1. A chegada - Prólogo

Viu que o feito teve sucesso - em alguns pontos, mais para uns e menos para outros - mas ainda assim, era importante que estivessem iniciado uma conversa e lembrando de seu passado, assim como discutindo com os parceiros de outrora sobre o que haviam se tornado. Não lembrava muito das brincadeiras que fazia, as entendia sempre como um ponto de partida para algo em específico. Entendia seu propósito ali, desde que adquiriu certa consciência, como alguém que mediaria questões. Era bom nisso, já tinha sido testado e obtido sucesso em questões à respeito. Sorriu brevemente com os retornos que recebeu de cada um e logo, afastou-se do centro e sentou-se no banco de madeira vago e mais próximo.

Não demorou muito para que seus pensamentos se voltassem para o motivo real de terem sido reunidos ali. Poderia confessar de que estava um pouco ansioso para saber, deveria ser uma missão importante - não deveria ser para simples patrulhar a vila, considerando que outros também haviam sido chamados e boa parte daquelas pessoas ali reunidas tinham habilidades impressionantes. Apesar da importância da guarda da vila, aquelas habilidades não deveriam ser contidas em apartar brigas de bêbados, cobrar impostos ou o que quer que fosse.

Como sempre, quando se pegava a pensar mais profundamente em algo, dessa forma, se pegava coçando uma das presas com o dedo indicador. Não tinha uma presa grande, mas diferenciava-se claramente dos humanos - quando percebeu o que fazia, parou de repente e voltou sua atenção para as conversas do lugar - enquanto esperava Jordan, para que pudesse der mais detalhes da reunião - que certamente não tinha nada a ver com Arkus e um casamento com rãs.

Foi surpreendido e afastou-se um pouco - por reflexo de sua natureza e emendou, percebendo o que fazia, com um movimento rápido com as mãos, indicando o lugar, como que se fosse para dar mais espaço para que Sarah pudesse se sentar. Sorriu com o início da conversa e assentiu com as perguntas. Notou que após sua fala inicial, muitos pareciam se lembrar dele - apesar da maioria estar distante da vila na maior parte do tempo e claro, entendi muito bem o motivo.

- Não é muito difícil se esquecer disso, huh?

Apontou para suas presas e rosto no geral. Tinha uma ponta de piada autodepreciativa - era o único de sua meia raça na vila e talvez fosse sua principal característica - era o que mais chamava atenção, até pelo menos qualquer um o conhecer melhor, mas isso não parecia o afetar de nenhuma forma, pelo menos, não aparentemente. Ja'har mantinha um sorriso tranquilo em seu rosto. Após todas as perguntas de Sarah e até mesmo as desculpas no final, emendou.

- Eu acho que me lembro de todos. Uns mais detalhes, outros menos. Fiquei esse tempo todo com Arkus, sabe? Ele me fez aprender muitas coisas e para treinar a escrita eu escrevia sobre as pessoas da vila. Vocês foram para a igreja para serem ordenados, certo? Digo, você e Thomas. Como foi? Nunca saí da vila.

Não era algo que saísse falando para todos, mas era conhecimento público de que chegou bem jovem - então, tecnicamente já saiu da vila. Mas desde que chegou, não saiu mais e fosse essa a questão que o tinha deixado um pouco ansioso com a reunião. Poderia ser uma possibilidade de que essa saída acontecesse.

Ouviu Sarah - ele sempre acreditava que sua aparência fosse o principal fator para todos os demais, embora sabia que algumas pessoas quando o conheciam nutriam algum laço mínimo. Sentiu-se um pouco envergonhado por ter sugerido isso logo de cara, querendo ou não - era um julgamento do caráter de Sarah que não deveria ter feito, mas por fim - concordou com todas as palavras e assentiu brevemente com a cabeça.

- Arkus é complicado, mas é o melhor que me aconteceu.

Não acrescentou nada mais - mas as palavras tinham um peso e significado saindo assim, de maneira firme e direta. Não restavam explicações, mas emendou logo em seguida.

- Também quero saber do que se trata tudo isso. Fui chamado ontem. É quase como se por um acaso, eu não não devesse estar aqui com vocês.

Sorriu brevemente e a sala foi tomada pela presença de Donavan. Prestou atenção nas palavras ditas para cada um dos presentes até que chegou em sua vez. Recebeu uma revelação com relação aos que haviam o encontrado na estrada, completamente destruído - de corpo e alma. Isso tinha se mantido um segredo por tanto tempo, não era algo que buscava - mas sempre permeou seus pensamentos, queria agradecer pelo esforço e pela nova vida. Lembraria das palavras e das pessoas, quando tivesse tempo e a ocasião fosse adequada, iria se certificar de trocar algumas palavras com os três, eles mereciam saber o que se tornou a vida que salvaram naquele dia e se possível, em algum momento, gostaria de retribuir o favor.

Ouviu as palavras dos próximos até chegar em Eldon e estranhou o corte abrupto. Mestres são assim com seus discípulos, retomou com carinho a lembrança de Arkus - ficava sentado na mesa de seu salão por horas a fio até que as letras de qualquer palavra que estivesse aprendendo saíssem perfeitas, andava de um lado para o outro com balde e esfregão até que tudo brilhasse e qualquer outra atividade tinha o mesmo ou maior rigor. Só esperou que Eldon pudesse compreender da mesma forma e não se chatear com as palavras.

Por fim - chegou o motivo. Dragões, portais, seres malignos e dimensões paralelas. Era impossível. Óbvio, já tinha ouvido falar e já tinha lido sobre - mas a primeira menção já era absurda demais, dragões não existiam - ao mesmo tempo, era impossível que Donavan estivesse inventando essa história. Essas palavras caberiam melhor na boca de Ja'har, passando para frente um conto ou uma anedota em uma taverna lotada para ganhar algum dinheiro. Ouviu com atenção o que Donavan terminada de falar, ouviu Elric e por fim, ouviu o questionamento de Jordan.

Não respondeu, estava sem palavras - não sabia como acrescentar à discussão e duvidava de sua própria capacidade com relação o que seria pedido dele em breve.