Retornar para o mundo físico não foi tão agradável quanto a ida à penumbra. Durante um breve instante o corpo dos garou ficou paralisado, enquanto a mente confrontava a mudança. A sensação de pressão durou alguns segundos a mais compara da última vez. Porém, Aisha novamente teve sucesso em fazer a travessia com a matilha.
A serra se mostrou maior do que os recém chegados podiam imaginar. Quando a área do bangalô foi deixada e a matilha adentrou a mata, perceberam a facilidade para se perder no ambiente. O cenário não era favorável para aqueles que desconheciam a região. Além da escuridão total, típica das noites de lua nova, a alta densidade de árvores, com galhos longos e pontudos e a ausência de qualquer trilha que indicasse o caminho, podia preocupar o grupo em um primeiro momento.
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Uma vez mata adentro, a mente perspicaz da galliard se mostrou valiosa para encontrar as direções e comprovou que sua sagacidade também tinha utilidade naquele ambiente selvagem. Depois de alguns quilômetros, quando se encontravam na metade do caminho, a mata fechada não permitiu enxergar o outro lado e nem mesmo o céu, devido a quantidade de árvores e galhos. Nessa ocasião, a Portadora tomou a dianteira, pois espíritos despertos do caern sussurravam orientações no ouvido da theurge, permitindo que ela terminasse de guiar a matilha entre as trevas. Ocorre que ao atravessarem a mata, perceberam que estavam apenas em quatro. Mariele, que seguia em último, havia sumido. Tiveram que retornar o caminho feito e resgatar a Presas de Prata, que em algum momento do percurso se perdeu do grupo. Thea e Aisha, em igualdade, fizeram a matilha encontrar com sucesso a Área de Assembleia, que se localizava em uma clareira. Porém, em virtude do contratempo, foram a última matilha a chegar.
Ao se aproximarem da referida área, uma matilha estava posicionada em uma elevação do terreno, e não se mostrou constrangida em encarar os atrasados.
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Uma vez dentro da clareira, perceberam que o chão era úmido e barroso, característico do terreno que sofre com alagamentos durante a época de grandes chuvas. Diversos parentes se encontravam ali. Alguns mais perto do lago, em frente de atabaques de couro, e outros à distância, apoiados nas árvores. Mas todos olharam para o grupo retardatário que chegava. Olhares especiais foram destinados à Mariele, seguidos de sussurros. Foi visto um rapaz por volta dos 17 anos de idade fazendo reverência em tom de chacota e abrir um sorriso.
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- Espero que o sinal tenha ficado bom - Um homem na casa dos 30 anos de idade se aproximou e falou à Thea. Suas roupas e a aparência oriental contrastavam naquele meio.
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Foram as única palavra que tiveram tempo para ser dirigia à matilha, vez que, poucos segundos depois, adentrou a área os garou que estavam de vigia. Todos em forma hominídea, foi requisitado às pressas que um meio círculo fosse formado. Houve determinação que Alec tomasse a posição de uma das pontas. Na outra, ficou uma mulher adulta e loira, que embora vestisse roupas comuns, tinha uma aparência selvagem. Entre ambos, havia a abertura para entrada e saída da clareira.
- Estão todos aqui, então não tem vigia lá fora. Presta atenção. Se algo entrar, ataca! - A voz de Lýssa Fúria-da-Deusa era assertiva e soava como uma ordem ao Fianna.
- Lýssa Fúria-da-Deusa:
Com o meio círculo formado, os parentes que estavam em volta do lago começaram a tocar levemente os atabaques, mas em ritmo firme. Uma mulher alta, de cabelos brancos e tatuagem tribal, que posteriormente a matilha viria a conhecer como Pedra-Molhada, se dirigiu até o centro e deu início à uma flauta de madeira.
