Diana sorri e responde para a amiga, que era praticamente uma irmã:
– Obrigada, querida. E pode deixar, a gente se fala mais tarde!
Despediria-se então de Akasha, e em seguida mandaria uma mensagem para Sean:
“Querido, aconteceu algo urgente e vou ter que me encontrar com a Akasha. Dou notícias depois. Te amo. Bjs.”
Depois disso Diana seguiria andando pela rua, afastando-se umas duas quadras da delegacia e então pegaria um táxi, pedindo para ir até o pier. Lá pretendia relaxar um pouco enquanto esperava pela chegada de Rhavenna.
Diana se encontrava na ponta do pier de frente à praia. À sua frente estavam as barras de segurança, uma lata de lixo ao extremo canto e alguns bancos nas extremidades da esquerda e da direita. O pier contava com poucas pessoas além de Diana, uma família de humanos com um casal de crianças que conversavam entre si, e as crianças se balançando nas grades, embora seus pais estivessem atentos e bem próximos.
Na praia haviam poucas pessoas que apreciavam aquele vento forte com a areia, os que se viam lá eram jovens solitários e casais românticos, aproveitando o momento seja de reflexão ou paixão. A maré estava subindo bastante, mas não era nada preocupante...
Ao lado, havia o parque de diversões, a maioria das pessoas estava lá, as luzes coloridas e a música infantil ao fundo pouco distante, a roda gigante bem visível, o cheiro de algo levemente doce se misturando com o do mar salgado... Natureza... Simples, belo... Relaxante... Trazia emoções misteriosas a Diana, o vento forte batendo em seu rosto fazendo seus cabelos esvoaçarem contra o vento...
Diana então sentia mãos quentes tocarem seus ombros e a abraçarem por trás, aquele calor não era um simples calor... Era o calor que um humano comum não poderia ter, somente uma criatura que passou milhares de anos se aquecendo em um local maldito tão quente quanto um vulcão, mas que não importava pois esse calor sobrenatural ainda era aconchegante para uma criatura igualmente sobrenatural, era o tipo de calor que só encontrava ao toque de Ravenna e aquela voz melodiosa que só ela tinha e dizia: - Te fiz esperar muito?
Não havia feito... Embora não tivesse visto o tempo passar com todo aquele ambiente pra se perder, como ficar reparando em algo tão relativo quanto o tempo? Tempo... Diana parava um instantes para refletir sobre ele... Havia algo sobre ele, inquietante em sua mente. Mas Ravena agora estava ali, ficaria perdendo tempo questionando sobre o próprio Tempo?
O pier estava pouco movimentado, o que era normal para aquele horário em um dia da semana e com todas as coisas estranhas acontecendo desde o eclipse. Enquanto aguardava pela chegada de Rhavenna, Diana relaxava ouvindo a sinfonia do mar, sentindo o vento tocando sua pele, trazendo o cheiro do mar até ela. Sentia-se em casa. Adorava aqueles momentos em que o tempo parecia congelar e se perder dentro de si mesmo. O próprio tempo era um mistério, talvez uns dos maiores mistérios da Criação.
Vez ou outra se pegara olhando para o céu, buscando por estrelas, pensando em Deus. O que ela havia feito para nem sequer se lembrar de sua própria vida? Mas não estava ali, tentado resolver problemas e proteger as pessoas da mesma forma? Não há tempo de prosseguir por estes pensamentos, pois ela sente o toque das mãos de Rhavenna em seus ombros, e seu abraço é tão quente, que é capaz de arrancar um suspiro de Diana. Quanto tempo havia se passado? Nem sabia... não importava.
Ela se vira para a demônia, e não pode evitar um sorriso ao vê-la:
– Não e sim... Sim e não. Nem sei que horas são agora.
Era verdade. Ela continua:
– Obrigada por ter vindo, Rhav...
Na verdade o que queria dizer era que Rhavenna estava linda e que ela tinha saudades, mas a frase morre em seu pensamento, pois não queria afastar-se do foco daquele encontro.
– Preciso da sua ajuda para encontrar alguém... que talvez você conheça, ou saiba como encontrar.
