- Ani…? - respondeu à amiga.
MiSoo ficou apreensiva com as palavras de BoMi. Ainda mais ao lembrar do que a mãe dissera sobre querer que ela se afastasse de EunBi. “ A amizade não era mais conveniente”, nas palavras da mãe, assim como “má influência” e… “Mais bonita”... Pelo discurso dela naquela noite, era bastante visível que a Sra. Yeun não estava mais interessada naquela amizade - fosse com mãe ou filha - Já não era mais “conveniente” aos olhos dela, por causa da separação dos pais de EunBi.
A lembrança trouxe grande tristeza à pobre garota, que não queria dividir tal sentimentos com a amiga, não queria vê-la mais preocupada com isso… Nenhuma das duas. O importante é que MiSoo não abandonaria elas mesmo que as mães não quisessem nunca mais se verem!
- Nada vai prejudicar nossa amizade… - respondeu de um modo bem mais retraído e desanimado, baixando o olhar na direção do elegante piso do salão
- Somos amigas, não importa o que elas façam ou pensem…Embora reafirmasse a força da amizade delas, MiSoo não podia deixar de sentir aquele terrível aperto em seu peito. O medo de que tudo pudesse dar errado, de que o egocentrismo e interesse da mãe, no final, vencessem.
Também estava preocupada com EunBi. Preocupada com o quanto as garras da mãe estavam prejudicando sua vida.
Por que as mães de ambas tinham que ser tão insuportáveis…?
MiSoo teve que deixar o pensamento de lado, pois tinha ido, junto à BoMi, falar com o garotos e não poderia ir com aquela cara até eles. Ela respirou fundo e tentou se focar em coisas boas, cumprimentando Minhyun e implicando com Gyu. Já deveria ajudar um pouco a melhorar seu humor… Até que recebeu os elogios e acabou esquecendo de tudo o que estava pensando.
Para quem nunca recebia tais elogios de garotos, aquela ópera já estava parecendo até uma dimensão paralela à realidade.
Nem sempre sabia quando elogios eram palavras de pura formalidade ou comentários sinceros, mas com os dois garotos à sua frente sentia que suas palavras não eram mentirosas e isso lhe surpreendia, a deixava sem reação e constrangida. A pele branca deixava o rubor meio visível mesmo sob a maquiagem mais elaborada. MiSoo tinha vontade de esconder o rosto, ou talvez se esconder por inteiro, sem coragem de olhar para o rosto do garoto do segundo ano. Até segurava um pouco a respiração, sem se dar conta.
Felizmente a resposta de Gyu-Sik à sua implicância tinha feito com que voltasse a realidade, ou que pelo menos começasse a reagir, fazendo seu cérebro voltar a funcionar. BoMi lhe abraçar o braço também lhe amparava emocionalmente a ponto de tentar retornar à conversa sobre a ópera.
- Ahn... Na verdade não gosto tanto assim de óperas, são interessantes, mas eu prefiro musicais. - logo respondeu, meio sem jeito, sem saber se seria uma resposta muito apreciada depois do garoto ter concluído que MiSoo apreciava óperas
- Então acho que não amo nem odeio.BoMi retornava à ele a pergunta e com a resposta de Minhyun, MiSoo sentiu-se menos reprimida ou talvez excluída pela própria resposta, mas baixou os olhos em direção a bolsa segurada firmemente com as duas mãos quando o garoto mencionou sobre se emocionar.
Não tinha percebido que todos tinham compreendido que ela tinha chorado com a ópera ao quase ter revelado, por isso mesmo ficou mais uma vez com vergonha. Será que ainda estava na cara que MiSoo tinha se emocionado demais?? Será que tinha tinha conseguido disfarçar direito??
Pelo menos ele tinha jogado a pergunta para BoMi e desviado a atenção de MiSoo. A garota sentiu-se um pouco mais aliviada com isso. E ainda mais com a resposta de BoMi, que MiSoo concordava quase que completamente. Teria gostado mais se a temática fosse uma das que BoMi apontava.
