Meileen - Shamps

- Creio que você tenha mesmo mil anos de idade... agora - disse a elfa para Daryl enquanto caminhavam para a parede indicada por ele, mas antes ela buscou por alguma reação de Julia quando ele menciona a fonte. Queria saber se ela sabia sobre isso.

Daryl pigarreia e acena com a cabeça. “Para vocês sim, tenho 1000 anos de idade... Mas para mim, parece apenas que 65 anos se passaram... Estive dormindo por um longo tempo.”

Kros, que estava ouvindo a conversa próximo deles, ergue as sobrancelhas, ficando uma expressão divertida na face. “Então você já era velho antes de dormir... Acho que o ‘Cetro das Velhas’ não teve nenhuma culpa pra voce ficar com cara de múmia!”, diz, rindo.

Julia revira os olhos, ignorando o comentário do bárbaro. “Pelo que já ouvi das lendas de Solaris, existem fontes de agua arcana que podem ter efeitos mágicos sobre aqueles que bebem... Efeitos benéficos e maléficos.”

Daryl chega próximo a parede, tateando um pouco ate encontrar uma depressão, que quando apertada, faz deslizar uma seção, revelando um corredor. Todos avançam pelo corredor por algumas dezenas de metros, ate alcançar uma plataforma circular de pedra. O velho diz, “Pronto, fica aqui. Subimos na plataforma, a plataforma vai se elevar, e vamos aparecer no salão principal.”

Allen observa desconfiado a plataforma: “Tem certeza que esta funcionando? Afinal de contas esta a 1000 anos sem funcionar!”

Clover se aproxima e observa a plataforma. Ela aponta para alguns símbolos talhados na pedra. “São runas mágicas. Bem, a magia de conservação em Daryl durou 1000 anos, talvez estas estejam funcionando também.”

Pela primeira vez Meileen ri de uma piada de Kros, mas não deixa de repreende-lo com o olhar.
Enquanto caminham até a parede, a elfa não gosta nada do que a clériga fala sobre efeitos maléficos da tal fonte e balança a cabeça negativamente.

- Efeitos maléficos? Não gostei disso...

A parede se abre e revela um corredor com uma plataforma e, assim como Allen, a elfa também desconfia.

- Tem certeza disso, Clover? - mas sobe, dando apoio a Daryl.

Todos transpõem o pequeno degrau formado pela plataforma, ocupando diferentes posições sobre a pedra circular. Clover ajoelha-se e observa o formato das runas. “Hmm, certeza eu não tenho, mas que mal poderia acontecer”, responde para Meileen, com os ombros arqueados.

Daryl fecha os olhos, ergue as palmas das mãos para cima e recita algumas palavras divinas, melódicas. As runas da plataforma começam a brilhar, e quando todas estão acesas com uma luminescência azul clara, acontece um tranco, e toda a plataforma inicia uma ascensão devagar para cima. Centimetro a centímetro ela avança, e quando esta prestes a alcançar o teto, o mesmo se abre, deixando a luminosidade entrar pela abertura. Aos poucos a plataforma transpõe o limite do chão, deixando a todos no meio de um grande salão.

“Uh-oh”, comenta Kros.

Dentro do enorme salão estavam também dezenas de kobolds, que agora cercavam os heróis apontando suas lanças.



Numa área elevada, separada por vários lances de degraus, estava sentado em um trono um kobold, portando uma roupa elaborada feita para alguém com o dobro do tamanho, e uma coroa de latão. Ao lado do trono, uma bela fonte com esculturas de mármore jorrava agua para cima, que depois descia em cascatas.

A elfa da floresta apenas observa, em silêncio, os gestuais de Daryl e analisando tudo o que ele fazia. Quando a plataforma começa a subir ela busca uma postura para manter o equilíbrio e cruza os braços, séria, enquanto  espera a plataforma terminar seu curso.
O enorme bloco de pedra chega e revela uma surpresa desagradável para os viajantes: uma horda de kobolds fedorentos.