As duas sobrenaturais e inimigas naturais se olhavam, mas a muito já não eram mais inimigas naturais, por mais que suas respectivas "casas" dissessem o contrário, mas Diana, por mais que quisesse curtir o momento, queria ser direta e Ravena a encara sem desmanchar sua face a qual iniciara o encontro. Ravena soltava Diana dos braços e ia se encaminhando até um dos bancos e cruza as pernas de forma sensual, apoiava o cotovelo na perna cruzada e apoiava o rosto com a mão de forma bem feminina e meiga. Ela encarava Diana com um certo sarcasmo no rosto, seus olhos por um momento ficaram vermelhos como se emitissem o sentimento de raiva e ela diz por fim:
- É... Realmente direto ao ponto... E aqui pensando você podia mudar de ideia no caminho.
Ela então ajeita sua postura e se encosta no banco e diz após um suspiro: - Vamos lá... Estou ouvindo...
A natureza demôníaca de Rhavenna era percebida quando, contrariada, percebia que Diana estava determinada em manter-se firme diante da tentação que era a demônia. Mal sabia Rhavenna o quanto toda aquela resistência custava para Diana, que tinha vontade de sentar-se ao lado de Rhavenna e tomá-la em seus braços enquanto trocavam beijos e carícias apaixonadas.
Diana vai para o banco, sentando-se ao lado de Rhavenna e diz num tom baixo, passando a mão de forma carinhosa na face de Rhavenna:
– Não faz assim... você sabe que eu gosto de você. Eu queria que a gente pudesse sentar, conversar e...
Um novo suspiro após o momento de fraqueza, a anjo tira a mão do rosto da demônia e retoma o foco, mas mantendo o tom baixo, afinal, o que falariam, não deveria ser ouvido por ninguém:
– Mas não há tempo... não agora. Rhav, há uma criatura à solta que está fazendo vítimas. Eu tive uma visão e vi como aconteceu. Ele se alimenta das entranhas da pessoa. É uma espécie de demônio e ocupou o corpo de um jovem chamado Kevin. Eu preciso encontrá-lo e pará-lo antes que ele faça novas vítimas. Quando eu estava no local do crime, senti uma energia, como se a criatura estivesse próxima... mas não consegui chegar até ele. Você sabe de quem estou falando? Pode me ajudar a encontrá-lo?
Ravena ficava silenciosa enquanto Diana sentava-se ao lado dela e acariciava sua mão quente, a demônio não parecia reagir ao toque de ternura, não mudava em nada sua expressão diante a tentativa de Diana não permitir que Ravena se chateasse. Ravena apenas a encarava um pouco, não podia-se dizer se estava realmente surtindo efeito e ela estava apenas se fazendo de difícil. Ela ficava em silêncio alguns segundos e diz:
- Meu anjo caído, existem milhões de demônios por aí... Qualquer um pode se alimentar de uma suculenta carcaça humana...
Dizia ela parecendo se perder alguns instantes mas logo voltar:
- É claro que isso não é uma necessidade, mas os filhotes da Fome agem como se fosse. Se ele come como se dependesse daquilo, como se fosse um vicio, com certeza é um filhote da Fome. Eles não são nada mais que um pequeno empecilho, mas se ele comer demais...
E então olhava para Diana como se tivesse um enigma divertidíssimo para ela resolver, e então continua:
Rhavenna parecia mesmo chateada ou então não queria voltar a “baixar a guarda”. Diana não podia ter certeza, mas certamente não tinham Tempo para ficarem discutindo a relação, não enquanto inocentes eram assassinados. A resposta dela é algo chocante para a Anjo, demonstrava falta de respeito pela vida humana e aquilo fazia com que Rhavenna perdesse toda a beleza que encantava a Anjo. Qualquer clima de romance que estivesse oculto por parte de Diana, desaparece naquele instante.
De forma séria, que demonstrava que ela não achava graça nenhuma em tudo aquilo, ela responde:
– Não tenho certeza de nada, mas o que eu vi foi isso. O jovem parecia ter resquícios de consciência ainda, mas a criatura deixou claro que já tinha feito outras vítimas. Você tem amigos desses em seu círculo? O que acontece se esse demônio fizer muitas vítimas?
Parecia que Ravena havia jogado um balde de água fria naquele momento com sua leve volta ao regojizo do sofrimento alheio. Diana agora estava séria, não demonstrando nada além do interesse do que viera fazer ali, de todo modo, Ravena não se alterava, nem mesmo demonstrava observar que sua amada agora estava de outro modo e prossegue:
- Eu não tenho amigos, minha sunshine... Estão todos loucos para me esfolar por toda a eternidade.
Ela solta um breve riso como se dissesse "venham tentar", e responde à segunda pergunta: - Oh, ele ficará poderoso e feio demais para que eu ou você possamos pará-lo.
