William-Simon

Januar, ao contrario de tantas outras vezes, desta vez permaneceu com seu olhar fixo nos olhos de William. Não iria recuar, e decidiu que aquele era o momento. Chega de vergonha, chega de culpa. Podia sentir a proximidade do corpo dele, o contato de suas mãos calejadas pelas inúmeras lutas, a leve pressão dos dedos firmes que limparam suas lagrimas em seu rosto. Tinha que ser agora!

Em um gesto rápido a cleriga de Mitz segurou a mão do cavaleiro e a manteve contra sua face, inclinando a cabeça levemente e fechando os olhos, apreciando aquele toque gentil. Os olhos então se abriram e passearam pelos traços faciais de William, as sobrancelhas, os olhos, nariz e boca. Ela ergueu o queixo e aproximou os lábios, umedecendo levemente com a ponta da língua. Tão próximo e ao mesmo tempo tão distante! Januar não se atrevia a se aproximar mais, e aguardava com o coração palpitante o que aconteceria a seguir.

Ele inspirou profundamente seu perfume no instante em que ela se aproximou ainda mais de si. Seu coração palpitava em ritmo acelerado e ele arregalou os olhos por um momento, fechando-os no instante seguinte enquanto fazia uma leve carícia em seu rosto.

A mão deslizou por sua face até postar-se na nuca e ele venceu o resto da distância, seus lábios encostando nos dela, sua língua tocando na ponta da dela. Mordiscou seus lábios alguns segundos depois e aumentou a intensidade, a mão direita mantendo-se firme em sua nuca enquanto a esquerda deslizou por seu corpo até fixar-se na cintura, pressionando-a de vez contra si.

William, ao primeiro toque entre os lábios, pode perceber que Januar queria aquilo tanto quanto ele. Ela o abraçava forte e o beijava com grande intensidade, naquele momento que era a resolução de um estado de tensão existente entre os dois há muito tempo, fruto de flertes escondidos em brincadeiras e palavras de duplo sentido trocados ao longo de suas viagens.

Por sob um ceu estrelado e uma vista magnifica, finalmente os dois haviam deixado seus receios de lado e abraçado esta oportunidade única para ficarem juntos. Porém nem tudo estava perfeito.

A cleriga interrompe aquele longo beijo, e descansa sua cabeça sobre o peito de William, a testa franzida, com uma face que demonstrava preocupação. Permanecia abraçada, mas parecia que suas forças a tinham abandonado.
- Oh William, não sabe por quanto tempo eu desejei estar assim do jeito que estou com voce agora! Passei noites imaginando como seria sentir os seus lábios junto aos meus, e o calor do seu corpo me abraçando...

Seu sorriso tinha um que de tristeza.
- Mas eu sei que o nosso amor é proibido, pertencemos a mundos diferentes, e que continuar com isto seria muito egoísmo de minha parte – lamenta, balançando a cabeça. Ela fixa seu olhar em William – E... Existem coisas que eu preciso te contar... Que tenho vergonha de dizer... Você verá que... Fui muito fraca...

Ela então se afasta, indo ate a beirada do observatorio, fitando dali o horizonte.

Receios deixados de lado, intensidade nos beijos e nas ações, os dois finalmente se entregavam a algo que definitivamente queriam há bastante tempo. Toda a tensão da viagem, todas as brincadeiras, pensamentos, indiretos e, obviamente, flertes culminaram naquele instante.

Abraçou-a apertado no momento em que ela descolou os lábios e colou a testa em seu peito. Sua mente estava a mil por hora, sua respiração entrecortada e ele esperou para ver qual seria a reação dela.

– Eu também esperei bastante tempo por isso... – murmurou assim que ela dissera que aguardara muito por aquele momento.

Calou-se novamente, pois ela tornou a falar e ele apenas engoliu em seco e fechou momentaneamente os olhos. Ela se afastou e foi até a beirada de onde estavam. Ele aguardou e quando ela terminou de falar, ele abriu os olhos e a encarou, embora ela estivesse de costas para si.

