O vento soprava lentamente, e os únicos sons que poderiam ser ouvidos eram o dos grilos, corujas e outras criaturas noturnas. O clima moderadamente frio e o céu parecia mais escuro do que o normal, sem estrelas visíveis, iluminado apenas pela grande lua cheia que ocasionalmente se escondia atrás de nuvens negras com formatos sombrios. Além da lua, a única fonte de iluminação no vasto terreno no meio do nada era uma pequena taverna.
O local era humilde e tinha uma atmosfera decadente, mas ainda assim era mais aconchegante que o lado de fora. Além disso, era a única pousada no caminho para a Vila de Baróvia, há algumas horas de distância. O cardápio não tinha muitas opções e o taverneiro de rosto cansado e mãos tremulas olhava para a janela desconfiado sempre que ouvia algum som estranho vindo do lado de fora, mesmo que fosse o som do crocitar de corvos.
Cardápio
Alho-poró cozido, caneca de cerveja escura (4 PC)
Mingau de trigo, caneca de cerveja (3 PC)
Não haviam muitos clientes na taverna e ao que tudo indicava, isso era normal. Entre os poucos presentes estavam um jovem humano vestido como artesão, um soldado humano de aparência desagradável, cabelos grisalhos, uma armadura de couro cravejada e um machado de batalha na cintura.
Porém, os clientes mais exóticos sem dúvida eram:
- Uma Elfa de longos cabelos ruivos:
Nos últimos nove anos, não havia um dia em que Lúnathêl não lembrasse da expressão fria e do abismo negro dos olhos da criatura pálida que ceifou a vida de sua irmã. A bela caçadora de cabelos negros com a qual a elfa ruiva cresceu caçando e se aventurando nas matas de Lloughy. Lúnathêl lembra-se como se tivesse sido ontem o dia em que teve de trazer sua irmã morta em seus braços para casa, e os olhos de sua mãe marejados de lágrimas. Lúnathêl não foi capaz de encarar os olhos de sua mãe, e soube naquele dia que não poderia mais fazê-lo... não até encontrar e destruir a criatura responsável por isso.
Lúnathêl se aventurou no mundo dos homens, buscou informações sobre quem ou o quê seria a criatura que tanta dor trouxe á sua família e acabou por descobrir: Mortos-Vivos, seres anti-naturais, normalmente criados através da maligna magia arcana que o Celestial caído Diafthorás ensinou ao seu povo eras atrás. Em suas buscas, ela descobriu que existiam diferentes variantes de mortos vivos, a maioria seres sem mente, criaturas cambaleantes que caíam facilmente ante seu arco. Não, a criatura que ela encontrou na floresta possuía um intelecto superior. Vampiros, assim era como os homens chamavam tais monstros. Criaturas noturnas que se alimentam do sangue dos vivos para sustentarem sua existência eterna, e o criador dessas criaturas outrora foi um herói bastante conhecido, tanto pelos humanos como pelos Elfos Silvestres. Lorde Vlad Dracullis DeMollay, outrora Arquimestre da Ordem do Dragão que caiu em desgraça.
Lúnathêl descobriu que o maldito mestre dos vampiros residia em um castelo próximo à vila de Baróvia, e ela jurou para si mesma que não descansaria enquanto ela ou o monstro não fossem mortos.
- Um anão cinzento de armadura brilhante:
Dalnur sentia-se deslocado neste lugar. Os olhos dos homens sempre viravam-se para ele quando adentrava a taverna, como se fosse um orc de armas em punho, mas o Duergar não podia culpá-los, ele conhecia em sua própria pele (literalmente) o quão cruéis poderiam ser seus "irmãos" de raça.
Dalnur vinha com um propósito, guiado pelo próprio An'tè, que apareceu a ele em um sonho, novamente em uma forma flamejante, cujas chamas traziam esperança e o acalmavam. A forma de luz e chamas lhe dava um sinal, e Dalnur tinha a súbita visão do primeiro Arquimestre de sua Ordem, Lorde Vlad Dracullis.
Inicialmente um homem que emanava uma aura de luz, um cavaleiro branco, então a figura se transformava em um homem pálido, envolto em trevas.
