Aquilo podia não só ser pior, provocando um acesso de fúria caso fosse do tipo de estrela egocêntrica e histérica, mas também não resolveria nada – provavelmente não teria uma pianista reserva no bolso.
- Ok – respondeu acenando positivamente com um gesto de cabeça, batendo o martelo de que teria de ser aquela forma. Ou nada.
Girou sobre os calcanhares, colocando-se na direção da escada, pondo-se em movimento na direção do gramado, indo emergir lá. “Você vem?”, perguntou virando-se, falando num tom que era difícil discernir se gentileza, se preocupação ou se provocação.
Na área aberta, algumas das pessoas convidadas já se aglomeravam, mas mesmo essas ainda pareciam dispersas, conversando e bebendo. O piano possuía um delicado tecido cobrindo-o do sereno, e fora a própria produtora que se aproximara de lá, retirando-o.
Aquele descortinar parecia um sinal de que a apresentação começaria dando em breve, mas o instrumento em si era um espetáculo próprio, sendo ou muito antigo, ou delicadamente feito numa estética antiga.
Além dele, havia também um pequeno púlpito branco, uma plataforma baixa no centro da área. Provavelmente o que quer que acontecesse, teria aquele espaço como palco.
Aos pés dele, vários objetos estavam espalhados juntos, sem ordenação lógica alguma: iam desde uma pena e uma caneta a um chicote e uma arma.
Nada daquilo, entretanto, era tão curioso e chamativo quanto as silhuetas que circulavam. Eram visuais tão inusitados que pareciam justamente o avesso de quando se perguntava "mas quem usaria isso?" ao observar-se um estranho desfile de moda conceitual: era aquela gente que comprava aquilo - algo entre o exótico, o lindo... e o cômico.
Conforme a produtora expunha aquela obra que aguardava pelos dedos ausentes de Marcela para tocar-lhe as teclas naquela hora, alguém cortou o ambiente - na verdade quase parecera surgir do nada -, aproximando-se e avaliando o objeto.
- Antigo, cheio de energia antiga... . Brilharia lindo numa fogueira, não acha, Camille?