô ino artrás dela, piqueno. Falou para Kytes com muito pesar.

Tentou se aproximar de Rena e dizer algo, mas parecia que as complicações não iriam acabar. O cangaceiro, então, decidiu se dirigir até o outro lado da vila para ver o que estava ocorrendo ali e, ao chegar, falou com o vigia.

- Entre na vila e arcalme os ardeão. Junti quem pudé lutá e se culoquem na frenti di quem num pudé. Eu vô vê o qui posso facê pur aqui... O rosto do brasileiro estava apático.

Ao sentir o puxão do garoto, Sivirino parou seus passos e se abaixou para falar com ele.

- Caite... Eu jurei protegê Morgana purquê ela prercisava di mim e argora eu tô ino artrás dela... tá veno a Rena? Ela argora prercisa de vucê... num derxe ninguém tirá ela di vucê qui nem eu derxei... Sivirino se ergue novamente e põe a mão na cabeça do garoto. A mente do nordestino parecia estar esmigalhada tamanha a dor e o aperto em seu peito.- Vucê é um minino forte, mai precisa sê mai forti pu'rela

Sivirino olhou para Rena e falou tentando esconder o que sentia por trás de um sorriso.

- Ela foi passeá, Rena, é rapidin. Tio Sivirino já tá inu buscar ela.

Engolindo o choro a seco, o guerreiro da caatinga afastou-se das crianças e pôs-se a andar em direção ao carro para ver quem estaria por ali.

Quando ambos se aproximavam uns dos outros Sivirino notou uma lança na mão de um deles, os dois estavam encapuzados, mas chegaram perto a uns 10 metros agora, e indo até se encontrarem a frente da vila, ficaram uns 3 metros de frente um pro outro, eram duas pessoas que encaravam o cangaceiro.

- Sinto muito!!! Nós estávamos seguindo a gangue do Jack a distância, mas não conseguimos chegar a tempo de ajudar, eu sou Helena!!! - Um dos encapuzados tira a touca revelando o rosto feminino e os cabelos curtos brancos como a neve, bem talvez um pouco empoeirado devido as areias do deserto, os olhos azuis da mulher traziam um pesar sincero pelas perdas da vila, ela ainda via a fumaça subindo atrás de Sivirino, a fumaça dos danos causados pelo fogo. Helena era a pessoa que portava a lança.

- Eu estou em uma jornada atrás desta gangue que tem causado tanto mal as pessoas, e posso encerrar isso tudo, mas estou procurando guerreiros, lutadores valorosos que queiram me ajudar nesta empreita, meu vilarejo também foi atacado e uma moça foi raptada, eles sequestram mulheres e estou em busca deles faz tempo, mas minha busca acabou, meus aliados estão seguindo a gangue, logo terei informações de onde se escondem e atacarei, não vou mentir, não tenho um exército, pelo menos ainda, mas recebi informações de que eles gostam de lutar corpo-a-corpo, sou uma lutadora valorosa e empenho em derrotá-los, é... Estou falando demais desculpe...

Ela se curva ainda com a lança em mãos, o outro apenas fica calado e olha atentamente para o brasileiro. A cor de pele de Helena mostra que ela é nativa, e a moça exala algo do tipo de nobreza, Helena ainda continua prostrada até que Sivirino comece a falar.

Sivirino parou frente aos desconhecidos enquanto descia lentamente sua mão até onde guardou sua lâmina depois de sua batalha contra Kobra. Seu corpo e cabeça doíam, mas não mais que sua alma. Ela estava quebrada. O guerreiro sertanejo estava pequeno frente a tudo de ruim que acontecera até então em sua jornada.

Teria tudo aquilo valido a pena?

Não podia se distrair com pensamentos como aquele enquanto dois estranhos estavam a sua frente. Ainda tinha negócios inacabados e uma nova jornada a sua frente.

Vendo a moça se apresentar, o Cangaceiro não a responde imediatamente. Encara-a durante alguns instantes enquanto ainda respira ofegante. Seus olhos estavam quase fechados de cansaço e o peso de suas pálpebras podia ser sentido por qualquer um que lhe olhasse diretamente.

- Prazê... Eu... sô... Si...Sivirino. Recupera o folego. - Quem é vucês? Pergunta o guerreiro brasileiro enquanto desce seu olhar para a lança da mulher.