Januar era incrivelmente bela e durante aqueles últimos meses o que ele sentia veio apenas aumentando na mesma proporção em que se aproximavam mais e mais. De cenho franzido, perguntou:

– O que você precisa me contar?

Não entraria no mérito do “somos de mundos diferentes”. Ao menos, não ainda.

Januar suspira entristecida. A loira então se volta para William, e o fita nos olhos. Seus lábios estavam unidos em um traço, como se estivesse ainda incerta sobre o que deveria dizer. Ela suspira novamente e começa:
- Nós dois já nos conhecemos há muito tempo, afinal de contas desde pequenos brincávamos juntos nos intervalos das aulas de catequese do padre Remy. Bons tempos, lembra? Bem, o que voce não sabe é que meus pais queriam que queriam que eu me tornasse uma lady, e me juntar com algum nobre importante do condado. Alguém assim como você, William.

Januar sorri meio sem-graça, e então continua:
- Na época fiquei toda revoltada, quem eram eles para decidir meu destino? Mas dá para entender o lado dos meus pais, sempre fomos muito pobres...
E para melhorarmos nossa situação, a intenção era eu me casar com um rapaz por interesse, avançando as aspirações de riqueza da minha família. Fui criada para ser obediente, mas voce me conhece como sou. Porem devo muito aos meus pais, e fiz um esforço para atender seus anseios. Fiz o que me mandaram, e todos os meus estudos tinham o intuito final de me tornar uma dama refinada da alta sociedade, a perfeita esposa, a mais cobiçada. Isto até me apresentarem os pretendentes, que eram todos idiotas, feios e desajeitados. Eu os rejeitei, a todos, e minha família se desesperou com minha rebeldia. Foi quando meu pai teve a ideia de que talvez a religião me consertasse, ensinando algo sobre devoção e respeito, e me colocou dentro da Ordem do Punho do Valor, que é onde a gente se voltou a encontrar... Eu me lembro da primeira vez que te vi la...

A cleriga parece se animar um pouco, mas então ela fica cabisbaixa e sua voz volta a ficar triste.
- Bem, mas o que tenho que te contar é que quando eu fiz aulas de etiqueta, acabei conhecendo uma garota muito legal, a única que me ajudou enquanto as outras me maltratavam, que diziam que eu era uma menina pobre burra e tosca.

Januar leva suas mãos até sua própria face, como se lamentasse suas proximas palavras.
- Ficamos muito amigas. E seu nome era, é, Lady Lucy Dawson.

Durante toda a história narrada por Januar, William permaneceu em silêncio, absorvendo suas palavras tentando entender onde a história terminaria. Entendia perfeitamente o que a família dela queria, afinal a sua própria queria aquilo também, não?

Ganância, na maior parte do tempo. Quanto mais se tinha, mais se gastava, mais se queria. Desde que o mundo era mundo, aquela era uma máxima que existia

Ficara tantos anos sem ver Januar que não fazia a menor idéia das agruras que ela e a família passavam. Era muito novo quando se conheceram e quando se é criança não se pensa nessas coisas.

Foi quando ela citou a única garota que lhe dera apoio durante aquele período de aulas. Sua noiva.

Ficou em silêncio durante um tempo, encarando-a profundamente. Murmurou por fim:

- Nunca se envergonhe da tentativa de seus pais de que você viesse a ter um casamento proveitoso. Querendo ou não, é exatamente isso que meus pais vem tentando junto aos Dawson... - disse e suspirou em seguida - Lucy é uma bela garota. Muito boa também, é verdade. Mas, até hoje, tivemos pouco contato. Ainda não temos relação alguma. Isso é algo que poderá vir a acontecer... ou não. Quem conhece o futuro? - murmurou resignado, e parecia falar mais consigo mesmo do que com ela.

