☆A FORASTEIRA☆ | Mi'larhys ☆VÊNUS☆ Mila Rhys |
Deixando a ponte de comando, andei até Jack, sorrindo, e o peguei pela mão, conduzindo-o para que se sentasse ao meu lado, próximos dos instrumentos de navegação da B'rel.
"Estou feliz que você tenha me feito essas perguntas! Mas queria que tivesse feito isso antes de arranjar aquela briga..."
Havia uma nota de repreensão na minha fala. Porém, eu estava encantada por alguém — além de Hana Choi — finalmente me perguntar algo sobre meu mundo, meus costumes, e se esforçar para me entender.
"Não existe romance em Lynn. Minha espécie não depende de fecundação para se reproduzir. Nós só... amadurecemos bebês, sem necessidade de um parceiro."
Através do elo telepático mostrei a Jack imagens do meu povo — sabendo que ele nos veria como uma sociedade de mulheres. Tentei passar para ele a sensação de que não era assim que nos víamos: éramos apenas pessoas.
"Você perguntou se temos vários — vários parceiros? Não. Não temos nenhum. Não existe amor romântico no meu mundo. Essa coisa de Vênus ser uma deusa do amor é bem irônica, se for pensar bem."
Havia uma risadinha no fundo do elo telepático, mas não era muito feliz. Logo, a imagem que eu mostrava para Jack era de uma memória mais recente: eu e John Pablo conversando sobre esse mesmo assunto, no jardim da casa da família Harper.
"Eu não tenho experiência com romance. Mas não me insinuei para ninguém. Sentinel é adulto, não? É comum que adultos se relacionem com jovens em Mi'wan? Isso parece... estranho, para mim. Nos filmes, as pessoas pareciam ter idades mais próximas."
Tinha muitas coisas que eu precisava aprender sobre os mi'wanish, pelo visto.
"Também não me insinuei para o Matt. Eu tenho uma ligação com ele, parecida com uma telepatia primitiva. Acho que porque foi usada tecnologia recombinante lynnish para transformá-lo... Eu não sei. Mas não é algo romântico."
Deixei a cor original da minha pele retornar e, ainda sentada ao lado de Jack, comecei a desprender as flores do cabelo, devagar e com cuidado, apoiando-as no colo.
"Também não me insinuei para o Pachello. Pelo menos, não até você e John Pablo chegarem. Quando a briga começou, eu só queria que acabasse logo, que acabasse antes que os civis se ferissem. Tinha senhorinhas lá, Jack. Tinha crianças. Eu estou muito decepcionada com você por arriscar um tiroteio no meio de uma festa assim, sem motivo nenhum."
Um suspiro atravessou a ligação telepática, mas decidi não percorrer aquele trilho. Uma conversa por vez.
"Eu tentei distrair o Pachello depois da confusão instaurada, tentei levá-lo para longe dali e acabar com a briga. Acho que isso até foi me insinuar, mas não pelos motivos românticos. Essa palavra está certa: romântico? Eu não senti algo romântico pelo Pachello. Eu só dancei com ele."
O roxo na minha pele foi ganhando um tom púrpura mais intenso — eu estava corando. Porque as próximas perguntas não poderiam ser respondidas sinceramente sem uma boa dose de vulnerabilidade e humilhação.
"Você é meu amigo, Jack. Desde que cheguei a Mi'wan, foi o único garoto que não me magoou, que não me fez chorar. Você me trata como pessoa e percebe que tenho sentimentos. E eu sou muito feliz por ter sido encontrada por você naquele inferno do Laboratório Prometheus. Por você e pelo..."
As imagens do meu último diálogo com John Pablo reverberaram pelo elo telepático.
"Passei a tarde toda imaginando se..."
"imaginando o que?"
"... se você me beijaria enquanto dançasse comigo."
"Eu nunca imaginei que.... que alguém como você... e alguém como eu.... você é tão..."
"Acho que eu só preciso ser corajosa como você. E beijar a primeira pessoa que aparecer na minha frente, só pra tirar isso da cabeça, né?"
"isso"
"Tão alienígena. Tão aberrante. Tão púrpura. Humilhante, né? Para ele, acho que me insinuei, com intenções. Mas eu estou aqui e ele não. Isso já diz tudo, né?"
Eu estava triste e deixava isso transparecer em toda extensão da telepatia entre nós.
"Ele disse que eu deveria beijar qualquer um para esquecê-lo. Mas eu não sei se posso. E nem sei se quero. Eu realmente não tenho experiência: não sei se essas vontades vem e vão, não sei se o coração muda com o vento. Só sei que eu me declarei para ele, o que foi muito difícil de fazer, e... agora tenho que encontrar um modo de continuar amiga dele, porque ele não me quer."
Dei uma risadinha cheia de autopiedade e olhei para Jack, com os olhos marejados de lágrimas iridescentes que não derramei.
"Aceito conselhos. Não sei o que fazer, sabe? Realmente, não sei o que fazer."
Ativo o Movimento de Equipe da Forasteira:
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