A cabeça estava encaixada no encosto do banco e, devagar, pendeu para o lado conforme abria os olhos e fitava o rosto da titia. Sunny sorriu. Ela era tão bonita. Parecia mesmo um anjo... um anjo genioso, claro, mas gentil e adorável. Delicadamente para não acordá-la do cochilo, apoiou as pontas dos dedos contra a mão da mulher, iniciando um afago. Aproveitou e bisbilhotou o que os senhores faziam também e cada um estava alienado nas próprias distrações. Nisso, o celular de Sunny vibrou e quando checou o motivo, suspirou de alívio ao ver a mensagem de Stella. Diferente de Chae e Lee-Hi, que ainda dormiam, Sun-Hee respondeu de cara.
Tudo bem! =D Como foi o estudo? Você e o Dong se divertiram?
Pode deixar, vou mandar várias fotos das crianças hahaha e depois trocaremos por alguns dias, sim! Acho que vai aprovar as minhas compras.
E intercâmbio? Quero!
Quero! Quero! Queeeeerooooo!
Obrigada, amiga <3 Nos falamos mais tarde, bjs!”
Depois de enviar a mensagem, Sunny só mexeu no celular para mudar ou voltar uma música e em determinadas etapas da viagem, ela dormiu, mas não profundamente, apenas descansou um pouquinho, economizando as energias que gastaria durante o domingo inteiro.
Já na rodoviária, jogou os braços para cima, deixando toda as articulações estalarem devido ao tempo que permaneceram sentados.
- Cheeeeegamos!!!
Exclamou, animadíssima.
Enquanto Yi-Hoo terminava de se esticar, ela aproveitou a brecha e pegou um pacote de biscoito na mochila do irmão, que estava dando mole no bolso de fora. Antes do rapaz perceber, Sunny virou, enfiando um quadradinho açucarado na boca. Foi nesse momento que ela viu.
- Hum?
Impossível...
Garotos altos? Para ela, então... Não era difícil de encontrar. Entretanto, o jeito das pernas longas se moverem, a maneira alinhada dos ombros...
Sentiu o estômago embrulhar só pela perspectiva.
- Ahn... Fala... – dizia de modo distraído, acompanhando o desconhecido começar a se confundir no meio de uma multidão aglomerada de visitantes – QUIIIIIIÉÉÉÉÉ?????????? - gritou de volta.
Só precisou de uma olhadinha na direção de Jun-Pyo e... ele sumiu.
- SEU BRUTO! Não empurraaaa, peste! Ahhhhh! Titiiiiiia! – apelou, mas só porque estava zangada! Para enfatizar o drama, esfregava a mão no lugar que o irmão CRUELMENTE AGREDIU e fazia biquinho.
Quando tia Yu-Mi tacou as mochilas e bolsas nas costas de Jun-Pyo, Sunny mostrou um sorriso vingativo e de vitória. Trooouxa.
Por culpa dele, perdeu o estranho de vista!
E por que importava?
Só pela semelhança com...?
Humpf.
Essa era uma questão resolvida, frisou mentalmente. Aliás, seria uma COINCIDÊNCIA ABSURDA!
A animação retornou assim que, depois de acertarem os detalhes de rotas e afins, seguiram o fluxo. Era uma caminhada extensa, mas eles mal notaram os minutos transcorrerem. Sunny tirava várias fotos, porém, devido ao episódio, ela não conseguia se desligar de Seul por completo. E se fosse... Não. Não queria sequer mentalizar o nome. Não era raiva ou ódio, mas sabia que isso puxaria lembranças, e não desejava estragar o passeio com tristezas e decepções cotidianas.
Hoje não.
De jeito nenhum.
- Que... lindas...
Entreabriu os lábios e tocou as laterais do rosto quando avistou as cerejeiras. Era uma visão deslumbrante e única. As pétalas róseas despencavam feito cascatas e forravam o chão, tornando o cenário tão... puro. Sunny tirou uma foto, não se incomodando com as pessoas que apareceram na imagem. Por um instante breve, sentiu as pálpebras úmidas e precisou descer a aba do boné, na intenção de esconder a vermelhidão dos olhos e nariz.
