Fantasmas

Aurora Serena prestou uma breve reverência de cabeça à líder da matilha e ao alpha da Seita, caminhando em silêncio para posicionar-se de forma adequada no grande salão. Dava cada passo encarando a plateia, ganhando a atenção dos presentes com seus olhos de um azul profundo, seus gestos leves e femininos.

- A verdadeira felicidade está na própria casa, entre as alegrias puras da família. - ao contrário do que os Garou que não a conheciam ainda poderiam esperar, a voz de Aurora Serena não era estridente, aguda e quase infantil. A voz da Galliard era macia. Como se pulasse dos sentidos diretamente para a mente. E se esfregasse na consciência como veludo, arranhando arrepios de dentro para fora em quem ouvia. Como um predador divertindo-se em atrair a presa para uma dança.

Citando Tolstói na abertura de seu discurso, a ruiva começou a andar lentamente, aproximando-se do novo integrante da matilha:

- Das terras ancestrais dos Presas de Prata, e através de milhares de milhas, por desígnio da Mãe trago diante do Avô em seu Caern de Sabedoria aquele que o Homem chamou Nikolayev, recebido pelo Falcão como Sangue-do-Dragão, nascido sob a Lua dos Guerreiros de Gaia sob o sangue nobre dos Presas de Prata, Defensor das Tradições. - a Galliard parou ao lado do Ahroun, fitando o Senhor da Montanha - Com a humildade dos que brilham na Glória, com a simplicidade dos que se revestem de Honra e com o acatamento dos que carregam as lições da Grande Sabedoria, buscamos o reconhecimento de tão justa Seita da posição deste Ahroun como membro da Aliança de Luna, para instrumentalizar as muitas ações da matilha em prol da Mãe.

Após uma curta mesura, a ruiva retomou a atenção da audiência, despindo a camisa xadrez azul marinho sobre verde floresta e erguendo a peça de roupa a frente em sua mão direita - para exibir as cores do tartan - e depois recolhendo a mão sobre o peito, de modo que a camisa tocasse cerimonialmente seu coração enquanto falava:

- Eu, Gwenhwyfar O'Dyna, Mestre de Cerimônias da Aliança de Luna, apresento este Garou diante da Seita. - em um gesto fluido, como quem já tivesse vestido um homem bem mais alto por muitas e muitas vezes, a ruiva colocou a camisa sobre os ombros de Nikolayev, piscando para ele em cumplicidade no processo, como se dissesse "respire, vai ficar tudo bem", e então virou-se novamente para o Senhor da Montanha - Eu, Aurora Serena, Galliard dos Menestréis Fianna, cennard da matilha de Valye-Garras-de-Luna, assumo responsabilidade pela instrução deste Garou quanto aos assuntos e costumes da Seita. - até ali, era procedimento padrão. Betas geralmente eram incumbidos de pajear os novatos, porque alfas tinham mais o que fazer. Mas a ruivinha ainda não havia acabado - Eu, a Herdeira de Diarmuid Ua Dhuibne, cubro Sangue-do-Dragão com o tartan e o Renome dos Campbell.

Aurora Serena então virou-se para Nikolayev. E sorriu, aquele sorriso tão típico dela, que parecia congelar o tempo no lugar:

- Que a Mãe e Dannu olhem por você, Sangue-do-Dragão, e o tartan dos Campbell guarde seu coração do mal. - ela sussurrou de forma suave, mas suficientemente audível para todos os presentes, tomando a mão do russo ao dar-lhe um beijo fraternal na bochecha para selar a Benção de Fada.

Talvez a maioria dos presentes não entendesse o que estava acontecendo. Mas os mais perceptivos e mais instruídos notariam que a Galliard não apresentou um sobrenome hominídeo para o Presas de Prata, não mencionou seu caern de origem e - acima de todas as coisas - havia coberto o homem no tartan de guerra de seu clã. Nada era mais simbólico para um Fianna do que isso. Aqueles entre os Senhores das Sombras presentes que tivessem planos para Nikolayev acabavam de encontrar um entrave: a Galliard de cabelos-de-fogo estava disposta a proteger o novo irmão.

A maior chance é que nem mesmo ele soubesse o que significava estar coberto pela azul marinho sobre verde floresta dos Campbell. Mas a Honra acompanhava a Linhagem de Diarmuid, e Aurora Serena - coroada em fogo com seus cabelos cascateando pelas costas - permanecia ali de pé, de mãos dadas com o Ahroun. Com uma irmã mais velha superprotetora.

