Marco vai meio mancando e meio pulando em um pé só. Ele sempre segue os comandos dos urathas quase sem perceber. "Desculpa... não eu..." O rapaz fala mais coisas também. Provavelmente em espanhol. Ele ouve com atenção o que é dito na primeira língua e sai correndo dali.
O carro destruído na viga é um testamento a estrutura da casa. A janela que nem arranhou com as batidas da caixa de correio está afundada para dentro com uma enorme teia de arranha feita de rachaduras. O dono do carro, provavelmente tem seguro. Tá ferrado se não tiver. Definitivamente perda total. Os olhares ansiosos de Millie para o cara sangrando no gramado dão a certeza de que é bom segurar ela.
Uma olhada no celular mostra que a mensagem nem tinha sido terminada ainda. Mas Silvia responde rápido depois do uratha corrigir esse detalhe. "Tem um carro indo. Vão precisar do depoimento de todo mundo pra trancar o caras de vez. Marco tá bem?" Sem emoticons.
O vizinho mais próximo, dono do carro, sai de roupão para ver a bagunça. De roupão e com uma espingarda. Claro que ele volta busca um cobertor para Millie. Ela é que não gosta disso, mas mal tem tempo de reclamar antes da viatura de policia chegar. Sempre tem uma por perto no bairro. Eles começam a pegar depoimentos. Não tocam em nenhum dos caras e calmamente pedem algum tipo de apoio. Um dos dois policiais no carro, um sargento, pega um bloquinho e faz anotações enquanto o outro grava a cena com a câmera que fica no uniforme.
Logo outro carro da policia chega com a ambulância e um detetive repete o procedimento de colher depoimentos. Dessa vez de forma oficial e pedindo assinaturas. Eles são ainda mais gentis que os anteriores. A equipe da ambulância não está nem um pouco impressionada. Eles já viram pior e somem dali muito rápido sendo seguidos pelos primeiros policiais. O outro carro garante que vai passar a noite ali. "Vocês podem dormir tranquilos, seu vizinho já chamou o reboque pro acidente. Nos dois vamos passar o resto da noite aqui para garantir que fique tudo bem." O detetive com o cabelo castanho curto, cheiro de colonia e menta, falava com uma voz tranquilizadora. O tipo de voz que não dá vontade de contrariar só para poder continuar na paz que ela traz. O parceiro dele com cheiro de chocolate, suor e tabaco olhava intensamente para a noite. Os braços inchados cruzados no peito. A arma no coldre a mostra.
Silvia não apareceu e nem se justificou. Mas viu e respondeu qualquer mensagem imediatamente.
Emillie pegou no sono logo que a ambulância foi embora. Ela nem ouviu a garantias do detetive.