Aquele tratava-se de um ritual da família Kim, mas Sunny nunca deixava de perder o ar diante daquele sonho tão doce.
Como se alguém tivesse limpado as máculas, apenas para existir no mundo um lugar em que as dores e sujeiras não tivessem a capacidade de manchar. Um lugar onde a alma se renova e que inspira alegria, gentileza e amor. E não é o que a Flor de Cerejeira representa?
Esperança...
Na hora de tirar a foto, tentou imitar a pose de sempre. Um braço ao redor do pai e o outro em Jun-Pyo enquanto Yi-Hoo permanecia do lado vago do Sr. Kim, abraçando-o, e a proximidade permitia que a mão tocasse o topo da cabeça de Sunny. Todos sorriram ao sinal da titia, mas no fundo, bem lá dentro dos estilhaços, ela quis chorar, o que não era diferente dos anos anteriores. Depois de cumprirem a tradição, a família tirou várias selcas uns dos outros, engraçadas e bonitinhas, enchendo as memórias dos aparelhos com novas recordações. As mais bonitas eles revelavam para colocar nos porta-retratos e espalhavam pela casa. Algumas, Sunny prendia no mural junto de momentos antigos e felizes.
Estava adorando, sem dúvidas.
Amava sair com a família! Mas... Não se enganava. A animação dividia espaço com aquela inusitada impressão. E como ocorria no colégio, não continha o olhar ansioso, que buscava um único alvo...
A expressão séria e introspectiva dele...
E agora, ridiculamente, fazia a mesma coisa.
Não muito distante, visualizou a ponte e de maneira implicante, ela correu na frente dos familiares e de costas para que os irmãos pudessem observar as caretas propositais, precisando tomar cuidado e não tropeçar ou esbarrar nas pessoas. Apenas próxima do comecinho que ela se virou. A lente do rapaz captou o instante que ela puxava o boné da cabeça e a balançava para ajeitar os fios negros e escorridos. Sunny estava prestes a curvar o tronco e apoiar as mãos nos joelhos graças ao fôlego gasto quando percebeu uma câmera apontada em sua direção. Aquilo atraiu o interesse da menina.
Espera... Estava tirando foto suas???
AHHHH!
Por quê?!?!?!
Com medo de ser algum pervertido, ela se encolheu, apesar da distância entre os dois, até que... o estranho abaixou o braço e revelou a identidade.
Sunny recuou um passo como se tivesse levado outro empurrão.
Mas agora o culpado não foi Jun-Pyo.
- Jung Mi...
Era ele.
Era ele mesmo.
Esqueceu de respirar. De falar. De se mexer.
Esqueceu do mundo.
Como...?
O choque a desnorteou e levou de volta ao auditório, quando o encontrou no WangJo, e ele simplesmente virou o rosto, desconcertado, como acontecia agora.
Uma avalanche tombou sobre sua consciência e a irritou, mas aquela era uma irritação tardia.
Dessa vez não.
Sunny não pensou exatamente nas consequências. Ainda havia uma boa distância da família e aproveitando-se de tal, ela se deixou levar. De camarote, Jung Mi assistiria Sunny se aproximar, e a caminhada apressada logo transformava-se numa corrida/fuga até pairar diante do Príncipe, ofegante e igualmente corada. O fluxo de pessoas serviu para encobrir as ações dela, só que não tinham tempo de sobra...
Então, ela fez o que desejou há semanas.
Atravessou a barreira e subiu no pedestal.
Por segundos, os olhos se cruzaram e estremeceu com a imagem tão nítida e perfeita de Jung.
Estava mesmo acontecendo?
Ia, de fato, se precipitar assim?
- Vem comigo...
Disse do jeito meigo que costumava recepcioná-lo no Café enquanto a mão lhe envolvia o punho e o puxava para o centro da confusão, perdendo-se, e de uma maneira muito torta, se encontrando também. No calor do momento, não imaginou no que a atitude poderia gerar na opinião de Jung Mi. Mas e daí? Já foi omissa demais, paciente demais.
Talvez nem fosse de verdade.
Porém, o contato morno e direto da mão no braço exposto de Jung a prendia aos fatos.
Com medo que escapasse, botou mais força na pressão suave dos dedos finos, atando-se a ele feito um nó cego.