A apresentação teve início. A voz doce de Gwen preencheu aquele casarão sombrio, sem vida e que cheirava a conspirações.

Gwenhwyfar escreveu:... Das terras ancestrais dos Presas de Prata, e através de milhares de milhas, por desígnio da Mãe trago diante do Avô em seu Caern de Sabedoria aquele que o Homem chamou Nikolayev...

Gwen havia poupado o sobrenome Tvarivich. Aquilo estava claro. Para Nikolayev foi um alívio, mas para aqueles ao seu redor, mesmo que eles ainda não tivessem feito as contas, significou um livramento. Tudo estaria em "paz" enquanto apenas que o alto escalão do Caern e a própria Aliança com Luna tivessem conhecimento de sua ascendência nobre.

A condução da cerimônia seguiu sob a maestria da Filha do Cervo. Durante a apresentação ela faz uma reivindicação um tanto ousada porém admiravel. A Galliard pediu que o Senhor da Montanha permitisse que aquele Ahroun passe a integrar a matilha Aliança com Luna. E antes que ele desse sua resposta, outra cerimônia aconteceu: a Fianna retirando a camisa xadrez azul marinho sobre verde floresta, veste sua cores sobre os ombros de Nikolayev, como uma dama vestindo a capa de seu cavaleiro.

Com aquele gesto Gwenhwyfar parecia assumir a responsabilidade da instrução de Niko naquela Seita. Ela finaliza a apresentação dele tomando-lhe a mão e o beijando a bochecha.

Nikolayev, mesmo corado pelo beijo permanece em silêncio. Porém, o silêncio finda quando ele dá um passo adiante. Ele olha para a mão que a ruiva ainda segurava e logo depois, sem larga-la, mira seu olhar para o 'Rei da Montanha'.

‘- Senhor da Montanha, eu, Sangue-do-Dragão não estou em posição de nada até o presente momento. Mas se me fosse oferecido o direito da escolha quanto ao meu destino, este seguiria o mesmo fluxo que o pedido da cerimonialista Aurora-Serena. Esta matilha me recebeu, depois me ofereceu abrigo e comida. Sinto que lhes devo gratidão. Honra e lealdade se pagam na mesma moeda.

O par de olhos azuis fitavam os olhos negros e taciturnos do velho Senhor da Montanha. Nikolayev o encarava com respeito e sem demonstrar temor frente aquele sombrio abismo enigmatico.

Nikolay, apesar da humilde e sempre esconder sua posição entre os Presas de Prata também era ingênuo. Ele acreditava que os trajes simples e a aparência desleixada ocultava o Falcão Real que ele era. E por mais disfarçada que a presença do Filho do Falcão estivesse, ainda sim era sentida como um calor de verão.

Suas palavras chamava a atenção de todos os presentes naquela escura e fria residência. Sempre que sua voz se fazia ouvir, era como um raio de luz espantando as trevas.  Ignorar sua raça pura e linhagem nobre estavam além de qualquer força de vontade. Sangue-do-Dragão era pura majestade e aqueles que se empenhavam em tentar ignorar aquele fato tinham tanto sucesso quanto um tolo que tentava ocultar o Sol com uma peneira.

Os Senhores das Sombras poderiam caminhar em maior número e serem os Reis daquela Montanha. Porém, por mas alta que fosse a sua montanha, ela jamais seria alta o suficiente para se equiparar ao Céu. Acima de suas cabeças sempre seriam Falcões como Niko quem sobrevoariam imponentes, reinando no firmamento sob a benção de Hélios e Luna.

Chegavam em um local que era extremamente confortável para Jack: Um caern sob a liderança dos senhores das sombras e sob uma alfa da mesma tribo, o ahroun não podia reclamar dos seus líderes, estavam em sua visão em boas e melhores mãos. Senhor da montanha pede que se iniciasse a apresentação formal aos moldes do protocolo garou e Dayenne gestualmente indica para Gwen fazer seu papel de cerimonialista. Jack estava na extema ponta, ao lado de Hanibal, como era de costume.