Ravena fizera soar essa frase como se fosse a coisa mais simples do mundo, ao menos tinha incluído ela mesma como se fosse tomar ação para caso isso ocorresse.
Ao menos Rhavenna não se relacionava mais com aquelas “criaturas”, mas ouvir aquilo faz Diana temer pela segurança da demônia. Ao menos ela não era perseguida pelos anjos. A última frase era preocupante, e só reforçava a necessidade de impedirem novas vítimas, ao que Diana diz:
– Neste caso isso só reforça a urgência que eu tenho. Você tem alguma pista ou alguma forma de encontrar o rastro dele? Eu preciso chegar até ele ainda esta noite!
Dizia de forma determinada, pronta para cumprir um dever sagrado, mesmo que já não pertencesse mais as esferas celestiais.
Ravenna simplesmente respondia: - Existe um modo de atrair um filhote da fome pra um ponto específico, ainda essa noite, mas vai levar tempo e estará fora das suas cogitações... Então... Não. O unio rastro que eu conheça que um filhote da Fome deixa é o de corpos, é o que está tentando evitar então também não serve...
Ela pondera um pouco e diz:
- Talvez aquela sua amiga bruxa conheça alguma coisa que ajude, não?
Sim, havia pensado em Akasha, mas por outro lado queria mantê-la em segurança da mesma forma que queria manter Sean, por isso, se recorresse a ela, seria apenas para coletar possíveis informações e não para pedir que ela fizesse nada que pudesse atrair a atenção do demônio para ela, ao que responde:
– Não quero colocá-la em risco. E o que significa que está fora das minhas cogitações? Essa criatura é assim tão poderosa a ponto da lâmina de minha espada não oferecer perigo algum à ela? Rhavenna, se há alguma forma de impedir que mais vítimas sejam feitas, eu tenho que agir o quanto antes!
Ravenna respondia de forma séria: - Está fora das suas cogitações porque é algo que você jamais faria. Pra atrair um filhote de Fome você precisa reunir comida, muita comida, não precisa estar viva, mas tem de estar fresca e ele vai se sentir atraído e vai vir pro banquete. Entende o que falo?
Bem, se aquela era a única forma de atrair um demônio daqueles, Rhavenna tinha razão, era algo fora de hipótese para a Anjo que teria que pensar em outras maneiras de encontrar o demônio... e isso lhe fazia pensar que a única forma era mesmo indo atrás de seu hospedeiro: Kevin... algo que a polícia começaria a fazer muito em breve e entre eles estaria Sean.
Mantendo a seriedade da questão, ela responde após um suspiro profundo:
– Sim, entendi. A menos que um massacre aconteça, não há formas de prever onde ele aparecerá novamente e isso significa que ele fará mais vítimas e vai se tornar mais forte! Mas que droga!
Aquilo era completamente frustrante e provavelmente ela demonstrava isso em seu tom. A anjo se via de mãos e asas atadas, pois queria se antecipar a situação e isso no momento não parecia possível. Por alguns instantes fica refletindo em qual o próximo passo a tomar. Voltar para a delegacia e tentar levantar as informações de Kevin ou Akasha poderia ajudar de alguma forma em sua busca sem que para isso precisasse se envolver diretamente?
Ravenna ficava quieta apos a demonstração de frustração de Diana, apoos alguns segundos de silêncio ela diz após um suspiro:
- Aí aí... vou sair por aí e ver o que consigo pra você... estava afim de descontar um pouco de frustração em alguém mesmo... vai pra casa descansar sua mente, parece que teve um dia estressante. Eu ligo quando descobrir algo.
A anjo não pode evitar um sorriso ao ouvir a primeira frase de Rhavenna, que mostrava-se disposta a tentar ajudar de alguma forma, e não fosse a frase a seguir, tudo o que Rhavenna tinha falado seria perfeito. Então a loura responde em um tom de voz doce e numa atitude conciliadora:
– Eu te agradeço de todo o coração, mas eu não quero você descontando frustração ou raiva em pessoas inocentes ou se colocando em perigo. Se esta ajuda que você quer me dar está ligada a qualquer uma destas alternativas, então eu não quero. Tudo o que eu quero é te ver feliz...
