A quarta-feira finalmente chegava ao fim para eles, trazendo consigo várias possibilidades para os próximos dias. O primeiro passo era sempre o mais difícil: fosse para pedir perdão aos amigos; para admitir seus erros depois de decepcionar pessoas importantes; para confiar numa pessoa especial e permitir que pensamentos oprimidos viessem à tona; para encontrar o alívio numa desconhecida que parecia conhecer a alma melhor do que velhos amigos; para seguir em frente após uma decepção amorosa e encontrar no otimismo infantil uma força inexplicável; para encontrar numa amiga, uma visão de si mesma jamais tida antes e descobrir que vermelho podia sim ser tudo o que ela precisava; ou simplesmente para deixar para trás o sonho de verão e focar no que realmente importava naquele momento: família, estudos e amigos.
No caminho até sua casa,
Dong veria a oscilação de Hayoung. Apesar do início triste da conversa, a atitude dele a animou de novo. Muito embora não fosse uma geek como ele e seus amigos, Hayoung conhecia sim a Mulher Maravilha e ficou simplesmente encantada com a roupa de tênis. Prometeu que usaria nos treinos do clube e mandaria a foto para ele ou iria ela mesma se exibir, caso fosse dia de natação. Ela agradeceu muitas e muitas vezes, com todo seu coração.
Adorava ganhar presentes, ainda mais quando eram assim: inesperados. Sua felicidade foi genuína e prometeu que pensaria num presente à altura, em breve. Ao deixá-lo em casa, pediu para que ele se cuidasse e comesse bem. Tinha uma certa censura ali por conta do alto volume de remédios que ele tomava e podiam fazer mal para seu organismo.
Agora em casa, Dong tinha muito o que pensar. Sua prima era mesmo especial, mas estava num grupo péssimo. Era só ver o que tinham feito com Stella. Aliás, por que parecia tão fácil conversar e agradar Hayoung, mas sempre tão difícil ser sensível com Stella? Só naquele dia, o beicinho da amiga tinha surgido incontáveis vezes. Nas poucas vezes que ela sorriu, foi enquanto olhava para o celular e trocava mensagens com alguém.
Fora aquele último olhar que trocaram antes de partirem. Será que a aula de sábado ainda estava de pé? Dong sabia que não iria à Ópera porque os pais fariam uma pequena viagem. Sua casa estava liberada sábado e domingo, sendo no segundo dia que ele usaria para reunir os amigos - antigos e novos - para uma jogatina que prometia.
Depois que se ajeitasse, ainda tinha que pensar nos exercícios que tinha que fazer e o alistamento no clube de Teatro. Mas, se colocasse na ponta do lápis, sentiria que o dia tinha sido positivo.
Tão positivo quanto fora para
Hyemin.
Sua manhã tinha sido conturbada, pois teve uma missão difícil de cumprir. Pisar no orgulho sempre era algo doloroso, ainda mais quando precisava se “rebaixar” a alguém que tinha lhe feito tanto mal no passado. Porém, depois daquela breve e enervante conversa, o sol pareceu sorrir de novo. Só não foi mais perfeito porque sua amiga Yerin não pôde acompanhá-la nas compras.
Felizmente, ela tinha Eun-Na com ela e a atrevida menina tinha se provado bastante paciente e com um gosto bem interessante para moda. Conseguiu encontrar um vestido que unia as duas Hyemin que a menina gostaria de exibir: uma jovem mais madura, mas que não tinha perdido os ares de princesa. Hyemin saiu bem satisfeita daquelas compras, principalmente depois que pôde retribuir o gesto à Nana. Mais gratificante ainda foi ver que o vestido foi super bem aceito pela menina.
A situação com a tia podia ser contornada, até porque, não havia nenhuma sombra de arrependimento com a peça escolhida: não tinha como ser mais perfeito do que aquilo! E ainda dava para seguir a dica da echarpe que Eun-Na lhe dera.
Quando chegasse em casa, havia muito o que ser feito, mas Hyemin não pensava nos deveres e sim nos preparativos para sábado!
Veria seu oppa!!!
E naquele momento, a conversa com Kim não teve mais espaço em sua mente, muito menos no coração. Melhor assim...Afinal, certas coisas mereciam ficar no passado.
Passado.
Alguns sabiam como essa palavra tinha um peso.
O passado doía muito e saber que nunca mais seria o mesmo, estava acabando, pouco a pouco com
Hyun-Hee. Todas aquelas pessoas que conheciam seu “antigo eu” pareciam observar o seu presente como se vissem um animal enjaulado. Mesmo Jong-In parecia sempre pronto para se defender de um possível surto.
Que nem Hyun-Hee duvidava que fosse acontecer.
