(Todos)
O mal-estar criado na sala por conta das provocações de Eun-Na ficou para trás depois que a aula de Biologia começou. Os alunos, em geral, foram bastante receptivos com aquele professor cheio de conteúdo e que mal olhava para a apostila, por simplesmente não precisar dela. Mesmo os alunos que não fossem tão bons assim em biologia conseguiriam ficar com alguns exemplos e explicações na mente, acabando por ter mini-gatilhos de memória que despertariam quando lesse uma frase ou palavra específica ao estudar.
Quando tinha pedido um trabalho envolvendo uma “maquete” do sistema solar, ele sabia que alguns poderiam fazer muchocho. Não seria a primeira vez que isso aconteceria, afinal.
Olhou na direção de Jae-Ki ao ouvir a pergunta dele e mexeu de leve as sobrancelhas com um sorriso enigmático - se é que dava para chamar aquilo de sorriso. E um terrível “talvez..”. Talvez por que?
Porque talvez ele se lembrasse disso nas provas quando alguém precisasse de décimos ou coisa do tipo. Mas a verdade é que ele não estava muito preocupado com a forma que entregariam, era uma espécie de releitura. Achou que tivesse sido claro que eles poderiam usar qualquer material ou contexto para criar o sistema solar. Em outras palavras, seria como se cada um fosse um mini-Big-Bang ali. O homem achava que aproximava mais a matéria dos alunos quando eles usavam coisas que conheciam e usavam a criatividade para tal.
Mas claro que ele teria surpresas na semana seguinte.
Quando ele se foi, o professor Chang Wook entrou. Apesar de não ter a mesma experiência de vida e tempo de sala de aula do professor anterior, Wook tinha dom para lecionar. Era mais do que um rostinho bonito e tratava seus alunos como criaturas pensamentos e não “pessoas sem luz”. Como Literatura não costumava ser a matéria que a maioria amava, ele tentou conversar antes, para aproximarem ideias e tirarem preconceitos.
Chamou por alguns nomes aqui e ali, evitando os primos. Wook não tinha nada contra Hyun ou Jung-Mi. Na verdade, ele gostava dos dois primos mais novos e durante muitos anos, foi uma espécie de “babá” para eles. Dez anos separavam seu nascimento do de Hyun. Sua mãe era a irmã mais velha, mas também foi mãe muito jovem, então, ele não era da mesma faixa etária dos caçulas, mas nunca os destratara por isso.
Não seria agora que o faria. Não havia mágoas entre ele e Hyun-Hee por ele estar com o avô. Até porque, Wook nunca considerou que um dia teve um avô - só avó.
Por isso mesmo, o olhar que ele trocou com os primos foi de professor. Era imparcial e os tratou como tratava qualquer um ali, sem ser mais amigo de um ou de outro. Logo começou a indagar algumas coisas para uns nomes. A resposta de Won-Bin trouxe algumas risadinhas dele e da sala, por conta dos filmes legais.
- Tem toda razão, Hwang Won-Bin. E estão cada vez mais legais mesmo. - Olhou para a chamada e falou. - E você...Yeun MiSoo?
Claro que a incluiria naquela conversa. Só precisou fingir procurar pelo nome para que não ficasse tão na cara assim. Ouvir a resposta da menina trouxe um sorriso orgulhoso aos lábios. Tinham debatido um pouco mais profundamente sobre o tema, na época em que deu aulas para ela. Foi gratificante saber que ela ainda estava estudando por conta ou simplesmente se lembrava.
- Ver através dos olhos de outra pessoa...Essa é uma colocação bem interessante. - Chamou mais alguns e, por fim. - Dong Hee-Kyung?
Procurou até que viu que o menino estava bem na frente. A colocação pontual dele, o surpreendeu. No fim, todos estavam certos e tinham pontos a acrescentar ali. Dava até para criar uma discussão mais apronfudada, mas o sinal tocou. Ele não deu nenhum dever de casa, ainda, pois no retorno, ainda teria um tempo. Talvez continuassem falando sobre outro espectro da linguagem.
Começariam a falar dos tipos de textos e narrativas.
Chang Wook seguia até sua mesa e estava bem alheio às intrigas que existiam ali. O último menino a falar prontamente saía da sala e, mal ele saiu, a maioria dos alunos tomou um susto com o grito de um dos rapazes lá de trás. Jae-Ki correu rapidamente até Sun-Hee e chamou bastante atenção com isso.