Gwenhyfar começa sua apresentação e Jack cruza os braços, sabendo que protocolo seguiria de maneira mais "poetizada". Ela vai soltando a propaganda do Presas de Prata, falando sobre sua terra, o buraco que tinha saído. Gwen declara que o mesmo já era membro da matilha, o que evidenciava que provavelmente correriam com eles, era o que Jack queria, um Presas de Prata correndo e entrando como peão de parte do seu plano de vingança.

Aí vem mais cerimônias e Jack observa a ruiva colocar um pano nas costas do ahroun, o "tartan" como ela disse, parecia que a ruiva queria proteger o mesmo, O ahroun estranha Gwen entrelaçando os dedos com o Presas de prata e ainda beijando o rosto do garou, era uma cena meio atípica para uma apresentação...Jack apenas pensa:

"Se um Presas de Prata ahroun precisa da proteção de uma Galliard fianna... deve ser fraco...Aparentemente disse que não busca poder, um Filho do Falcão humilde e que não quer o poder, deve ter vindo da China esse falsificado...Nunca vi falcão se esconder... E que gesto foi esse? Gwen dando beijinho no rosto e entrelaçando os dedos? "


Jack parava, olhava e nada fora dito sobre sua herança notável, sobre o caern que tinha saído, nenhuma dessas informações que normalmente eram faladas, Jack pensava se não era um erro não compartilhar tal informação, ainda mais numa apresentação formal.

"Do que o príncipe tem medo? qual o problema de anunciar o nome de sua família e de onde viera?"


Jack apenas olha de rabo de olho para o irmão, queria saber sua reação e pensamento sobre a cena que estavam vendo, queria entender qual era a do príncipe novato e a intimidade ali, no meio de uma apresentação, apenas confabulava em sua mente...

" É engraçado que a Purezinha parece ter gostado do filho do falcão... até a porra do pano ela colocou em seus ombros e ainda deu um beijo, não sei o que Valerie vai falar sobre... Se ele precisa da proteção dos Fiannas, então não deve ser forte o suficiente para se manter de pé, um ahroun que é "protegido" por uma galliard que nem é de sua própria tribo, deve ser fraco.


O Filho do Falcão havia chegado ao recinto dos Senhores das sombras, o covil da tempestade. Não adiantava tentar voar e planar, o falcão iria descobrir que ali o seu reinado equivalia a nada, e iria chorar quando começassem a ecoar pelas sombras o poderoso e imponente Estrondo do trovão, nem mesmo a luz do sol era párea para as nuvens da tempestade, ali era o apocalipse, e ninguém melhor que os senhores das sombras para entender o seu papel, liderar a nação que morria decadente por causa dos loucos presas de prata...

"Príncipe, príncipe...do tem medo se renega o próprio nome, própria família..."

O aval é dado por Valerie e Gwen tem carta branca pra começar sua apresentação. Cruza os braços e se mantém atento a tudo que era dito. A forma com que a Fianna apresentava o Presas de Pratas era interessante. Fazia ali um grande lobby de divulgação. Falava de pureza, de família, de alegria, tão entusiasmada, tão doce com uma voz macia.

"Eu devo estar no lugar errado ou eles não fazem ideia de onde estão pisando..."

Alegria, pureza e família para Hannibal era conto de Fadas. Até mesmo com seu irmão, não era tão família assim. Sangue, morte, desavenças, sacrifícios, dedo no cu e gritaria. Isso era realidade. Talvez Gwen devesse começar por essa linha de raciocínio ou então, infelizmente o Presas de Prata teria que descobrir o quanto poderia estar enganado com as noites de Bela-Noite. Não para com aquela Seita que já conhecia a realidade, mas para os que chegavam agora talvez fosse legal se iludir, mesmo que momentaneamente. Era como entrar num puteiro, beber, fumar, comer geral e no final descobrir que tem que pagar caro pela conta. A desilusão era grande e na maioria das vezes o preço das putas não valiam o que era cobrado, mas, quem era Hannibal pra alertar aquilo ali naquele momento? Era até divertido presenciar aquela cena onde Gwen cobria Nikolau com o "tartan" dos Campbell.