- Pedra-Molhada:
A melodia do instrumento tinha um som sinistro, até então desconhecido pelos recém chegados, e invocava dentro deles uma sensação primitiva, de desespero, mas também de esperança, de medo, mas também de sobrevivência. O coração acelerou, as pernas e pés tremeram, as mãos ficaram molhadas e os olhos vidrados. Somente se deram conta que a sensação era partilhada por todos quando os uivos tiveram início. O som emitido pelos garou transbordava a confusão de sentimentos provocados pela melodia da flauta.
- Spoiler:
(aqueles que não quiserem se unir ao coro de uivos, deve fazer um teste de força de vontade).
Quando o som da flauta cessou e os uivos pararam, duas jovens de pele negra continuaram. A primeira tinha um rosto sério, mas sem perder a delicadeza da juventude, usava tranças e tinha os olhos atentos. A outra, usava dread e era detentora de uma fisionomia de traços arredondados, transmitindo uma uma imagem mais infantil. Ambas as galliard estavam em uma disputa pessoal, mas o uivo da segunda foi o mais duradouro, e, quando se encerrou, Pedra-Molhada tomou o centro.
- Miranda Canta-com-o-Vento:
- Teçá Olhos-Atentos:
- Água e vento, nós lhes damos boas-vindas. Céus e escuridão, nós ficamos gratos pela proteção. Os rios que fluem ao nosso redor nos mantêm a salvo e escondidos. Nós damos nossas lágrimas e sofrimentos à água para guardar nossos segredos, nossos sonhos e esperanças - Pedra-Molhada retirou da cintura uma adaga lâmina era de ossos e, a empunhadura, coberta por tiras de couro (quem quiser tentar adivinhar qual adaga é, faz um teste de inteligência + rituais).
De frente para o lago, a Theurge ergueu a adaga e proferiu:
- Eu sou aquela que molha a pedra e compartilho minha dor e sacrifício. Solicito a sua afirmação e presença nessa reunião - As palavras foram seguidas de um corte na mão direita e gotas de sangue caíram na água.
Pedra molhada caminhou em direção a um senhor indígena de idade lhe entregou a adaga. O ancião, sem camisa, com o rosto pintado e um grande cocar enfeitando a cabeça, foi em frente ao lago e declarou:
- Eu sou a sombra da castanheira e compartilho minha dor e sacrifício. Solicito a sua afirmação e presença nessa reunião - O gesto anterior foi repetido e sangue gotejou na água.
- Sombra-da-Castanheira:
O ancião caminhou até Potira Cura-da-Água e entregou a adaga. A uktena repetiu o gesto de seus antecessores.
- Eu sou aquela que cura a água e compartilho minha dor e sacrifício. Solicito a sua afirmação e presença nessa reunião - E mais sangue foi derramado.
Potira então foi até Estrela Fantasma e lhe entregou a adaga.
- Conhece quantos totens que exigem sangue? - Um rapaz ao lado de Helena sussurrou para ela. Era o mesmo que tinha feito uma reverência de chacota à Mariele.
Quando a última gota caiu no lago, todos sentiram um arrepio firme e profundo e um vento quente passou entre os membros da seita, trazendo sensação de conforto e descanso. O totem estava entre eles. Pedra Molhada sorriu e passou a adaga para um homem loiro e de bom porte físico, que vestia roupas características de acampamento.
- Glória-de-Apolo:
- Sou Glória-de-Apolo, philodox e fosterm dos Presas de Prata, filho de Mihail Orgulho-de-Thor e bisneto de Yacob Barão-de-Prata. - Tratou-se de uma apresentação formal, claramente destinada aos novos membros da seita. O Presas de Prata aguardou uma resposta, também formal. Depois, prosseguiu, dirigindo-se a todos os presentes
- A antecipação da presente assembleia ocorreu em virtude de informações recebidas no início dessa noite. Informações que muito preocuparam o conselho dessa seita. Informações sobre irresponsabilidade.Um rapaz jovem com o fenótipo indígena e uma longa trança lateral fez menção de retrucar a última frase, mas Glória-de-Apolo ergueu a adaga, lembrando que apenas ele tinha a palavra.