O professor olhou meio assustado e só pegaria a bolsa-carteiro para seguir até o intervalo.[...]
Dong foi o primeiro a sair. Apesar de sua disposição de um velho de 70 anos, ficar perto da porta tinha suas vantagens, tal como: rota de fuga favorável. Mal ele tinha dado dois passos para fora da sala, pôde ouvir o grito de Jae-Ki chamando por Sun-Hee, mas não pareceu nada alarmante.
Do corredor, ele percebia que os alunos do 2º e do 3º ano já tinham deixado as salas também, quase como se estivessem mais desesperados pelo intervalo do que os alunos do 1º. As aulas pareciam complicadas mesmo.
MiSoo estava começando a guardar seu material enquanto Hyun-Hee se levantava quando isso aconteceu. Não demorou para que Hyun encontrasse sua liberdade do lado de fora, deixando o hospício para trás.
Yerin ia abrir a boca para responder à amiga, quando tomou um susto e ficou de boca aberta, vendo tudo aquilo. Sun-Hee mal teve tempo de se ajeitar e já estava lidando com Jae-Ki muito próximo. Kang e Won-Bin estavam mais atrás, ainda se recuperando das intensas aulas.
Após o susto dado por Jae-Ki, Yerin respirou fundo e voltou a atenção para sua amiga ao lado dela. Estava disposta a continuar a conversa quando reparou que Hyun-Hee - o zé droguinha - ainda parecia interessado com algo atrás dela. Virou-se, apenas para ter certeza do que estava acontecendo.
Eun-Na o acompanhava com o olhar até que viu que Yerin a fuzilava com o olhar. E não era a única, aparentemente, visto que Yewon também tinha um palmo de bico, achando um absurdo esse comportamento dela.
Yerin cerrou os olhos - e isso nunca era bom.
Antes de colocar ordem na casa, contudo, ela deu atenção para Hyemin.
- Achou a aula chata? Eu achei interessante. Mesmo sendo jovem e inexperiente, o professor de literatura parecia conduzir bem a explicação. - Deu seu ponto de vista. - Mas não se preocupe, eu te ajudo.
- Eu também. - Hayoung também ergueu a mãozinha. - Já estou fazendo as lições, Hyemin-Ah! Já comprei o bloco de papel almaço rosa, para o ano inteirinho! Vai dar tudo certo. - sorriu animada.
- Viu? Tem gente cuidando de você. E não é necessário, na verdade, eu preciso descer. Tenha certeza de que verá algo interessante acontecendo hoje.
Yerin não estava completamente recuperada de seu mal estar, mas a verdade é que isso também seria como um álibi. Tinha muitas testemunhas ali que poderiam dizer como ela estava se sentindo mal naquele dia e que não tinha feito nada de errado.
Aparentemente.
Quando a rainha se levantou, as outras também se levantaram, quase que de modo coordenado. Apenas Hayoung demorou um pouco porque tinha um pequeno delay mental quando envolvia alguma atividade física. Enfim. A sala estava ficando vazia - MiSoo já tinha saído e se distanciado das amigas, mas Eun-Bi ainda estava para trás, visivelmente irritada enquanto olhava na direção de Jae-Ki. Bo-Mi estava ao lado da amiga, esperando que continuassem andando e não ficassem ali para sempre. Jung-Mi e os amigos também estavam saindo. Ryu chegou a parar para falar algo com Bo-Mi que meneou positivamente e disse que já o encontraria.
Dong estava na porta do 2º ano e Stella estava prestes a sair, segurando o celular enquanto digitava.
Hyemin pôde perceber algo estranho quando passou por Ye-Ji. A bochechuda, amiga da Sapo, olhava fixamente para Yerin até que abaixou a cabeça, diante do olhar mortal da rainha de gelo. Uma linha sutil subiu no canto dos lábios de Yerin, numa quase sorriso enigmático e ela pareceu ainda mais interessada em sair da sala.
Hyemin, Hayoung e Yerin iam na frente enquanto Eun-Na e Yewon discutiam um pouco mais atrás. Mi-Ran ficou esperando por Ji-Ran e logo grudou no garoto. Hyemin e Yerin tinham chegado na metade do corredor quando ouviram um corpo caindo. Ao olhar para trás, viram Stella no chão e Yewon olhando para ela com uma expressão de “ops”.
