Acho esta postura dele irritante e muito mal educada, eu me esforçara para mostrar gratidão a ele vestindo aquela roupa desconfortável, incomoda e apertada, mas ele ignora meu esforço e como se eu não estivesse ali, ele começa a atirar as roupas que escolhe do guarda-roupa em cima da cama de forma desordenada e um dos seus servos, que discretamente entrou com ele, foi organizando as peças que estavam arremessadas na cama de uma forma mais organizada e quando eu observo o seu torso nú, vejo que ele é repleto de cicatrizes e muita massa muscular. Seus músculos são muito bem definidos demonstrando ser o corpo de um guerreiro experiente, confirmando os rumores que corriam na corte, mas o que mais me chamou atenção foram duas marcas nas costas que lembravam feridas e parecendo que ele lia os meus pensamentos, ele de repente fala: - São marcas de tortura lady Chrystina, isso é o que acontece quando se é capturado no campo de batalha.
Eu me sentia distratada. Era uma nova humilhação que me imputavam, com pouco tempo entre as duas situações. Ele faz um gesto para o serviçal nos deixar, veste uma camisa e puxando uma cadeira se senta e começa a relaxar e ao ver sem semblante vejo que começa também a descansar e ao abrir os olhos , ele agora me observa com mais atenção e diz: - Peço desculpas pela minha conduta myleide, sei que deveria ter a tratado de um modo diferente, porém no momento sinto-me fatigado de um assunto que tive que resolver a pouco. consigo compreender esse cansaço, pois é visível no seu rosto, inclusive. Mas não justifica. Ele aparentava tem uns 10 anos a mais que eu ,no máximo, e fazia os seus feitos, que não eram poucos, muito mais impressionantes e significativos, por serem realizados em tão pouco tempo, embora meu primo, o rei, sob esta ótica e raciocínio, também era um homem notável.
Enquanto penso sobre essas coisas, ele me interrompe os pensamentos e diz: - Além disso, tem um assunto que eu gostaria de tratar com você, referente ao nosso casamento, não sei se você foi informada acerca disto, espero que sim, mas estamos prometidos um ao outro e tenho alguns retratos seus em cima da mesa aqui do meu quarto. Ele levanta e pega os retratos que eu vira a pouco e me entregou para que eu observasse. Eu agradeço com sobriedade e como se não soubesse do que se tratava fico admirando-o com se estivesse vendo pela primeira vez. Enquanto isso, ele continua: - Particularmente não aprecio esse tipo de situação, ao meu ver pessoas deviam se casar por sentimento e não por acordos e interesses políticos. Ele levanta a mão direita coça a nuca mostrando-se visivelmente desconfortável com a situação, talvez tanto quanto eu suponho.
Apesar do mútuo constrangimento, logo ele continua: - Na verdade, estou aqui em Barcelona pois pretendia vir pessoalmente para o front de batalha, para procurá-la. Seu pai, logo após a vitoriosa batalha de Crécy, chegou ferido em Winchester e pouco tempo depois fiquei sabendo sobre o seu desaparecimento próximo da fronteira entre a França e a Espanha e sinceramente temi ter acontecido o pior e vim o mais rápido que pude para localiza-la e salva-la de algum perigo. Mas graças ao bom Deus, consegui encontra-la aqui e salva-la das garras da inquisição. Ele volta a se sentar e continua: - Não me entenda mal, fiz o que fiz, pois me senti responsável por conta do nosso compromisso e por zelar da sua segurança!
Com essas falas do marquês que ouvi, penso comigo mesma e vejo que apesar de pecar nas sua ações de etiqueta ou falta dela e atitudes pouco dignas de um Nobre, ele é evidentemente forte no campo do caráter e mostra um forte senso de dever, coisa rara entre os cortesãos da corte e, novamente meu pensamento e reflexão é interrompido novamente por sua fala: - Não que a senhora seja desamparada, muito pelo contrário é uma mulher forte e creio que o que foi feito em relação ao compromisso de casamento, não foi correto, seja por parte da sua família e também por minha parte... E neste momento, ele baixa a cabeça por um instante, respirou fundo e suspirou pesadamente e voltou a me encarar e continua com o seu discurso: - Porém não nego que estou surpreso em te conhecer pessoalmente, eu acreditava que as informações que vinham da corte eram só boatos sobre você e que no fundo você não passava de uma menininha mimada, mas creio que nessa eu caí do cavalo.
Agora o jovem Marquês esboça um sorriso e pela primeira vez foi possível ver a sua verdadeira beleza e ele tinha um sorriso gentil, o que me agradava a principio. Ele volta a arrazoar comigo: - Não nego que pela primeira vez estou feliz e surpreso por estar enganado. E ele nesse ponto dá uma risada alegre, descontraindo o ambiente e continua: - Mas como eu disse antes, para mim o casamento deveria ser por sentimentos e nesse aspecto eu invejo um pouco a plebe, que não tem essas responsabilidades que nós, os nobres temos.
