- Mestre das masmorras? Cronista? Ah Clover - olhou para a amiga - ele é um bibliotecário como o Mortimer - era a única comparação que ela tinha em mente - entendi- assentiu à Patrick - e esse visionário Tolkien, como conheceu nosso idioma? Ele veio de outro plano também? Era um elfo? Um amigo dos elfos? Ah... a propósito, precisa estudar mais, sua gramática está incorreta. E a pronúncia também... - ela disse com displicência enquanto ajeitava o cabelo - mas foi divertido conversar em meu idioma... ah... e mais uma coisa me intriga... o que são aquelas criaturas? - e aponta para os anões de jardim - vocês as cultuam?
As perguntas formuladas por Meileen apenas fazem por confirmar a certeza que aquelas que estavam a sua frente realmente eram de outro universo. Quase não consegue se controlar de entusiasmo quando começa a responder suas duvidas:
- Tolkien “criou” o idioma, mas na realidade ele sempre existiu. Este escritor nasceu aqui, na Terra, e era um humano excepcional, que ao criar a sua obra, “criou” centenas de outros mundos. Mas quando eu digo criou, na realidade estas centenas de outros mundos sempre existiram. Quanto a minha gramatica, ela esta enferrujada, mas prometo que estudarei mais, agora sabendo que minha teoria esta correta!
Patrick então vai para fora e retorna com um dos medonhos gnomos de jardim.
- Você gostou? São da minha coleção... Criaturas magicas que defendem a natureza e pregam a felicidade e harmonia... Provavelmente deve existir um universo cheio deles, espero algum dia poder visita-los.
Clover cutuca Meileen e cochicha em seu ouvido:
- Este deve ser um dos planos do Abismo Infernal... Do jeito que são feios iriam por um demônio para correr, isso sim!
- Hey, mestre das masmorras... o que significa essa expressão cosplay? Já ouvimos ela várias vezes desde que chegamos aqui.
Patrick arruma o óculos com o dedo indicador e fica pensativo. Então ele diz:
- Existem muitos humanos que admiram a cultura e as raças de seu mundo, tanto que eles se vestem e fazem performances, agindo como se fosse um de vocês. Estes são os cos-players. Como isto é muito comum entre os mais inteligentes de nossa sociedade, os chamados rpgistas – diz o Mestre das Masmorras com um sorriso, apontando para ele mesmo – é fácil pensar que vocês sejam cos-players.
- É... macio ao toque... que tecido é esse? - ela aceitou o copo com o líquido estranho e aquilo parecia uma das estranhas poções que Clover testava as vezes e que a elfa fazia questão de passar bem longe - o que é isso? - ela cheirou o líquido evitando-o beber também - isso parece perigoso de se beber.
Todas aquelas duvidas divertiam Patrick, que não se incomodava nem um pouco em responde-las, pois sentia-se como um mestre sábio, ao invés de ser chamado de nerd estranho.
- Este tecido é a camurça, que imita a pele e os pelos de animais. Não são animais de verdade, mas conseguimos produzir coisas que se aproximam muito do que é real. Quanto a bebida, ela não é perigosa, é deliciosa! Duvido que exista algo igual no mundo de vocês!
- Teoria do plano dos espelhos? Explique-se! - ele prosseguia e estava ganhando a atenção da elfa - me mostre esse artefato. Quero ver o aspecto desse goblin - por mais que ela soubesse como era um goblin, ainda tinha a possibilidade dessa criatura ser diferente do que ela esperava. Porém, o jovem não parava de surpreender a ranger, um pedido inusitado ele fez a ela. Meileen não pareceu muito animada com o pedido dele - ir com a gente? Isso é uma caça, rapaz, não uma brincadeira. E quanto a ir para nosso mundo, bem... eu fui trazida até aqui, não tenho poder para viajar entre os planos, portanto, isso não depende de mim, ou seja... está fora de cogitação - essa foi a palavra final da elfa, que não era de rodeios ao falar as coisas - se bem que aquela velha Maeve é louca e é bem capaz de levar ele para Dominus, só para contrariar as coisas - ela cruzou os braço e bufou - vamos logo, mostre-me sua bola de cristal com a imagem do goblin!
O Mestre das Masmorras fica visivelmente triste ao ouvir a recusa vinda da elfa.
- Mas, puxa, queria tanto conhecer o mundo de vocês... Aposto que com o meu conhecimento e inteligencia, poderia ser de muita valia... Gostaria muito de aprender magia, e acho que meu atributo de inteligência deve ser bem alto, a ponto de ganhar um bônus de +3 ou mais na CD para resistir minhas magias...
Patrick então arqueia os ombros.
- Que se há de fazer... Se minha teoria estiver correta, eu posso ser o espelho de uma outra aventura, e se o Mestre das Masmorras decidir que eu vou, eu irei. Deixarei nas mãos dele! Hmm... Ah sim, a teoria dos espelhos.
O rapaz estrala o pescoço como se fosse iniciar uma luta livre, mas era apenas para fazer um charme.
- Teoria dos espelhos é o seguinte... Como vocês estão aqui, são a prova viva de que existem varios universos. E o fato de uma de vocês ser elfa e a outra usuária de magia, indica que vieram de um mundo medieval fantástico, algo muito comum nas nossas historias. Ora, qual a chance de justamente vocês terem vindo um universo que permite magia e tenham elfos e provavelmente dragões? Infima, a não ser que existam infinitos universos... E um deles justamente seria igual ao que uma pessoa “criou”, ou seja, vocês vem de um mundo que algum Mestre de Masmorras “criou”. Digo “criou”, mas na realidade o mundo de vocês sempre existiu, tudo não passa de uma coincidência. O mundo que este Mestre das Masmorras imaginou é um espelho do mundo em que vocês vivem. Ele pensa que criou, mas é apenas uma imagem de algo que realmente existe. Esta é a teoria dos espelhos.
Clover cutuca Meileen novamente.
- Este rapaz é insano. Melhor vermos logo esta bola de cristal.
**
Meileen e Clover assistem maravilhadas aquela bola de cristal, que na realidade não era uma bola, era bem plana. Mostravam imagens tão reais, que a maga colocou a mão nela para ter certeza que não se tratava de um portal. Era uma imagem fixa, que mostrava apenas um local, e parecia ser um deposito. Patrick comenta então que se tratava do porão de sua casa, e aquelas imagens haviam sido gravadas no mês anterior.
- Prestem atenção agora! – comenta o rapaz.
As duas amigas então voltam seu olhar para o item magico, e de repente surge no porão da casa um buraco no ar de bordas cintilantes, de onde salta um goblin verde e de olhos vermelhos, carregando em suas costas um grande saco.
Ele olha para um lado, ele olha para outro, da uma risadinha e vai ate um canto onde tinham varias garrafas contendo aquele liquido negro estranho e borbulhante que Patrick tinha oferecido a elas. A criatura então abre uma delas e toma pelo gargalo, com uma grande expressão de felicidade, ao final soltando um sonoro arroto.
Sem se contentar, ele deixa o saco no chão, o abre e começa a colocar dentro dele as garrafas restantes. Ao final, satisfeito, salta novamente dentro do portal, que se fecha alguns segundos depois.
A imagem para nesse instante, e Patrick se põe em frente do item magico retangular.
- Esta criatura roubou todo meu estoque de Coca-cola que tinha acabado de comprar do Wal-Mart. E esta foi a terceira vez que ele faz isto, por isto que coloquei o item magico para gravar a sua ação ladinesca. Ele esta agindo em todo primeiro domingo do mês, e o próximo é justamente amanha!