Eu tinha acabado de me sentar e David fez uma batida dupla na parede anterior da carruagem a fim de sinalizar para o cocheiro e o veículo logo parou e então, o Marquês avança sobre mim e me agarra, me beija e não sei como ele fez, se foi por magia ou se ele usou o mesmo carisma que ele me ensinou a usar... Meus sentimentos ficaram entorpecidos e minha percepção turvada. Ao mesmo tempo, um calor, um fogo, começa a queimar por dentro. A cada toque, a cada beijo, a cada abraço, o fogo ardia cada vez mais e mais intenso e vai tomando conta de mim e se que eu perceba me vejo nua e não sei como aconteceu este desnudamento e quando ele aponta para capa e sinaliza para nos deitarmos no chão, acontece novamente, que eu saio daquele ambiente e entro em um túnel de luz que me capta para outro espaço.
Antes que eu me dê conta, o ambiente da Carruagem desaparece e estou na batalha de Crécy, eu estou com minhas roupas de guerra e um soldado francês, em velocidade, tromba comigo, me derrubando e caindo por cima de mim e começa suas manobras, tentando me imobilizar. Minha lança cai da mão e fica a uma distância que eu não consigo pegar em um mesmo movimento e ele tenta com o joelho levantar o meu saiote onde era clara a sua intenção em cometer um abuso. Eu me concentro e controlo meus sentimentos e volto a minha concentração para a pequena e afiada faca atada com a correia de couro na minha coxa e me comporto como se estivesse perdendo os sentidos e estico o braço direito para pegá-la e apalpo, como se fosse estertores de desespero, com a mão esquerda, o flanco direito do inimigo, para mapear os amarramentos do seu corselete de couro e quando a adaga, já em minha mão, vem se aproximando e vai subindo rente ao corpo do meu oponente, o distraído e empolgado soldado que luta freneticamente para abrir minha jaqueta após ter retirado o meu peitoral, recebe a fria lâmina da pequena e afiada adaga profundamente no seu flanco esquerdo, perfurando mortalmente o seu coração e quando ele olha para mim, assustado pela surpresa e horrorizado pela antevisão da morte, e neste momento, vejo o rosto envelhecido do maldito padre Juan, essa imagem me persegue e com raiva, eu imediatamente rasgo sua garganta de orelha a orelha e o rolo para o lado, me libertando do seu peso.
Após esta ação, estou livre para me levantar e começo a vestir de volta, o meu peitoral, e pego a minha lança voltando a luta que acabamos por vencer no final. Neste momento, a imagem começa a se dissipar aos poucos, eu decido, neste breve momento que me resta antes de voltar para a carruagem, o que vou fazer em relação ao marquês e seu ataque. Ele é o meu destino, vejo que não posso impedir os acontecimentos que estão a se desenrolar, não posso defender tantos bastiões do meu corpo, mas posso protegê-lo dos pecados venais, tanto da sodomia quanto da escarificação das minhas mamas. Porém o restante do meu corpo, sacrificarei para garantir que o futuro do meu povo e da minha família seja de glória e de fortuna e poder ter forças de garantir os dois bastiões do meu corpo, que decidi defender dentro do plano do possível, e se O David, não honrar o compromisso de salvaguardar a minha honra, que agora ele me rouba, mas em breve, será dele por direito, eu mesma o matarei. E neste momento, a cena da Carruagem volta a ser uma realidade.
