Hella, de pé no meio do caos e da destruição que ela mesma ajudara a orquestrar, sentia uma tempestade sutil revolver-se dentro de si. Por fora, mantinha a postura de quem sempre soubera que a vitória e a violência as vezes são irmãs inseparáveis, mas a cena do salão em ruínas refletia um conflito interno que ela evitava encarar. A imagem de Nightstalker sendo tragado pela escuridão, arranhado e rasgado por garras implacáveis, reverberava em sua mente. Aquele momento — a rendição de um oponente dito formidável e a demonstração brutal de seu próprio poder — trazia uma satisfação amarga.
O que ela sentia não era arrependimento. Hella era uma bruxa moldada pela necessidade de vencer e pela ambição de se sobressair. No entanto, havia algo mais profundo e inquietante. Observando o salão desmoronar, pedaços de pedra e colunas caindo em cascatas de poeira e escombros, ela sentia a ironia de sua situação. Um dos "sete tronos" que ela imaginava ter conquistado para derrubar o sitema imposto, ao subjugar Nightstalker parecia agora feito das mesmas rochas que se partiam sob seus pés. Uma dúvida sutil e corrosiva ecoava em seu íntimo: até onde a destruição levaria? Que tipo de reino poderia ser erguido sobre os destroços do próprio mundo?
Hella olhou para o mar de sombras que começava a engolir as últimas reminiscências da sala, uma metáfora viva para o vazio que sentia, ainda que jamais admitisse isso em voz alta. A sensação de poder que antes parecia absoluta agora vinha acompanhada de uma consciência sufocante da solidão. Cada vitória trazia consigo a lembrança de que, mesmo cercada de aliados temporários ou súditos, ela permanecia essencialmente só, movida por uma força que ninguém além dela poderia compreender.
A destruição ao redor não era apenas um eco do combate; era um reflexo dela mesma. Em algum lugar, em meio àquela desordem caótica, havia um espelho distorcido que refletia sua própria natureza: uma entidade que construía e destruía com a mesma intensidade, aprisionada em um ciclo que começava a perder o brilho que outrora tinha. As pedras rachadas, as estruturas em colapso, tudo era um lembrete impiedoso de que o controle que ela acreditava ter era ilusório. Hella percebia que o verdadeiro desafio não era apenas vencer o inimigo, mas lidar com o que sobrava após a batalha: as ruínas e os ecos de quem ela havia se tornado, e isso remetia a tudo que passou em Krakoa.
Ainda que a vitória fosse sua, a percepção de que algo essencial estava faltando — algo que nem o poder poderia preencher — fez uma sombra cruzar seu olhar. Sentia-se triunfante, sim, mas era uma vitória que cobrava um preço que ela começava a entender com clareza dolorosa: uma luta incessante, onde cada passo adiante deixava para trás algo que talvez nunca pudesse recuperar, assim como ocorrei na Catedral. Ao mesmo tempo o temor que Friede não estivesse viva a amgustiava.
Com esses pensamentos agitando sua mente, restava a Hella a necessidade de avançar e cumprir seu objetivo atual: retomar sua torre. Apesar das inquietações que permeavam sua alma, ela sabia que a única forma de seguir em frente era focar na missão. A vitória sobre Nightstalker, o colapso ao seu redor, e a destruição do prédio — como se tudo tivesse sido um reflexo de sua própria natureza — eram agora apenas ecos que ela tentava afogar com a força de sua vontade.
Com um movimento decidido, Hella começou a conjurar palavras obscuras, enquanto cortava sua mão com sua adaga ornamentada, sussurrando encantamentos antigos e poderosos. As palavras fluíam de sua língua como um veneno doce, em uma língua que só aqueles que compreendem as trevas poderiam entender. Ela invocava Aurauxianathar, o temido Dracolich, um ser de poder indescritível, cuja lealdade à necromancia era absoluta. Enquanto a energia da conjuração preenchia o ar, uma sensação de pressão e calor tomou conta do ambiente. A sala desmoronada ao seu redor, com a terra tremendo sob o peso de sua vontade, parecia reverberar com o chamado de Hella.
Finalmente, Aurauxianathar surgiu das trevas, com uma majestade sinistra. Seus olhos flamejantes penetraram na escuridão como faróis do abismo, e sua presença imensa parecia encher o ar com uma energia de morte implacável. Hella observou a criatura com um misto de respeito e familiaridade, mas antes que pudesse ordenar a próxima etapa de sua jornada, sua mente retornou à cena do desastre que acabara de presenciar.
“Desculpe pelo incidente, todos aqueles destroços lhe inutilizando...”. Hella murmurou, a voz fria e imperturbável, como sempre. Ela sabia que suas palavras não precisavam de mais explicações, mas a destruição violenta que acabara de testemunhar — e que ela mesma havia orquestrado — deixou uma sensação estranha em seu peito, quase como arrependimento. Era algo breve, mas que logo se dissipou com a força de sua própria vontade.
Aurauxianathar, com um leve movimento de sua cabeça esquelética, expressou um desconforto sutil, sua voz ressoando com um tom de desagrado.
“Este incidente foi… desnecessário, Hella. Sabes bem que não precisamos de tanta destruição para garantir nossa supremacia, houve um descontrole. Há algo com você, Hella.”Hella apenas assentiu, não discordando. Sua mente estava já distante, focada na missão. Com auxilio, ela subiu sobre o lombo de Aurauxianathar, sentindo as garras e ossos ressoarem ao toque. Ela se posicionou com confiança, ciente do poder da criatura necromântica ao seu redor. O Dracolich ergueu-se, suas enormes asas brancas e gélidas se estendendo como cortinas de gelo, prontas para levá-la aos céus.
Enquanto a criatura alçava voo, a visão de Nova York se estendia diante deles, com seus arranha-céus se erguendo como monumentos. Ela observava a cidade com um olhar afiado, fixo na sua torre que, em sua mente, já era seu legítimo domínio. No entanto, à medida que se afastava dos escombros, uma dúvida persistia, a mesma que a acompanhava após o evento que acabara de presenciar. A destruição, pensou, poderia ser tão facilmente realizada ali quanto naquele salão? O vazio que ela sentia, aquele eco de algo perdido que não poderia ser recuperado, a fazia questionar sua própria jornada, mas sua sensação de justiça e o desejo de quebrar a roda fez com que o pensamento intruso se afastasse.
A destruição ao redor poderia ser apenas o reflexo de sua própria necessidade de controle, mas e quando ela se deparasse com o que restava de sua casa? O que aconteceria quando chegasse à torre e descobrisse que ela não poderia controlar tudo o que desejava conquistar? Hella sentia a vitória, mas também sentia que, ao retomar sua torre, talvez encontrasse mais do que imaginava — talvez visse ali um reflexo de sua própria ruína ou, quem sabe, a resposta que ela tanto buscava.
Aurauxianathar continuava sua ascensão nos céus, o vento cortando o rosto de Hella, e ela sabia que retomar sua torre era apenas uma parte do que estava por vir. No entanto, o que ela temia não era a batalha que a aguardava, mas o que ela poderia descobrir ao chegar lá: seria apenas mais uma conquista ou a confirmação de que, assim como a destruição em seu caminho, ela também seria consumida pela escuridão que procurava controlar? A criatura que estava lá seria tal arauto?
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