- Argh! Mas que p... - ela segura um palavrão em seus lábios e se xinga mentalmente por não estar com o arco em mãos, já que ajudava Daryl. Ela vê a fonte e deduz ser a que Daryl busca - é Aquela fonte, Daryl? Vamos limpa-la para você - diz se preparando para o combate.

Embora a elfa estivesse confiante na vitória, a animação de Meileen não era a regra no grupo. Vendo-se cercado por kobolds armados por todos os lados, os heróis empunham suas armas em posição defensiva, apreensivos. Daryl aponta para a fonte, com o dedo tremendo. “Sim, é aquela fonte... Mas não me lembro de ter uma comunidade de kobolds morando no templo... E também não tinha trono aqui.”

Clover cerra as sobrancelhas, olhando desconfiada para o senhor múmia. Ela cochicha para Meileen, “acho que os anos afetaram também a capacidade de julgamento de Daryl. É obvio que os kobolds não eram daqui! Parece um velho gaga falando...”

O grupo de heróis e o grupo de kobolds ficam se observando, até que o som de um gongo ecoa pelo salão. Todos ficam quietos, e veem a figura do kobold rei se levantar. Após uns instantes de silencio, ele diz, “guardem suas armas, filhos e filhas! Solaris nos deu a resposta para nossos problemas!, “diz o kobold, na linguagem Comum, impecável. “Nós oramos, e a grande deusa nos enviou seus campeões! Oremos agora em agradecimento!”

O rei kobold olha para os aventureiros. “Agora esperem um pouco, que eu vou falar na língua kobold. Meus filhos não entenderam uma palavra do que eu disse agora,” comenta, e então em sua própria língua natal faz seu discurso, e ao final os kobolds jogam suas armas no chão e se ajoelham e rezam.

Meileen ficou abismada e não conseguiu se expressar de uma forma mais digna que isso.

- Sério mesmo? Um kobold falando comum e... e... civ... civilizado? - olhou para Daryl embasbacada - explique isso Daryl... Não... espera... - continuou ouvindo o que o kobold do trono falava e não acreditou quando os pequenos se ajoelharam - campeões!? Mas que p...   - não terminou a frase.

- Que que é isso? O Que que tá acontecendo aqui? Pela deusa...

Meileen estava surpresa, e Daryl, que estava com os ombros arqueados e a cabeça inclinada, igualmente confuso, também não pode providenciar uma resposta para as duvidas da elfa.

O rei kobold, que estava com um cachimbo bem estiloso, expeliu a fumaça para cima, desceu de seu trono e com os braços abertos dirigiu-se aos heróis.



“Sim, vocês são os nossos campeões, enviados pela própria deusa Solaris para enfrentar nossos inimigos goblins! Vejo que são bem poderosos, mais poderosos que o grupo anterior que veio pela fenda e matou vários goblins, mas que no final não retornaram do nível inferior... Vocês são diferentes, pois Solaris nos enviou vocês, e vocês representam toda a sabedoria mística de Solaris! Viva!”, disse o rei kobold, e ao final todos seus súditos repetiram, “Viva!”

A elfa Meileen ainda parecia confusa ao mesmo tempo que queria soltar uma gargalhada com a historia bizarra, mas segurou o riso na garganta. Nunca vira cena tão pitoresca, um kobold rei e com um cachimbão mais bonito do que todos que ela já tinha visto.

- Campeões enviados pela Deusa para matar goblins? - ela até sorriu com a ideia de exterminar essa praga, mas manteve a compostura - o que tem no nível inferior? E quem era esse grupo que não voltou? Quando vieram?

Os pequenos kobolds gritavam vivas! para o grupo e a elfa não sabia o que pensar.

- Bem... então... será que um dos escolhidos - aponta para Daryl - poderia se aproximar da fonte e beber um pouco de água? - e aponta para a fonte.

