Depois de gritar suas ordens para Redris pela janela, o monge sobe cuidadosamente pelas escadas, observando qualquer movimentação. Pé ante pé ele avança, até que avista o quarto onde esperava por ele Orion, que estava sentado em uma poltrona com a face séria, os cotovelos apoiados nas laterais.
Amoghasiddi entra no quarto e olha para o interior. Parecia o quarto de dormir do renegado, simples com a poltrona, uma cama e uma mesinha com uma planta num vaso. A janela estava aberta, as cortinas sopradas pelo vento.
- Orion... Não me recordo de ninguém com este nome no Templo... Vamos me conte um pedaço da sua história! Até hoje não entendo porque você e seu grupo resolveu se virar contra os ensinamentos e da prática da boa conduta. Foi pelo vil metal? Pela fama e glória do mundo de fora? A doutrina diz que tudo isso é ilusório até mesmo a felicidade é ilusória.
- Tampouco eu me lembro de voce, monge – diz Orion, que assim como Amogha, mantinha seus olhos atentos a qualquer movimento - Nossa Ordem mantem vários outros templos, por vários cantos de Dominus. Sim, digo nossa Ordem, pois apesar da facção Arakna ser considerada renegada, acreditamos nos mesmos ensinamentos. A grande diferença é que nós agimos, ao invés de deixar as coisas acontecerem. Mesmo que para isto tomemos algumas medidas drásticas...
Amoghasiddi olha para tras e ve que Redris estava subindo a escada. A barbara estava com a espada nas mãos e estava indo em direção de Orion, mas o monge com um gesto imperativo faz com que pare em seu lugar. O homem sentado na poltrona acena com a cabeça.
- Muito bem, é bom que esteja aqui, Redris. Zannete me disse que voce tinha virado uma mulher, mas ver você nesta forma é surpreendente – diz Orion. Ao ouvir falar de sua esposa, a ruiva se enfurece, e logo Orion tenta se explicar - Calma, eu e Zannete não temos nada, nós somos membros da mesma Ordem que o seu amigo monge... Deixe-me explicar como tudo aconteceu...
Orion olha para Amogha e Redris, para ver se os dois iriam deixar ele falar. Ao se certificar que sim, ele começa:
- Eu e Zannete fomos chamados para uma missão, que era levar um jovem ruivo, você, Redris, até uma pequena vila de Gália. Nos deram uma carroça, e durante toda a viagem você estava ou inconsciente ou delirante. Zannete cuidou de voce, e por algum motivo se afeiçoou. As ordens era deixa-lo as margens de um rio, próximo da fazenda de um casal de velhos, e cuidar para que eles sentissem pena de voce e o adotassem. Fizemos isto. O problema era que Zannete, que deveria acompanhar você a distancia apenas como uma garota da vila, burlou as ordens, e acabou se apaixonando.
Redris ouvia a tudo aquilo incrédulo. Toda sua raiva já tinha se passado, e agora ela estava sentada, olhando para o chão com as mãos na cabeça. Orion suspira.
- Pois é, tudo é uma ilusão. Escondi isto dos meus superiores, e tudo ate que estava indo bem, ate o dia do ataque dos bandidos. Juro que também não sabia da verdade, que podia se transformar em uma mulher, e Zannete também ficou bem transtornada, voce sabe disso. Depois que voce fugiu da fazenda, Zannete e eu conversamos sobre como proceder, e ela decidiu por ir atrás de voce. Como pode ver, todos fomos enganados.