Nota que sua herança notável não é relevada e nem seu sobrenome. Hannibal sabia que era um princípe e nesse momento se pergunta o porque daquela ocultação? Se era membro da Aliança de Luna, óbvio que a Seita deveria já ter essa informação e gostaria de ver como a mesma reagiria. Era uma informação importante que eles deveriam ter conhecimento ou então não faria sentido mandarem um nobre Falcão de tão longe para a matilha. Em todo caso segue observando. Não poderia negar que a Galliard fazia seu trabalho com maestria. Belas palavras traçadas com gracejo, com pontualidade, com uma voz incrível. Nesse quesito ela estava de parabéns e não havia do que reclamar. Mas quando, Gwen se aproximou pegando em sua mão e lhe dando um beijo no rosto se perguntou o quanto a litânia estava segura.

"Começa com um beijo no rosto, depois na boca, no pescoço, e vai descendo, descendo... Ela é corajosa ou descontrolada de fazer isso aqui..."

O príncipe, cujo nome Sangue-do-Dragão estava claro vestia maltrapilhos. Não o culpava por suas vestes, mas deveria ter passado por maus bocados pra chegar naquela situação. Um príncipe em total decadência? Talvez. Deveria ter lá seu valor, mas ali? Talvez. Não dava pra medir ainda o quanto valia a pena gastar seus recursos ajudando aquele pobre coitado com uma coroa na cabeça. Eis então que com o beijinho doce de Gwen, o princípe fica corado. Hannibal não acredita muito naquilo. Quantos Garous do porte dele ficavam corados com um beijo no ROSTO?

"Talvez ele seja virgem, é a única explicação... pobre coitado, pobre coitado... Se com um beijo no rosto ficou todo coradinho, com o boquete de Sophia esse maluco aí vai entrar em êxtase profundo e não sair nunca mais!"

Queria dar risada, mas não podia. Os protocolos demandavam seriedade, tal seriedade era ofendida ao ver os dois de mãos dadas. As mãos dadas de Gwen e do príncipe representavam e simbolizavam muitas coisas. Proteção, união, irmandade, segurança. Porém os mais velhos e os mais conservadores poderiam ver como um casal, amantes, amor e a litânia em risco.

"Por essa eu não esperava... Eaí, Senhor-da-Montanha? O Senhor é liberal ou conservador?"

Pergunta para si imaginando qual a postura que a Seita adotaria diante daquela apresentação icônica. Olha de relance para Valerie, depois para Jack e volta a fitar a apresentação. As palavras de Nikolau eram fortes. Ecoavam por todo Caern. Era como um lampejo dos trovões, chamava a atenção. No entanto, ao refletir o início onde dizia que não estava posição de nada até o momento, que havia sido acolhido com abrigo e comida, que devia gratidão à Seita, e que lealdade e honra se pagavam na mesma moeda, Hannibal pensa...

"Humilde, mas idiota..."

Para Hannibal, o Presas de Pratas por ser um príncipe de herança notável dava seu primeiro passo com o pé esquerdo. Não apresentava quem era de verdade e por qual motivo? Impressionar? E desde quando Senhores das Sombras se impressionam com a verdade? Era com Senhores das Sombras que estavam lidando. Frios como o gelo. Intrépidos e ousados. Não se espantavam com a verdade, mas se escondido era uma ofensa. Era uma pena nicolau não perceber onde estava. Era melhor ter jogar as cartas na mesa. Era melhor ser honesto das duas formas, ser humilde e ser verdadeiro. Esconder quem era por puro orgulho era perigoso. Era uma pena... 

Era uma pena Nikoleyv se comportar como um cordeirinho num covil de lobos famintos.


"Olhar que Hannibal deu para Valerie e Jack."

"O que diabos Valerie está fazendo? ficou louca? Está diminuindo nosso nome por causa de uma apresentação!?

Prescrutando o perímetro com seu olhar analítico, as feições das pessoas se mostravam ao mesmo tempo curiosas e naturalmente intrigadas com a presença do príncipe e com a intimidade que a Fianna demonstrava com Sangue-do-Dragão, da mesma forma que o próprio Jack estava intrigado, trocando olhares com seu irmão e sua prima, pensando no que estava acontecendo, o porquê de toda aquela intimidade e proteção em alguém que normalmente fora feito para liderar e estava em um augúrio que não deveria precisar de zelo, sim proteger.