Enquanto a figura feminina apresentava sua empreitada e seus motivos para lutar, pequenos filetes salgados começam a brotar dos olhos de Sivirino da Silva. As lágrimas começam, lentamente, a limpar um pouco a sujeira que estava em seu rosto. Sua alma se limpava um pouco também. Talvez fosse alívio por sentir que, pela segunda vez em sua jornada, não estava sozinho em seus objetivos...

Talvez fosse receio de perder mais uma vez aqueles que se juntam em sua luta.

A mão descansou, deixando a pexera quieta.

- Interassante... Parece qui aqueli senvergonho anda arrumano muitos inimigo nessa região... Fungou enquanto acalmava o choro. - Mar o qui vucês querem aqui?  Não sorbrou muito... di ninguém...  

Sivirino não se sentia um guerreiro naquela situação deplorável, apenas um pedaço de um antigo lutador que esqueceu de morrer dignamente em sua última batalha.

Diante das lágrimas do homem Helena fica abismada, na verdade ela depois entende o porque, ambos estavam lutando nesta terra árida e sem vida, ambos queriam a mesma coisa, deixar de apenas sobreviver e apenas viver, Helena não abandonaria seu povo e viu no olhar de Sivirino um sobrevivente, mas deviam buscar mais, depois de sobreviver a esta luta sem fim, deveriam descansar um pouco, e assim viver de uma maneira digna, a garota de pele morena já havia visto muitas coisas em sua terra, era um país pobre, já viu crianças desnutridas e já viu elas desfalecerem em sua frente, já viu o suor no rosto de cada pessoa de bem ao ir para o trabalho para sustentar sua família, a crueldade de uma terra que nenhum governante olha é que torna essa guerra sem fim, mas sim, um dia há de findar, Helena queria dar um basta, no que ela podia, e acabar com a gangue do Jack era o começo, era o que ela podia fazer.

- Sivirino, você fala esquisito... Ah! Desculpe, não quis ofender, só mencionei por que vejo que é estrangeiro, mas acredito que não tenha vindo de um lugar tão diferente do que vê aqui. Eu estou certo de que nos encontrarmos foi algo muito bom... - Ela foi até o cangaceiro e lhe deu um abraço forte deixando cair sua lança na areia, a qual se enterrou dois centímetros caindo deitada. Agora o cangaceiro ouviu as batidas de seu coração, ela era uma moça calorosa, assim como Rosinha, ela o apertou forte e depois de alguns segundo o soltou, mas ainda permaneceu com as duas mãos em seus ombros.

- Nós temos de nos unir, você é um jovem guerreiro valoroso e tenho certeza que com sua ajuda vamos desbaratar a gangue maníaca e salvar as jovens raptadas, por favor Sivirino, eu lhe imploro, junte-se a mim... - a garota se ajoelhou e os outros que estavam com ela ficaram espantados de ver aquela cena, eles por um momento iriam se juntar a mulher para levantá-la, mas Helena os censurou com um olhar, ela sabia que precisava do estrangeiro.

- Eu sou de uma tribo indígena que preza as tradições antigas, consultando um de nossos xamãs descobri que algo de ruim está acontecendo neste mundo, ainda não sei o que é, mas sei por onde começar a destruir esse mal, começaremos por aqui, na nossa terra, não sei da onde você veio, mas depois que limparmos esta terra sei que vamos ter a oportunidade de fazer algo para o mundo, estaria você disposto em ser nosso aliado? Como eu disse tenho espiões investigando por aí, e segundo nossa última conversa, eles estão bem próximos do rastro da organização que está destruindo nossa nação...

Elena:

Com a fala da mulher sobre seu jeito de falar, Sivirino até abriu um pequeno sorriso em meio ao seu rosto choroso.

- Di ondi venho, issu tudo aqui é bem comum... sede, fome, seca, morti... É coisa que se vê todo dia, sabe? Intão não mi ofendo cum ôces achandu minha fala ingraçada, no começo eu tonben estranhei a de vucês, mas... dispois de vê tudo qui vi nessas terra... Eu me sinto in casa. Seu olhar não mas buscava a face de nenhum dos dois recém chegados, estava perdido no horizonte, como se buscando ver uma terra tão longe daquela vila, mas que ao mesmo tempo aquele homem carregava a todo tempo dentro de seu peito.

Sivirino sentiu o abraço. Seu corpo, rigido e dolorido por todo caminho percorrido até ali, não esperava ter que reagir a afeto algum. Estava acostumado a cortes, pancadas, e até mesmo o calor sufocante do sol do sertão... mas fraquejou perante o calor do afago. Lentamente, encostou sua cabeça no ombro da mulher e fechou seus olhos. Decidiu também se desarmar, tal como fez a mulher, e pela primeira vez em muito tempo se deixou largar sua maior arma.