- Eu vi, hein? Ridicula!! RIDICULA! - Eun-Bi apontava a muleta na direção de Yewon.
- Ai! Viu o que?! Cuida do seu pé, bailarina! - Yewon estalou a lingua no ceu da boca e continuou andando.
Dong, Eun-Bi e Bo-Mi tinham visto quando, mesmo discutindo com Eun-Na, Yewon se aproveitou da distração de Stella e colocou o pé na frente, por trás. A menina, distraída com o celular - estava mandando mensagem para Lee-Hi - tropeçou e caiu de joelhos no chão. O celular escorregou um pouquinho, mas ela logo levou a mão por cima da meia ¾. Ainda foi obrigada a ouvir um “ops” de Yewon.
Eun-Na controlou a risada e simulou uma cuspida na direção de Stella - mas não soltou nada. Yerin apenas parou para ver o que tinha acontecido, mas logo continuou sua caminhada, guiando o grupo. Não tinha sido ela a provocar, mas ela também não fez nada. Eun-Na e Yewon voltaram a discutir sobre as atitudes da mais atirada.
Yerin também tinha muito o que dizer em relação a Eun-Na, mas estava com pressa. Mesmo assim, ela fez uma pausa no topo da escada e encarou as duas que se calaram, no mesmo momento.
- Eu só vou dar um aviso. Arranje problemas com Eun-Joo e eu finjo que você um dia fez parte do meu grupo. Fui clara?
Eun-Na tirou todo e qualquer resquício de sorriso da cara, ficando com uma expressão bem séria e resignada. Trincou os dentes e Yerin deu meia volta, começando a descer as escadas com as amigas. Ao invés do refeitório, ela caminhou como quem não queria nada, na direção dos armários apenas para ver se uma certa pessoa já estava por ali.
O sorriso no canto dos lábios reapareceu ao ver que sim…
Dong sentia a necessidade de mais cafeína em seu corpo esguio. O efeito dela já tinha passado, após duas intensas horas de aulas. Por mais instigantes que elas fossem, o preço sempre era cobrado. Após uma breve alongada e a certeza de que seu corpo tinha 70 anos, ele saiu da sala.
Deu dois passos para fora e ouviu o grito de um garoto, chamando por Sun-Hee. O corredor já estava um pouco agitado - as portas dos 2º e 3º ano já estavam abertas e os alunos transitavam. Pareciam desesperados pelo intervalo, num claro indício de que não tiveram a mesma sorte que o 1º anos. De todo modo, os grupos começaram a sair da sala dele também.
Primeiro foi Hyun-Hee que passou rapidamente e sempre sozinho - nem parecia fazer questão de companhia, na verdade. E, a julgar pela fama que corria, as pessoas não faziam muita questão de se aproximar também. Alguns diziam que ele estava louco, outros apontavam como possível dependente químico.
Enfim, quando Dong chegasse até a porta do 2º ano, veria que Ha-Neul conversava com alguém. E não era qualquer pessoa, tratava-se de uma linda jovem nerd. Seu nome era Han So-Na e o primeiro amor de Ha-Neul e quase todos jovens nerds. A menina era recatada, na dela, a única garota que fazia parte do clube de informática. Era discreta, silenciosa e estava sempre lendo um mangá ou hq ou livros. Não fazia a mínima questão de fazer parte daqueles grupos, muito embora fosse educada quando precisava ser.
So-Na ajeitou seus óculos escuros, ponderando sobre o que Ha-Neul dizia.
- Talvez você esteja certo, mas só dessa vez. Não se acostume.
- HA-HA-HA...Eu sempre estou certo, So-Na-Shi.
- Agora você está agindo de modo errado. Parabéns, perdeu os créditos recém-adquiridos. - Sorriu e deixou o garoto sem graça, com um palmo de bico num típico “aishuuu”. Mas, Dong viu que ela sorriu de modo até meigo.
Nesse meio tempo, mais pessoas tinham saído da sala dele - MiSoo tinha disparado pelo corredor para entregar um papel, mas as duas amigas dela, inclusive a de muletas, estavam mais para trás. O trio de Jung-Mi também saiu e um deles se demorou com uma das amigas de MiSoo - não era o gêmeo de Bo-Mi, era Ryu.