O rei kobold pisca os olhos, observando Meileen atentamente. Ele da uma tragada forte em seu cachimbo e expele a fumaça para o alto. A elfa sentiu-se meio tonta com aquele cheiro estranho. “O nível inferior é dominado pelos nossos inimigos goblins, que possuem uma grande fazenda subterrânea, construída por nós, kobolds da tribo “Iluminados de Solaris”, e roubada. Aos poucos perdemos espaço, sobrando apenas este espaço do templo.”

O kobold leva dramaticamente a mão até a testa, demonstrando tristeza. “Receavamos nosso fim, ate que, faz umas duas ou três semanas atrás, não me lembro bem, a esperança surgiu na forma de bravos aventureiros que enfrentaram os goblins da entrada do templo. Acompanhamos seu avanço de longe, só observando... Esperando que a ameaça goblin fosse exterminada... Mas isto não aconteceu.”

Clover chega por trás de Meileen e a cutuca, cochichando em seu ouvido. “Deve ser o grupo mandado por Toressar, que se perdeu na missão de investigação...”

Meileen então propõe que Daryl tome um pouco da água da fonte, ao que o rei kobold diz: “A fonte de Solaris contem aguas milagrosas, de efeitos arcanos imprevisíveis, que tanto servem para o bem como para o mal. Ou também pode não servir para absolutamente nada... No meu caso, Solaris me abençoou com inteligência extraordinária, mas já vi aqueles que beberam e morreram na hora, uma morte terrível e agonizante.” O rei kobold então examina Daryl com os olhos semi-cerrados, pensativo. Então dá de ombros. “Bem, este ai não tem nada a perder mesmo...”, comenta casualmente.

Kros gargalha com o comentário, enquanto Julia e Allen vão para o outro lado de Meileen. “Não sei se é uma boa ideia, Meileen... E se o velho morre de repente? Sera que vale a pena arriscar?”

Allen acena com a cabeça. “Além disso podemos perder uma boa fonte de informações”, diz, levando imediatamente um cascudo de Julia. O guarda se defende: “ei, estou sendo apenas pratico, ok?”

Era muita loucura num lugar só, a elfa começava a perder a vontade de matar aqueles carinhas, tinha goblins para aniquilar. Quando o ''rei'' baforou, Meileen tossiu e espantava a fumaça com a mão.

- Não esquenta, cara, vamos acabar com esses goblins.

Clover falou do antigo grupo de Toressar, o que deixou Meileen entristecida.

- Sim, Clover, me parece eles mesmo. Poderemos depois levar seus corpos para um funeral decente.

O rei fala da fonte e deixa seus amigos apreensivos.

- Calma gente. O próprio Daryl sabe dessas consequências, se ele quer beber, que beba! - olha para o idoso - vá em frente camarada. E se você ficar joinha - faz o gesto de joinha com as mãos - você ajuda a gente e conta tudo que sabe para o Allen, certo?

Daryl acena com a cabeça para Meileen, e lentamente inicia sua caminhada até onde estava a fonte. Passo após passo ele sobe os degraus, demonstrando a todos o quão custoso para ele era isto. Allen oferece-se para ajudar, mas Daryl recusa, dizendo que era um sofrimento pelo qual tinha que passar, para mostrar a sua deusa o quanto ele estava disposto para receber a dadiva divina de Solaris.

Todos já estavam perdendo a paciência, quando 10 minutos depois ele se debruça diante da fonte. Com a mão em forma de concha ele pega um pouco da água gelada e cristalina e faz uma oração silenciosa.

“Me segura que eu vou enfiar a fonte inteira pela goela deste velho se ele demorar mais um pouquinho”, comenta Kros, irritado.

Daryl leva um susto com o comentário, e em resposta ele toma a agua rapidinho.

Logo em seguida uma névoa amarelada luminosa cobre o corpo de Daryl e o levanta pelo ar. Ele começa a girar lentamente, e fachos de luz surgem, saindo de seu corpo nas mais diversas direções. Suas vestes rasgadas desaparecem, e sua pele que era enrugada começa a se alisar, a se tornar mais pálida e jovem. Suas feições, que com a velhice tinham se tornado quadradas, tornam-se mais suaves, revelando um belo rosto. Cabelos loiros surgem em grande quantidade, e roupas aparecem das nevoas para cobrir seu corpo nu.

