- Fala
“Pensamento”
***
~ Eyvon tinha dezesseis anos. Havia passado os últimos quatro servindo como escudeiro na Casa Drinkwater. O Lorde Dyeend havia concordado com o envio do jovem, à pedido de seu pai, para que alianças militares fossem estabelecidas e o primeiro passo foi a de que ambas as Casas trocassem entre si os jovens filhos de Espadas Juramentadas.
Sua estadia lá teve altos e baixos, porém, prestes a se tornar Cavaleiro, Eyvon era enviado de volta à Fortaleza Dyeend, por desejo de seu próprio pai, que tinha o interesse em fazer os ritos para o filho virar Cavaleiro.
Pai e filho não eram próximos e mesmo a morte da mãe de Eyvon, não os fez ficarem mais juntos. Ainda assim, Eyvon tinha o pai em alta consideração, muito por conta da admiração, ainda de quando era criança, por ver o pai empunhar espada e ser alguém importante dentro da Casa Dyeend.
Alguns dias após retornar, Eyvon estava no estábulo, junto com seu pai, cuidando de seus cavalos. ~
-- Pai…?
- … - o homem nada diz, apenas para de escovar o cavalo que estava à sua frente e vira o rosto em direção a um jovem Eyvon, que por sua vez, baixa o olhar. -
- Eu… ~ ele engasga antes mesmo de conseguir continuar, como se o simples olhar do homem que chamava de pai o intimidasse. Ele para, recupera-se e continua. - Enquanto estive com os Drinkwater, como escudeiro, eles me chamavam de… - novamente parou, mas dessa vez ergueu os olhos. O pai o encarava com um semblante frio. - me chamavam de mestiço. Eyvon, o mestiço. Mesticinho. Essas coisas… ~ O pai seguiu encarando, sem esboçar qualquer reação. - Eu disse a eles que nasci aqui. Que cresci perto do Torentine, mas simplesmente ignoravam isso. Disseram que nem mesmo meu nome era dornês. Quanto mais eu falava, mais eles me provocavam… - o pai largou a escova e virou-se completamente para o filho. -
- Fizeram isso porque encontraram sua fraqueza. Por que você deu a eles o caminho para o atacarem. - O homem alto e de porte físico muito avantajado foi aproximando-se de Eyvon. - Somos de uma linhagem de soldados, guerreiros e cavaleiros. Não damos armas ao inimigo.
~ Eyvon baixou novamente os olhos. Nunca havia conseguido encarar por muito tempo o próprio pai. Tinha por ele o respeito. Mas também o temia. ~
- Se isso é algo que o incomoda - o homem olhou por alguns segundos para o nada, ao longe, antes de continuar. - Vim de um lugar chamado Vilavelha, para servir o Lorde Dyeend, muitos anos antes de você nascer, diferente de sua mãe, que nasceu, viveu e morreu aqui. O sangue de meus antepassados correm em suas veias tanto quanto o sangue dos antepassados de sua mãe, Eyvon. - Aquele era um momento raro, afinal, o pai nunca falava sobre seu passado. - O seu nome é uma lembrança em homenagem ao meu avô, um grande cavaleiro em sua época. Tenha orgulho desse nome que você carrega. Tenha orgulho da Terra onde nasceu. Da sua origem. De quem você é. Não deixe que os outros o façam ser menos do que você é apenas pelo lugar onde nasceu.
~ Semanas depois, o jovem Eyvon era feito Cavaleiro pelo próprio pai, jurando sua espada à Casa Dyeend. ~
~ Após a breve conversa com a jovem Violet, e ao questionar sobre Sor Arn, Eyvon permaneceu alguns segundos pensativos. Não imaginava que Lady Yessenya expulsaria Sor Arn da comitiva de Dorne, ainda mais levando em conta todos os anos de serviços prestados pelo Cavaleiro, mas tal ação extrema certamente teria seus motivos. De toda forma, não queria pensar nisso naquele momento. Se alguém poderia lhe esclarecer aquilo, seria Lady Yessenya, quem ele estava determinado a encontrar e convencê-la de retornar à Dorne. Seu olhar introspectivo voltou a si, e mais uma vez, fez uma breve reverência e despediu-se de Violet. ~
~ Ao sair da tenda, Eyvon retornou aos seus aposentos, banhou-se e colocou suas vestes simples. Deixou a espada embainhada e presa à sua cintura. Queria ver tão logo quanto possível Lady Yessenya e, assim que saiu dali, viu Querellon, que o procurava. ~
Xafic Zahi escreveu:
- Vejo que está se recuperando - Comentaria, caso o encontrasse fora da cama - Hoje pela manhã conversei com Lady Y. sobre uma nova abordagem ao garoto Edric. - O meistre se sentou em uma das cadeiras ou caixotes livres - Estamos tentando uma abordagem diferente da anterior. Com a prisão de Sor Arn, acredito que o Sor será selecionado para isso.
- Prisão? Achei que Lady Yessenya o havia expulsado da comitiva. Ela o prendeu porquê, Meistre? - Eyvon falou em um tom um tanto quanto inquisidor, afinal, não imaginava os motivos que levariam a Lady a prender uma das Espadas Juramentadas da Casa. O que teria acontecido de tão grave nos dias em que estivera preso? ~