Januar ouve com atenção a replica de William, como se com isto pudesse abstrair algo de seus próprios pensamentos. Ao final de suas palavras ela ainda permanece observando o paladino, e um silencio surge entre os dois.

Ela morde os lábios, como se receosa de dizer as próximas palavras. Mas diz assim mesmo:
- O futuro... ninguém sabe, a não ser nossa deusa. Mas aí é que está, sinto que estou sendo posta a prova, em algum tipo de teste de caráter. O grande problema é que Lady Lucy me confidenciou seu amor por voce, mesmo tendo visto tão pouco, e ela até pediu minha ajuda para que fizesse chegar o amor dela aos seus ouvidos, algo que estou fazendo agora.

Januar leva a mão até o rosto para massagear seus olhos. Sentia um grande peso sobre seus ombros, peso este que não tinha ido embora com sua confissão.
- Eu disse que sim a ela, que ajudaria vocês dois a ficarem juntos. Mas não me dei conta de que todos esses anos juntos com voce, William, fossem fazer germinar meu amor. E confesso que não passei a mensagem de Lady Lucy, pois queria sentir o sabor dos teus lábios...

A cleriga então vai ao chão, sentada, escondendo seu rosto por entre os joelhos.
- Sou uma pessoa terrível..., lamenta Januar.

Ele fica em silêncio por um longo tempo. Seus pensamentos estão em polvorosa. Respirou fundo e olhou ao longe, para os terrenos daquele reino em que estavam. As palavras dela ressoavam em seu ouvido e ele refletia sobre o que deveria fazer... sobre o que realmente sentia.

Agachou-se próximo a ela e segurou seu rosto, acariciando-a. Sorriu levemente para ela.

– Você não é uma pessoa terrível... – murmurou encarando-a – Tudo o que fez foi na melhor das intenções... seguiu apenas seus próprios sentimentos....

Aproximou lentamente seu corpo do dela e beijou-lhe a testa. Sussurrou baixinho:

– Deixemos que o tempo venha e traga o que o futuro nos reserva... nossa Deusa mostrará o caminho!

Isso sem falar que a hora deles partirem se aproximava...

Januar fecha os olhos quando os lábios de William tocam sua fronte brevemente. Ela sorri timidamente, e suspira profundamente, como se para lhe dar forças.
- Você está certo, vamos dar tempo ao tempo, só a deusa sabe o que o futuro nos reserva.

A clériga lança o ultimo olhar para aquela paisagem maravilhosa, seus olhos melancólicos fixos, como se quisessem marcar para sempre na memoria aqueles momentos na torre de observação.
- Vamos!, diz ela, seguindo pelo caminho de volta.

**

A forja brilhava intensamente, e o grande calor emanado facilitava o trabalho do ferreiro de consertar a armadura de Januar. Clang! Clang! Finalmente o trabalho tinha sido feito e a armadura, apesar de gasta, podia ser usada novamente.

Januar observa a sua proteção e acena satisfeita.
- Parece que os amassados se foram... Velha companheira! Fico triste em pensar o dia que terei de trocar por uma nova. Será que conseguirei me desfazer desta?, pergunta para si mesma.

- Embora o passado nos traga conforto, devemos sempre nos manter abertos para o que é novo... – comenta Lorde James, que havia acabado de chegar.

O irmão de William observa os dois com atenção, como se quisesse adivinhar por onde teriam andado pelas ultimas horas. Com uma tosse ele interrompe o olhar e diz:
- Muito bem. Se desejam fazer mais algum pedido, este é o momento. Necessitam de algo mais para essa missão? Januar? William? O senhor Schebet esta esperando na saída do forte.

– Mas se a proteção dela ainda for boa, porque não manter? – disse encarando o irmão e em seguida Januar.