Valerie se expressa, pedindo desculpas, o que faz Jack pensar em atropelar sua prima e fazer com que ela se portasse dentro de um protocolo. Não sabia como tinha sido o treinamento da prima, nem mesmo do seu irmão, mas Cólera-das-Sombras fora instruído por sua professora, a Galliard Paola Bracho, com quem aprendera muito sobre etiqueta e sutileza, principalmente à nunca pedir desculpas, isso era coisa de quem assumiria estar errado, Presas de Prata normalmente estavam e por isso eram contestados na Realeza da nação e viviam pedindo desculpas, errando e liderando de forma ruim.

O sobrenome do príncipe era revelado e com isso, a omissão de Aurora-Serenade falar sobre sua herança notável acabara sendo em vão, o próprio líder do caern revelara para todos, fazendo com que a ciência da realeza fosse evidente, os olhares com certeza se ampliaram e praticamente Valerie ao falar de uma suposta transgressão da Litania, trouxera para a matilha olhares tendenciosos, Jack passava seu olhar com calma, mas era inteligente e incrivelmente malicioso e sabia que isso era um ponto negativo...

"Não aqui, sua idiota! Atrai desnecessariamente olhares..."

Jack para por um momento, e confabula em sua cabeça o que fazer, precisava além disso conversar com sua prima e seu irmão, o foco ´para ele era sua vingança e claro, ter moral com seus irmão de matilha, a melhor forma era apenas fazer com que gestos triviais permanecessem triviais. Assim o Senhor das Sombras, dá um passo a frente.

"Que comecem os jogos..."

Jack era extremamente forte, exalava uma fúria que pulsava em suas palavras de maneira firme e rígida, sua voz grave, parecia um grande ecoar de um trovão quando proferia suas palavras, tamanha era sua enorme raça pura. Seus cabelos eram negros como a escuridão, harmonizando completamente com seus olhos negros e fundos. Suas vestes esportivas  não o deixavam detentor de uma aparente riqueza, o que realmente não era, mas sua presença era algo influente, era um ahroun carismático, não tanto quanto os bardos, mas o suficiente para que um lua cheia da sua tribo, com sua raça pura e sua enorme fúria, mostrasse o quanto suas palavras e seu carisma eram agradáveis, era um guerreiro e como sempre os homens da guerra eram considerados em todas as tribos dentro da nação garou e Jack tinha um orgulho imenso, de ser Cólera-das-Sombras. Sua blusa preta em material sintético evidenciavam seu corpo que era esculpido por força bruta, sua calça preta apenas se juntava ao negro, se fosse um changeman, seria o grifo, sombrio sob as cores negras e extremamente combativo, Jack não pensava em liderar, pensava em sua vingança pessoal, mas para isso, não poderiam atrair problemas demais, nem imagem negativa. O trovão quando começava a ecoar no prenúncio da tempestade era escutado por todos, não diferente, era a hora do ecoar o som do trovão, através da voz do Smith mais novo.

Jack se aproxima de Nikolayev e fica entre ele, Gwenhyfar, Valerie e na visão de todos, assim começa a falar, de forma calma e firme:

- Irmãos e irmãs, cada vez mais fico encantado com as palavras que saem da boca de Aurora-Serena, fico até com ciúmes dessa recepção, espero poder encher de glórias, para ela poder cantar dessa forma os feitos da Aliança-de-Luna e claro os meus próprios. - Jack bate palmas para a apresentação, chamando a atenção para si.

Jack se aproxima de Aurora-Serena e coloca sua mão em seu ombro, o garou era bonito e carismático, dando um sorriso com um olhar penetrante. Logo Jack dá um beijo no rosto de Aurora-Serena, em seguida se projeta e beija a bochecha de sua prima e por fim termina beijando a bochecha do próprio Nikolayev.

-Recebo aqui meu novo irmão, com um gesto de carinho. Saúdo Aurora-Serena com um gesto de agradecimento por tal apresentação sublime em que faz seus ancestrais terem orgulho e claro, minha alfa que se preocupa em ser exemplo sempre e estar dentro de nossas leis, vocês desempenham muito bem os seus augúrios, o que faz ter orgulho imenso dessa matilha, um exemplo vivo de como recepcionamos bem e o quanto nos preocupamos com tudo. Vamos saudar Sangue-do-Dragão emitindo o uivo do Avô Trovão, AUUUUUUUHHHHHHH