Finalmente o show de luzes termina, a névoa se vai, deixando Daryl em pé diante da fonte.



Kros coça a cabeça, intrigado. “Quer dizer que Daryl na realidade era uma mulher velha muito feia? Se bem que na minha tribo também tinham velhas muito parecidas com múmias como o Daryl...”

Daryl desce a escadaria correndo, para dar um poderoso soco nas joias preciosas de Kros. Sem ar, o bárbaro cai para tras, ao que o sumo-sacerdote sobe em seu peito e com as mãos começa a estrangular Kros. O rosto de Daryl estava enraivecido, contrastando bastante com sua face feminina delicada. “Seu bárbaro maldito! Me fez apressar e olha só o que aconteceu! Solaris me trouxe de volta como mulher!!!”

O tempo passava de forma diferente para os elfos, por isso Meileen não estava irritada pelo tempo que Daryl levou para chegar na fonte, diferente dos outros que pareciam estressados já. A elfa olhou com cara feia para Kros e esticou o braço em frente a ele.

- Nem ouse...

A magia começa com toda a bizarrice que lhe é devida e a elfa permanece impassível assistindo a tudo, apenas arregalando os olhos quando diante deles se revela uma bela jovem. Era Daryl.

Ele corre até Kros e a elfa dá uma passo para o lado permitindo que Daryl soque o bárbaro. Em seguida ela começa a rir com o desenrolar da cena. Era hilário um grandalhão apanhando de uma "mocinha". Meileen se curva de tanto rir, sem conseguir respirar.

- Vai fun...do... hahahahah... Dary.... hahahaha...

A situação que estava acontecendo no interior do templo era tão inusitada que os heróis não podiam fazer outra coisa a não ser cair na gargalhada. Somente quando Kros começou a ficar roxo por falta de ar que Allen e Julia decidiram intervir. A cleriga teve até uma certa dificuldade em segurar Daryl, que apesar do corpo de adolescente, parecia lutar como um demônio dos infernos abissais.

“Me solta, me solta, que eu acabo com este imprestável! O que faço agora da minha vida, seu troll das montanhas, filhote de um bode desgrenhado!”, xingou Daryl. Clover, contrariada, estava com as mãos na cintura observando o velho transformado em menina, e disse irritada, “tá, tudo bem que a água da fonte te transformou em mulher, mas voce sabia dos riscos! Além disto, não sei porque tanta raiva, qual o problema do sexo feminino? Acho que Solaris te fez até um favor, seu mau agradecido!”

Finalmente Daryl parou de esbravejar, respirou fundo e com um sinal pediu para que Julia o soltasse. Ele olhou para si mesmo, balançou a cabeça, e lamentou: “o uso do Cetro das Eras drenou minhas energias e tirou minha vitalidade, o que afetou até minha maneira de pensar. Agora estando renovado, me sinto como se tivesse no pico de minha juventude... Mas ao mesmo tempo, sinto que este corpo não é o meu... Entendam minha situação... Quando jovem, era o rapaz mais desejado do templo da “Luz Arcana”, e fazia sucesso com as fieis, com as acolitas, com as garotas da vila. O peso da idade trouxe um abafamento dos meus desejos, mas agora esta tudo mais claro! Vejo que vocês, Meileen, Julia e Clover, são umas maravilhas que as deusas fizeram, umas beldades que dá vontade de morder! E agora, olhem como estou!? Fora da minha época, fora do meu corpo, como vou me adaptar?”

Kros queria comentar algo, mas sua falta de forças não permitiu. Clover primeiro olhou para Meileen, e depois para Julia, e disse: “não sei quanto a vocês, meninas, mas eu preferia o Daryl de antes... Além disto, ta muito estranho ouvir voce falar de querer morder a gente, com sua cara de adolescente recém-saída de um internato. E eu já tenho namorado, portanto, nada de querer se engraçar comigo!”

Allen subitamente abriu um grande sorriso para Clover, que ao perceber o que tinha dito, ficou vermelha.