Ha-Neul estava quase saindo quando Dong ouviu um.
- Bom intervalo, primo. - Hayoung acenou para ele, passando ao lado de Hyemin e Yerin.
Stella também tinha saído da sala e Dong podia ver, depois de falar com a prima, como ela estava distraída. Porém, mais do que a distração, ele viu o pé que se colocou na frente do de sua amiga e o corpo dela indo ao chão. Stella caiu de joelhos, sem qualquer instinto de proteção e deixando o celular deslizar um pouco. Fez um sonoro “ai” que só não foi mais alto porque a menina de muletas apontou para a culpada.
Min-Ho e Ui-Jin saíram mais depressa ao ouvirem o barulho e a briga enquanto Ha-Neul já chegava ao lado de Dong. A culpada escapava de uma retaliação maior, simplesmente saindo dali, na direção de sua líder. Eun-Bi olhava irritadissima para aquilo e começou a se aproximar, bem como Bo-Mi.
- Você consegue se levantar? - Bo-Mi perguntou de modo gentil, tentando ampará-la.
Stella ainda estava na mesma posição, mas com a cabeça abaixada, completamente envergonhada. Os braços dela tremiam e ela ficava entre as lágrimas do choro e da raiva.
- Se quiser gelo, eu tenho uma bolsa de gel… - Eun-Bi comentou ao chegar mais perto.
- Ani… - Stella murmurou com a voz embargada e só conseguiu se sentar.
Ha-Neul deu uma empurrada de leve em Dong, para ver se ele faria alguma coisa. Ui-Jin e até mesmo Min-Ho também se aproximavam, mesmo que um pouco mais hesitantes. So-Na e Mia - uma garota alta e com corpo mais atletico, amiga de MiSoo - tambem saíram da sala. Enquanto So-Na ficava sem saber o que dizer, Mia se aproximava das amigas, perguntando o que tinha acontecido.
Stella passou a mão pelo rosto e começou a procurar pelo celular, pronta para se levantar.
(Sala de Aula - Parte 2)
O trio de bolsistas se conhecia cada vez melhor. As primeiras impressões tinham passado e novas características de cada um vinham à tona. As posturas e Jae-Ki não pareciam incomodar ou envergonhar Kang ou Won-Bin. Kang só achava que o Jae-Ki-Boy era muito estourado e extremista e, talvez, precisasse parar para pensar antes de agir. Fora isso, ele gostava muito da companhia dele e achava ainda mais legal toda aquela preocupação com o Won.
No intervalo entre a aula de biologia e literatura, Kang tombou para a frente para olhar além de Won-Bin e disse.
- Eu te empresto o caderno no fim da aula, pode ser? Certeza que anotei mais do que Won. Ele estava numa saga investigativa.
Soltou sem querer querendo. Estava recuando, mas então se lembrou de uma coisa.
- AH É! - Bateu a mão na testa. - Eu trouxe seu bolinho, Jae. Pra você também, Won, mas trouxe 2 para o Jae. Não esqueci não, viu? Te dou no intervalo e aí você não vai precisar gastar nada nas máquinas, nem comer só frutas.
Sorriu animado e sentou-se de novo.
A aula de literatura pareceu inspirar Won. Quanto mais tímida uma pessoa era, maiores eram as chances dos professores apontarem o dedo para elas e fazer uma pergunta. Felizmente, Won se saiu bem e Kang fez um “joinha” para ele. Won também percebeu que recebeu três breves olhares - que foram mais demorados: MiSoo, Bo-Mi e a bochechuda Ye-Ji. MiSoo o encarou com um sorriso nos lábios para incentivá-lo, mas foi algo pareceu incomodá-la - era Gyu-Sik, que nem estava olhando para ela, mas ficava “no caminho”; Bo-Mi encarou por mais tempo, mantendo o queixo apoiado na mão esquerda e também deu um sorrisinho com a resposta. Lá da frente, Ye-Ji, a menina bochechuda que o vinha encarando há dias, também prestou atenção na resposta e...meio que achou a melhor de todas.