De fato, aquela era uma boa armadura, que já salvara a companheira inúmeras vezes. Ao encarar a garota, entretanto, os instantes anteriores no alto do prédio voltaram a sua mente e ele se pegou pensando em como seria se deixasse tudo de lado para viver o sentimento que parecia surgir dentro de si?

Respirou profundamente, perdido em pensamentos, voltando a si apenas quando seu irmão voltou a falar.

– Acredito que já temos tudo o que precisávamos! – respondeu e foi até ele, apertando-lhe a mão – Que a luz de Mitz lhe proteja, irmão! – e afastou-se.


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Já de armadura e montado no cavalo, William e Januar seguiam lado a lado. Na saída do forte, encontraram o companheiro de viagem.

– Sr. Schebet, pronto para seguirmos?

– Mas se a proteção dela ainda for boa, porque não manter? – disse encarando o irmão e em seguida Januar.

O comentário de William não foi muito bem recebido, como ele pode constatar ao sentir seu olhar frio. Todo o mal-estar presente no primeiro encontro havia retornado, e o paladino sabia que a distancia entre os dois irmãos estava aumentando.

Mas se havia algo que compensasse tudo isto era o sincero sorriso de Januar, e um murmurado “obrigado” por entre os lábios.

– Acredito que já temos tudo o que precisávamos! – respondeu e foi até ele, apertando-lhe a mão – Que a luz de Mitz lhe proteja, irmão! – e afastou-se.

Apesar do constrangimento, Lorde James devolve o aperto de mão vigorosamente.
- Que a luz de Mitz lhe proteja, William! E cuidado com o siltanatense, eles não são confiáveis... – diz, fazendo uma saudação militar.

– Sr. Schebet, pronto para seguirmos?

Na entrada do portão esperava o mago, que ergue a mão na altura do peito saudando William e Januar. Também estava montado em seu cavalo, um animal forte e robusto, que com certeza valeria um alto preço em qualquer condado de Galia.
- Estou pronto. Já tomei a liberdade de recrutar alguns soldados que nos acompanharão até o barco que usaremos para cruzar o rio Shrill. Podemos ir ate la cavalgando, mas infelizmente os cavalos terão que ficar, inclusive para evitarmos sermos vistos pelas patrulhas hobgoblins.

O grupo então desce as encostas da colina, o caminho iluminado por lanternas carregadas pelos soldados. A cleriga com seu cavalo afasta-se de Schebet e cola junto de William. Ela diz, em tom baixo:
- O que sera que seu irmão quis dizer com relação ao mago? Que devemos ficar de olho nele? E por falar em olhar, todas estas lanternas na escuridão podem ser vistas a milhas de distancia... Precisamos dar um jeito nisto!

Embora aparentemente estremecidos em sua relação, as últimas palavras de seu irmão ainda ecoavam em sua mente, afinal não tinham sido de conforto, mas sim de cautela. Havia apenas concordado com um aceno de cabeça quando ele falara dos siltanatense, mas como procederiam durante a missão? Confiar, mas não plenamente num companheiro de viagem?

– Boa idéia, Sr. Schebet. Vamos então, temos que partir o mais rápido possível, o tempo urge...

Enquanto seguiam viagem na direção em que o companheiro indicara, Januar finalmente se aproximara novamente dele. Antes que dissesse algo, ela própria fizera a pergunta que ainda martelava em sua mente.

– Pelo que eles nos falou quando chegamos, foi Siltanat quem quis enviar um representante. E eles são de uma sociedade de magos... não há como confiar plenamente neles! – disse baixinho, encarando-a – Então, a melhor coisa a fazer é cuidarmos das costas um do outro!

Seus olhos agora estavam fixos nos dela. Lembrou-se do telhado, dos beijos trocados e da vontade que quase o consumira. Balançou a cabeça, espantando aqueles pensamentos e concluiu:

– Sinceramente, não sei como resolvermos isso da iluminação. Irmos no escuro? – perguntou erguendo as sobrancelhas e em seguida virou-se para trás e disse, em voz alta para o siltanatense – Januar levantou um ponto aqui. A iluminação dessas lanternas nos fará ser um alvo móvel há milhas de distância. Conheces alguma magia que possa nos ajudar?