Talvez por isso mesmo, aquela mensagem tosca da Joaninha que nunca conheceu o antigo-Hyun e só conhecia o Tigre sem dentes, pareceu a única bóia que ele conseguiria - ou queria - se agarrar para evitar que afundasse naquele mar de solidão, arrependimentos, mágoas e erros.
No início, a menina ficou sem reação com o comentário dele. Ela não precisou dizer “não” para que ele mudasse a proposta, mas ela respondeu que “nunca pediu um favor dele, por isso era bom que ele tivesse a certeza de que ela só realizaria os favores que ela quisesse, se ela estivesse disposta”. Afrontosa, como sempre, mas deu brechas para que conversassem.
Talvez ela só o achasse um cara muito solitário e ela compartilhasse da solidão nesse momento.
Disse que estava estudando Geografia, que gostava, mas aquele tópico em si não era sua parte favorita. A matéria favorita era História. Almoçou um Yakisoba num carrinho de rua porque o cheiro parecia gostoso e tinha caído muito bem. Não pareceu irônica ao dizer isso. Fez as mesmas perguntas para ele e, sem saber quanto tempo tinha se passado, começaram a se despedir.
Por algum motivo, gostou do jeito que seu nome soou vindo dele e respondeu no mesmo timbre “Park Hyun-Hee”.
Depois disso, Hyun sentiu que conseguia respirar, sair daquele mar e retornar para seu barco. O horizonte surgia de novo e encontrou o foco necessário no exercício mental para resolver as pendências escolares.
Essas mesmas pendências que serviam como um modo de foco, também funcionou como um excelente pretexto para
MiSoo.
Depois que a mensagem foi enviada para seu destinatário, MiSoo se viu presa numa verdadeira confusão mental. Parte de si achou uma tremenda maldade atrapalhar os planos de Gyu enquanto a outra estava realmente tentada a testar a “fidelidade fraternal” do garoto. Porém, quando parou para pensar que, o horário, talvez não o atrapalhasse, um pequeno espaço de seu coração foi tomado por um sentimento de frustração.
E se, mesmo depois de ficar com ela, ele ainda fosse para o tal cinema com a garota?
Não saberia dizer, até porque, ela também não entendia porque estava se sentindo assim. Talvez ela não tivesse uma resposta porque não fazia as perguntas certas. Fora que o fato dele ter proposto na casa dela também a deixou um pouco mais ansiosa e a “briga” das amigas não ajudava em nada.
Contudo, parecia que aquela situação caminhava para um resultado positivo. Eun-Bi contou tudo o que sentia, admitiu seus erros e sentimentos, mas também foi obrigada a fazer promessas. A carinha dela diante da expressão de Misoo foi igualmente triste, mas ela prometeu que nunca mais faria isso e nem se deixaria levar pelo que sentia por Jae-Ki. Bo-Mi não estava muito convencida, mas a verdade era que não deviam jogar fora uma amizade de mais de quase 10 anos por conta de um único erro. Eun-Bi merecia uma segunda chance.
As meninas conseguiram ver um filme que agradasse à todas - com um final feliz! - e comeram bastante. No fim, estavam todas se amando de novo e ficaram um bom tempo na casa de Mia. Pelo menos até começar a escurecer.
Bo-Mi chamou o carro e levou MiSoo até a própria casa, visto que moravam no mesmo prédio. Chegar em casa era sempre a parte mais dificil. MiSoo não se sentia confortável e agora sua mãe tinha feito uma exigência louca para que ela coubesse num vestido um manequim melhor. A culpa logo a tomou e ela não pôde conter o vômito.
Terceira vez, em três dias.
Até quando esse inferno particular iria durar?
Depois de chorar muito sozinha, ela conseguiu encontrar forças para ficar quieta, recolhida. Por um milagre, os pais não a perturbaram naquele dia - a mãe ainda parecia aborrecida pela última situação delas. Pelo menos ela conseguiu se concentrar em outras coisas.
Mas o fim de semana ainda era uma sombra em sua mente.
O que deveria esperar dele?
Num estado completamente diferente de MiSoo,
Sun-Hee só encontrava alegrias por estar em casa de novo. Sua família era seu porto-seguro - e isso incluía os cães que eram filhos de quatro patas. A conversa com o irmão tinha sido bem produtiva e ajudou a pensar no passeio do fim de semana.
Seu aniversário já tinha passado, no fim de Março, mas a ida ao festival de cerejeira sempre era o passeio favorito. As possibilidades de fotos eram infinitas e a família Kim tinha mesmo um album com o passar dos anos na árvore favorita. Era linda ver a evolução deles sempre com poses parecidas naquela mesma árvore.
Tinha sido ideia da tia Yumi, como sempre.