Kang nem comentou nada, só sorriu e fez o gesto de “bang bang bang”. Parece que ele tinha aprendido tuuudo sobre bang bang bang. Ou talvez fosse só o braço que chamava a atenção. Nem o blazer ele podia botar direito por conta do gesso, daí era uma competição desleal mesmo.
A aula acabou e antes que conseguissem se decidir, Jae-Ki dava aquele berro que fazia a sala tremer. Kang quase caiu da cadeira pelo susto, mas só olhou espantado mesmo. Olhou com cara de “tá doido?!”, mas ficou no lugar para pegar os bolinhos.
Jae-Ki não teve nenhuma matéria favorita, mas as aulas tinham sido boas. Pelo menos ele tinha conseguido se distrair o suficiente - ou assim pensava. Tinha até desenhado bastante, o que era algo que amava fazer. Mas a verdade era que ele esperava muito pelo intervalo, principalmente pelo motivo: lanches de graça. Antes, contudo, ele lembrou-se de uma nome e uma imagem. Precisava falar com ela antes que fosse embora, por isso gritou “KIM SUN-HEE!!!”.
Kim olhou para trás, na mesma hora. Jae-Ki não era o único com instinto protetor ali e não parecia normal ou razoável, ouvir algo assim. Sunny esteve um pouco ausente na maior parte do tempo - ele tinha percebido. Mesmo em literatura, a amiga não estava ali. Alguma coisa a tinha afetado profundamente e Kim não sabia porque.
Quando o sinal tocou e as pessoas começaram a sair, Kim só conseguiu dizer.
- O que está acontecendo, hm?
Mas antes que ela pudesse responder, foram interrompidos por aquele menino. Kim voltou a atenção para trás. Jung-Mi também. E não foi o único, Eun-Bi também se interessou por aquilo - mas não de modo positivo. Stella franziu um pouco as sobrancelhas, sem entender nada. Enquanto muitas pessoas se levantavam e começavam um trafego pela porta, Jung continuou sentado, de braços cruzados.
Eun-Bi tinha aceitado a ajuda de MiSoo, mas agora estava fuzilando Jae-Ki com o olhar. Começou a passar pelo corredor estreito, sem esbarrar em ninguém - mas querendo bater nele com aquela muleta. Então era assim, né?! Bastava gritar com ela que logo se jogava para outra menina!
Abusado!! Que raiva desse menino!!!
Jae-Ki sentia aquele olhar perfurante da bailarina não tão frágil assim. Ela logo virou a cara, fazendo um “hunf”. Saiu com suas amigas, mas não tomou os corredores, pelo contrário, ela ficou bem perto da porta para ouvir o máximo de conversa que conseguisse. Estava muito incomodada com aquilo.
Jung-Mi também, mas ele só respirou fundo e massageou a têmpora. Se Sunny estivesse atenta, perceberia que ele saiu depois de MiSoo e eles nem tinham se falado. Não pareciam tão intimos assim, apesar de “namorados”. Passou pelo grupo daquele jeito de sempre, bem sério e quase fazendo um bico por não comportar nenhum sorriso nos lábios.
Won-Bin também viu o momento que um dos garotos, Ryu, ficou um pouco mais para trás e falou algo com Bo-Mi. O que era, ele não conseguiu ouvir, mas Bo-Mi fez uma expressão curiosa até que esboçou um sorriso e meneou positivamente, concordando sabe-se lá com o que.
Ele só disse que ia guardar um lugar para elas e pegar um chá para ela. Bo-Mi cutucou Eun-Bi para dizer alguma coisa.
Kim continuou encarando Jae-Ki.
- Eu vou ficar com você, Sunny. - Comentou. - Não me leve a mal - Falou com Jae-Ki - mas não é tem sido muito seguro ela andar por aí sozinha, mesmo depois da conversa.
Deu a entender que não tinha problemas eles conversarem, o problema real era o “depois”. Talvez Jae-Ki aceitasse melhor assim. Stella saiu, dizendo que iria procurar as meninas. Ui-Jin e Min-Ho também estavam de saída, mas o grupo de Yerin passou primeiro. No instante em que Bo-Mi estava cutucando Eun-Bi para dizer alguma coisa, eles ouviriam um barulho do lado de fora.