– Pelo que eles nos falou quando chegamos, foi Siltanat quem quis enviar um representante. E eles são de uma sociedade de magos... não há como confiar plenamente neles! – disse baixinho, encarando-a – Então, a melhor coisa a fazer é cuidarmos das costas um do outro!

Januar permanece olhando nos olhos de William com um sorriso bobo no rosto, quando finalmente percebe o que esta fazendo e da uma leve tossida para disfarçar.
- Siltanat não deve estar fazendo isto para nos ajudar, Schebet deve ter a missão de ficar nos vigiando. Pelo menos temos um ao outro, querido – diz, e ao notar o deslize, leva a mão a boca, sem graça – Desculpe.

– Sinceramente, não sei como resolvermos isso da iluminação. Irmos no escuro? – perguntou erguendo as sobrancelhas e em seguida virou-se para trás e disse, em voz alta para o siltanatense – Januar levantou um ponto aqui. A iluminação dessas lanternas nos fará ser um alvo móvel há milhas de distância. Conheces alguma magia que possa nos ajudar?

Schebet aproxima-se com o seu cavalo do casal. Com a face impassível, ele olha para a iluminação carregada pelos outros soldados acompanhantes.
- De fato, por mais distraídos que sejam, eles irão nos perceber a distancia. Infelizmente as magias que possuo não irão nos ajudar, já que o tipo de iluminação é a mesma. Talvez a opção seja dependermos apenas da luz do luar para nos guiar.

O siltanatense ordena que apaguem as luzes, e que prossigam no escuro. Isto faz com que percam um grande tempo, pois tinham que tomar cuidado redobrado pelo caminho pedregoso que levava até as margens do rio.

Ao chegarem no local, Schebet se dirige a William e Januar. Não era possível ver sua expressão facial no escuro, apenas os contornos nas sombras de seu rosto.
- Bem, ca estamos. O barco esta na margem do rio. Vou mandar os soldados de volta para o Forte... Bem, estive pensando... Anões e elfos tem ótima visão noturna, e me lembro de ter visto um ou outro na base. Mas não sei se temos tempo suficiente, logo ira amanhecer... O que sugerem? – diz o mago.

Januar suspira, desanimada.
- Ah, se tivéssemos pensado nisto antes... O seu irmão vai ficar uma fera se voltarmos agora, William...

Querido.

A palavra ficou ecoando em seus ouvidos mesmo no momento em que aumentara o tom de voz para falar com o siltanatense. Respirou fundo tentando se controlar e mandar às favas toda a missão para finalmente dar vazão ao que realmente queria estar fazendo naquele instante.

A luz de Mitz, entretanto, brilhou em sua mente e ele respirou fundo ao perceber o que pensara. Januar e Lucy não mereciam os pensamentos pecaminosos que tinham acabado de passar por sua mente. Mitz não merecia ter um Paladino com aquele tipo de pensamento.

No escuro em que seguiam, ele ia o tempo inteiro calado, fazendo apenas orações mentais à Mitz até finalmente chegarem ao local de destino inicial. Entretanto, por conta da escuridão, perderam tempo demais por conta do cuidado redobrado.

Estava prestes a recusar o oferecido pelo acompanhante da viagem quando Januar suspirou próxima a si e fez com que ele sentisse parte de seus pelos eriçarem. Engoliu em seco e só depois de alguns instantes de silêncio, murmurou:

– Não acho que devamos voltar. Temos que seguir independente da luz. Teremos apenas que redobrar a atenção! – e os encarou seriamente ao dizer isso – É imprescindível concluirmos logo essa missão!

E seguiu na direção do barco para que pudessem dar sequência na viagem.