MiSoo concordou e sorriu para amiga com sua resposta.
- Ia ser mais interessante mesmo se fosse uma história assim. - concordou com um pouco mais de animação
- Ye! Ela é muito boa e de voz incrível. - mesmo que BoMi não estivesse respondendo à amiga, MiSoo se intrometeu para responder outra vez, afinal era sua amiga e já estava acostumada a falar o que quisesse perto dela.
De repente Minhyun mencionada o assunto sobre sentarem próximos que MiSoo tinha dito durante a semana na escola e que também era o motivo dela ter se aproximado - até esquecer completamente por causa do elogio. A garota ficava novamente sem jeito por ter afirmado algo que nem tinha acontecido e queria se explicar, mesmo que não soubesse o que realmente tinha acontecido.
Antes que ele mencionasse os Seo e Wang, MiSoo respondeu com o que sabia:
- Pelo jeito não nos sentamos próximos. Mas foi o que minha ommoni tinha dito no meio da semana, que a família Han ia sentar ao lado da nossa. - esboçou uma expressão pensativa
- Eu acho que ela errou, porque aparentemente foi a família Park que utilizou o camarote ao lado.Para o resto do que Minhyun falava, BoMi se pronunciou, movida pela curiosidade que as amigas já conheciam. MiSoo também ouvia com interesse à resposta do garoto, mas ela arqueava as duas sobrancelhas com a informação de que a família Seo tinha os convidado. Será que tinha sido um convite de última hora, por isso sua mãe tinha uma informação errada sobre o local de onde a família Han estaria? MiSoo não entrou nesse assunto, estava curiosa, normalmente se interessava facilmente pelo que os outros tinham para contar - talvez por passar tempo demais com BoMi - mas não realmente interessada sobre tais detalhes, apenas na conversa em si.
Prestava atenção na conversa entre Minhyun e BoMi, mas não tinha o que dizer sobre Hyemin e a família dela. Tirando o episódio assustador do ataque às bolsistas e outras meninas - cujo os gritos tinham deixado MiSoo com muuuita pena delas - e também o fato de as duas gostarem de tênis, a jovem não sabia muito mais sobre ela e seus familiares.
Até que Minhyun voltasse a atenção à MiSoo, se lamentando que não estivessem em camarotes próximos.
- Ah! Pergunte para ele por mensagem de texto! - tinha um sorriso refreado, porém engraçado no rosto
- Talvez receba uma resposta mais elaborada. - comentava por pura provocação ao garoto, uma pequena parte se referia ao pedido de desculpas que recebera apenas por mensagem, mas a maior era apenas a implicância costumeira.
Terminou com um grande sorriso divertido. Talvez não fosse a pessoa mais genial com esse tipo de brincadeiras, mas queria esquecer o desentendimento que tiveram e voltar à normalidade, embora em meio à ópera estivesse sendo um pouco mais difícil para MiSoo, talvez pelo elogio “atípico” que ele lhe dera.
Para ela, essa também era uma forma de fazê-lo falar mais. Implicava com ele porque, às vezes, era o único jeito de fazê-lo dizer algo menos “sucinto”, como Minhyun classificou a análise de Gyu-Sik. Começou provocando o irmão gêmeo da amiga só para receber alguma resposta de volta - afinal sempre via BoMi sempre conseguir fazê-lo falar assim - mas no fim acabou se tornando uma prática divertida entre os dois. Também costumava chamá-lo de ninja porque era comum o garoto se aproximar sem dizer nada e MiSoo, que sempre foi meio distraída, só percebia depois de algum tempo… Ou se dissesse algo mesmo.
Logo os gêmeos já estavam discutindo entre si e MiSoo quase sempre achava graça dos dois. A interação deles costumava lhe fazer imaginar o quanto sua vida seria melhor se as implicâncias da irmã mais velha fossem assim, bobas e engraçadas. Mas aquela garota que partilhava o mesmo sangue de MiSoo só saberia ser insensível e impiedosa. Totalmente indiferente ao sofrimento de sua dongsen.