Como se soubesse que estava sendo vigiado, os olhos do vampiro viram-se para Dalnur, e com um aceno, o anão sentia uma dor excruciante e a visão se desvanecia. Então An'tè surgia novamente:
- Dalnur, você foi escolhido para findar o reinado cruel daquele que já foi um de meus maiores servos. No castelo de Ravenloft a criatura reside. Porém, lá também está o que necessitas para derrotá-lo. O que procuras está em um local de altura vertiginosa, que todos abominam alcançar. A entrada dos ventos sempre o percorrem e as pedras choram lá. Porém, existe uma influência muito boa ali, uma luz nas trevas. Se você estiver lá, os poderes do bem o ajudarão! Não se preocupe, você não estará sozinho. No caminho, aliados improváveis se unirão à sua causa.
E assim, Dalnur acordava e contava sua visão a Jorge, o atual Arquimestre da Ordem, que interpretava os sinais como uma escolha divina, então enviava o Duergar para Baróvia.
- Um anão guerreiro de cabelo e barba negros:
Enquanto bebia, Zoltan se perguntava se sua esposa e filhos ainda estariam vivos. A cidade fortaleza dos anões era impenetrável por fora, protegida por vastas cadeias de montanhas e das invencíveis falanges blindadas dos anões guerreiros ao qual Zoltan fazia parte. Nem mesmo os orcs da Selva Cachamat haviam conseguido tal feito, mas a invasão fora interna. Enquanto combatiam do lado de fora para manterem o reino seguro, a fortaleza enãnica foi invadida por inimigos há muito esquecidos, que cavaram túneis dentro da rocha e levaram consigo muitos cativos.
Nos últimos tempos, Zoltan tem caçado e matado as criaturas que invadiram a fortaleza, mas nenhum sinal de sua família. Isso mudou na última semana, quando atacou de surpresa um pequeno grupo de Drows escravistas. Antes de morrer, o último Drow lhe deu descrições precisas sobre escravos que batiam com sua esposa e filhos. Porém, há alguns dias eles haviam vendido estes escravos para um Lorde que residia em um castelo no topo de uma montanha, próximo à vila de Baróvia. O Drow não deu mais descrições sobre o tal lorde ou por quê ele desejava comprar escravos anões, apenas riu sadicamente antes de morrer, como se já soubesse que seria vingado após a morte.
A esperança de reencontrar seus entes queridos voltou a Zoltan, mas ao adentrar estas terras esquecidas e nebulosas, ele ainda orava para que An'tè mantivesse sua família viva até que Zoltan enfiasse seu machado no peito do lorde do castelo.
- Um meio-elfo de cabelos louros:
Por longos dias, Loriel tem vagado pelo mundo dos homens, em busca de aventuras e oportunidades de testar suas habilidades, assim como evoluí-las. Em suas viagens ele descobriu o mundo além da redoma dourada de Avalonne, um mundo de perigos espreitando nas sombras de cada esquina, mas também de maravilhas mais simples do que as conhecidas por ele no Vale Rhawe, como humanos com pouco mais do que as roupas do corpo e uma pequena casa, na qual precisam trabalhar duramente no campo todos os dias para alimentar sua família, mas ainda assim encontravam alegria nas pequenas coisas da vida, como acolherem um meio-elfo perdido, ofereceram-lhe a pouca comida que lhes sobrava e orarem a An'tè por terem tido a oportunidade de ajudarem este viajante.
Por vezes, Loriel se encontrou com exemplares menos humildes e bondosos que a família de camponeses, como ladrões de estrada e traficantes de escravos que erroneamente o viram como um alvo fácil. Mas sem dúvida alguma, o encontro mais estranho que teve foi com um mendigo há alguns dias.
Ao ver o velho mendigo, Loriel não hesitou em dar-lhe uma porção de suas rações de viagem, no que o velho lhe agradeceu. Porém, enquanto Loriel se afastava, este o puxou pela capa:
- Jovem andarilho, seus talentos seriam úteis a leste daqui. Na vila de Baróvia, um senhor maligno aterroriza famílias inteiras, e precisa ser detido. Lembre-se, o objeto que lhe ajudará a vencê-lo está no local da mãe. A espada é uma sombra escura do mal que cobre esse lugar. Você luta debaixo dessa influência lá!