Eun-Bi logo apontou na direção das garotas, chamando de ridiculas e se encaminhava para lá, meio que pulando. Bo-Mi também saiu do campo de visão. Caso saíssem, veriam Stella no chão, próxima à sala do segundo ano.
MiSoo estava passando por um verdadeiro teste de resistência, no mais amplo sentido. A culpa estava prestes a consumi-la e ela não podia nem se socorrer de um docinho ou lanchinho para tentar aplacar aquela angústia crescente em seu coração. Muito embora, gostasse de parecer forte, ela era uma das pessoas mais sensíveis dali.
As aulas tinham ajudado a esquecer um pouco toda a situação.
Ela não parecia aceitar muito bem que seus amigos não estavam com medo ou a culpando por alguma coisa. Tanto Gyu-Sik quanto Bo-Mi e Jung-Mi tinham feito aquilo porque quiseram, porque acharam o justo. MiSoo não tinha feito nada de errado, mas se martirizava.
E como!
Estava a ponto de abrir mão de suas amizades para não envergonhar ninguém e sua lista de desculpas não parecia ter mais fim.
Felizmente as aulas estavam aí para distraí-la e a presença de Chang Wook também a acalmava. Sua resposta para a pergunta dele tinha sido muito bem vista e aceita, o sorriso orgulhoso dele tinha se repetido, bem como no dia que ela refizera todo o teste e passara com louvor após tanto estudo. Ela era especial para ele, como uma aluna muito querida, dedicada e esforçada que só precisava acreditar em seu grande potencial.
Porém, no meio da aula, ela também tinha se deparado com o olhar distante de Gyu-Sik. Na tentativa de olhar na direção de Won-Bin e incentiva-lo a responder, ela viu o olhar meio perdido de Gyu. Era uma sensação estranha ali.
Geralmente, Gyu-Sik a estava encarando ou correspondia ao seu olhar quando o encarava. Daquela vez, contudo, ele estava...aéreo, em outro mundo. Nem mesmo dois segundos depois, ele voltou, continuando introspectivo demais. Algo novo para MiSoo - será que ela tinha deixado a mão pesada demais naquele dia? Será que ele estava chateado por ter sido ignorado?
Até o fim da aula, ela continuou se culpando quando, finalmente, ouviu o sinal. Levantou-se rapidamente, entregando a mochila extra para Eun-Bi e a ajudando. A amiga aceitou a ajuda dessa vez, mas estava olhando irritada na direção que Jae-Ki tinha gritado. Eun-Bi tinha se arrastado um pouco mais, ainda querendo saber que palhaçada era aquela ali, mas logo as três saíram da sala.
- Tudo bem, MiSoo-Ya… - Eun-Bi respondeu e a encarou. - Vamos procurar por Mia e te esperamos no refeitório, pode ser?
- Ou vamos te buscar lá na secretaria...Não é bom ficar andando sozinha. - Bo-Mi comentou.
- É verdade. - Eun-Bi se prontificou também, mesmo que estivesse um pouco debilitada.
A resposta ficou à critério de MiSoo, preferia encontrá-las no refeitório. As amigas concordaram e fizeram corações para ela também dando um sorriso. Parecia que não havia mais mágoas entre Bo-Mi e Eun-Bi, as duas estavam até conversando tranquilamente.
- O que aconteceu que eu perdi? - Eun-Bi perguntou, mas olhava para a sala, vez o outro.
Bo-Mi tentou começar a contar a história, mas foi interrompida pela chegada de Ryu e, não conseguiu completar tudo por conta dos incidentes que vieram. Era até bom MiSoo não estar por perto ou seu instinto falaria mais alto ali e ela certamente acharia que tinha mais dívidas em sua conta.
O formulário deveria ter entregue na secretaria, até sexta-feira. Era quarta, então, MiSoo estava dentro do prazo. Muitos alunos já circulavam pelo pátio e refeitório - os outros anos tinham saído já. A menina andava completamente sozinha, podendo fraquejar sem que ninguém a julgasse muito.
Enquanto andasse, veria que o “Ketchup” estava caminhando na direção do jardim, carregando uma bebida consigo. Ele tinha sido um dos primeiros a descer, já tinha pego algo para beber e agora procurava um canto só seu. Já MiSoo, sabia para onde deveria ir e fazer algo que não queria: se inscrever no clube de moda.