MiSoo sorria, mas as lembranças da irmã lhe deixavam com um gosto amargo na boca.
Gyu-Sik começava a mencionar sobre o broche, fazendo MiSoo se lembrar que também tinha ido até eles para comentar sobre isso, mas, aparentemente, o garoto já tinha conhecimento de que não fora Hyun Hee que jogara o objeto e sim “uma garota maluca”, ou pelo menos foi o que o ex-ketchup dissera.
- Aish! Você já sabia que não tinha sido ele? Achei que tinha ficado corajoso! - inflou um pouco as bochechas, simulando uma careta de decepção, mas rapidamente tirou a expressão do rosto e continuou
- Cheguei a conversar com o Ket-- Com Park Hyun Hee e ele me disse que uma garota quem tinha jogado o broche em você. Até era isso que eu ia falar quando vim aqui. - não queria mencionar que queria falar sobre o erro da mãe com Minhyun também porque achou que soaria estranho
- Fiz besteira outra vez… - coçou a cabeça atrás da orelha e fez um biquinho triste e desapontado, baixando um pouco a cabeça.
- Eu acho que eu vi ela… - tinha certeza que vira, pois presenciou, mesmo de longe a interação deles e a garota que se afastou deveria ser Park Chayoung, embora não a conhecesse
- Na escola. - ficou com vergonha de mencionar que estava observando a garota se desculpar
- Mas não a conheço, nunca falei com ela. Fico feliz que ela também tenha se desculpado. Acho que o problema morre aqui, então. - incluía nesse “também” o fato dela mesma ter se desculpado com o ex-Kechup, o problema é que nem tinha falado sobre isso com o trio.
Minhyun comentava que precisava ir com a família tirar as fotos no fundo de patrocínio e perguntava que os demais já tinha tirado. Os gêmeos responderam positivamente, mas MiSoo ainda não tinha feito isso.
- Essas ainda não tirei. - torceu sutilmente os lábios em desânimo com as fotos que ainda precisaria tirar - Acho que terei que ir logo também.
- Até depois, Minhyun-shi! - acenou para o garoto mais velho com um gracioso sorriso que iluminava seu rosto.
MiSoo tinha gostado da presença do garoto. Parecia bastante gentil e fácil de se conversar e esse tinha sido o momento em que mais trocaram palavras até então. Além do mais, tinha recebido aqueles belos elogios meio exagerados, mas que tinham impressionado e envergonhado a garota. Se tivesse pensado muito neles com certeza não teria conseguido conversar direito e passaria ainda mais vergonha.
Tirando Mia, MiSoo não costumava se comunicar com o pessoal dos anos à frente, então sabia pouco sobre a maioria deles. Sabia mais com que as amigas he contavam e o que conseguia guardar na mente dessas informações, o que normalmente não era muito.
- Aish. Fiquei constrangida de ter dito o que minha ommoni falou e que, no final, nem era verdade… - cobriu o rosto com as mãos, mostrando os dentes de forma exagerada, enquanto comentava com BoMi.
Não conseguiu conversar muito mais com os gêmeos porque logo também foi chamada para as tais fotos e tinha que se apresentar imediatamente à família, pois não queria ouvir mais reclamações da mãe.
MiSoo se despediu dos amigos dando um abraço apertado em BoMi, sem pensar se amassaria ou não seu vestido, e acenando com as duas mãos próximas ao rosto para Gyu-Sik enquanto tinha um sorrisinho fofo.
Afastou-se com seus passos mais lentos em direção à famíla e o sorriso alegre se apagava um pouco. Provavelmente teria saído meio séria nas fotos se não fosse pela presença da halmoni e da prima, que tinha ficado mais animada em ter reencontrado agora. Ficava mais aliviada em saber que Ji-Eun só havia ido ao toalete e não tinha ficado triste por não ter sido chamada nas fotos com as amigas de MiSoo.