Fora o pensamento no passeio, Sunny também pôde contar ao pai o que tinha acontecido naquele dia. E, principalmente, quem ela tinha conhecido. O Sr. Kim pareceu muito emocionado e feliz por saber que Jae-Ki e Sunny tinham se dado bem. Ele tinha todos os motivos do mundo para gostar do menino, mas jamais forçaria que a filha seguisse sua opinião. Saber, contudo, que ela tinha gostado, independente de suas impressões, era um alívio.
Concordava sobre a determinação invejável do menino e agradeceu à Sunny por ter dito aquilo. Saber que a filha estava gostando da escola nova e que seu protegido também parecia se adaptar, deu um gás a mais nele para continuar com o plano de aula. Quantas outras vidas podia mudar também?
Sunny ia realizar suas tarefas e buscar por descanso enquanto um herói anônimo estava trabalhando pelo futuro.
Porque nem todos os heróis precisam ser reconhecidos para fazerem a diferença.
E era isso que
Won começava a aprender, mesmo que à um custo alto.
O caminho até sua casa foi longo e bastante reflexivo. Won fazia questionamentos normais para sua idade e era alguém que queria deixar sua marca no mundo, ainda que não tivesse fama. Infelizmente, os últimos acontecimentos acabaram tapando as coisas boas que tinham acontecido e dava a sensação de que ele era horrível, um zé ninguém.
Ele podia ser um anônimo para a multidão sim, mas seu nome já estava marcado na vida das pessoas que tinha cruzado nos últimos dias.
Pelo menos naquelas que importavam de verdade.
Quando chegou em casa, teve uma recepção um tanto quanto fria, mas o pai estava aliviado por vê-lo bem. Gostou de ouvir que ele ainda tinha um emprego e que tinha ido ao dojo. Não comentou nada sobre ele não comer, porque conseguia compreender a revolta adolescente.
Já tinha se comunicado com Baek e sabia que a conversa não tinha sido nada gentil.
Em seu quarto, Won via o espaço vazio deixado pelo pôster de seu filme favorito, parecia com o mesmo vazio que sentia no momento. Foi por conta desse sentimento que ele procurou pelo trabalho de literatura e descobriu que seus dons não estavam apenas nos músculos ou precisão de golpes. Uma caneta podia fazer muito também.
E um poema surgiu.
Por mais tosco que ele achasse, tinha sido o seu sentimento colocado para fora. Aquele vazio pareceu encontrar certo alívio e a mente começou a trabalhar ao seu favor e não contra. Won sabia que tinha errado.
Mas tinha aprendido e tudo o que queria era uma segunda chance.
Por mais difícil que fosse reconquistar a confiança quebrada, isso não era impossível.
Jae-Ki também sentia isso. Afinal, ele não ficaria pensando tanto em Eun-Bi se, no fundo, não estivesse disposto a dar uma segunda chance a ela. Mesmo depois de toda a confiança que tinha sido entregue e quebrada, ele sentia aquela verdade. Aquele sentimento que crescia, mesmo contra sua vontade.
Às vezes era até um pouco difícil estudar porque a mente sempre caía nela. Fosse Min-Ah sorrindo ou Eun-Bi com os olhos marejados, aquelas duas eram a mesma pessoa. Por mais misteriosa e ambígua que fosse, a vida dele não conseguia voltar ao normal depois que ela passou. E isso só pioraria dia após dia enquanto ele não se permitisse perdoar.
Talvez ele tivesse mesmo muito o que trocar com o amigo Won-Bin. Se Won soubesse o sentimento de Jae, talvez pudesse ter maiores esperanças com a própria situação - se fizesse uma associação, ainda que cada uma tivesse seu peso.
Jae-Ki acabaria demorando um pouco mais do que o normal com aqueles exercícios. Primeiro porque o volume estava grande e ele estava adiantando coisa para Kang e Won também. Segundo porque ela ficava aparecendo ali, tirando a atenção dele. Quando acabou, já era muito tarde e foi impossível pensar no projeto de biologia.
Ainda teria que se preocupar com o encontro da gangue no sábado.
Soo-Ji já estava no décimo soninho quando o irmão chegou, mas ela se acomodou melhor depois de senti-lo ali e não demorou para que os sonhos ficassem melhor. Os olhos pesaram e Jae apagou completamente.
Após um início bem tumultuado, os últimos dois dias de aula serviram para trazer uma falsa paz. Mesmo o retorno de Taemin não foi motivo para que confusões ocorressem ali. Na verdade, foi até uma surpresa a tranquilidade que o garoto chegou na sala na quinta-feira. Won e Jae-Ki seriam completamente ignorados e até Eun-Bi não atrairia o olhar dele.
Isso, por si só, já era mais do que suspeito. Mas ninguém podia apontar dedos ou sair acusando só porque o garoto estava quieto.
Yerin foi outra que entrou no modo “sou da paz” e nem mesmo Eun-Na ou Yewon ficaram atacando os outros. Aparentemente, eles estavam com a bandeira branca erguida, de modo que dava para quase achar que o colégio podia sim ser normal e um lugar civilizado para todos.