Suas palavras eram sinceras. Sabia que a relação das duas fizera Rhavenna “menos demoníaca” – se é que isso era possível – e bem lá no fundo, desejava que o que existia entre as duas, fosse capaz de transformá-la, não em um anjo, mas em alguém livre e capaz de fazer suas escolhas sabendo distinguir “o bem e o mal”. Seria isto uma ingenuidade de sua parte? Só o tempo revelaria-lhe.
- Oh minha sunshine, não se preocupe... Não vou tocar em nada humano... Vou pegar algum diabinho por aí que deva saber alguma coisa sobre um possíve filhote de Fome nas redondezas. Eles querem minha cabeça tanto quanto os outros, não há o porque eu ou você nos preocuparmos com esses vermezinhos.
– Não, não quero você se colocando em perigo por minha causa. Isto está fora de questão. Eu tenho como descobrir o paradeiro do hospedeiro através da sua identidade. Não se preocupe, eu vou dar um jeito.
Era verdade, preferia que Rhavenna não se envolvesse se isso significasse perigo para ela. A segurança da demônia era uma preocupação real para a anjo.
Diana então passa o braço por cima dos ombros de Rhavenna e tenta trazê-la para um abraço. Iriam se despedir e mesmo que aquilo não tivesse sido um “encontro”, queria se despedir de forma carinhosa.
Ravena olhava para Diana que exibia sem hesitar sua preocupação para com a demônio. Ela ficava estática por um momento, sem dizer nada, tinha a famosa "cara de paisagem" enquanto encarava Diana e por fim diz desviando o olhar:
- Está bem, se é o que prefere...
Em seguida, o toque de Diana aos ombros de Ravena era reagido aos poucos até se permitir ser abraçada, havia algo hesitante na demônio mas que se dissipara. Diana sabia que para Ravena era difícil a demonstração de um carinho sincero, quando estavam na cama, era outra coisa pois o desejo estava presente... Mas ela sabia que Ravena ainda se esforçava para essas coisas.
Elas se abraçam por um instante e Ravena logo transformava aquele abraço em beijos no rosto, de forma lenta e quente. Ela não queria só um abraço de despedida, ao menos um beijo de cinema queria arrancar daquela criaturinha de luz pura.
Ao abraçar Rhavenna, podia perceber que ela ainda estava se fazendo de durona, compreendia que certas coisas ainda eram desafios para sua natureza e que nos momentos de intimidade, havia o toque da paixão e da luxúria que fazia com que a demônia estivesse mais “no seu ambiente”, mas por fim Rhavenna cede, permitindo-se aninhar em seus braços, mas logo iniciando beijos em seu rosto e em busca dos seus lábios.
Decididamente não era fácil manter-se em seu “juízo perfeito” com aquela proximidade toda, sentindo o calor, o perfume, os toques... Não, não conseguiria evitar, embora quisesse e ao mesmo tempo não quisesse. Sem parar para pensar muito, Diana deixa-se levar e permite que seus lábios encontrem os de Rhavenna, selando o beijo que clamava por acontecer.
Ao menos aquilo poderia oferecer naquela noite para a demônia, mesmo sabendo que tão logo se despedissem, sua consciência viria cobrar-lhe... mas por agora, permitiria-se curtir aquele breve e intenso momento, precisava daquele beijo tanto quanto Rhavenna...
O momento era quente nos braços de Ravena um calor de verdade e não só de paixão. Era como se a boca da anjo fosse moldada para encaixar perfeitamente na daquela demônio, como se sua cintura fosse feita para ser abraçada por ela e no momento, não havia culpa pela sua traição à Sean. Se não fosse a anjo segurar-se e desfazer o beijo, talvez Ravena a levasse para algum canto isolado para que para que o beijo se intensificasse e o risco de serem pegos só tornava aquilo mais tentador.
O beijo é parado finalmente e Diana se despede de Ravena que também se despedia mas com aquele brilho raivoso e avermelhado nos olhos, era como se Ravena tivesse um sentimento de posse e ver o que era seu partir lhe pregava a raiva, mas que ainda assim Ravena nada fazia além de tentar aceitar de bom grado.
Diana já se afastava e via que Ravena simplesmente sumira, como se nunca tivesse estado lá. Ela chegou o relógio do cel, via que Sean apenas tinha enviado a mensagem para Diana respondendo que a encontrava em casa, foi enviada pouco depois de Diana dizer que precisava ajudar Akasha. A poco tempo atrás havia recebido mais uma de Sean avisando que já estava a caminho de casa. Haviam se passado meia hora desde que chegara. O pier já estava vazio e mas na praia haviam poucas pessoas.[/color]