MiSoo sorria normalmente nas fotos, mas não do jeito alegre e fofo com que normalmente sorria para seus amigos. Mesmo assim tinha gostado de tirar umas fotos apenas com a prima e ficou um pouco sem jeito nas em que precisou pousar sozinha. Era bem mais fácil quando posava para fotos com as amigas, mesmo que elas quisessem apenas tirar uma foto de MiSoo sozinha. Tudo acontecia com mais espontaneidade e a garota sentia-se mais à vontade para fazer poses e caretas. Ali, diante de um fotógrafo profissional e de várias pessoas lhe observando, sentia-se um pouco como se aqueles olhares estivessem lhe julgando. Como se algo estivesse errado com sua aparência e com a roupa. Precisava se concentrar para não encolher os ombros ou acabar fazendo uma careta sem querer, mas no final achou que se saiu bem, apesar da insegurança. Pelo menos tinha saído sorrindo, não tinha feito nada de esquisito e a mãe não lhe chamara a atenção.
Quando a sessão de fotos acabou já era hora de voltarem ao camarote para a segunda parte da peça. MiSoo já estava um pouco cansada de estar ali no teatro, mas seguiu a família sem reclamar, enquanto conversava um pouco com a prima e a avó sobre o que fariam no dia seguinte e avisava também que à tarde teria um dever da escola para fazer.
Chegou a pensar em perguntar para a mãe por que tinha dito que a família Han sentaria perto deles, mas depois de ter brigado com MiSoo, a garota achou melhor ficar quieta.
Quando já tinha se sentado em seu lugar mais uma vez e esperava a ópera ir para seu segundo ato, ouviu o baixo toque do celular recebendo uma mensagem privada e tirou o aparelho da bolsinha, percebendo que tratava-se de uma mensagem de EunBi. Uma mensagem que deixara MiSoo extremamente nervosa!
Como EunBi decidia ir embora sem ao menos dinheiro para um táxi??!?!?
Talvez, na impulsividade, MiSoo também fizesse o mesmo, mas olhando de fora via como era uma péssima ideia que a amiga teve. Estavam longe do apartamento de EunBi! MiSoo queria correr atrás da amiga e impedir que a garota tomasse tal atitude. Com o celular nas mãos, a garota levantou-se com pressa e desajeitadamente de sua poltrona e já ia de qualquer jeito em direção à saída do camarote quando seus olhos cruzaram com os da mãe, que não estavam nada contentes com aquela ação abrupta da filha. Nem deu tempo de MiSoo se afastar de sua poltrona e as luzes já se apagavam, deixando o camarote quase que engolido pela escuridão antes da iluminação da peça ressurgir por detrás das cortinas e a música voltar à reverberar pelas paredes da construção.
Sem saber o que fazer, mas já imaginando que seus problemas seriam infinitamente maiores com a mãe do que foram no corredor do camarote se saísse agora - além de provavelmente irritar o pai também. A garota voltou a sentar-se sentindo um grande aperto no peito. Pegou o celular mais uma vez e começou a digitar para a amiga, esperando que os 13% de bateria fosse o suficiente para receber a mensagem.
“EunBi-yah, não saia por aí sozinha! Se quiser eu chamo um taxi para você para o condomínio.
Aí peço para algum dos empregados lá em casa pagar o táxi.
De lá pode ir para casa do seu pai.
Espera na frente do teatro que eu chamo o táxi para você.”
Foi obrigada a desligar logo a luz na tela do celular, pois os pais não pareciam muito contentes com a garota mexendo no aparelho durante a peça. Agora seria muito difícil de se concentrar na ópera, pois MiSoo não conseguia parar de se preocupar em como a amiga estava e se torturar mentalmente por não poder fazer nada por ela. Eram nesses momentos que a fome começava a aumentar… E já estava sem comer há tanto tempo…
Quanto ao táxi, esperaria alguma resposta da amiga para tentar chamar um para ela, mesmo que os pais lhe olhassem feio outra vez por culpa da luz do celular.