As aulas continuaram intensas e com um grande volume de dever. Os professores mais caricatos já tinham passado, de modo que os últimos que se apresentaram, eram excelentes, mas não revelaram logo de cara suas manias ou modo horrível de avaliar provas. As aulas seriam boas ou ruins, dependendo da afinidade de cada um.
Hyemin, por exemplo, acabaria sem prestar atenção em nenhuma. Estava com a mente da Ópera e nas compras que faria quinta e sexta. Sim, porque queria aproveitar a companhia de Yerin antes que ela viajasse para Hong Kong na noite de sexta. Já Dong, provavelmente gostaria de todas as aulas porque os professores pareciam mais perfeccionistas e ponderados do que os outros. Além de terem uma boa maneira de dar a aula. Só o conteúdo da matéria que, vez ou outra, ficaria mais difícil.
MiSoo voltou a ter uma vida quase normal.
Se ela tinha algum receio da reação de Gyu-Sik, podia ficar mais calma, pois o garoto a tratava como sempre. Diferente do outro dia, cada vez que ela olhasse para ele, ele voltaria o olhar para ela e daria um meio sorriso no canto dos lábios. A fofoca com as amigas continuava em alta porque Eun-Bi não tinha capacidade mental para lidar com muitas horas de aula.
Bo-Mi disfarçava melhor, pelo menos. E ela vez ou outra, olhava para Won, vendo se estava tudo certo, mas também foi vista falando com Ryu como sempre - era, afinal, um dos amigos de seu irmão gêmeo.
Sunny sentia o olhar de Hyemin em suas costas, mas também tinha a companhia de seus amigos. Kim confirmou que sábado a buscaria no trabalho para que fossem a algum lugar e pudessem conversar em paz. Os meninos tinham confirmado que a jogatina seria no domingo e a própria Sunny também tinha um compromisso com a amigas. Stella também garantiu que estaria lá e também confirmou com Dong que ele podia ir até sua casa no sábado. Podia almoçar lá e ficar depois.
A menina ainda estava bicuda pela cena com Hayoung, mas tinha achado que o amigo queria mesmo as aulas de inglês, por isso ensinaria a ele.
Na quinta e na sexta, ela conseguiu entender bem as matérias, mas também continuava incomodada com aquela distância que crescia entre ela e Jung-Mi. O garoto não dava aberturas e cada vez que ela o via, ele parecia mais distante. Infelizmente, ela sempre virava antes que percebesse que ele também olhava para ela.
Nos intervalos, ela ficava com as meninas. Sem saber, ela e Chae tinham mais coisas em comum do que imaginavam.
Isso porque Jung-Mi parecia ter o mesmo comportamento de Hyun-Hee. O garoto problematico passou a ter os intervalos na companhia de seus antigos amigos e, mesmo depois da estranha ligação de quarta-feira, passou a ignorar a presença de Chae. A garota não entendeu isso no início, mas quando percebeu que não era algo sem querer e sim proposital, ela também não fez mais questão de ser vista ou se importar com ele.
Aquilo a incomodava bastante porque dava uma sensação estranha. Quer dizer que ele só a procurava quando estava sozinho? Tinha vergonha dela ou o que? Idiota, idiota mil vezes! Nunca mais atenderia uma ligação daquele imbecil e tava decidido!
Outro que experimentava essa sensação de distanciamento era Jae-Ki.
Eun-Bi estava mantendo firme a promessa que fizera a MiSoo, por isso não ficava olhando para ele ou preocupada em encará-lo. Ela parecia até mais quietinha e centrada - uma falsa impressão que ela prestava atenção na aula, porque acabava desenhando sapatilhas e saias rodadas no caderno. Na sexta-feira, ela já apareceu sem muletas porque dizia conseguir pisar bem.
Jae também não a veria com Taemin, antes que ficasse nervoso com isso. Pelo menos ele tinha seus amigos e Kang continuou levando bolinhos para ele, pelo menos naquela semana estava garantido.
Won conseguia se adaptar melhor aquele incômodo gesso e, a ausência de confusões era quase como um refresco que mostrava que ser normal, não era ruim. Ainda trocou algumas saudações com o grupo de MiSoo, até mesmo com Kim, mas os três dragões ainda eram seu grupo oficial. Depois das aulas, o trabalho exibia bastante dele - nem dava tempo de enrolar comendo na escola, tinha que comer lá para dar tempo e Kang o acompanhou nessa.
Na sexta, foi acordado que ele trabalharia meio expediente de domingo também, agora que buscava por horas extras e não tinha mais treinos mesmo - e também por não ter nenhum compromisso no domingo. Ainda era melhor ficar no café e ver gente do que ficar em casa o dia todo.
E, assim, a semana chegou ao fim.