Ao chegar na secretaria, a recepcionista indicou o escaninho que ficava disponível para os clubes. Claro que era supervisionado e bem abaixo de uma câmera de segurança. Bastava MiSoo completar e colocar ali.
Enquanto fazia isso, outra pessoa entrava na secretaria. Era um rapaz que estava olhando para uma pasta aberta e caminhava até o escaninho também. Acontece que, quando MiSoo virasse para trás, bateria direto na pasta dele, fazendo as inscrições dele voarem pro alto. As folhas caíam naquele ritmo lento de um objeto sem peso nenhum, enquanto a pasta, mais pesada, já estava no chão. O rosto dele era revelado vez ou outra - um traço do queixo, o nariz certinho, os lábios entreabertos e o olhar meio curioso, vendo as folhas voando.
Quando a última folha passasse pelo rosto dele, ela veria ninguém mais, ninguém menos que Han Minhyun. O menino do 2º ano que a mãe dela tinha comentado na noite anterior. Ao invés de brigar com ela, ele escondeu os lábios, meio pensativo e começou a se abaixar para pegar as folhas - não adiantava nada brigar por esses acidentes assim.
- Você está bem? - Perguntou meio que no automatico, apesar de não dar para se machucar com isso.
Ele era ainda mais bonito do que ela podia se lembrar, da época que o via pelos corredores - quando ela era da 7ª e ele da 8ª série. Estava mais adulto, ainda que tivesse aquela cara fofinha. A voz dele estava mais grossa também, mas o que não tinha mudado era o jeito gentil e educado de tratar os outros.
Eun-Na não teve a oportunidade de responder a Hyun e, na verdade, ele nem esperava por uma resposta. Estava com pressa de sair dali porque aquela sala era um pouco sufocante, no fim das contas - e só tinha maluco também! Era quase um absurdo ele ser o único a precisar de remédios ali.
Os corredores estavam um pouco movimentados e enquanto ele descia pelas escadas, teve a impressão de ver uma certa joaninha entrando no banheiro com sua amiga - mas foi tão breve que não dava para ter certeza e nem valia muito à pena, no final.
O refeitório não tinha filas para o que ele queria beber e, muito embora houvesse uma série de lugares disponíveis, ele preferiu ir para o jardim.
Diferente do que aconteceu de manhã, ali havia uma movimentação maior, porque os alunos realmente precisavam de um pouco de ar. Enquanto refletia sobre todas as impressões e sensações nostálgicas que ele tivera naquele primeiro dia, um de seus fantasmas apareceu, mas não sozinho, dessa vez.
Eun-Joo saída do prédio, jogando seu cabelo para trás e sendo seguida por Jimin e Hyejeong - faltava uma menina do quarteto, mas se ela ainda namorasse o menino um ano mais velho, dava para imaginar onde estavam. Além das duas, também havia Han Ji-Rin- prima de Minhyun, um antigo amigo dele - além de Taehyung, Da Won e Ro Young. Jong-In não estava ali e isso parecia um breve mistério.
O extenso grupo dava risada de alguma coisa, até que todos repararam na repentina mudança de humor de Eun-Joo.
A rainha, ex amada de Hyun, parou de andar e viu seu sorriso morrer. Foi olhando para o céu, respirando fundo e, de repente, não tinha mais vontade de estar ali. Os outros olharam para a frente, sem entender o porquê daquela repentina mudança dela.
Jimin e Hyejeong arquearam uma das sobrancelhas, mas com visível interesse nele. Os meninos não tinham uma opinião ou expressão formada e Ji-Rin pareceu confusa. Eun-Joo deu as costas e voltou para o prédio porque não queria se indispor. Hyejeong, mantendo as aparências, virou-se também, mas Jimin deu um sorriso discreto para Hyun antes de sair.
Os rapazes ficaram.
E, para a surpresa de Hyun, começaram a se aproximar.
Não foi uma aproximação hostil, estava mais para curiosidade. Dos três, o que mais tinha aparência de líder - com exceção de Jong-In - era Da Won. O rapaz parou em frente a Hyun, com as mãos nos bolsos e comentou.
- Finalmente nos reencontramos. - tombou um pouco a cabeça para o lado. - Não sei o que deu em você, porque mudou tanto e porque não parece o antigo Hyun, mas...Seja bem-vindo de volta. Você fez falta.