Confuso, Loriel pergunta ao mendigo sobre o que ele estava falando, e ele aponta para o horizonte, em direção ao Leste. Loriel vira-se para olhar, mas não entende sobre o que o velho falava, e assim que vira-se para perguntar a ele, o mendigo simplesmente havia sumido.
O encontro foi confuso, mas Loriel estava disposto a descobrir se havia sido apenas fruto de sua imaginação, e sem nada melhor para fazer, decidiu seguir a direção dada pelo misterioso homem.
- Um humano com armadura típica de um guardião do templo:
Enquanto observava o fundo do copo, Saarth lembrava-se dos motivos que o levaram até este lugar desolado. Criado em uma humilde vila próxima a Tawic (também conhecida como a cidade dos ladrões), o jovem Abreu demonstrou desde cedo uma conexão com o sagrado.
Saarth foi então enviado para ser ensinado nos ofícios da Igreja de Tawic, pelo Bispo local, Aerin Vittal.
Aerin foi um grande professor e Saarth aprendeu muito com ele, mas enquanto crescia, o jovem clérigo não entendia algumas coisas. A cidade de Tawic era assolada pela desigualdade social (enquanto o rei vivia em todo o conforto do palácio, a população local vivia em miséria, em meio ao crime organizado, sendo vítimas de sequestro por piratas e tornando-se viciadas nas substâncias entorpecentes que eles traziam do outro lado do oceano. Aerin por vezes deixava a paróquia para dialogar com o rei, mas como um representante da igreja, por que Aerin não utilizava sua influência para fazer com que o rei se importasse mais com a população?
Ao ser questionado pelo jovem discípulo, Aerin apenas dizia:
- Acalme-se Saarth. A vida não é tão simples como pode parecer dentro dos muros da igreja. As relações entre a família Navarro e a Igreja estão por um fio. O Rei vem podando cada vez mais a influência da igreja na cidade, e a mente dele é como a de uma criança que não gosta de ser contrariada. Precisamos calcular nossos movimentos, ou ele acabará cortando relações com a igreja e nos expulsando daqui. Consegue imaginar o que seria dessas pobres almas da cidade sem a Igreja para acalentar seus espíritos?
Isso não era o suficiente para Saarth, e a cada dia mais ele chegava à conclusão que o Bispo na melhor das hipóteses era um covarde, e na pior, estava se corrompendo. Tudo parecia se confirmar quando ele descobriu acidentalmente que o Bispo estava abrigando dentro da igreja criminosos procurados por sequestro, assassinato e tortura. Sem pensar duas vezes, Saarth decidiu que um Bispo corrupto manchava a imagem da Igreja e o entregou para as autoridades, sendo então enviado para uma terra de pesadelos...
Os dias passavam e Saarth perdia cada vez mais a fé na Igreja... e em si mesmo. As provações que enfrentava ao lado da Ordem do Dragão não eram o que esperava quando decidiu se tornar um clérigo, e seu castelo de cartas veio a desabar com aquela missão suicida com a qual foram incumbidos pelo senhor da cidade próxima. Era a esse papel que eles haviam sido delegados, pouco mais que mercenários que eram forçados a acatar as ordens de qualquer louco que nem ao menos fazia parte da hierarquia da igreja?!
Inconformado, Saarth parte com seus homens para dentro da floresta, e os poucos sobreviventes jamais esqueceriam os horrores que viram lá dentro.
Abreu foi então acometido por uma ira vinda do âmago de sua alma e ordenou o incêndio da floresta onde residiam aquelas bestas malignas, sem se importar se houvessem mais "reféns" ou outrem no caminho, e abandonou seu posto.
Nos meses seguintes, Saarth não sentia mais a presença divina à sua volta e nem era capaz de realizar mais milagres. Ele decidiu esquecer seu passado e viver uma vida pacata como um camponês. Essa vida era dura, mas Saarth pensou que isso pudesse ajudá-lo a pagar por seus pecados. Infelizmente ele estava errado, não havia uma única noite que ele não tinha pesadelos daquela maldita expedição, ou de que sua alma era mandada ao Abismo pelo que fez em seguida.