Foi muito difícil fazer Meileen parar de rir, mesmo vendo Kros quase morto, isso não acalmou o ânimo da elfa. O próprio Daryl se explicando era engraçado, ainda mais falando umas sandices daquelas.

- Hahaha... descul...pa - falava entre risos tentando se conter, mas tava difícil - mas menininhas também não faz meu estilo. Prefiro um elfão viril, caçador ou algo assim... hahahi... e se tentar morder... já sabe nee, leva tapa na orelha... hahahahaha!

Respirando fundo, ela tenta tomar as rédeas da situação novamente.

- Bom, ainda temos um problema para resolver com os pequenos de Solaris - e aponta para os kobolds.

O rei kobold acompanhou a toda a cena da transformação e posterior embate entre o sumo-sacerdote e o bárbaro calmamente, tragando seu cachimbo estiloso. Somente ao final, depois da fala de Meileen, que ele retirou o cachimbo da boca, soltou uma fumaça colorida, e disse: “Sim, nosso problema... Mas antes, deixa eu entender o que aconteceu aqui... Vejo que o velho se transformou numa versão jovem, porem de sexo oposto, de si mesmo, e não parece estar nada contente com isto... Existe realmente tanta diferença assim, entre os humanos? Como vocês são de outra raça, não consigo ver esta diferença... Mesmo entre nós kobolds, é difícil saber se estamos diante de um macho ou uma femea, pois não há diferença no timbre de voz ou forma do corpo. Tanto que dentro do jogo de sedução, uma das partes mais divertidas é descobrir o sexo do parceiro...”

Kros, que já estava refeito do ataque sofrido, logo se aproximou. “É claro que existe diferença! Deixa eu mostrar para você...”, ia dizendo o bárbaro, sendo logo interrompido por um chega-pra-la de Allen. “Então, voltando ao assunto principal, o que podemos fazer?”, disse exasperado.

O rei kobold acena com a cabeça, pensativo. “Muito bem... Como tinha dito antes, nós da tribo “Iluminados por Solaris”, tínhamos uma fazenda subterrânea, que nos foi tomada pelos goblins. Mas ainda assim mantemos uma passagem secreta que leva até a fazenda, de onde fazemos observações. E vimos que os goblins fizeram crescer uma gigantesca arvore, de onde nascem brotos que ganham vida, pequenos monstros vegetais que obedecem aos goblins e a um velho humano de barba longa branca e sem cabelo.”

Apesar de achar estranho os comentários do rei kobold, a elfa tomou nota daqueles curiosos dados sobre aqueles pequenos estranhos. Já que era uma patrulheira das florestas, quanto mais conhecimento, melhor.

- Descobrir o sexo do parceiro na hora? Me parece arriscado... mas é curioso! - analisou por fim e respondeu ao rei - sim, há muitas diferenças entre machos e fêmeas humanos... entre elfos também.

Exagerado e grosseiro como sempre, Kros já se adiantava em suas besteiras, por sorte Allen estava esperto e segurou aquela avalanche de despudor.

- Peloamordadeusakros... sossega esse facho, homem! - foi enfática.

Ela ouve a explicação do kobold e sorri de canto, finalmente chegaram ao ponto.

- Era isso que eu queria saber. Nos mostre essa passagem. Vamos ver essa árvore e esse velho.

A pedido da elfa, o rei kobold acena com a cabeça e lidera os heróis pela área do templo, sendo seguido pela grande legião de kobolds que estavam presentes no salão. O grupo atravessa o salão e adentra uma das salas, que continha uma grande rachadura na parede, provavelmente feita pela tribo em sua fuga dos goblins. A rachadura dava caminho para uma passagem subterrânea, que descia em formas sinuosas e aleatórias, ate finalmente se abrir em uma grande caverna. No lado norte havia uma grande pedra, pesando varias toneladas, que bloqueava uma outra entrada. Nesta pedra haviam varias cordas amarradas, formando uma rede ao seu redor.