O grupo decide dar prosseguimento a missão, confiando somente na luz da lua e das estrelas para fornecer o caminho por onde deveriam ir. Os guardas acompanhantes foram de volta ao forte levando os cavalos, deixando os 3 herois as margens do rio Shrill.

O bote era pesado, e exigiu um certo esforço por parte do grupo para leva-lo a água. Logo todos estavam dentro dele, e William e Januar ficando a cargo dos remos, enquanto Schebet dava as direções. A água estava fria mas calma, os remos ao tocar na água fazendo um razoável barulho.

Januar de onde estava mal conseguia ver as feições de William, e achava melhor assim, pois dentro dela consumia um fogo igual ao do companheiro. Ai como sou idiota, perdi minha chance, pensava, ficando logo em seguida vermelha ao relembrar o peito forte e desnudo do paladino em seus treinamentos na Ordem.

Após meia hora de cuidadosa navegação e eles chegam em uma pequena área de águas calmas a margem oposta do rio, onde desembarcam e retiram o bote, escondendo-o na vegetação rasteira. O mago limpa o suor da testa.
- Não estou acostumado a fazer estes trabalhos braçais, servos existem para isto – comenta ele sem nenhuma vergonha – Bem, de qualquer modo, necessário, pois é a nossa passagem de volta para o forte.

Januar não gostava dele, um homem arrogante e frio. Bonito, sim, mas ate ai varias cobras poderiam ser consideradas belas, e não deixariam de ser mortais.
- Me admira que esteja tão em forma trabalhando tão pouco, Schebet. E agora?

O mago fingiu não ter ouvido aquela impertinência.
- Minhas informações sobre este rei é a de que possui seu esconderijo no alto da colina do terror – diz, apontando para uma elevação localizada a alguns quilômetros de distancia – Temos que tomar cuidado, patrulhas de hobgoblins e animais selvagens podem ser encontrados por aqui.

O peso do bote exigiu grande esforço para ser carregado até a água, enquanto que os remos durante a longa travessia foram utilizados pelos servos de Mitz. A longa travessia e a força que era necessária impingir para deslocar o bote fez com que os pensamentos de William se dissipassem momentaneamente de Januar e fossem dirigidos para a tarefa que tinham de executar.

Ele respirou profundamente quando, após chegarem ao destino, tiveram que guardar o bote e o mago fez questão de pontuar sobre o trabalho que haviam acabado de executar.

– O que acabamos de fazer é bem simples perto o que passamos nos treinamentos na Ordem de Mitz, Schebet... – disse encarando-o – Mas entendo que o seu treinamento seja diferente! – completou, sem qualquer sarcasmo na voz, fazendo apenas uma constatação.

Entretanto, completou, pouco depois:

– Fora isso, acho que seria trabalho de barqueiros, não necessariamente de servos, certo? – perguntou, erguendo as sobrancelhas – Mas, deixemos as conjecturas de lado. Daqui temos que seguir em silêncio, na direção que você apontou. Vamos tentar apressar o passo para chegar lá o mais rápido possível!

E ele olhou rapidamente para Januar, de soslaio, e apressou o passo como dissera, dessa vez tentando fazer o mais absoluto silêncio, a mão próxima ao cabo da espada.

– O que acabamos de fazer é bem simples perto o que passamos nos treinamentos na Ordem de Mitz, Schebet... – disse encarando-o – Mas entendo que o seu treinamento seja diferente! – completou, sem qualquer sarcasmo na voz, fazendo apenas uma constatação.

Schebet acena com a cabeça. Definitivamente conversar com William era mais agradável, a outra jovem era por demais instável e emocional. Emoções interferem no raciocínio, podendo prejudicar a missão.
- Vejo que sim, William. Vocês dois estão em ótima forma física, e isto é bom. Embora os siltanatenses tenham inerente o dom para magia, ela não é nada sem pratica. Passamos muito tempo em bibliotecas.

