Aisha
Perto do bangalô, a pequena theurge encontrou tudo o que precisava para iniciar os cuidados com a saúde material da árvore. Encontrar os materiais ali indicava que alguém, no passado, havia assumido aquele papel, mas não o desempenhava mais.
Aisha passou algumas horas percorrendo os principais pontos da área do caern que estava sob sua responsabilidade, a fim de criar uma rede de vigilância.
Alguns espíritos já estavam despertos, indicando coincidência entre ponto escolhido pela theurge e o ponto escolhido pela matilha que cuidava do lugar anteriormente. Entre esses, aqueles que estavam mais adentrados na mata eram fortes e ainda se recordavam do compromisso assumido com Potira, Miraci ou Moacir, bastando que Aisha se apresentasse para estabelecer um vínculo entre ela e o espírito. Embora a theurge não tenha enfrentado dificuldades atípicas, foi uma atividade trabalhosa e cansativa, mas que certamente reforçou a segurança da região.
Com o trabalho pesado finalizado, Aisha caminou até a cachoeira e, chengando no local, ainda sem atravessar para o outro lado, conseguiu ouvir a risada sapeca da criança que representava o espírito daquela queda d'água.
OFF: A manhã está terminando e, caso decida passar as próximas horas no caern, não será possível pegar o ônibus para escola.
Helena
César expressou surpresa nos olhos quando Helena tirou o capacete. Certamente, não esperava ver a filodox ali, em cima da motocicleta. Piscou um dos olhos para a garota e a envolveu em um abraço apertado. O olfato da garou foi invadido por uma fragrância ácida e adocicada, uma mistura que evocava prazer e instinto selvagem.
"Gostou?", perguntei, desmontando da moto e me sentindo um pouco rebelde"
- Não - deu risada da própria sinceridade e se curvou ligeiramente para inspecionar a parte de trás da moto, e talvez também para olhar algo mais - Não combina com você. Você não comprou...comprou?
Era evidente a dualidade de César: sua postura, vestimenta e perfume expressavam poder e controle, mas seu olhar era leve e suas palavras suaves. Talvez ser um lobo em pele de cordeiro fosse sua forma de viver entre os garou.
"Vamos tomar café juntos?", era mais uma confirmação do que uma pergunta, acompanhada de um sorriso travesso. "Precisamos conversar sobre as últimas notícias", acrescentei, sussurrando como se fosse um segredo, embora meu sorriso ainda estivesse presente."
- Claro, como posso recusar? Mas não temos uma cafeteria na cidade e a padaria é muito impessoal. Então... - desviou o olhar para a porta do prédio - Vamos subir?
Para uma pequena cidade do interior, o prédio comercial chamava a atenção. Era o único com mais de 8 andares, mesmo que um decreto municipal tivesse imposto aos proprietários uma limitação administrativa de no máximo 5 andares. Os mais atentos sabiam que a mera altura da construção era uma demonstração do poder político da família Fontelles.
Mesmo sendo íntimos, César se comportava como um cavalheiro. Abriu a porta do prédio para Helena e a deixou entrar primeiro, e fez o mesmo com a porta seguinte e com a do elevador.
- Mais perto do céu e com olhar panorâmico para o horizonte - Disse sorridente quando saíram na cobertura do prédio.