Jack sempre andava em glabro, pois não tinha mudanças de aparência nessa forma (Glabro bonito), o que o fazia estar sempre em vantagem com mais força e velocidade, para competir era extremamente mais eficaz ter uma vantagem. Sendo assim, puxa um uivo de boas vindas para o Presas de Prata, chamando a atenção para si e tornando o gesto do beijo algo trivial e sem importância. Cólera-das-Sombras saúda o Senhor-da-Montanha com um acenar respeitoso e assim fala para o presas de prata:

- Fique à vontade irmão, será um prazer correr com você! Se me der licença, irei conversar alguns assuntos de família com Valerie, não demoramos... - Jack chama Hanibal com as mãos e conduz Valerie para conversarem a sós. - Ansioso para nos cobrirmos de glória e ver Aurora-Serena cantando com essa energia os feitos do Falcão! Enquanto converso, você se entretêm com as histórias de nossa Galliard, nem sentirá nossa ausência com tamanho talento...

Jack dá uma piscada para Aurora-Serena e indica com as mãos pra ela se aproximar do novato Presas de Prata, não o deixá-lo sozinho, e assim sorria, como se estivesse feliz, tentando transformar tudo em algo trivial.

"Um falcão no ninho do corvo... obviamente os anciões tem planos para ele, afinal, omite a herança, precisa de proteção e é uma figura controversa, se é um Presas de Prata que não procura poder, não demonstra que é da própria realeza e ainda por cima não fala de glórias como um ahroun, é preciso saber o porquê está aqui, mas até lá, vamos dançar conforme a música, se os anciões o receberam de braços abertos, tem algum motivo bem peculiar...

Quem se manifesta logo depois era sua prima. Pedia desculpas pelas insinuações de quebra de tradição da litânia. Por aquela definitivamente Hannibal não esperava. É claro que queria ver qual seria a posição do líder daquele Caern, mas o passo que sua prima dava era ousada. Expusera um defeito da matilha à troco de um erro. Era basicamente um erro se justificamento pelo outro com a exceção de que sua prima se adiantará nesse processo. Isso com certeza iria lhe cair sob a cabeça e fazer com que tivesse uma bela de uma enxaqueca. E por fim uma impressão óbvia constatada.

"É óbvio que ele já sabia... esconder isso é idiotice..."

E as palavras do Senhor da Montanha só comprovou o que Hannibal já sabia. Notou todos os murmurinhos e conversas paralelas que aconteceu durante o processo de apresentação e depois quem chama a atenção pedindo a palavra era seu irmão Jack.

"Que que esse idiota vai fazer..."

E daí começa a prestar atenção em tudo que seu irmão mais novo falava e fazia. Os beijos no rosto, as palavras, a postura.

"Por Gaia, agora vão banalizar o beijo como forma de postura corriqueira... puta que pariu..."

Hannibal entendia a estratégia de Jack, apesar de achar pouco eficaz. Era o tipo de situação que quanto mais mexia, mais fedia. Gwen errou, depois sua prima, depois seu irmão, um tentando consertar a porra da cagada do outro. Aquilo faz com que Hannibal suspira funda.

"Paciência é uma virtude..."

Tudo aquilo poderia ser evitado se desde o início os que estavam ali soubessem o que é certo e o que é errado em uma apresentação ou de certa forma, em uma cordialidade. O que passou longe, mas enfim, o leite já havia sido derramado e a matilha havia conquistado muito mais atenção do que já tinha. Já era falada, e agora com certeza seria mal falada, mas sabe como é, falem bem ou falem mal, mais falem de mim. Ainda era a importância daquela Seita. Hannibal não dá sequência no uivo de seu irmão. Não puxa porque se tinha alguém que tinha que fazer aquilo era a Galliard ou o líder da Seita. Se intrometer numa apresentação tradicional daquela forma não era honrado. Não considerava aquilo como uma amenização de situação. Se mantinha quieto e nas sombras assim como deveria ser um Senhor das Sombras. Nota que seu irmão chama para ir para um canto e fazendo o mesmo sinal para Valerie.

"E eles por acaso sabem se essa porra de apresentação já se encerrou?!"

Hannibal faz um sinal para seu irmão que já iria. Um sinal simples com a mão. Se mantém parado onde estava e quieto. Até que o Senhor da Montanha desse aval de liberação e de dispensa da matilha, se manteria quieto. Com certeza deveria ter mais coisa à ser dito pelo líder daquela Seita e sair para um diálogo particular não seria a melhor opção. Cautela nas ações diante dos olhos de todos era uma opção considerável. Aguardaria por fim ver o que seria, se estivessem dispensados, iria para onde seu irmão e Valerie estava, afinal tinha assuntos importantes à tratar. Caso contrário, aguardaria mais instruções sobre o que deveria vir para aquele Caern.