– Fora isso, acho que seria trabalho de barqueiros, não necessariamente de servos, certo? – perguntou, erguendo as sobrancelhas – Mas, deixemos as conjecturas de lado. Daqui temos que seguir em silêncio, na direção que você apontou. Vamos tentar apressar o passo para chegar lá o mais rápido possível!

O mago ergue a sobrancelha. Barqueiros? Seria uma especialização para os servos?
- Ah sim, vamos então. Porém temo que o avanço seja lento, dada a escuridão provida pela copa das arvores.

Januar não gostava nada daquilo, sentia um arrepio na pele somente de pensar nas aranhas e serpentes que podiam estar escondidos nas folhagens.
- William, poderíamos tentar encontrar alguma trilha... Entrar na mata sem enxergar pode ser um erro... Talvez acender uma tocha não seja tão ma ideia afinal de contas... De repente os inimigos podem estar todos concentrados na colina...

Schebet nega com a cabeça.
- Pelo visto não estão... Olhem naquela direção!

No alto de uma colina um foco de luz tinha surgido, da intensidade de uma tocha. Não era possível ver quantos haviam, mas parecia que seguiam por uma trilha, que descia na direção deles.

Realmente, o avanço naquela escuridão seria lento, mas ao menos seria seguro. Respirou fundo para tentar agilizar o passo, mas Januar parecia ter uma idéia diferente. Mesmo assim...

– Achar uma trilha pode ser melhor... mas sem tochas. Mesmo mais lentos, não podemos chamar atenção em...

Silenciou de imediato e nem terminou o que tinha a dizer. Os murmúrios ao redor chegaram aos seus ouvidos antes mesmo das palavras de Schebet. Olhou imediatamente na direção em que ele apontou, seus sentidos já sobressaltados.

Fez um aceno de cabeça, pedindo para seguirem-no e colocou o dedo na frente dos lábios pedindo silêncio aos dois. A mão foi, em seguida, ao cabo da espada. William busca esconder-se atrás do que for possível, uma árvore ou mesmo atrás de um barranco e espera que os companheiros façam a mesma coisa.

E ele então observa e tenta ouvir mais atentamente o que quer que estejam falando ou fazendo... Agora é aguardar um tempo para surpreendê-los, se for o caso.

Ao notar a aproximação do grupo inimigo, William sinaliza para que Januar e Schebet se escondam em meio a vegetação. Com a mão em sua espada, o paladino aguardou pela vinda da patrulha. Eram 3 goblinoides, mais especificamente hobgoblins, que conversavam em sua própria língua. Tinham a pele alaranjada, e portavam espada longa e escudo, além de armadura leve.

**

Gorbak descia pela trilha segurando a tocha. Estava irritado! Por que diabos tinha que ir ate a prainha, só porque os sentinelas viram luzes no território dos humanos! Mas não, Gorbak tinha certeza que era uma punição do chefe por ele ter ganhado no jogo de dados...

O hobgoblin escorrega um pouco, e bate com seu escudo contra uma arvore para evitar uma queda. Os seus dois outros subordinado riem, mas um grunhido dele os faz ficar quietinhos.

Bem, pelo menos já estavam próximos da prainha... Era só ficar uns 10 minutos, ver que esta tudo bem, e ir embora...

Mas o reflexo de sua tocha no meio da vegetação chama sua atenção. Rapidamente ele vira a mesma naquela direção para iluminar melhor! Um humano em armadura!

NRPG: Não tem surpresa, mas William age primeiro.

O silêncio imperava. William tentava captar as palavras que os goblinóides diziam, mas ele não entendia sua língua. A luz da tocha os iluminava e foi ela que acabou denunciando o paladino.

O rugido do inimigo foi a senha para que William sacasse sua espada de imediato.

- Pela Luz Sagrada... Por Mitz! - exclamou e sua primeira ação foi utilizar sua espada longa para tentar cortar, na horizontal, na altura do peito, o hobgoblin Gorbak.