Agora tudo o que importava era ele, o David. O que permitirei que ele faça e o que não permitirei que faça e sou guiada apenas pelos meus instintos e pela minha decisão que acabei de tomar e mais nada posso fazer e agora são seus toques, seus beijos e a cada arranhão, a cada mordida dele, o meu prazer só aumenta até que finalmente aconteceu... O que o destino tinha traçado para mim. E nesta hora corre como se fosse uma eletricidade pelas minhas veias, já não era mais possível, então, conter a minha voz e eu gritei! Não era de dor, mas de um prazer incomensurável, quase profano. Mais era um prazer que eu decidira permitir e começo a retribuir com beijos, com abraços, com arranhões e mordidas e quando os bastiões que eu me comprometera proteger era ameaçado, também me defendo com chutes brutos e pancadas defensivas e fazia tudo isto com tanta força e ferocidade, quanto eu podia e gritava. E gritava cada vez mais alto, as sensações que me invadiam eram indescritíveis e contraditórias, por estar adiantando algo que eu só queria entregar no dia das minhas núpcias. Neste momento eu percebo os olhos dele estarem sempre, a me procurar pelos meus. Assim como seus lábios, seguem o meu, a me beijar freneticamente e de repente esse sentimento que me invadia, terminou de moto súbito, quando um calor mais intenso que qualquer outro, preencheu meu ventre e neste momento, eu grito mais alto do que nunca e a sensação de prazer preenche todo meu corpo e foi tão intenso que eu perco a consciência neste momento.
Volto a realidade, após um breve lapso. Meu corpo inteiro doía. Uma dor pior do que qualquer outra que eu já senti nas diversas batalhas e lutas que passei, mas aonde mais doía era entre as pernas e o ventre. Mesmo que minhas costas e braços estivessem bastante dilacerados pelas mordidas e agarramentos e agressões na animalidade da relação que tivemos, as dores naquelas partes eram mais sentidas e importantes. Novamente, volto a perceber o meu entorno e quando me dei conta, eu estava deitada sobre o marquês, que me fazia carinho no rosto e cafuné nos meus cabelos, eu podia até sentir o calor do seu corpo, que era muito mais quente que o meu naquele momento, e sentia o batimento acelerado do coração dele. Ao olhar olho no olho do meu parceiro, percebia que ele agora não tinha mais aquela feição fria costumeira, agora parecia sorrir como uma criança feliz e tranquila. Ele, naquele momento estava feliz e em paz e me senti muito bem e plenamente acolhida em seus braços.
Neste momento, ele me comunica que não vai se afastar de mim durante a festa, e justifica afirmando que agora, sou sua noiva e futura esposa e penso comigo, que é bom mesmo que ele considere que seja e assuma esse compromisso, porque ele me tomou o que eu tenho de mais sagrado e só o perdoo temporariamente por ele fazer esta promessa e na verdade por ter esta certeza e ele se senta abruptamente no banco da Carruagem e expira entediado e complementa a informação de que só se ausentará por um breve momento, para falar com uma determinada pessoa.
E ele volta a olhar para mim, com um olhar perdido e um sentimento de dúvidas, novamente me invade... E penso:- Será que tudo aquilo não era o que ele planejara? Ele estava arrependido não devia ter acontecido o que aconteceu qual dos dois seres que eu mandava suas ações aquele de olhar frio ou de olhar vermelho brilhante e o que isso significava e não tinha palavras para me expressar. Será que eu queria ouvir as respostas que eu não conseguia perguntar?
Mesmo assim faço um esforço sei que não terei forças de enfrentar as perguntas mais profundas Mas preciso perguntar para mostrar que me importo com o que aconteceu e olhando na sua angústia o indago: - Por acaso está arrependido de ter cedido a tentação de se entregar aos arroubos de sua masculinidade ou foi por causa da minha inexperiência que se frustrou? E paro meus questionamentos neste ponto, para não ultrapassar uma fronteira perigosa e continuo terminando de me limpar e vestir e aguardo, com certo receio, as suas respostas, porém a minha coragem faz me manter altiva e com a expressão de quem quer saber, de fato, as respostas.
Após a sua fala me expresso da seguinte forma: - David, sempre sonhei que minha primeira noite seria bem diferente do que acabou sendo, por certo romanceei este momento, agora esta é minha realidade e tenho que encara-la e vive-la, sem arrependimentos. Espero apenas que cumpra com sua palavra e me faça feliz ao seu lado e que me deixe participar da sua vida sem segredos. E já pronta, sorriu, e lhe ofereço o braço para descermos juntos da carruagem.