Os outros também concordaram. Apesar do que eles ouviram a respeito de Hyun, esses caras ainda se lembravam do líder que ele era e o respeitavam. Havia um fio beeem fino ali de respeito, mas talvez fosse uma brecha que Hyun não esperava encontrar.
Mas talvez fosse uma brecha boa de explorar. Taehyung foi o primeiro a se afastar depois de cumprimentá-lo - ele queria ter dado as boas-vindas, mas também queria ficar com Jimin. Ro-Young também queria voltar para ficar por perto de Ji-Rin. Coube, mais uma vez, a Da Won se manifestar.
- Quer ir com a gente? Ou se sente mais confortável aqui?
Caso Hyun-Hee fosse, ele chegaria a tempo de ver o que acontecia próximo ao armário.
(1º andar)
Yerin tinha diminuído um pouco os passos, fazendo suas amigas pararem também. Im Yuha estava conversando com seu oppa Ah Kyung-Soo enquanto mexia no código de seu armário. Achou um pouco estranho o cadeado estar daquele modo, mas deu de ombros até abrir o mesmo.
Hyemin foi forçada a parar e amparar Yerin de novo.
Lee-Hi e Chae desciam as escadas, acompanhadas por Jong-In - aquilo era uma surpresa para elas. Afinal, o que o herdeiro de uma chaebol tinha para falar com aquelas esquisitona? O trio passou e estava se encaminhando até o refeitório quando Im Yuha achou uma caixa de presentes.
- Awn, Oppa...Você comprou pra mim?! - Perguntou para o namorado.
- Eu? Do que está falando? Nunca vi essa caixa e...não me diga que você está ganhando presente, Yuha!
- Ani! Eu não sei quem me deu! Mas vou abrir… - Começou a abrir.
Yerin massageou a têmpora e estava pronta para dizer que estava melhor quando Yuha deu um berro. Eun-Joo e as amigas também tinham retornado e pararam no meio do caminho. O grito de Yuha ecoou pelos andares e ela largou o “presente” no chão, se escondendo no namorado.
- Ya! O que houve?!
A menina nem conseguia falar porque estava apavorada. A caixa começou a se mexer e as patas de uma tarântula começaram a aparecer. Yuha estava em franco desespero, porque ela tinha pavor de aranhas. O rosto da capitã de culinaria estava completamente vermelho e ela sem ar nenhum. As meninas também entraram em desespero.
Hyemin percebeu que Yerin fez um “ooh” e recuou também, a protegendo.
Yewon quase subia as escadas de novo, de tão apavorada.
Apesar do nojo que sentiu, Chae tomou a frente e usou a própria caixa de presente para conter a bicha de novo. Jong-In viu ali uma oportunidade de ser útil e completou o trabalho por ela. O ombro dele roçava no de Chae, mas o trabalho estava feito.
- QUEM FOI QUE FEZ ISSO?!?! - Yuha berrava, mas ainda estava completamente desconjuntada. - FOI VOCÊ, NÉ? SUA VÍBORA!
Apontou na direção de Yerin.
- O...que?! - Yerin perguntou completamente chocada.
- QUEM MAIS NESSE COLÉGIO SERIA CAPAZ DISSO?!
- Você está me acusando de algo terrível. Nem eu seria capaz de fazer isso...Tenho certeza de que alguem viu ou filmou. - Olhou para Yuha. - Tenho certeza de que o culpado irá aparecer.
Yuha congelou com aquela palavra sobre filmar.
- Isso não é justo! Não fui eu que mandei o vídeo para o diretor! - Disse em meio às fartas lágrimas e o namorado a segurado.
- shh shhh, está tudo bem. Vamos, Yuha-shi. Já passou o perigo.
> Respeitem o tempo de seus quadradinhos. Apesar do instinto de proteção ser muito latente em vocês, deixem que os chars mais próximos tenham a iniciativa, ok?
> A cena nos armários pode ser vista por Hyun-Hee, caso queira. Caso MiSoo seja rápida e não queira falar com o Minhyun, pode chegar nos gritos da Yuha acusando a Yerin.
> Os outros não verão essa cena, mas saberão dela em breve =x
> Adendos estão liberados, diante das interações que vão acontecer.
> As cores podem estar erradas, mas to com sono =((