O seu orgulho.

Novamente, sentiu-se marido, amigo, filho. Perdeu-se dentro do abraço e só se achou quando a garota lhe soltou e olhou nos seus olhos. Estava mais leve. Seu espírito boiou de volta a superfície de seu corpo, saindo da tristeza profunda que havia se enterrado junta a tudo que havia perdido em seu caminho.

- Obrigado. Falou sincero, sabendo que sotaque algum podia atrapalhar o entendimento dessa palavra.

Seus olhos, antes perdidos, se focaram nos olhos da jovem. Algo voltara a arder lá dentro.

- Vucê, Élena, foi a segunda a consegui mi fazê aceitá um pidido sem dizê uma palavra siqué... O peito apertou de saudade naquele momento. Buscou a mão da mulher com a sua própria e a apertou em forma de selar o acordo. - E eu lhi juro qui vou apresentá a primeira a ucê, dispois qui derrubarmo o Jaqui. Juntos. Aquele aperto de mão era feito por mais de duas pessoas.

Ali, presentes dentro do cangaceiro, estavam todos aqueles que ele conheceu em sua jornada e que confiaram em Sivirino para enfrentar os males daquela terra.

- Me diga o qui fazê pra ajudá a sua luta e eu lhi impresto o fio da minha pexera para derrubá quarquer um qui ficá a sua frenti. Falou firme.

Sivirino poderia ser considerado muito ingênuo por acreditar tão rápido naquele grupo que o procurou, ou até mesmo burro por não ter nenhuma prova de que eles eram realmente aliados em sua empreitada. Mas tudo que Sivirino da Silva fizera até ali foi acreditar e seguir os seus instintos, lidando com as consequências de seus atos, então não lhe importava o que aquela atitude iria gerar. Ele iria encarar de frente, como o povo de sua terra lhe ensinou.

O Sertão voltara a arder em seu peito.

Off:

Foi assim que mais um aliado se juntou ao guerreiro do Sertão, Elena acabou por ir ao vilarejo atrás de Sivirino e lá eles fizeram o que podiam para arrumar a bagunça feita pelos membros da gangue de Jack, agora era hora de curar as feridas e por fim Elena e seus dois comparsas receberam uma mensagem via rádio de seus espiões, eles acharam a garota raptada Morgana e assim souberam onde era o esconderijo dos bandidos, existia um local no deserto, uma mansão, onde eles levavam as mulheres, os espiões diziam que viram a mulher que batia com a descrição de Morgana, agora era a hora de irem em busca das garotas sequestradas. Depois da conversa pelo rádio com seus aliados Elena se virou para o brasileiro:

- E então Sivirino, embora o inimigo seja um grupo grande pretendo invadir sua mansão e derrotá-los um a um até chegarmos as garotas, tenho gente o suficiente para formarmos um exército pequeno, ou então você acha que conseguiremos entrar lá sorrateiramente e derrotar os vilões, o que você acha? Como devemos proceder? Se decidirmos ir sozinhos posso levar, mais dois comigo no máximo para chamarmos menos atenção, mas se preferir que eu leve meu exército, creio que em dez dias consiga 50 homens para a batalha, como acha que devemos seguir adiante?

Ela olhou fixamente para o rapaz, seguro de que qualquer que fosse o desejo dele ela o seguiria, parecia que mesmo se conhecendo agora Elena e Sivirino pareciam confiar cegamente um no outro sem nem pestanejar, era uma segurança que tinham, a confiança um no outro, existia uma conexão pelo elo de sofrimento que compartilhavam e lutavam pela mesma causa. A gangue do Jack estava prestes a receber um golpe letal, um golpe que poria fim em suas ações malignas para sempre.

Ao ver a ajuda prestada ao vilarejo por Elena, Sivirino ficou muito agradecido. Até mesmo mais confiante com aquela parceria que acabava de nascer. Mas algo que prendeu a atenção do nordestino tinha acabado de acontecer.

Aquela chamada de rádio fez todas as forças de Sivirino voltarem de uma só vez. Estava animado e ansioso para por o pé na estrada e iniciar a caminhada até a mansão do inimigo. Estava tão perto de reencontrar Morgana e Rosinha que seu coração parecia que ia pular pela boca.

