Embora não tirasse os olhos da criatura, visando proteger não somente a prima quanto a ela mesma, Annabelle ouvira muito bem o que se passara ao seu redor. Escutara o choro de uma das meninas e seus cochichos, assim como os gritos revoltosos do garoto que encontrara anteriormente e fazia de tudo para se colocar no papel de herói do grupo. Ouviu também outro garoto de sotaque diferente gritar para correrem, e feitiços serem lançados por vários lados. Porém, o que a petrificou mesmo foram as palavras da criatura à sua frente. Ele sabia o seu nome... Mas como isso era possível?
A ventania criada por ele, quase a fez cair em cima de Melissa, mas conseguiu, com muito esforço, manter-se de pé. Porém, foi seu ataque que a fez ir ao chão finalmente, sentindo a forte pancada na cabeça enquanto caia e depois um enorme zunido misturado à sensação de tudo estar em câmera lenta. Tentou manter os olhos abertos, mas eles pareciam demasiadamente pesados. Um lampejo branco, um grito de dor que não sabia de onde estava vindo, as chamas ao seu redor, o rosto de Melissa perto do seu, e tudo ficou definitivamente preto.
Quando acordou estava em uma cabine comum e nada parecia indicar que as últimas horas haviam sido reais, exceto a dor que sentia em sua cabeça. Olhou ao redor procurando pela prima, mas viu apenas um homem estranho de cabelos brancos e olhos profundos e uma das garotas que estava antes na estranha sala.
Tentou sentar-se direito, levando uma mão até onde a cabeça doía e procurando algo para se apoiar com a outra. Ainda estava meio tonta... Ouviu o homem dizer algo sobre sapos de chocolate, mas realmente não conseguia se concentrar direito no que ele dizia. Só queria saber se Melissa estava bem. Pegou o pequeno pacote que a garota lhe oferecia sem grande interesse.
- Onde está... - ia perguntar quando notou a prima lhe olhando. Melissa estava ao seu lado o tempo todo e nem notara. Segurou sua mão e ia dizer algo quando uma voz seca vinda da porta a interrompeu. Olhou naquela direção e viu o elfo doméstico que estivera anteriormente na cabine que ela e a prima ocuparam logo que chegaram à locomotiva. Parecia ter finalmente acordado... Acompanhou a conversa dele e do outro homem ainda com certa dificuldade. Afinal, o que haviam feito? E que notícias se espalhariam por Hogwarts?
O olhar do elfo a fez prender a respiração por alguns segundos, como se o ar lhe faltasse, porém, para seu alívio, ele olhara para os demais também antes de se retirar. Ficou se perguntando mais uma vez o porquê dele dizer que precisariam de sorte em Hogwarts... Haviam sim quebrado as regras saindo de sua cabine e aquilo quase os matara, mas será que alguém teria coragem de expulsá-los por isso? Viu o tal Whix resmungar algumas palavras e, em seguida, se despedir rapidamente, deixando uma curiosa Annabelle para trás à medida que a locomotiva ia finalmente parando, anunciando a tão esperada chegada a Hogwarts.
Ficou aguardando ali na cabine, sem vontade de se levantar. Embora o desembarque parecesse mais calmo e silencioso do que imaginara, simplesmente não tinha coragem de andar por aqueles corredores novamente. Olhou rapidamente para Melissa e os demais alunos ali presentes, como se para confirmar se eles sentiam o mesmo que ela.
Flashbacks da viagem passavam por sua cabeça, fazendo com que sua dor fosse ainda mais incômoda. O elfo, o corredor, a caixinha de música, a cabine, a carta, o convite para a festa e a bala misteriosa... Ainda continha todos aqueles itens consigo? Não sabia, mas também não poderia verificar isso ali, no meio daqueles estranhos.
Então, com a determinação que normalmente lhe era tão característica, levantou-se rapidamente indo em direção à porta.
- É melhor irmos logo... Não quero ficar sozinha aqui novamente – disse, já saindo o mais rápido possível na esperança de que pelo menos Melissa viesse atrás dela.
Na plataforma da estação, centenas de alunos de todas as idades se amontoavam à sua frente. Desceu da locomotiva feliz, uma sensação de segurança lhe invadindo novamente, e não demorou muito para que notasse os barcos que lhes levariam até a escola de magia. Eram feitos de folhas gigantes, exatamente como seus pais haviam lhe contado.