O Eremita havia se levantado para cumprimentar pessoalmente o novato!? Realmente aquela era uma recepção calorosa por parte do Senhor da Montanha e que deixava o recém-chegado bastante intrigado. Imediatamente, as memória de Nikolayev trouxeram-lhe as lembranças de um passado não muito distante dali:

MEMÓRIA DE NIKO:

Os conselhos de Andy não poderiam estar mais que certos. Nikolay estava testemunhando, mais uma vez e a contra gosto, os perigosos “sorrisos polidos”.

Diante daquilo, só restava ao Presa de Prata educadamente agradecer a hospitalidade do Senhor das Sombras. O Soberano ainda estava por lá quando o caçula dos Smiths entrou em cena, tentando colocar panos frios na situação que havia acabado de acontecer.  Jack tentava vender a ideia de que a atitude de Gwen, ao beijar o rosto de Niko, parecia algo comum naquela alcateia.

Como já foi dito anteriormente, o irmão mais novo de Hennibal se mostrava alguém desligado do mundo. Mas aquilo não era verdade. Jack não era desligado do mundo. Era desligado apenas das pessoas. O jovem Smith era do tipo que tratava pessoas como se estas fossem objetos. Só as dava atenção mediante a existência da necessidade de seu uso. Claramente, agora ele havia visto uma oportunidade de tirar proveito da “situação” em que sua prima e Gwen haviam se colocado involuntariamente. Valerie havia apenas tentado impedir que sua Beta não fosse mal interpretada, e a Beta, por ser uma alguém que não esconde afeto, havia aberto eu coração repleto de fraternidade em público.

Situações expostas, a cena seguiu com Cólera-Sombria distribuindo beijos e ao fim, puxando um uivo de boas-vindas que foi seguido pela própria Alfa. Porém, Nikolayev, e o próprio irmão de Jack, não acompanham o uivo. Niko não fazia ideia das motivações do Smith mais velho não acompanhar o uivo, talvez fosse a mesma do Presa de Prata, que entendia que a formalidade da situação demandava que os ritos deveriam ser respeitado até que estes fossem dados por finalizados. Aquele não era o momento certo. A quebra de protocolo logo no início não dava precedente para que também houvesse uma nova quebra próximo ao fim.

Niko seguiu em silencia até que a palavra final do Líder da Seita se fizesse ouvir. Há um ditado que diz: não se serve a sobremesa antes da retirada completa do prato principal.

"Vamos ver o que é agora..."

Nikolau e Gwen é chamado junto a si para conversar com augusto em seu escritório. Hannibal estava bem calado e esse era o segredo para evitar merdas para o momento. DIante das palavras de Augusto, fez um sinal para o Presas de Pratas e o Fianna e foi até o escritório. Ao chegar, cumprimentou Augusto, sorrindo e depois se manteve sério. Diante de tudo que havia acontecido fez muitas notas mentais e claro, havia curiosidade. 

- Cá estou...

Sorriu mais uma vez sendo simpático. Achou uma cadeira confortável. Sentou-se, cruzou as pernas e aguardou que seus irmãos viessem para que escutasse com calma o que augusto tinha a dizer.

"Humn... boa coisa talvez? Talvez..."

O Senhor da Montanha era arrastado por um vendaval de cenas que prosseguiam enquanto ele ainda tentava dar seguimento a cerimônia de apresentação de Nikolayev. Era uma verdadeira sucessão de interrupção. Uma após a outra. O Líder nem mesmo tinha tempo para expressar suas impressões quanto aquilo tudo. E pelo visto ele não se expressaria, deixaria a própria matilha tirar suas conclusões.

Educadamente, Augusto assiste tudo em silêncio. Após o "festival de beijos" e uivos de boas-vindas, a palavra finalmente lhe é devolvida. Então, o taciturno Lobo Negro dá um “tapa com luvas”, bem ao estilo Senhor das Sombras. Todos no mezanino riem daquela cena, mas Niko mantem o semblante austero. E finalmente, quando os últimos “burburinhos” de risos cessam, o Lorde da Montanha agradece a matilha por uma apresentação “memorável”.

