O retorno para casa junto com Eldon e o rapaz havia me deixado com muitas perguntas e uma ansiedade crescente. O que eu havia dito me parecia bem real: algo estava chegando. Era como se a barragem de uma represa, após muitos anos enfraquecendo sob a pressão da água, estivesse nos momentos finais para quebrar e libertar todo o seu conteúdo em uma torrente violenta e devastadora.
Algo no meu sangue se agitava.
Não lembro quanto tempo havia passado no telhado. Tudo aquilo dito por Donovan sobre alinhamento, Sigil e sobre o dragão girava na minha cabeça. Mas eu não conseguia parar de pensar. Talvez ele estivesse certo, eu devesse me juntar a guarda e me preparar para o que quer que estivesse chegando.
- As coisas estão mudando, Arthyss.
O sapo azul me acompanhava desde aquele evento. O havia encontrado no meu quarto assim que cheguei após testemunhar o dragão no Pico. Tentei me livrar dele como um bicho qualquer mas descobri que não conseguia pois ele sempre voltava. Com o tempo me peguei conversando com ele e podia jurar que ele me entendia. Ele faz seu coachar esquisito, me olhando fixamente. Entendo que concorda comigo. E está assustado também.
Olho para o horizonte, levo minha mente de volta ao Pico do Dragão. Tento visuliar a lembrar daquele fatídico dia. Poderia algo mais impressionante acontecer?
Neste momento Aaron vê muito ao longe o que parecia ser uma revoada de pássaros, mas seria impossível para ele ver de tão longe. Eram muitos pontos voando em movimentos circulares no Pico do Dragão, ele tenta contar todos os pontos mas é em vão.
Eu pisco uma, duas, três vezes. Aquilo era impossível. Mesmo aquela distância, nem mesmo elfo poderia ver qualquer coisa. Pelo menos era o que eu achava.
- O que é isso? Não podem ser pássaros, o que diab...
Então vários riscos vermelhos e explosões pintam o céu agora já mais escuro. Uma agonia começa a tomar conta do peito do jovem feiticeiro. Ele começa a sentir seu corpo ser tomado por uma energia como se um relâmpago estivesse prestes a se soltar pelos seus dedos.
Era uma sensação como se algum selo fosse removido e seu poder fosse liberado. A consciência começa a se esvair do seu corpo, apenas o poder é sentido...
Meu peito parece que vai explodir. Eu me levanto, arfando, havia algo crescendo dentro de mim. Nunca havia sentido isso antes e a sensasão é de agonia pura. Eu me debato, soco o telhado. Talvez Willis estivesse ouvindo. Tento chamar por ele, mas nada sai da minha boca. Minha mente fica fica vazia, meus olhos se tornam brancos e sem pupilas. Eu me perco, como se estivesse voando em disparada no meio de uma violenta tempestade!
Um rugido toma seu pensamento, seus olhos se fecham o Dragão que ele havia visto aparece novamente ante seus olhos. Uma energia percorre o corpo de Aaron que não sente mais seu corpo encostar no telhado da casa.
Aaron sentia o seu corpo todo crescer suas veias queimavam era como se a qualquer momento ele pudesse explodir como um novo sol tamanho o calor que ele emanava. Então tudo para...
- ROAAAAAAAAAAAAAAAAAAARRRRRRRRRRR!!!!!!!! - eu começo a rugir, como um monstro. Era como se eu não existisse mais. Havia um dragão vivo dentro de mim e ele lutava para tomar o controle. Ouço o ribombar de milhares de trovões. Ouço o som de uma chuva furiosa. O bater de asas poderosas criando vento capaz de arrancar a casa inteira do lugar. Era poder, uma vez mais eu sentia poder verdadeiro explodindo dentro de mim.
Eu consego suportar? Ou vou morrer agora?
- Grrr..nã...NÃAAOOOOO!!!! EU NÃO VOU MORRER! EU POSSO CONTROLAR!!!
E finalmente tudo para, tão subitamente como havia começado. Estou ajoelhado, arfando. Deuses, o que aconteceu? O QUE FOI ISSO?!
Olho para o lado. Arthyss ainda me encarava. Me olhava fixamente e solene. De alguma forma, eu sabia que o que quer que os deuses estivessem planejando para mim, havia sido colocado em prática.
Eu não aguento, estou exausto. Meus olhos se fecham e eu apago.
[...]
- Parece que você está acordando Aaron.
Aaron abre os olhos e a luz o incomoda trazendo um pouco de dor.
- Onde estou?
- Na minha cama, no meu quarto na Coruja Cinzenta. Mas não aconteceu nada. Apenas que você ouviu o chamado de despertou todo o poder de sua herança.
Aaron agora percebe que está com as roupas que usava na noite anterior. De pé, próxima a um guarda roupas está a dona da taverna da cidade, a senhora Yelenna Dragonstar.
- Agora preciso que você se recomponha e venha comigo até a casa da milícia, algumas de suas perguntas serão respondidas.
Ele olha em volta e repara que ela tinha uma pintura na parede de um dragão pintado de cobre, mas não era qualquer dragão era o mesmo dragão que povoava os seus delírios. Era o dragão que ele havia visto.
Yellena caminha na direção da porta e quando toca a maçaneta ela olha para Aaron depois para a pintura e novamente para Aaron e diz:
- Este é Mohrven Escamas de Bronze... seu ancestral e meu patrono.
Se arrume e vá para a casa da milícia estaremos lhe esperando lá. Ela então sai deixando a porta do quarto aberta.
- Meu ancestral...? - eu digo lentamente.
Algo dentro de mim já sabia. O tempo todo. Mas ainda soava quase como um pecado pensar algo assim. Respiro fundo, era muito para se pensar e não havia tempo agora. Pego Arthyss e o guardo no bolso. Vou seguindo para a casa da milícia.