- Veja, Mel – Disse, apontando em sua direção.
A imagem que tinham à sua frente era simplesmente impressionante. Embora parecesse completamente negro, o lago refletia a lua e um céu completamente estrelado e limpo. Lá no fundo, não muito distante deles, o grandioso castelo de Hogwarts parecia aguardá-los, imponente sobre as rochas e completamente iluminado para lhes dar as boas-vindas.
Notou que o estranho homem que estava com ela e os demais na cabine ainda a pouco falava alguma coisa para os alunos e se aproximou para escutá-lo. Não demorou muito também para perceber a presença do tal elfo doméstico que já conhecia, porém, a surpresa mesmo lhe veio como um murro na cara ao ouvir um dos alunos mais velhos chamá-lo de professor. Como aquilo era possível???
Olhou mais atentamente para os alunos, contendo uma risada quando os mesmos caçoaram do professor que, aparentemente, deveria estar na escola há bastante tempo. Então aquele era o “famoso” Scorpius Finnick, o garoto que, apesar de ter uma família tradicionalmente Sonserina, acabara indo parar na Grifinória... Sua entrada em Hogwarts fora comentada em sua casa durante semana pelos tios que haviam pertencido à mesma turma de seus pais. O outro garoto, por sua vez, era apenas um desconhecido qualquer.
Observou-os se afastando calmamente, ouvindo os murmúrios dos novatos sobre as carruagens, até notar que o tal Whix as encarava novamente. Afinal, o que havia de errado com ele? Porque seu olhar lhe incomodava tanto? Ouviu as instruções sobre o barco e, ao final delas, aproveitou a oportunidade para puxar a prima até um que estivesse vazio. Esperava um pouco de privacidade para conferir os bolsos do casaco durante o percurso até o castelo, se é que isso seria possível.
Viu o tal Whix perguntar se estavam prontos e os barcos começarem a andar. Definitivamente, não gostava dele...
A medida que o barco avançava pelas águas sombrias do lago, apalpou seus bolsos para ver se conseguia sentir os itens que guardara lá sem precisar tirá-los de dentro e revelá-los a quem mais estivesse por ali. Estava no meio desse processo quando teve a sensação de ver algo se mexendo não muito longe de onde estavam e a água tremer. Já se esquecia do fato e se concentrava em olhar o castelo ao longe quando dezenas de sereianos apareceram próximos aos barcos cantando como uma orquestra. Mesmo sabendo o quanto aquelas criaturas eram feias e nojentas, não conseguiu deixar de se maravilhar com a situação. Sorriu para a prima, sem precisar dizer mais nada, os olhos esverdeados brilhando como duas esmeraldas banhadas pelo luar.
No momento em que o show acabou, tudo voltou a ficar em silêncio. Suspirou profundamente olhando o castelo de Hogwarts que se aproximava a cada segundo, parecendo ainda maior do que imaginava. Uma emoção gigantesca, misturada com ansiedade lhe invadiu, fazendo com que os acontecimentos da locomotiva se afastassem de sua memória. Nada mais importava além do fato de que finalmente estava ali e que em breve o chapéu seletor a enviaria para a casa de sua família, casa esta a qual pertencia e estava destinada desde que nascera.
Assim que o barco parou, saltou dele rapidamente. Queria ser uma das primeiras a entrar no castelo:
- Vem, Mel... Precisamos nos apressar!Pegou a mão da prima e se juntou a um grupo próximo a elas e ao tal Whix. As tochas esverdeadas lhe causavam uma sensação de felicidade tão grande que nada mais parecia importar. Acompanhou os demais, tentando prestar atenção aos detalhes, em silêncio e, ao chegar no final da escadaria que saia das masmorras, seu coração quase prestes a sair por sua boca, mal conseguia acreditar: estava finalmente em Hogwarts.
- OFF:
Vou colocar o atributo que ganhei em Força devido a ousadia da pequena. Acho que foi o que ela mais mereceu evoluir nesse primeiro capítulo. Além disso, lembra de adicionar meus 50 galeões na ficha, minha figurinha do Cornélio Agripa (002) e a caixinha de música roubada que você esqueceu ;D