- Informações sobre irresponsabilidade - O Presas de Prata retomou -
De um ataque despreparado e imprudente, que nos deixou ainda mais expostos. Mas não estou aqui para julgar. Não hoje...não agora. Que a Perseguidores tenha a oportunidade de falar sobre seus atos. Que Amigo-da-Retidão, na qualidade de Alfa da Perseguidores, fale por sua matilha - Caminhou até o alfa da referida matilha e entregou a adaga de ossos.
Amigo-da-Retidão ficou em silêncio por um momento. Parecia estar se recordando da cadeia de fatos que o levou até ali.
- Amigo-da-Retidão:
- Há três dias, Enrique recebeu a informação que o um Projeto de Emenda A Lei Orgânica de Cabreúva tinha sido finalizado e a intenção é que fosse apresentado na câmara para votação o mais breve possível.- Esse Projeto de Emenda pretende retirar a proteção ambiental da serra que fica na região da Cabreúva - Thea ouviu o homem oriental, o mesmo que momentos antes tinha lhe falado sobre o sinal, sussurrando para ela.
Glória-de-Apolo fez um gesto solicitando a adaga e Amigo-da-Retidão a entregou.
- De quem recebeu a informação?Glória-de-Apolo passou a adaga para Enrique Dança-com-a-Palavra. Tratava-se do mesmo rapaz tinha sussurrado à Helena e que também tinha feito reverência à Mariele.
- Enrique Dança-com-a-Palavra:
- Fico constrangido por ser forçado a revelar minhas fontes, mas dada a situação, assim farei. Fernando "Martelo-Sombrio". Creio que somente o nome basta, não?Glória-de-Apolo acenou em sinal positivo. Pegou a adaga das mãos de Enrique e entregou a Amigo-da-Retidão, para que o Philodox continuasse a história. E assim ele fez:
- Esse contato, Fernando Martelo-Sombrio, não informou somente que o Projeto estava pronto e seria votado, mas também revelou o nome da parlamentar responsável pela lei: Devani Cristina de Araújo Debone. Em posse desses dados, requisitei que Potira e Enrique sondassem a parlamentar durante 24 horas, para sabermos sua rotina. Ele me retornaram na manhã de hoje e, junto com Amanayé Tempestade-de-Flechas, preparei uma emboscada, para que toda a matilha a atacasse no início da noite. Potira se negou a participar. Nós a ignoramos e fomos sem ela.Amigo-da-Retidão esperou pela reação do que ali estavam. A sua expressão era de derrota. Percebendo que ninguém se manifestaria, continuou a relatar o ocorrido.
- A parlamentar sabia que estávamos indo. Sabia que estávamos indo e também sabia o que éramos. Ela estava preparada. Quando percebemos, já era tarde. Fomos emboscar e nos tornamos os emboscados - A voz era de lamentação
- A única forma de escaparmos foi rompendo o véu. Retornamos ao caern pela penumbra, imaginando que nosso rastro estaria seguro, mas assim que chegamos na divisa, Voz-Do-Caminho encontrou cartas de baralho: dois ases pretos e dois oito pretos. O número 108 estava desenhado na terra.Os sussurros se fizeram presentes e algumas vozes dos parentes diziam "A Mão do Morto".
Uma indígena com aparência na casa dos 20 anos de idade, cabelos longos e rosto pintado, solicitou a adaga e tomou a palavra.
- Sou Yara Estrela-De-Gaia, ragabash e adren dos Uktenas - Apresentou-se, acenando para cada membro da matilha recém chegada. Depois, dirigiu-se a todos da seita
- Os homens que deixaram as cartas foram encontrados. Mas não sabemos o que viram e nem o que registraram. Sombra-Da-Castanheira, através de Lúcio, que nos concede a honra de acompanhar essa assembleia, requisitou a ajuda do povo de Dois Corações e eles tomaram posição de guarda na umbra, motivo pelo qual nenhum garou que ainda não tenha sido devidamente apresentado a eles deve percorrer atalhos dentro do caern.- Yara Estrela-De-Gaia:
Aisha reconhecia o termo "Dois Corações". Era utilizado nas Cortes Bestiais para se referir aos Balam, os Homens-Jaguares.