O rei kobold aponta para a pedra com um gesto grandioso. “Ali esta a grande pedra, que impede a passagem de nossos inimigos! Ao verem que nada podiam fazer para tira-la do caminho, deixaram de nos perseguir. Mal sabem eles que a engenhosidade kobold permitiu criar um aparato que a movimenta, liberando a passagem para que possamos espiona-los! E finalmente sera por este caminho que vocês, heróis, nos trarão a salvação!”

O rei kobold então da ordens para os súditos, para que tomem suas posições e ergam a grande pedra. No entanto surge uma grande discussão, em que o rei kobold esbraveja com um grande numero dos seus seguidores, que permanecem de braços cruzados.

O rei balança a cabeça contrariado, suspira, e então se dirige aos heróis. “Temos um pequeno problema... É que os meus súditos dizem que pela grande profecia, que iniciara uma nova era para os kobolds, uma grande rainha liderara o ataque contra os inimigos e retomara tudo aquilo que foi perdido... Se não seguirmos a profecia, tudo dará errado, e por isto se recusam a erguer a pedra.”

O rei kobold da uma tosse, olha para os lados, e continua. “Isto quer dizer que uma de vocês devera se casar comigo.”

Tranquilamente, porém atenta, Meileen acompanha o kobold e seu grupo, chegando até a pedra que guardava a porta até as fazendas. Ela analisou a situação e concluiu que era uma obra muito interessante, um mecanismo eficaz.

- Muito interessante, rei kobold!

Os kobolds começaram a discutir e a elfa achou irritante e cômico a balburdia bestial. O rei por fim acalma-os e ele explica a causa da discussão e a elfa não entendeu de início, mas quando a coisa fez sentindo, ela dá um passo para trás para deixar outra na frente, ela que não tomaria aquela bomba.

- Claro que a pessoa mais devotada a Solaris que deve se casar um legitimo filho da deusa, não é mesmo? - tinha Julia e Daryl em sua nova forma.

A proposta do rei kobold de matrimonio não é bem recebida pelas heróinas, sendo que Clover chega a passar mal só de imaginar nas obrigações conjugais com tal criatura. Meileen olha para os lados, puxa Julia na frente, dá um passo para trás e dá sua sugestão, que também não é muito bem recebida pelas companheiras. A clériga lança um olhar mortal para a elfa, e diz: “como devota fiel a Solaris, um casamento neste momento é inoportuno, já que tenho muitos deveres para com a igreja... Talvez Daryl possa, já que está há tanto tempo desligado do culto...”

Daryl devolve o olhar mortal, sua face feminina ainda continuava graciosa, mesmo distorcida pela raiva. “Isto é verdade, mas pretendo retornar as fileiras. Além disto, nem mulher eu sou...”, diz, mas ao olhar para si mesmo, suspira, “bem, fisicamente sim, mas espiritualmente, não. Um casamento com o rei kobold seria errado de tantas maneiras, que nem seria capaz de contar. Talvez a maga esteja disposta a fazer este sacrifício...”

Clover ao ser mencionada, nega com a cabeça. “Como Meileen mesmo disse, o rei kobold merece uma devota de Solaris, pois ele deve sua inteligência a deusa de vocês”, diz, e puxa Allen para perto de si, “e ainda por cima estou já comprometida com meu amor, não é, Allen?”

Kros fica com os braços cruzados, e da uma gargalhada. “Clover, não faz muito tempo vocês não estavam nem juntos...”, comenta, e mostra seus músculos para as garotas. “Meninas, Kros esta disponível... Chance única para evitar casamento com rei kobold.”

O rei kobold acompanha o dialogo entre os heróis quieto, e então finalmente diz: “não pensem que para mim isto também não é difícil... As formas humanas são estranhas, com suas peles lisas, estes pelos que vocês tem na cabeça, caras deformadas sem focinho. Eca! De qualquer maneira, somente será uma formalidade, sem necessidade de um contato físico, graças as deusas!”

O grupo pede por um minuto a sós, e se junta numa roda. “E agora, o que fazemos?”, pergunta Julia.