E começa a listar estas responsabilidades que os nobres tem, como a coroa, com a nobreza e principalmente com o povo e lembra que não há um rei sem a sua nação, que é o povo e me diz que é principalmente nisso que pensa antes de dormir, neste descaso que os nobres tem, no trato com os mais humildes e afirma que esses cidadãos comuns são como nós somos e sem eles nós não estaríamos onde estamos e sinceramente eu sinto sabedoria em suas palavras e acolho essas palavras por afinidade parcial com meus pensamentos e ideais. Quando volto a mim, me vejo observada por ele, que começa a falar novamente e diz: - Mas enfim, o que quero dizer com isso, Lady Chrystina... Neste momento, ele começou a chorar e ficar constrangido e tenta introduzir um ponto aparentemente delicado, pela forma que se expressa como pisando em ovos: - Não me entenda mal, não estou desconsiderando a senhorita nem nada do tipo mas eu não quero um casamento de aparências... E ele se levanta andando mais como uma criança, meio sem rumo e envergonhado foi até meigo, analisando as suas ações, mas tive que me conter para não rir.
Então finalmente ele encontra um ponto no espaço dele, para, e volta a falar: - Eu sei que tenho minhas responsabilidades como nobre, bem como a senhorita também tem, porém, não quero forçar uma pessoa a viver uma vida triste e infeliz da mesma forma que meus pais viveram... Ao falar dos pais noto que o seu semblante cai e evidencia que deve ser um assunto triste e difícil para ele e começo a entender que ele tinha um grande medo, ele não quer ter o mesmo destino dos pais.
E de repente sou tomada por uma visão, enquanto olhava para ele. Eu vejo uma coroa sobre a sua cabeça e ao seu lado esquerdo, estava eu vestida com um belíssimo traje que parecia ser feito de rosas vermelhas e brancas, sentada em um Jardim florido e iluminado. Uma visão bela e paradisíaca, mas estava usando algemas e correntes feitas de ouro. Desvio a minha visão e olho para o seu lado direito e vejo a minha imagem novamente, porém vestida com meus antigos e confortáveis trajes e andando em direção ao que parecia um buraco negro que consumia toda a luz, e era muito assustador aquela visão e nenhuma daquelas variações das minhas visões, me agradava e enquanto estou absorvida na visão e na tentativa de compreende-las, sou despertada pela voz do marquês: - Lady Chrystina! E eu logo me recomponho e volto a atenção para o meu interlocutor e ele diz: - Eu sei que se trata de uma decisão difícil afinal tem muita coisa em jogo, mas a decisão final é sua, seja qual for a sua resposta, eu vou aceitar e respeitar!
Eu ouço a sua fala e tento equilibrar os dois lados da questão. Eu fiquei sabendo daquela situação e compromisso há poucos minutos e não me sinto à vontade ainda com ela, pois é muito recente na minha mente e preciso pensar em uma resposta que não magoe, mas que não prejudique a minha família e o meu povo e digo a ele: - Caro Marquês, entenda que tudo que falaste para mim é novo, esse compromisso entre nos, bem sabes que não sabia desta tratativa. Porém, compreendo que como nobres temos funções e sacrifícios a fazer... Nosso início, com sua chegada no quarto, foi um pouco tempestuoso, porém mesmo começando com o pé esquerdo, ao ouvir tuas palavras que saíram diretamente do coração, eu me identifiquei com muitas delas e eu, em algumas delas vi muita sabedoria, apesar da sua juventude e proponho então que, se temos alguns pontos em comum, que nos conheçamos um pouco mais, que possamos desenvolver uma admiração mútua se tivermos um pouco de paciência, um verdadeiro amor pode nascer pela convivência, afinal temos muito em comum, somos nobres altivos e independentes, temos como foco o bem do povo, pelo respeito e luta pelos seus interesses e vale esse esforço, porque a nossa união, trará prosperidade e paz para o nosso povo! Proponho que convivamos como amigos por um tempo, dividindo nossos pensamentos e nosso dia a dia, para fortalecer nossos vínculos. Peço que leve em conta, que ainda sou muito jovem e a ideia de casamento, nem passava pela minha cabeça, porém podemos começar com uma troca, você me conta um segredo seu e me fala dos seus propósitos de vida e interesses pessoais e eu conto um segredo meu e compartilho com você os meus propósitos e interesses e aí teremos mais do que quando cheguei aqui e construiremos, não uma promessa de União, mas uma semente que por certo frutificará... espero que aceite esta proposta honesta que te apresento, pois sei que você respeitará minha pureza, autonomia e dignidade neste processo.