- Potira foi sábia em não se juntar ao ataque imprudente - Pedra-Molhada enalteceu a theurge, quando a adaga de ossos chegou em sua mão.
- Devo reconhecer a fibra de Pedra-Molhada para defender a filha - Glória-De-Apolo, que havia retornado para o círculo e ficado ao lado de Mariele, sussurrou para Chuva-de-Prata.
- Mas não foi sábia o suficiente para dissuadir a própria matilha a cometê-lo - Retrucou o ancião Sombra-Da-Castanheira, sem se importar de não segurar a adaga
- Que o nosso povo se lembre da sua imprudência, ignorância e despreparo, Amigo-da-Retidão. Que os espíritos tomem conhecimento da sua desatenção e negligência.- Spoiler:
Em termos de regra, Amigo-da-Retidão perdeu 2 de renome em sabedoria e 1 em glória.
- Alguém da Perseguidores tem algo a acrescentar? - Pedra-Molhada questionou e olhou para Potira, e a jovem theurge deu um passo a frente:
- Eu, Potira Cura-da-Água, theurge e fostern dos Uktenas desafio Amigo-da-Retidão, philodox e adren dos Filhos de Gaia pela posição de alfa da Perseguidores.Um movimento ensaiado, que imediatamente foi reconhecido por Helena. A philodox já havia presenciado aquele joguete entre os membros da sua tribo. Um garou que tivesse o objetivo de desafiar um oponente mais forte, aguardava pacientemente um momento de baixa moral para ter vantagem.
Pedra-Molhada não disfarçou o sorriso ao ver Potira, sua filha e pupila, formalizar o desafio.
A expressão de Amigo-da-Retidão foi de surpresa, demonstrando não esperar aquela conduta da companheira de matilha. Um círculo rapidamente se formou em volta da desafiante e do desafiado e os tambores voltaram a tocar.
Um homem negro, de traças e jaqueta entrou no círculo e anunciou:
- Sou Tabajara Relâmpago-Submerso, philodox e adren dos Uktena - O homem maneou a cabeça para a nova matilha e depois olhou para Cura-da-Água e Amigo-da-Retidão
- Na qualidade de Mestre de Desafios, informarei os termos da disputa.Mas não foi necessário. Antes que pudesse fazê-lo, Amigo-da-Retidão caiu de joelhos e, com lagrimas, proferiu as seguintes palavras:
- Eu reconheço minha imprudência e incapacidade para permanecer como alfa. Reconheço que Potira Cura-da-Água, theurge e fostern dos Uktenas, é a mais apta à liderança.Os tambores pararam de tocar e o silêncio chegou junto com a incerteza do momento.
Tabajara Relâmpago-Submerso estendeu à mão ao philodox e o ajudou a levantar. Também foi o responsável por quebrar o silêncio.
- Há sabedoria em reconhecer isso. - Disse ao sucumbente, em tom de voz alto para que todos ouvissem.
O entendimento de Tabajara pareceu não ser unânime, tendo em vista que a conduta de Amigo-da-Retidão foi seguida pelo olhar de desprezo e reprovação de muitos dos garou e, até mesmo, de alguns parentes. Potira, por outro lado, estava sorridente e foi parabenizada por quase todos.
- Superada a questão da Perseguidores, passemos aos recém chegados - Determinou Sombra-da-Castanheira.
- Que a matilha se apresente.Tabajara Relâmpago-Submerso ofereceu a adaga de ossos para que um dos recém chegados pegasse e tivesse direito de fala.