O ex-clérigo pôde perceber a falta que a igreja fazia na vida dos humildes habitantes trabalhadores da lavoura. Sem uma igreja próxima, os cansados homens pareciam não possuir mais o brilho da vida em seus olhos, e com o tempo, deixavam de acreditar que o futuro poderia lhes trazer recompensas por seus pesados trabalhos terrenos. Partos eram realizados pelos próprios aldeões e o índice de mortalidade das mães e filhos era grande. Ferimentos de trabalho eram fatais sem um clérigo para cura-los, e muitos terminavam por se suicidar ao verem seus entes queridos morrerem, sem o consolo espiritual que um clérigo poderia fornecer.
Com o tempo, o brilho nos olhos de Saarth também ia desaparecendo e a culpa ia crescendo sobre ele como uma grande sombra, noite após noite. Isso perdurou até um estranho dia nublado em que um mendigo surgiu, aparentemente perdido próximo a seu local de trabalho.
O velho homem lhe implorou por um pouco de comida, e Saarth a forneceu ao velho cansado. Após se alimentar, o velho agradeceu e lhe disse para que não perdesse as esperanças, pois Saarth havia sido destinado a ser um homem santo. Ao ser perguntado como ele sabia o nome de Saarth, o velho apenas responde:
- Ah, as ironias da vida. Você vê estas famílias desesperadas? Elas precisam de alguém como você, mas antes de ajudar a elas, você precisa reencontrar a si mesmo. Procure o Clérigo da igreja na cidade mais próxima a Leste daqui! - Então apontava para o horizonte.
Quando Saarth virava-se para interrogar o velho, ele já não estava mais lá...
Abreu decide seguir em direção á cidade indicada pelo velho e lá encontra uma humilde igreja, com um único Clérigo, e decide confessar-se a ele. Ao descobrir quem era Saarth, ele lhe diz algo que faz seu sangue gelar. Há anos atrás, na cidade de Tawic, o Bispo Aerin tentava manter a pouca influencia que a igreja ainda tinha, ao mesmo tempo em que dava abrigo a um grupo de jovens aventureiros que combatiam a guilda dos ladrões e haviam descoberto que elas tinham relação com grandes figuras da cidade, incluindo o próprio Rei. O Rei então decidiu culpá-los por diversos crimes falsos e quando Saarth denunciou o Bispo, este foi preso e posteriormente expulso da cidade, sendo assassinado no caminho por bandoleiros, que muitos acreditam ter sido enviados pelo próprio rei.
O coração de Saarth pesava ao ouvir tais palavras e ele implorava pelo perdão de An'tè. O Clérigo diz que antes de receber o perdão de An'tè, ele precisa perdoar a si mesmo. Além disso, ao ser expulso de Tawic, o Bispo Vittal seria enviado para a vila de Baróvia, para auxiliar espiritualmente aquela população sofrida. O Clérigo então dá a Saarth a penitência de seguir até Baróvia e lutar contra as sombras que lá residem.
Após o ato de contrição, Saarth pôde sentir algo que não havia sentido há tempos, esperança. Não, não apenas esperança, mas uma energia acalentadora em seu coração que não sentia há anos. Subitamente ele percebeu que novamente era capaz de fazer milagres e antes mesmo de deixar o confessionário teve uma visão:
O Próprio Aerin Vittal surgia à sua frente, dizendo que o perdoava. Além disso, ele também falava frases aparentemente sem conexão:
- Apenas a luz pode combater as trevas. Procure-a. Ela está com um velho príncipe caído. O irmão do escuro é a luz, cujos restos descansam neste lugar. A arma sustenta sua força lá, mas prende sua vitória, tomando mais tempo do que caso contrário tomaria.
Então Saarth voltava a si e sabia que havia recebido uma segunda chance, e uma missão esperava por ele em Baróvia.
OFF: Podem interagir entre si e com o ambiente como desejarem.