- Veja bem... Coçou um pouco seu queixo. Pelo qi vi aqi a poco tempo, realmente é muita gente qi segue essi Jáqui memo... Estava pensativo em meio a sua frase, considerando as opções lhe dadas por Elena. - Mar... Em um instante, sua mente já cansada teve uma luz de lembrança. Algo que o próprio Kobra havia lhe falado. - Vamo só eu e Vucê, o mar rápido possívil até lá. Si for levar mais dois, deixe eles nu lado de fora quandu chegarmo lá... Kobra disse qui Jaqui aceitou meu disafio e qui ia lutá de homi pra homi cumigo, então achu qui assim é mar siguro e temo mar chance de polpá a vida desse povo qui tanto já luta.


Sivirino para um pouco pra respirar, aceitando o seu destino. Virou-se para olhar o horizonte árido mais uma vez.

- Me ajudi a chegá até o Jáqui e, lá, eu me aganto no arranca rabo com ele... Si pudé me ajudá cum isso, já serei grato a vucê por toda minha vida.

Voltou a olhar para a nova companheira.

- Inda assim, reúna seu exército e diga a elis pra num amolecê até nois voltar... e si nois num voltá em alguns dia, qui si preparem pra vingá nossas morti. Segurou firme no ombro de Elena e olhou novamente no fundo dos seus olhos.

Qualquer um que olhasse para ele podia notar que naquele momento ele havia se decidido.


Ele estava disposto a morrer para conseguir seu objetivo.

- Pois bem então!!! Vou informar minha equipe e lhes dar ordens, logo eu e você marcharemos até o inimigo, e depois meu grupo com mais homens virão logo em nosso encalço, se tudo der certo destruiremos sozinhos o chefe da organização e quando eles chegarem lá já estaremos voltando com as mulheres sequestradas... - Elena saiu de cena indo ter com os seus, conversaram por um longo tempo antes dos seus companheiros finalmente entenderem que ela iria sozinha com o estrangeiro, então a dupla se preparou para a viagem e usaram dois camelos cedidos por moradores do vilarejo.

Kytes e Rena ficaram na aldeia, o sol estava como sempre, escaldante, mas isso não diminuiu a vontade da dupla, percorreram dunas de areia e descansaram debaixo de sombras de grandes rochas, passaram por oasis, vislumbraram um grande deserto cheio de areias intermináveis, e foi depois de muito tempo que acharam sinais de civilização, os mensageiros do rádio encontraram Sivirino e Elena, eles apontaram que na cidade abandonada em meio aqueles prédios jazia a mansão de Jack.


Sivirino e Elena então deixaram suas montarias e foram até a cidade, realmente estava deserta, nada além do calor do sol aparecia para recebê-los, foi então que no meio de ruas intermináveis, onde os espiões haviam indicado, eles acharam a mansão, lá havia dois guardas, na entrada do que seria uma espécie de quintal da Mansão, local este que era enorme.

Guardas e portão:

Os guardas não se surpreenderam quando os mesmos chegaram, eles se apressaram em abrir os portões e disseram que Jack os esperava lá dentro, porém deviam tomar cuidado para não se perderem nos terrenos da mansão, Elena deu de ombros, não se intimidou, mas indagou aos guardas como sabiam que eles viriam, os guardas limitaram a dizer que a fisionomia deles batiam com a descrição daqueles convidados por Jack.

Então Elena entrou nos portões sem perguntar mais nada, ela estava confiante de que venceriam de uma vez por todas aquele desafio, era hora de dar tudo de si, quando estavam se aproximando da mansão, percebeu uma construção ao lado, a mansão principal era grande mas aquela construção pequena lhe chamou a atenção:

- Ei parceiro!!! Sei que tudo isso é muito estranho, mas confiei em suas palavras anteriores de que Jack iria peitá-lo de igual para igual e de homem para homem, mas esta pequena construção...? Por acaso você ouviu um pedido de socorro? eu... Antes de terminar a frase ela correu em direção as portas do pequeno palácio que ainda ficava a uns 20 metros da construção principal da qual teriam de ir... E depois de abrir duas portas duplas seguidas...


Ela encontra uma sala que é uma espécie de Dojo, porém no fundo havia um homem acorrentado nas paredes, ao centro do Dojo, um outro sujeito, estava sentado, mas ao ver Elena ele se levanta e sorri macabramente, ele carregava um pedaço de pau grande em uma das mãos que apoiava em suas costas, não era fácil perceber que aquilo era uma espada embainhada, ele se levanta olhando a garota e parte pra cima dela com velocidade brutal, a bainha da espada é solta revelando a lâmina afiada Elena apenas olha paralisada a cena, a espada a cortaria na vertical...