Ironia? Talvez. Não se sabe ao certo. A única coisa dada como certo até então foram as atribuições entregues pelo Senhor das Sombras. Valerie foi informada que Presas Mortais estava a sua procura. Nikolayev, Gwenhwyfar e Hennibal foram convocados no escritório do Senhor da Montanha para uma reunião. Os demais teriam o tempo livre para fazer o que bem entendessem.

Terminado seu pronunciamento, o Líder se retira acompanhado de outro Garou.

A apresentação de Nikolayev finalmente estava terminada. Porém, ainda era possível sentir o clima dos muitos olhares e fofocas pairando no ar. Havia um clima pesado naquele ambiente. Algo que Niko não sabia explicar com palavras.

O Líder da Seita já havia sumido. Naquela altura ele já estaria em seu escritório, aguardando os três para iniciar a reunião em particular. Hanibal também partiu logo em seguida, sozinho e calado.

O Presa de Prata já havia retirado a camisa, ou melhor, o tartan com as cores do Clã Campbell dos ombros. Ela havia sido cuidadosamente dobrado e agora estava nas mãos do Tvarivich. O russo ainda estava próximo da ruiva.

‘- Sua performance foi simplesmente inesquecível, Lady O'Dyna. Não tenho palavras pra expressar minha gratidão por sua anunciação. Poderia lhe acompanhar até o escritório?’

Niko preferiu aguardar Gwen, não sabia onde especificamente ficava o escritório do Senhor das Sombras, mas aquilo não seria um problema. Não seria pois ao seu lado agora ele contava com ruiva. O nobre guerreiro tinha o apoio da barda, e ela o do guerreiro. Um estava sob os cuidados do outro dali pra frente. Nascia ali uma união pequena, porem, forte união entre o Clã Campbell e a Dinastia Tvarivich da Casa da Lua Crescente.

Loucura e perversão. Eram os únicos dois termos que Aurora Serena conhecia para explicar os últimos cinco minutos de comportamento dos Senhores das Sombras da Aliança de Luna. O cenário era tão surreal que a Galliard não reagiu. Permaneceu ali, de pé contra o escárnio e a maldade daqueles tupiniquins, com o semblante mais neutro que conseguiu apresentar. Era tudo uma performance, afinal. A postura ereta e relaxada de bailarina (ombros para baixo, cabeça alinhada, encaixe os quadris, Gwenhwyfar) destoava apenas dos olhos, que clareavam perigosamente com o humor que mudava.

Viu Hannibal adiantar-se em direção ao escritório do Senhor da Montanha. Não se deu ao trabalho de verificar o que os outros Senhores das Sombras da matilha faziam. Com o olhar, buscou Antonio Xavier, que até então havia sido um bom amigo para ela. Certamente o Theurge se sentiria ofendido pela declaração (incorreta) que fizeram a seu respeito: a quebra das Tradições de Gaia era um assunto bastante sensível para os Impuros. A ruiva buscava pelo Portador da Luz com os olhos, quando é interpelada por Nikolayev, com a camisa de Bedwyr tão bem dobrada nas mãos.

- Gwen. Para os amigos, apenas Gwen. - ela sorriu de forma simpática, ainda que menos luminosa do que costumava. Estava abalada pela traição de Dayenne, a quem até então considerava tanto. Não entendia o que poderia ter acometido a Philodox para agir daquela forma! Tomou o tartan dos Campbell de volta com gentileza, desdobrando a camisa e vestindo-a sem abotoar. Suspirou. Agora sim, sentia-se protegida de novo. - O escritório fica por aqui. Faço muito gosto na sua companhia, Nik... Niko. Desculpe. Se tivesse nascido nas Highlands, irmão, seria Nik com certeza. - a ruiva riu e puxou o Ahroun pela mão, soltando-o logo em seguida, caminhando de costas para encara-lo - Você vai gostar de Bela Noite, não se preocupe. Normalmente o clima é bastante amistoso. E será bom poder contar com mais um Ahroun. Luna sabe que nossa luta é inglória.

A Fianna rodopiou e parou ao lado do russo, passando a caminhar ao lado dele em direção ao escritório, falando sobre amenidades que pudessem distrair o novato dos fatos que tinha acabado de testemunhar.